1. Em 26 de Outubro de 2008, Gonçalo Andrade mandou esta mensagem ao nosso Blogue:
Amigo Luis Graça,
O meu pai foi combatente na Guiné (Cameconde), aproximadamente entre 03/1967 e 03/1969.
Infelizmente, o mesmo faleceu, vítima de acidente de viação em 1979 (tinha eu 8 anos) e a minha mãe também faleceu em 1983 (eu com 12 anos) igualmente de acidente automóvel.
Desta forma, não tenho quem me dê informações ou referências e ando em busca das origens.
Pelo referido, excepto as datas e algumas fotografias, nada mais sei, nem nome/número da Companhia, nem ramo das forças armadas a que pertenceu.
Gostava de obter informações a seu respeito, fotografias e filmes onde aparecesse e de saber se a sua Companhia se organiza em confraternizações.
O seu nome era António Andrade Júnior e era natural de Estremoz, nascido em 1945. (...) (*)
2. No dia 27 o nosso camarada José Martins dirigia-se assim ao Gonçalo Andrade e à Tertúlia e ao Goçalo Andrade, filho do nosso camarada António Andrade Júnior que pertenceu à CART 1692:
Bom dia Camaradas e meu novo FILHO.
Para o Gonçalo, começo por enaltecer a sua atitude de procurar as origens. Chamo-te filho porque defendo que OS FILHOS DOS NOSSOS CAMARADAS, NOSSOS FILHOS SÃO.
(...) (**)
3. Mais recentemente (30 de Outubro de 2008 (?)) o Gonçalo Andrade mandou este mail ao nosso camarada José Martins:
Boa Noite Amigo José Martins,
Falamos há dias no seguimento deste e-mail, na altura não relacionei de imediato com o primeiro e-mail e quero agradecer, sinto-me como um filho efectivamente.
No trabalho de pesquisa, virei as minhas 65 fotografias ao contrário e procurei ordenar datas e locais. A maior parte nada diz no verso. Contudo apurei as seguintes datas e localidades:
30/08/1967 Cacoca
23/10/1967 Cacine
03/11/1967 Cacine
08/11/1967 Cacoca
Ano 1968 - Todas Cameconde
16/02/1969 - Bissau
Penso que bate mais ou menos certo com a informação que me enviou no anexo deste mail.
Tenho também recebido algumas informações do camarada António José Pereira da Costa que diz julgar ter servido com o meu pai e me perguntou se, no espólio, via referências a CART 1692 - SPM 4248 (?).
Andei muitos anos a ganhar coragem para esta demanda (e foi preciso chegar aos 37 anos). Senti-me na obrigação! Tenho 2 filhos de 10 e 3 anos, netos de avós que não conheceram. Queria partilhar com eles estas memórias e deixar-lhes as raízes que não tive, para além do orgulho que deverão ter de um avô que sofreu na pele os males de uma guerra e transmitir-lhes este espírito de camaradagem que vai faltando no mundo moderno.
Um abraço muito amigo
gonçalo andrade
P.S.: O Arquivo Militar, a tal caixa n.º 81 é consultável? Também pedi informações para a Liga Combatentes. Ajudaria chegar à lista dos incorporados, já que até ver não demos com a Caderneta Militar.
4. Em 30 de Outubro, José Martins respondia:
Bom dia Gonçalo
Acho muito bem a preocupação de saber as origens, para se saber como vamos para o futuro.
Sei o que é ter um avô, que se admira, sem se ter conhecido.
O meu avô materno esteve em Moçambique nos finais do Século XIX.
Mais tarde, veio a bater com os costados em França, onde apenas esteve entre Janeiro e Junho de 1917, tendo sido evacuado para Portugal, com incapacidade permanente e total para o serviço militar. Foi reformado muito novo, tinha a minha mãe mais ou menos oito anos, como gaseado de guerra.
Um irmão do meu pai, tio paterno portanto, tambem esteve em França, integrado no mesmo Regimento. Mais tarde, em 1962, fundaria em corpo de voluntários em São Salvador do Congo, sendo o seu primeiro Comandante, quando tinha 62 anos, exactamente a minha idade.
Eu estive na Guine entre 1968/1970, como Furriel de Transmissões.
Estes foram os combatentes da Familia.
