Fundação Mário Soares > Dossiers > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > "Amílcar Cabral, no mato, utilizando um teodolito para definição de tiro de artilharia. Distingue-se, atrás, Manuel Santos (Manecas). Fotografia de Bruna Polimeni.[05345.001.029] · Documentos Amílcar Cabral (11/23)" (Com a devida vénia à autora e ao proprietário da foto...)
Fundação Mário Soares > Dossiers > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Retrato de Amílcar Cabral e Manuel dos Santos (Manecas). Fotografia de Bruna Polimeni.[05345.001.003] · Documentos Amílcar Cabral (10/23). (Com a devida vénia à autora e ao proprietário da foto...)
Notas dos editores: a inserção destas 2 fotos pretende também ser uma tripla homenagem do nosso blogue:
(i) a Amílcar Cabral, muitas vezes descrito, pejorativamente, como um simples intelectual, um teórico, um revolucionário de caneta e papel; ele sabia que as ideias era muito mais importantes do que as balas, mas que questões como "a instrução, a táctica e a logística", ou seja, a formação e a organização da guerrilha, também eram fundamentais para o sucesso da "luta de libertação";
(ii) à grande fotojornalista italiana Bruna Polimeni que fez seguramente as melhores fotos do dirigente político mas também do guerrilheiro Amílcar Cabral e da sua luta, no terreno, pela concretização dos ideais em que acreditava;
e (iii) à Fundação Mário Soares e à Fundação Amílcar Cabral por terem salvo o Arquivo Amílcar Cabral e disponibilizarem o seu progressivo acesso em linha (leia-se: em suporte digital), para além do acesso público (em Lisboa, Cidade da Praia e Bissau).
Para os que o admiram, como africano, como homem, como líder, como intelectual, como escritor lusófono e como cidadão do mundo, "Amílcar Cabral ká móri"...
Fotos: Cortesia de © Fundação Mário Soares (2008).
19ª e última parte do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, devidamente tratada, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma. O Marques Lopes foi Alf Mil na CART 1690 (Geba ) e CCAÇ 3 (Barro) entre 1967 e 1969 (Aqui, na foto, à esquerda, a sair de um abrigo (!), em Cantacunda, destacamento de Geba, que ficava também a cerca de 40 kms da sede da companhia, a CART 1690, perto da base que o PAIGC tinha em Samba Culo, na margem sul do rio Camjambari).
Apraz-nos registar aqui, publicamente, o nosso apreço pelo trabalho de pesquisa do A. Marques Lopes, pela sua grande camaradagem e amaizade, e pela sua vontade em partilhar connosco o seu vasto conhecimento sobre o PAIGC e a Guiné-Bissau, país e povo que ele (e nós) tanto ama(mos). Recorde-se que o A. Marques Lopes é um DFA, tendo sido gravemente ferido em combate, evacuado para o HML e regressado, de novo, à Guiné, onde foi colocado na CCAÇ 3, em Barro, num grupo de combate composto por balantas (os temíveis Jagudis). Desde o 25 de Abril de 1974 que tem procurado, sempre que vai à Guiné, contactar os seus antigos inimigos... É um homem lúcido, generoso, sem ressentimentos... que hoje se esforça por conhecer o "outro lado"...
Esperamos que ele continue a surpreender-nos com a exploração de novas fontes (como outros Supintrep) de informação e conhecimento sobre os adversários de ontem, contra quem combatemos, e de que hoje somos amigos e irmãos, partilhando experiências, memórias, história(s), lugares, património, afectos, sabores, cheiros e... uma mesma língua, uma formidável ferramenta com a qual podemos comunicar (do latim, communicare = pôr em comum). Apesar da distância, das dificuldades, dos obstáculos, da falta de muita coisa, cá e lá, etc. Bem hajas, António. Os editores, LG/CV/VB.
19ª e última parte da série PAIGG ABC DA PREPARAÇÃO TÁCTICA > Trabalho do chefe do destacamento (grupo) depois de receber a missão de combate.
[Transcrição de documento do PAIGC]
Fixação e revisão de texto: AML/LG
Depois de receber a missão de combate, o chefe do destacamento (grupo) deve:
- aclarar a missão;
- apreciar a situação;
- tomar a decisão;
- dar ordem de combate e organizar a cooperação.
Aclarando a missão, o chefe do destacamento (grupo) deve:
- perceber onde, quando, com o que vai realizar-se a operação;
- determinar as medidas a realizar imediatamente na preparação do combate;
- calcular o tempo.
Apreciando a situação, o chefe do destacamento (grupo) deve estudar:
- o inimigo;
- as próprias forças e meios;
- as missões dos vizinhos;
- a hora do dia e as condições do tempo.
