Recortes de imprensa > Jornal O Século > s/ data > Notícia da agência noticiosa ANI [de 11 de Junho de 1971], sobre o primeiro ataque do PAIGC a Bissau, com foguetões de 122 mm, em 9 de Junho de 1971 (1).
Imagens digitalizadas por © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.
Mensagem de 13 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes, com mais um texto do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:
PAIGC > Instrução, táctica e logística > III parte (2)
[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G]
TÁCTICA
1. Generalidades
Os procedimentos tácticos prescritos nos regulamentos e demais documentos de doutrina, são normalmente aplicados pelo IN mormente as variações por vezes surgidas, fruto como se referiu já, não só da evolução dos processos de actuação, como também de adaptação às diferentes circunstâncias, em que o IN procura as modalidades mais apropriadas e rendosas para obtenção dos seus objectivos.
Nas alíneas seguintes vai procurar-se dar a conhecer algumas actividades tipo da actuação do In, não só pela apresentação de procedimentos preconizados em diversa documentação capturada, como também pela descrição de casos reais, elaborados com base nos relatórios das NT.
Em Anexo H publica-se ainda um extracto de apontamentos de Táctica de Guerra de Guerrilhas, de cursos frequentados no estrangeiro (provavelmente China Popular), por elementos do PAIGC.
Deslocamentos; Progressões
(1). Dos elementos disponíveis referem-se em primeiro lugar as declarações de Carlos Silva, elemento IN capturado, que diz:
(a). Progressões
Durante a progressão dum bigrupo IN num trilho, os elementos são dispostos em coluna por um, constituindo 3 grupos. No primeiro e último vai um chefe de grupo indo o comandante do bigrupo no meio. Os lança granadas e as metralhadoras são distribuídas ao longo da coluna.
O deslocamento é feito por lanços sucessivos, sendo, normalmente, feitos ao anoitecer, com receio dos aviões. Só se deslocam de dia se a mata é fechada.
(b). Deslocamentos ao longo de uma estrada
Nos deslocamentos ao longo de uma estrada os elementos IN são dispostos de um lado e do outro da estrada, com a distribuição equitativa do armamento pessoal, indo num grupo o comandante do bigrupo e um chefe de grupo e no outro o comissário político e o outro chefe de grupo. A distância a que seguem da estrada está condicionada à vegetação.
Tratando-se de um grupo, ou menos, o deslocamento efectua-se dum único lado da estrada. As forças articulam-se conforme o esquema:
Comissário Político
Chefe de Grupo
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
======================
-> -> -> -> -> -> -> ->
======================
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Cmdt Bigrupo
Chefe de Grupo
(2) Esquemas Representativos de Técnicas Doutrinárias (deslocamentos com transposição de obstáculos)
Os esquemas que se apresentam foram extraídos de um caderno de apontamentos pertencente ao chefe de grupo João Landim e interpretado em função do código de sinais usado pelo IN.
(a) Passagem de uma zona estreita
Comentário: A figura mostra-nos a passagem de um grupo IN numa zona estreita. A passagem é feita por escalões, para o que, o primeiro, após a travessia da zona feita com o apoio do segundo no qual estão incluídas armas pesadas, desenvolve-se em linha instalando-se para proteger a travessia do segundo escalão.
(b) Passagem de um campo minado
Comentário: Parece ter sido detectado ou mesmo aberto um corredor através de um campo de minas por onde passa o primeiro escalão que após a travessia desenvolve em linha e instala, protegendo a passagem do segundo.
(c) Guarda de flanco a uma coluna que se desloca
Comentário: A figura mostra-nos um destacamento de guerilhas que se desloca sob a protecção de duas guardas de flanco.
(d) Progresso de um grupo de infantaria
Comentário: A figura representa a progressão de um grupo em coluna que em determinada altura desenvolve em linha, com vista ao desencadeamento e um ataque a um objectivo.
(e) Patrulhamentos
É difícil considerarem-se casos tipo pois que se caracterizam em função da zona em que se realizam. Nas regiões que o IN denomina de libertadas actua com efectivos reduzidos, isto é, grupos de 5 a 10 elementos enquanto que nas outras actua com efectivos que chegam a atingir o bigrupo.
Progride normalmente durante a noite a fim de se furtar à observação aérea, alvo nas regiões de vegetação densa onde progride à vontade mesmo de dia.
Quando progredindo em trilhos ou estradas, fá-lo com efectivos de homens, chefes e armas num dispositivo equilibrado a fim de poder reagir com eficiência. Notícias várias referam que muitas vezes o faz ao lado de trilhos como meio de evitar o armadilhamento dos mesmos.