No entanto há mais duas gerações: o meu bisavô materno e o meu filho mais novo (são três - 36 / 37 / 29 anos e um neto com quase treze anos)
Enfim, vamos ao que interessa:
No Arquivo Histórico Militar (2.ª a 6.ª feira) das 11,30 às 17,00 horas é possivel consultar a documentação e, a pedido, tiram fotocópias cujo preço, por ser documentação tão importante, é quase de borla. É nessa documentação que devem constar o nome e outros elementos de todos os militares que fizeram parte do batalhão, além de outras informações relacionadas não só com o desenvolver da campanha, mas tambem no aspecto disciplinar.
Neste início de dia estou a dar conta da correspondencia que tenho neste mail (profissional) para depois me dedicar ao trabalho, pois logo à tarde (19 horas) vou estar numa conferência de um antigo combatente, Cristovão de Aguiar, que escreveu um livro sobre a sua Unidade, na Biblioteca Museu Republica e Resistência, em Benfica/Lisboa.
É tudo. Um forte abraço e continução de uma boa pesquisa, que vai compensar.
José Martins
5. Hoje, dia 3 de Novembro de 2008, recebemos esta mensagem do Diogo, relatando todos os pormenores dos resultados das diligências efectuadas até agora.
Caros Amigos (espero não me ter esquecido de ninguém),
O sentimento de gratidão é imenso perante tanta vontade em ajudar e espiríto de companheirismo. Ver a divulgação nos blogues foi o pico! Tenho recebido fotografias, mapas, informações e tudo em pouco mais de 1 semana!
A persistência compensa e os meus amigos apontaram TODOS na direcção certa, nomeadamente os senhores José Martins (1) e António José Costa (2)(perdoem-me não pôr as patentes militares) através da informação da Companhia, mapas e fotografias, dado que, após intensa procura, apareceu ontem a Caderneta Militar (que anexo).
Efectivamente, o meu pai, António Andrade Juniór, esteve na Guiné entre 08 Abril de 1967 (data de embarque) e 03-03-1969 (data de embarque em Bissau). Serviu na CART 1692 e no BART 1914 (Sem Temor!!) - RAL 1. O seu N.º Mecanográfico foi 01758066 Classe 1966/3.ºt.
Nas fotos vi referências a um Nunes, Engenharia e a um Espadinha e o senhor António José Costa, também já me identificou alguns dos locais das fotos e, confirma-se assim que serviu com o meu pai.
Dado este importante primeiro passo, tomo a liberdade de pedir que me continuem a fazer chegar informação, nomeadamente fotos, filmes, história e episódios da BART 1914 e tudo quanto relaccione o meu pai, nomeadamente dos camaradas que com ele privaram. Em busca das memórias perdidas... dado que, uma árvore de grande porte, sem raízer firmes, torna-se frágil.
Sei também que, para mim são memórias não contadas e que pretendo recuperar e que, para os meus amigos, poderão ser aquelas que pretendem manter no baú. Pelo facto peço desculpa.
Por fim, caso este BART ou Companhia, organizem confraternizações, gostaria eventualmente de poder participar em representação do meu pai. Gostaria de conhecer os seus camaradas. Seria uma honra, por representação, pertencer a esta família.
Anexo a caderneta do meu pai, penso que ajude (3).
Nutro por todos vós, caros amigos, um sentimento de grande respeito, admiração e amizade.
Grato por tudo quanto já me fizeram chegar e que ajuda a conhecer o pai que tão cedo perdi e uma parte muito importante da sua vida.
Um grande bem haja. Tudo quanto precisarem da minha parte pessoal ou profissionalmente, fico ao vosso dispor.
Atentamente
gonçalo andrade
________________
Notas de CV
(1) - Trata-se do nosso camarada José Martins, ex-Fur Mil Trms Inf da CCAÇ 5
(2) - Trata-se do nosso Tertuliano Cor António José Pereira da Costa
(3) - Infelizmente não foi possível publicar a Caderneta Militar por ter chegado em formato PDF
(*) Vd. poste de 26 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3360: Em busca de... (47): Referências a meu pai, António Andrade Júnior, Cameconde, 1967/69 (Gonçalo Andrade)
(**) Vd. poste de 28 de Outubro de 2008, Guiné 63/74 - P3367: Em busca de... (48): Resultado das pesquisas efectuadas em busca de referências de António Andrade Júnior, CART 1692 (1967/69)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário