quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7606: Blogoterapia (173): Preciso de todos vós, velhos combatentes, que participam neste blogue, escrevendo ou simplesmente lendo-o (Manuel Joaquim)

1. Mensagem de Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67, com data de 12 de Janeiro de 2011:

Meu caro camarada, meu caro Carlos
Para já, a informação de que a mensagem de parabéns da Tabanca, com o maravilhoso cunho emocional do Miguel Pessoa, foi direcionada para o aniversariante, através do e-mail da filha mais velha (o JM não tem e-mail pessoal). Fiquei emocionado e acho que ele o irá ficar também.

Preciso de apresentar um pedido de desculpas a todos os camaradas, a começar pelo Luís Graça, que tomaram conta da "estória" do JM (ADILAN), pelo meu silêncio no seguimento da sua publicação. Não merecem este silêncio. Fiz mal não reagir de imediato e a intenção de responder "pifou"! Alguém da família "tomou posse" do computador durante algum, bastante, tempo (candidatura a um projeto europeu "oblige") e, só hoje, esta maquineta voltou para as minhas mãos, a sério. E, maravilha, voltou no momento preciso para o JM poder receber os parabéns da Tabanca Grande. Garanto que darei notícias dele e da passagem do seu 50º aniversário. Como sempre, a família irá reunir-se, em dia compatível, para festejar o seu dia de anos. Não será hoje, por impossibilidade prática.

Agora, esperam-me longas horas a pôr a comunicação em dia (e-mail, "luis graça e cam...", facebook, etc). Adivinha-se uma "direta". Para quem, eu há dois anos, não sabia "abrir" um computador, é obra. Quem é, quem é, o principal responsável por este progresso? Ora, quem há-de ser? - O blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné! Que me "obrigou" a aprender alguma coisa para poder comunicar com os meus queridos camaradas "tabanqueiros". Ainda sei pouco mas...

Por falar em "tabanqueiros", gosto das opiniões duns, não gosto das de outros, gosto assim assim das de alguns mas são-me todos muito queridos. Sinto em mim esta amorosa camaradagem cimentada na comunhão de vivências, na similitude de momentos críticos passados, nas emoções facilmente repartidas porque também fáceis de identificar na origem. Camaradagem cimentada, ainda, nas memórias dos nossos "vinte" anos passados numa guerra em que o "impossível" era possível, muitas vezes o foi, em que o lado pícaro da vida se misturava com a heroicidade pensada e organizada. Vivemos profundamente imersos no turbilhão de emoções gerado por estarmos vivos naquele meio, muitas vezes sem disso darmos conta, em que cada dia que passava era uma peça na ponte que era preciso construir para voltarmos ao ponto de partida, ao seio dos nossos entes queridos. Fomos heróis no palco da guerra, intérpretes de comédias, farsas e tragédias, fomos heróis na solidão dolorida de cada um, na angústia da sobrevivência como animal armado, sim, mas também como ser humano digno e solidário, fomos heróis na resistência ao infortúnio, fomos Heróis, pronto!!!

Não preciso de vos conhecer pessoalmente, amigos e camaradas, mas não o recuso e, por vezes, desejo-o. Basta-me saber que estão vivos e ter o prazer de vos sentir "vivos". Preciso de todos vós, velhos combatentes, que participam neste blogue, escrevendo ou simplesmente lendo-o. Há por aqui algumas "guerritas" que me divertem, a sério! Quanto às de caráter ideológico, cada um come do que gosta, o que é que se há-de fazer? - É lê-las e tomar partido (ou não). Um militante político, como eu, estaria "lixado da vida" se não respeitasse as ideias dos meus adversários. Quanto às de caráter pessoal, para lá de que não deviam vir para aqui, é lá com eles, os "beligerantes". Quanto às que surgem por contradições de memória, oh meus camaradas, admitamos que todos somos enganados por esta "danada". Está provado que a memória de um acontecimento não é igual para todos os que a ele assistem, no limite raramente é igual. Na minha vida de professor fazia este teste:

Levava a turma a presenciar determinado facto, escolhia alguns alunos para olharem com atenção de modo a relatarem, mais tarde, o que viram. Um de cada vez, sem a presença dos outros testados, contava à turma o que tinha visto. Não me lembro de, alguma vez, os seus relatos terem coincidido ou não terem sido emendados ou acrescentados por alguém da turma.

É por isso que eu não confio totalmente nas minhas memórias, principalmente se estiveram "arquivadas" durante muito tempo. É por isso que eu adoro este blogue que tem muitas chaves das minhas gavetas da memória. E tenho pena que a minha CCaç 1419 não tenha aqui mais representantes que terão, de certeza, algumas das minhas chaves perdidas.

Para ti, Carlos, querido "mansabeano" como eu (mais do que eu, só estive seis meses em Mansabá), um grande abraço. Para todos os "atabancados", eu incluído, que estejamos muito "vivos", seja em que área for da nossa vida! Saudações amigas.
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Notas de CV:

Vd. poste de Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7600: Blogoterapia (172): Obrigado, camarigos, os melhores anos da minha vida são os que estão para vir porque os outros jamais voltam... (Rui Alexandrino Ferreira)

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Manuel Joaquim

Grato e sensibilizado pela mensagem lúcida, sábia e sensata, que nos transmites, que é bem reveladora de Homem responsável, solidário e com nobreza de carácter, que tu és.

É confortante sentir, que há quem tenha afectividades que graciosamente nos presenteiam, com a sua sabedoria e o seu pulsar de vida sã.

Um abraço e obrigado!

José Corceiro

Anónimo disse...

"em que cada dia que passava era uma peca na ponte que era preciso construir para voltarmos ao ponto de partida". A tua frase,quanto a mim,é a que melhor define o nosso "tempo de Guiné".E,Camarada e Amigo,muito tenho lido (e meditado) nestas décadas sobre o assunto. Um grande abraco.

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Manuel Joaquim

Também eu, que me identifico profundamente com este Blogue, com a sua 'razão de ser', com as suas regras, com os seus declarados objectivos, tenho tido recentemente alguns 'atrasos' nas leituras ou comentários.
Deste modo 'faltei' aos merecidos parabéns ao 'Adilan', cuja história, por ti relatada, me tocou profundamente.
Como isso já passou, deixa-me que te diga que li com atenção e interesse esta tua comunicação e julgo ter compreendido os teus apelos.
Posso dizer-te que partilho as tuas idéias expressas e por isso podes contar comigo para manter este espaço tão 'saudável' quanto for capaz disso.

Um abraço
Hélder S.