1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381,Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 22 de Agosto de 2010:
Camarada e amigo Carlos Vinhal,
Renovadas saudações guinéuas.
Estando a preparar um trabalho sobre fotografias, a fim de mostrar o Aquartelamento de Empada e o seu perímetro, e, de como se apresentava no pretérito ano de 1969, deparei-me com a leitura do texto inserido no Poste 6866, da autoria do ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, José Pinto Ferreira, CCS/Bcaç 237 que se enquadra nos acontecimentos havidos no principio da subversão na Região de Quinara, nas Penínsulas de Cubisseco e de Pobreza (Darssalame, Caur, Cubisseco, Iangué, Pobreza, Canchungozinho e Empada).
Com um grande abraço
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”
AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUERRA (17)
Fotos da disposição dos edifícios do aquartelamento de Empada
Assim, tendo a CCaç 2381, em 01/05/69 assumido a responsabilidade do Subsector de Empada e para melhor se compreender no mesmo a situação do In, necessário se tornara ainda que sucintamente, estudar a evolução do desenvolvimento da subversão no seu início. Para isso foi estudada toda a documentação existente na Unidade e no Posto Administrativo, além de terem sido ouvidos os elementos da população de há muito radicados em Empada e que foram protagonistas ou, pelo menos, testemunhas dos factos.
Conjugando os testemunhos já dados, com as acções havidas no Subsector de Empada, pela CCaç 153 – Fulacunda 1961/63 sob o Comando, ao tempo, do Cap. Inf. José dos Santos C. Curto. E, também da CCaç 417 - 1963/64, esta por ter sido colocada na sede deste Subsector sob o Comando ao tempo do Cap. Inf. Carlos F. Delfino.
“Por elementos da população também fora-me dito, que ao tempo as Autoridades Militares e Administrativas, condicionaram a população residente a ficarem controladas por nós ou a refugiar-se em Tabancas no mato, Sic.”
Entre outros fora o guerrilheiro Nino que escolhera refugiar-se no mato, ouvia-se dizer por ele ser de Empada e que ali tinha familiares não se lhe oferecia a flagelações.
Logo que eclodiu o terrorismo através de vicissitudes e peripécias várias. Assim, como nas Tabancas não controladas pelas NT, eram efectuadas operações com o fim de identificar elementos suspeitos de serem simpatizantes do PAIGCC. Da documentação existente tomou-se também conhecimento que houve destruição da nossa parte de Tabancas que apoiavam o In, destruição de Tabancas que nos apoiavam por parte do In, os campos foram-se a pouco e pouco estremando, refugiando-se a população que nos era favorável em Empada e arrebatando o inimigo para fora do nosso alcance as restantes populações, refugiando-se e organizando-se nas zonas da Península da Pobreza (Darssalame, Iangué, Aidará, Cã Beafada e Cã Balanta).
O In organizava-se fortemente nas regiões antes referidas, criando uma organização politico-administrativa suficientemente forte para controlar totalmente a população, doutriná-la e mentalizá-la, enquanto abria escolas, embora de baixo nível, e procurava dar à população uns rudimentos de assistência sanitária, com estabelecimento de enfermarias, que, embora de fraco valor intrínseco, não deixava de constituir elementos preponderantes de uma propaganda insidiosa.
Sabe-se que o In em Iangué se encontrava preso de um forte e estranho fanatismo, que o levava a lançar-se contra as NT sem qualquer receio de morte. Grupo In de 04 elementos ataca com pistola-metralhadora, avançando a peito aberto. Supondo-se que tal fanatismo se deve ao facto do responsável político da Pobreza “Né Né” ter sido criado e educado por um antigo Chefe de Posto, aposentado, que se julga ter sido Pastor Protestante e foi tomado como tendo ligação com os terroristas. Contam-se “estórias” havidas sobre este e outros elementos, mas não consta quem as autorizou e/ou provocou. Em principio “Né Né” refugiou-se no mato como Aníbal, deve ter jurado “Ódio eterno aos Portugueses.” Este facto é subjectivo mas atribui-se-lhe grande valor.
Constatando-se que a área do Subsector de Empada coincide em linhas gerais, com a do Posto Administrativo, fácil nos é apreciar recorrendo aos arrolamentos existentes antes da subversão e verificar a situação desfavorável em que ficamos.