2. Emboscadas
(1). Generalidades
É a operação clássica da guerra de guerrilhas invariavelmente caracterizada pela violência e grande volume de fogos com que é desencadeada. Conjugada muitas vezes com o uso de engenhos explosivos, a emboscada caracteriza-se ainda pela sua curta duração. Não sendo no TO da Guiné a acção de guerrilha mais usual do IN, a partir de 1970, parece ter vindo a acentuar-se a sua realização e a tendência para ser tentado o assalto como remate final para uma acção em que se verifica estarem a ser empregues efectivos cada vez mais numerosos.
Nem sempre o local de desencadeamento desta acção é o considerado ideal pois que o IN, preferindo usar da surpresa e dissimulação, actua onde melhor julga obter êxito. Quando assim sucede, realiza trabalhos sumários de organização do terreno, prepara itinerários de retirada e vai sendo normal cobrir a retirada das suas forças com fogos de armas pesadas as quais, colocadas numa base à rectaguarda da posição de emboscada, evitam assim a perseguição que eventualmente lhe seja movida pelas NT.
(2). Do estudo e interpretação de documentos capturados durante a Op Pardal Negro na área de Cubisseco extrairam-se os seguintes elementos relativos a esta operação:
"Emboscadas contra os Inimigos”
Emboscada é a principal maneira de poder derrotar os inimigos no momento de combate. Num combate há 7 espécies de emboscadas:
- Emboscada de aniquilamento
- Emboscada de contenção ou adversão
- Emboscada de impedimento
- Emboscada contra barcos
- Emboscada contra paraquedistas
- Emboscada contra helicópteros
- Emboscada para prenser prisioneiros.
Para fazer uma emboscada devemos ter uma boa informação dos inimigos, devemos conhecer o indivíduo que trouxe a informação, se ele é da população ou guerrilheiro. Devemos saber se os inimigoa andam a pé, de carro ou via aérea. Qual é a cautela que eles poderão tomar no momento da marcha para a linha de combate.
Nós devemos escolher um bom terreno onde possamos fazer fogo contra o inimigo.
Sistema de fogo – é uma cooperação de ditribuir todos os veículos no momento do combate para aniquilamento dos ocupantes.
Organização da emboscada – nós podemos recebr uma informação através dum camarada; devemos conhecer esse indivíduo, o seu nome e se ele é um guerilheiro do povo, se está em contacto com os inimigos ou não.
Camuflagem – no momento da emboscada devemos fazer abrigos individuais para cada camarada. Esses abrigos devem ser camuflados.
Realização de Exploração – devemos controlar todos os locais antes de fazermos uma emboscada e temos de saber se o terreno é favorável para nós.
(3) Declarações do capturado Formoso Mendes referem:
As emboscadas tanto a colunas de viaturas como a forças apeadas são feitas da mesma maneira, isto é, o pessoal é distribuído ao longo da estrada, colocando em cada extremidade uma equipa de LGFog e ML, estando um chefe de grupo junto de cada uma. A distância em relação à estrada é em função da vegetação.
Quando as colunas de viaturas tazem segurança dos flancos, as emboscadas são montadas bastante à rectaguarda.
No caso de desconfiarem que vem tropa pela rectaguarda, colocam uma equipade LGFog e ML, bem como mais pessoal, montando uma emboscada de segurança.
Quando as viaturas ou forças apeadas atingem a zona de morte, a equipa da frente abre fogo sobre a testa da coluna e em seguida abre fogo a equipa da outra extremidade. Os elementos do meio abrem fogo retirando de seguida, o mesmo fazendo as equipas de detenção.
Por vezes as emboscadas são conjugadas com a implentação de minas, sendo a acção desencadeada simultaneamente com o rebentamento dum desses engenhos.
O esquema que se segue representa a disposição das forças em emboscada:
Cmdt Bigrupo
Comissário Político
A – Equipa de detenção à frente (LGFog, ML, chefe de grupo)
B – Equipa de detenção à rectaguarda (LGFog, ML, chefe de grupo)
C – LGFog
D – ML (Metralhadoras Ligeiras)
(Continua)
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
(...) "Bissau é flagelada pela primeira vez com foguetões de 122 mm em 9 de Junho de 1971 A 9 de Junho, o PAIGC, por intermédio do CE 199/70 (estacionado em Morés), chefiado por André Pedro Gomes e, na artilharia, por Martinho de Carvalho e Agnelo Dantas, flagelou Bissau pela primeira vez com foguetões de 122 milímetros.
"Este ataque foi possível dado os esforços da unidade de artilharia referida, que, apoiada pelos grupos de infantaria, conseguiram penetrar para lá da linha defensiva do exército português e bombardearam as suas posições na cidade, embora tal tivesse sido possível porque também se realizaram acções simultâneas da frente Nhacra-Morés, o que permitiu proteger a retirada das unidades que atacaram Bissau" (...).
(2) Vd. posts anteriores:
22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)
24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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