Foto: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem de 22 de Setembro de 2007, enviada pelo J. C. Abreu dos Santos ao Idálio Reis:
Assunto - António Pereira Moreira, última baixa mortal da CCAÇ 2317
No post de 19 de Julho de 2007, o nº 9 dedicado à história da CCAç 2317 (1) , pode ler-se:
(...) No desperdiçar das granadas ofensivas [...], na véspera da despedida, perde a vida por imprevidência, em acidente com arma de fogo, o 9º e último elemento da Companhia, o soldado António Moreira, de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão. [...] As restantes munições ficaram por lá espalhadas. Houve ainda tempo, para se proceder à sua evacuação para Bissau (...).
No entanto, o citado militar está registado (numa anterior base-de-dados
da Liga dos Combatentes), como natural da localidade de "Formiga,
freguesia de [São Pedro de] Escudeiros, concelho de Braga".
Considerando "a narração dos factos mais amargurados e pungentes [...]"
baseia-se muito no "baú da minha memória pessoal, à míngua de documentação oficial", solicito que, por esta via, me informe o que houver por conveniente.
Antecipadamente grato pela atenção que possa dispensar ao assunto, queira aceitar os melhores cumprimentos, de J.C. Abreu dos Santos.
2. Resposta do Idálio Reis:
Meu caro J. C. Abreu dos Santos:
É tudo isso. O baú das recordações com quem me confrontaram num determinado período da minha comissão, são demasiadas. E o que procurei descrever sobre a permanência da Companhia em Gandembel/Ponte Balana, foram os factos que perduraram, porque foram contidos numa espécie de «caixa preta».
Os mortos da Companhia, todos os outros que tombaram naquele fatídico sítio, os grandes ataques ao aquartelamento, o desastre trágico de Changue-Iaia, não poderiam cair no olvido para quem os viveu dia-a-dia, sem qualquer interregno.
O que condenei foi que a história da minha Companhia que se encontra no Arquivo Histórico Militar em Lisboa, envergonha-me pela sua omissão. Obviamente que há culpados por isto, mas não tenho minimamente qualquer interesse em desenterrar nenhum machado de guerra. porque não valerá a pena.
E socorri-me de uma publicação editado pelo Exército, que insere os nomes dos mortos. Talvez a mais fidedigna de todas que são do meu conhecimento. Quando comecei a descrever esta parte da minha comissão, tinha presente as datas dos mortos e as condições em que faleceram. Obviamente que dos nomes, só os apelidos, a não ser do alferes Vale Leitão que está enterrado numa freguesia do concelho de Coimbra, bem perto donde vivo, e que passo por lá várias vezes para o visitar (a lápide do seu mausoléu tem um erro na data da sua morte), bem como do furriel Abel Simões, de uma freguesia de Montemor-o-Velho, também próximo da minha residência, que ab initio pertenceu ao meu grupo de combate, mas que viria a ser transferido em reforço de outro grupo de combate, e que morre em 4 de Agosto em condições tais que o seu corpo não chega à sua terra natal. Sempre soube que tal aconteceu, porque esse 4 de Agosto pareceu despontar por nos atraiçoar. E dos factos desse dia, o que ainda não consigo entender, é por que motivo o corpo do soldado Eduardo Pacheco não regressou - tanto mais que 2 vizinhos eram de Seroa, Paços de Ferreira, já tive oportunidade de estar junto deles -, bem como a do Domingos Costal em Olival, Vila Nova de Gaia.
Quanto ao caso de que me fala, naturalmente que os seus dados coincidem com
a citada publicação; há pessoal da Companhia, que me confirma o que então
publiquei.
Aos que ainda não visitei, têm uma promessa da minha parte que não foi concretizada. Como já estou aposentado, espero em breve espalhar uma flor sobre as campas. A procura dos que regressaram e jamais vi, tenho feito alguns progressos, embora com muitas surpresas, pois alguns já nos deixaram e outros não conseguimos encontrar-lhes qualquer referência.
Mas já se passaram 40 anos...
Um abraço do Idálio Reis.