Estudando o inimigo, o chefe do destacamento (grupo) determina:
- a disposição combativa do inimigo, situação dos seus meios de combate e o carácter das acções que se esperam, os lugares de encontro prováveis com o reconhecimento e a garda inimiga;
- a hora e o lado de chegada especialmente das reservas;
- as especialidades de guarda e de defesa do objectivo que deve atacar-se, ordem de troca das sentinelas e guardas, itinerário das patrulhas de vigilância e os lugares dos obstáculos.
Apreciando as suas próprias forças, o chefe do destacamento (grupo) deve:
- apreciar a composição e a capacidade de combate da unidade;
- tomar em consideração o grau de instrução dos guerrilheiros, sua experiência combativa, o estado político-moral e os conhecimentos do terreno na região das acções futuras;
- tomar em consideração a presença e o estado do armamento, das munições,do combustível, etc.
Apreciando os vizinhos, o chefe do destacamento (grupo) estuda a sua composição, as missões e os meios da sua realização.
Apreciando o terreno, o chefe do destacamento dos guerrilheiros determina:
- sua capacidade de passo para os guerrilheiros e o inimigo, os lugares cómodos para atravessar os obstáculos e mais favorável caminho de movimento e as condições de mascaramento;
- os lugares de descanso e de alto de dia;
- as aproximações camufladas para acesso e as posições de partida para o ataque;
- os lugares de encontro depois de ter cumprido a missão e os caminhos de recuo.
Na sua decisão, o chefe do destacamento determina:
- o objectivo da operação e os meios da sua realização;
- qual é o inimigo que deve aniquilar~se e de que maneira;
- onde se concentra o esforço principal e qual a forma de combate que deve fazer;
- as missões de combate;
- as medidas de abastecimento das acções combativas;
- os caminhos do movimento, as horas e os métodos e aproximação dos guerrilheiros aos objectivos de ataque;
- os métodos de salvar os obstáculos e as acções, perante de encontro por surpresa do inimigo;
- a hora do começo da operação e ordem das acções depois de cumprir a missão e os métodos de comando;
- onde, quando e quais as acções simulantes a realizar.
Na ordem de combate, o chefe do destacamento indica:
- os pontos de referência (objectos locais cifrados);
- as informações sobre o inimigo;
- a missão combativa do destacamento ou grupo;
- as missões dos vizinhos;
- as missões de combate para as unidades e os meios de fogo;
- a hora de estar pronto para cumprir a missão e os métodos de comando;
- seu lugar e o ajudante.
Organizando a cooperação, o chefe do destacamento (grupo) coordena:
- as consequências e as maneiras de abrir passos nos obstáculos do inimigo, eliminar as sentinelas e outra guarda;
- ordem, tempos e maneiras das acções durante o ataque contra o inimigo (ocupação do objectivo);
- as acções de atacantes, das unidades de fogo, e de asseguramento dos grupos de explosão e de reserva;
- as direcções de recuo e a ordem de proteger o recuo;
- ordem de manter a comunicação;
- sinais de identificação para o pessoal e sinais de identificação das unidades;
- sinais de ataque, começo, transmissão, cessar de fogo e recuo.
As medidas de precaução durante a instrução táctica
Nos estudos tácticos é proibido:
1. Abrir fogo contra os objectos e as construções com cartuchos de salva a distância inferior a 200 m.
2. Explodir os petardos de imitação ou outros meios de imitação na distância menos de 20 m de pessoal, lança-foguetes e com petardos de imitação perto dos homens, contra o material de combate, carros, nas aldeias, porto dos depósitos, etc.
3. Passar nas zonas e lugares proibidos, limitados com bandeiras e indicadores. Tomar e tocar os obuses, minas, petardos e espoletas não rebentadas.
4. Deter nas mãos os petardos de imitação já incendiados.
5. Lançar foguetes de iluminação e de sinais com ângulo menos de [?...ilegível].
6. Situar-se e deitar-se perto dos carros, tanques, e os canhões que atiram na distância menos de 50 m.
7. Beber a água não fervida das fontes não provadas e incendiar as fogueiras.
8. Deixar sem guarda a arma, munições e equipo, perder os mapas, os documentos, etc.
9. Transportar o pessoal no transporte não preparado, reduzir as distâncias estabelecidas, realizar travagem brusca e superar a velocidade estabelecida de marcha.
________
Notas de L. G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série (que foi sendo publicada com alguma irregularidade, desde há mais de um ano):
22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)
24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)
1 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)
8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)
29 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)
4 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)
17 de Janeiro de 2008 > Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)
19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)
13 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)
7 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)
15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC - Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC - Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)
7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3032: PAIGC - Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)
4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3170: PAIGC - Instrução, táctica e logística (14): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIV Parte): Educação (A. Marques Lopes)
16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3211: PAIGC - Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)
1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3258: PAIGC - Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)
8 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3284: PAIGC - Instrução, táctica e logística (17): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A formação do soldado das FARP (A. Marques Lopes)
22 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3344: PAIGC - Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helícóptero (A. Marques Lopes)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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