Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Guiné 63/74 - P3395: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (9): Tempo de Gandembel...(Alberto Branquinho)
Alberto Branquinho
ex-alf mil
CArt 1689
1967/69
Outra forma de falar
GANDEMBEL
Sangue
fome
suor
sede sede
urina
sono sono
cansaço
fezes
medo medo medo
medo e pó.
Gandembel
um homem dissolve-se no tempo que não passa
na merda
na esperança no pó no fumo
e ficam só cabeças em suspensão
a sede mata sorrisos
pedaços de corpos fecundam a terra
ávida de sangue de sangue e água
prenhe de chumbo e cinza.
Gandembel
o tempo não passa não anda
o tempo espera pelo tempo
espera espera espera
amanhã amanhã depois de amanhã
coração-detonador
estilhaçado de saudade
de raiva e de tempo parado.
Gandembel
tempo de sangue
tempo de morte
tempo de espera
tempo de sono
tempo de sede e fome
tempo sem amanhã
tempo de raiva
tempo de medo e de pó.
________________________
in “SobreVivências” (Espólio de guerra) -2004
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Notas: artigo da série em
28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3368: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (8): Navegações...
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1 comentário:
Bravo, Alberto! Não te conhecia essa faceta de poeta. Estás a ser uma revelação. Aliás, é para isso que serve o nosso blogue, para nos conhecermo-nos melhor e para nos darmos a conhecer aos outros...
Passei, em tempo de paz, por Gandembel, há uns vezes atrás, mas - esquisito! - senti o mesmo que tu, que lá estiveste em tempo de guerra:
Gandembel (...)terra
ávida de sangue de sangue e água
prenhe de chumbo e cinza.
Obrigado, camarada!
Luís
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