segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7587: In Memoriam (68): Na morte de Vitor Alves (1935-2010), um dos grandes capitães de Abril: Mensagem à sua filha, Ana Cristina Alves, sinóloga (António Graça de Abreu)

1. Mensagem do nosso camarada António Graça de Abreu (foto à esquerda, na China):

Data: 10 de Janeiro de 2011 17:26
Assunto: Na morte de Vitor Alves

Meus caros [editores]:

Se acharem que é de publicar, avancem. Forte abraço,

António Graça de Abreu


Na morte de Vitor Alves, um dos grandes capitães de Abril, que ainda há poucos anos afirmou que hoje teria feito tudo igual na luta para derrubar o regime de Salazar e Caetano, excepto o pós-25 de Abril, o desastre e vergonha da descolonização, enviei à sua filha, minha amiga, sinóloga, uma das poucas especialistas em assuntos chineses em Portugal, a seguinte mensagem:

 Ana Cristina Alves, caríssima:

Quando o teu Pai regressa ao Grande Vazio, apenas duas palavras.

Cumpre-se o Tao, o ciclo da vida e da morte.

O teu Pai, que mal conheci mas que sei, podia ser meu companheiro de tantas viagens pelo mundo, partiu.



Em ti, Ana Cristina, a memória até ao fim dos teus dias, de um Pai que te encaminhou e ajudou a ser quem és, a Ana Cristina Alves, uma extraordinária e excelente pessoa,
mulher de bem, inteligente e amiga.

O Vitor Alves, esse homem de eleição, teu Pai, vai continuar contigo, connosco. Até um dia partirmos, e feitos cinza, terra e pó, nos juntarmos a quem toda a vida amámos.

Um fortíssimo abraço, as condolências do

António Graça de Abreu
____________

Nota de L.G.:

(*) Pequena nota biográfica sobre o Cor Inf Ref Vitor Alves (1935-2011), nosso camarada de armas (embora nunca tenha passado pelo TO da Guiné). 


(i) Vítor Alves nasceu em Setembro de 1935 em Mafra;


(ii) Matriculou-se na Escola do Exército [, actual Academia Militar,] em 14 de Outubro de 1954; pertencia à arma de infantaria;  e passou à reforma em 1991;

(iii) Tornou-se alferes em 1 de Novembro de 1958, tenente a 1 de Dezembro de 1960, capitão a 14 de Julho de 1963 e major a 1 de Março de 1972;  



(iv) Durante a sua carreira  militar, esteve colocado em várias unidades, incluindo no Ultramar em comissão de serviço, onde permaneceu 11 anos, em Moçambique e Angola [não consta que tenha estado no TO da Guiné]:

(v) Em 1969 é+3he atribuído o Prémio Governador-Geral de Angola pelo trabalho desenvolvido no campo das actividades socioeconómicas em prol das populações africanas;

(vi) Em 1974, fez parte da comissão coordenadora e executiva do Movimento das Forças Armadas (MFA), juntamente com Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço,  tendo redigido o respectivo programa;  

(vii) Foi o responsável pelo comunicado do MFA divulgado à população no 25 de Abril e substituiu Otelo Saraiva de Carvalho, a partir das 16 horas, no posto de comando da Pontinha, passando a coordenar o desenvolvimento da acção;

(viii) Pertenceu ao Conselho de Revolução, do qual foi porta-voz, até à sua extinção (em 1982);

(ix) Foi ministro sem pasta do II e III Governo Provisório (entre 17 de julho de 1974 a 26 de março de 1975) e ministro da Educação e Investigação Científica do VI Governo Provisório (de 19 de setembro de 1975 a 23 de julho de 1976);

(x) Em 1982, foi nomeado conselheiro do então Presidente da República, Ramalho Eanes, ano em que passou à reserva como militar; 

(xi) Recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (1983), entre muitas outras distinções dentro e fora de Portugal;