__________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques
Assunto - António Pereira Moreira, última baixa mortal da CCAÇ 2317
No post de 19 de Julho de 2007, o nº 9 dedicado à história da CCAç 2317 (1) , pode ler-se:
(...) No desperdiçar das granadas ofensivas [...], na véspera da despedida, perde a vida por imprevidência, em acidente com arma de fogo, o 9º e último elemento da Companhia, o soldado António Moreira, de Joane, concelho de Vila Nova de Famalicão. [...] As restantes munições ficaram por lá espalhadas. Houve ainda tempo, para se proceder à sua evacuação para Bissau (...).
No entanto, o citado militar está registado (numa anterior base-de-dados
da Liga dos Combatentes), como natural da localidade de "Formiga,
freguesia de [São Pedro de] Escudeiros, concelho de Braga".
Considerando "a narração dos factos mais amargurados e pungentes [...]"
baseia-se muito no "baú da minha memória pessoal, à míngua de documentação oficial", solicito que, por esta via, me informe o que houver por conveniente.
Antecipadamente grato pela atenção que possa dispensar ao assunto, queira aceitar os melhores cumprimentos, de J.C. Abreu dos Santos.
2. Resposta do Idálio Reis:
Meu caro J. C. Abreu dos Santos:
É tudo isso. O baú das recordações com quem me confrontaram num determinado período da minha comissão, são demasiadas. E o que procurei descrever sobre a permanência da Companhia em Gandembel/Ponte Balana, foram os factos que perduraram, porque foram contidos numa espécie de «caixa preta».
Os mortos da Companhia, todos os outros que tombaram naquele fatídico sítio, os grandes ataques ao aquartelamento, o desastre trágico de Changue-Iaia, não poderiam cair no olvido para quem os viveu dia-a-dia, sem qualquer interregno.
O que condenei foi que a história da minha Companhia que se encontra no Arquivo Histórico Militar em Lisboa, envergonha-me pela sua omissão. Obviamente que há culpados por isto, mas não tenho minimamente qualquer interesse em desenterrar nenhum machado de guerra. porque não valerá a pena.
E socorri-me de uma publicação editado pelo Exército, que insere os nomes dos mortos. Talvez a mais fidedigna de todas que são do meu conhecimento. Quando comecei a descrever esta parte da minha comissão, tinha presente as datas dos mortos e as condições em que faleceram. Obviamente que dos nomes, só os apelidos, a não ser do alferes Vale Leitão que está enterrado numa freguesia do concelho de Coimbra, bem perto donde vivo, e que passo por lá várias vezes para o visitar (a lápide do seu mausoléu tem um erro na data da sua morte), bem como do furriel Abel Simões, de uma freguesia de Montemor-o-Velho, também próximo da minha residência, que ab initio pertenceu ao meu grupo de combate, mas que viria a ser transferido em reforço de outro grupo de combate, e que morre em 4 de Agosto em condições tais que o seu corpo não chega à sua terra natal. Sempre soube que tal aconteceu, porque esse 4 de Agosto pareceu despontar por nos atraiçoar. E dos factos desse dia, o que ainda não consigo entender, é por que motivo o corpo do soldado Eduardo Pacheco não regressou - tanto mais que 2 vizinhos eram de Seroa, Paços de Ferreira, já tive oportunidade de estar junto deles -, bem como a do Domingos Costal em Olival, Vila Nova de Gaia.
Quanto ao caso de que me fala, naturalmente que os seus dados coincidem com
a citada publicação; há pessoal da Companhia, que me confirma o que então
publiquei.
Aos que ainda não visitei, têm uma promessa da minha parte que não foi concretizada. Como já estou aposentado, espero em breve espalhar uma flor sobre as campas. A procura dos que regressaram e jamais vi, tenho feito alguns progressos, embora com muitas surpresas, pois alguns já nos deixaram e outros não conseguimos encontrar-lhes qualquer referência.
Mas já se passaram 40 anos...
Um abraço do Idálio Reis.
__________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques
1 comentário:
Quem assim procede tem uma alma grande.
Estás a fazer o que alguns, que têm o sangue deles, nunca o fizeram.
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