Durante o tempo em que a minha Companhia permaneceu na Guiné, houve dois ataques com foguetões à cidade de Bissau (1).
O primeiro foi em 9 de Junho de 1971, data que não esquece, porque coincidiu com uns dias de folga proporcionados a alguns militares da CART 2732, precisamente em Bissau.
Alguém tinha resolvido que dois pelotões, de cada vez, fossem passar dois dias a Bissau, no mês de Junho de 1971, como recompensa pela permanência de 14 meses consecutivos em Mansabá e pelo esforço despendido durante a construção do troço da estrada Bironque-K3.
Aprazado foi o dia 10 de Junho, Dia da Raça, Feriado Nacional, para os primeiros dois pelotões da CART 2732 desfrutarem da tão ansiada visita à capital, deixada para trás há tanto tempo.
Ainda em Mansabá soubemos que Bissau tinha sido atacada na noite anterior mas, como não viesse nenhuma contra-ordem, lá nos pusemos a caminho.
Chegados, deixámos as armas no Regimento de Comandos e fomos passar o resto do dia e princípio de noite no centro da cidade.
Tínhamos connosco as nossas próprias viaturas pelo que não tínhamos problemas de transporte. Depois da chamada visita panorâmica, estacionámos as viaturas e cada um viveu à sua maneira momentos de descompressão, numa cidade atemorizada pelos recentes acontecimentos.
Lembro-me que na noite de 10 de Junho toda a tropa sediada em Bissau estava de prevenção nos respectivos quartéis e que a população civil era muito pouca nas ruas. O centro da cidade estava praticamente deserto. Os cafés e restaurantes tinham um movimento reduzido, porque lhes faltavam os seus melhores clientes, os militares.
No dia 11 foi o regresso a Mansabá, enquanto Bissau retomava a normalidade.
Constou-se que nos dias subsequentes houve um desusado movimento aéreo, para trazer para a Metrópole as esposas dos militares que se encontravam a morar em Bissau. Esta deixara de ser uma cidade segura. À noite era proibida a ida a Safim sem escolta militar.
No segundo ataque à cidade, em 1972, mais propriamente ao aeroporto, estávamos já em Bissau à espera que chegasse o dia do regresso, marcado para 19 de Março, num dos aviões dos TAM [Transportes Aéreos Militares].
O acto bélico terá acontecido entre os dias 9 e 12 de Março de 1972 (não sei precisar) e deixou-nos preocupados, pois se a pista fosse afectada, podiam arranjar uma desculpa para nos reter por mais algum tempo.
Porque já fosse a segunda vez, ou porque desta feita os foguetões caíssem mais longe (imediações do aeroporto), não se notou qualquer alteração no quotidiano da cidade.
Guiné > Bissau> Aeroporto de Bissalanca
Vou transcrever um excerto da História da Unidade, CART 2732, página 37, Capítulo II, FASCÍCULO XX - PERÍODO COM INÍCIO EM 01FEV72, A - SITUAÇÃO GERAL, 2. Inimigo: [...]
Em Bissau, para onde a CART se desloca a partir de 08FEV, o IN tem pretendido intensificar a guerrilha, revelando-se por alguns rebentamentos de engenhos explosivos na cidade de BISSAU. Prevê-se que tais acções se estendam a outros objectivos procurando obter resultados espectaculares susceptíveis de aproveitamento junto das populações e na sua propaganda externa.
Esta observação, na HU da CART 2732, dá a entender que Bissau no início de 1972 já não vivia dias muito pacíficos (2).
Carlos Vinhal
ex-Fur Mil
__________________
Notas de CV:
(1) Vd. post de 1 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logísitica (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)
(2) O Germano Santos escreveu-nos o seguinte a propósito do primeiro ataque a Bissau:
Olá Luís e restantes camaradas,
A propósito do ataque a Bissau naquele dia 9 de Junho de 1971, é só para recordar que esse ataque foi designado por nós, em Mansoa, como o ataque à linha do Estoril.
Olá Luís e restantes camaradas,
A propósito do ataque a Bissau naquele dia 9 de Junho de 1971, é só para recordar que esse ataque foi designado por nós, em Mansoa, como o ataque à linha do Estoril.
Na verdade o ataque foi feito em simultâneo, salvo erro, a partir de Mansoa e foi por aí abaixo (Jugudul, Uaque, Rossum, Nhacra, creio que também o Cumeré e Bissau).
Um abraço.
Germano Santos
Um abraço.
Germano Santos
(3) Vd. posts de:
Sem comentários:
Enviar um comentário