(xii) Foi candidato independente pelo PRD às eleições legislativas (1985), à presidência da Câmara de Lisboa (1986) e ao Parlamento Europeu (1987);

(xiii) Foi um dos fundadores da Associação 25 de Abril; 

(xiv) Tinha a patente de coronel desde 2001, tendo morrido de cancro, no Hospital Militar, ontem, domingo, 9 de Janeiro de 2011; 

(xv) Será recordado como um homem cordial, afável e criador de consensos, qualidades que os portugueses nem sempre valorizam devidamente. (LG)



Fontes:  Diversas, na Web (Público, Expresso, Jornal de Notícias, Wikipédia...)
Foto: Adapt. de Jornal de Notícias (com a devida vénia...)

4 comentários:

Anónimo disse...

Caros Camaradas e Leitores. Tendo-me sido pedido um artigo a ser publicado em jornal de Estocolmo (D.N),ficaria muito grato se me forem fornecidos dados concretos sobre o local,contexto e data,em que Vitor Alves terá dito:-"Teria feito tudo igual na luta para derrubar Salazar e Caetano,excepto o pós-25 de Abril,o desastre e vergonha da descolonizacäo".

Luís Graça disse...

O António Graça de Abreu não citou a fonte documental, em papel ou em suporte digital, só ele te pode esclarecer...

O dossiê da "descolonização" é doloroso, para todos nós (portugueses, angolanos, guineenses, moçambicanos...). Entendo e apoio o teu cuidado (implícito) sobre o rigor das fontes...e sobre "quem disse o quê, quando e onde".

Qualquer investigador sabe a importância das referências bibliográficas, em todos os domínios da ciência, incluindo a história.

Mesmo que este malogrado camarada, o Vitor Alves, nunca tenha estado em comissão na Guiné, no tempo da guerra colonial, tem um lugar na história portuguesa da 2ª metade do Séc. XX, tal como o Salgueiro Maia, outro capitão de Abril, que já morreu.

Curiosamenet, eu estava a trabalhar em Mafra quando se deu o 25 de Abril. O Vitor Alves era natural de Mafra (, terra que forneceu outros militares de carreira, talvez por influência do emblemático e histórico EPI instalado no convento de Mafra). Fico triste de ver poucas referências, até na Internet, sobre este nosso antigo camarada de armas.

Independentemente do seu papel político-militar, a sua memória merece-me respeito como ex-combatente da guerra colonial, como homem e como português.

Depois, se quiseres e puderes, manda-me/nos uma cópia do artigo (... em português, que do sueco só "entendo" o do Ingmar Bergman).

antonio graça de abreu disse...

Meu caro José Belo

Na Sic Notícias, de domingo para segunda, nas notícias às 24, 1, ou 2 da manhã, creio, não sei precisar a hora, na pequena reportagem sobre a morte do Vitor Alves, com imagens de fundo do nosso coronel, foi referido este comentário. Não exactamente ipsis verbus.
Vitor Alves era um senhor, de excelente sangue de príncipe diplomata, um gentleman. Por isso, creio que não utilizaria o termo " a vergonha da descolonização." Eu, que não sou um gentleman, escrevi a "vergonha da descolonização". Do que peço desculpa.
Mas o espírito, o conteúdo da mensagem de Vitor Alves era esse,em palavras simples, um necessário 25 de Abril, uma descolonização mal feita.

Abraço

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Caro Graca de Abreu. Fico muito grato pelo teu esclarecimento quanto ás palavras "vergonha da descolonizacäo"--- näo serem as de Vitor Alves---,que tive oportunidades várias de contactar, por razöes de trabalho,aquando das minhas funcöes de oficial de seguranca do Depósito Geral de Material de Guerra 74/75. Quero salientar que isto nada terá a ver com opiniöes pessoais minhas,ou de outros,quanto à vergonha como a descolonizacäo foi efectuada. Só que...O SEU A SEU DONO...quando se trata de figuras mais ou menos Históricas e já falecidas. Um abraco.