Segundo dados de 1963 o número de contribuintes era de 2388 e o total de habitantes com mais de 16 anos 8827. Por conseguinte quando efectuado este estudo existiam do nosso lado 437 contribuintes, sendo o número de habitantes das condições anteriormente expressas de 2798.
Verificamos assim facilmente que apenas 1/6 dos contribuintes e 1/4 da população estão controlados por nós. Por outro lado embora a área efectivamente patrulhada pela Unidade seja de 1/3 da área total, tendo o In se refugiado nas zonas agricolamente ricas e onde pode facilmente subsistir e apoiar outras regiões.
A população de Empada é na sua maioria de etnia Biafadas, apresentando no entanto também Mandingas, Fulas, Manjacos e algumas famílias dispersas de Balantas, Bijagós, Papéis e Mancanhos.
Assim, foram apresentados dados sobre um estudo feito em Empada, em 1969 e que serve para um melhor conhecimento do início da subversão (1963) nas penínsulas de Cubisseco, da Pobreza e área de Aidará, na Região de Quinara.
Do Aquartelamento de Empada – Região de Quinara, ano de 1969, o que me oferece apresentar são uma resenha de fotos da existência e da disposição dos edifícios contidos, bem como a sua zona limítrofe.
Foto 1 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Porta de Armas do Aquartelamento e casernas dos Praças.
Foto 2 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, edifícios de Messes e Camaratas de Oficiais e Sargentos, e Comando. Ao fundo no centro/esquerda, vimos o Rio Buba e a zona do Cais.
Foto 3 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, Porta de Armas virada ao exterior e Escola Primária.
Foto 4 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, Porta de Armas, edifício prisional em construção e Enfermaria Militar. Ao fundo caminho para a Pista e Cais, e ao lado uma Tabanca.
Foto 5 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, edifícios de casernas, cantina, arrecadações, balneários e no extremo direito o refeitório dos Praças.
Foto 6 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, foto tirada no lado oposto dos edifícios mostrados na foto 5.
Foto 7 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Um dos sete abrigos tipo, dispersos pelo Aquartelamento e perímetro da Povoação.
Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > No perímetro do Aquartelamento, a Capela Campal, o espaldão de morteiro 81 mm e um abrigo
Foto 9 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Limite da Aquartelamento com duas fiadas de arame e pequena Tabanca.
Foto 10 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Parque da Oficina Auto e no exterior moranças ladeando a dita avenida.
Foto 11 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Posto de Assistência Médica e dada pelos Militares Enfermeiros e outros.
Foto 12 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Avenida que em tempos fora iluminada e apresentava-se ladeada por moranças.
Assim, foram compiladas transcrições de documentos, ouvida a população e feita esta crónica, quanto às fotos do Aquartelamento de Empada, a muitos irá avivar a memória recordando alegrias e tristezas ali passadas.
Nomeadamente a Cart 2673 “Leões de Empada,” que renderam a CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada,” em 24 de Fevereiro/70 passaram um mau bocado tendem sofrido várias baixas.
Camaradas estive onde vocês estiveram, andei por lugares que também andaram e apresento o que vocês encontraram à chegada. Não nos encontramos e deve-se ao facto de eu antecipadamente seguir para Bissau em 15 de Janeiro/70.
Com um grande abraço
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6865: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (16): A chegada à Guiné e a terras de Ingoré
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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8 comentários:
Tenho de ir à Azoia ou Arruda!
Escrevi aqui um comentário sobre Empada no ínicio da Guerra, ficou a indicação habitual que seria editado.
Como escrevo directamente sem rascunho, terei de ir dar volta aos papéis novamente?
Espero! Se não aparecer, logo com mais tempo tentarei refazer.
Um abraço,
Mário Fitas
Amigo Estorninho, gostava de ver as fotos dos tais barbudos que foram de Buba recuperar forças até Empada. Vamos ver se não vamos ter que chamar o barbeiro...
Caro Arménio Estorninho,
Vamos ver se o meu comentário entra, para clarificação da situação de Empada face à Guerra.
Passei apenas por Empada uma única vez, e foi aterrar, beber uma cerveja e andar novamente. No entanto tenho em meu poder documentação que dá para dizer algo de Empada.
Pelo recenseamento de 1962, (presumo que ùltimo feito em Empada) antes da eclusão da luta armada, existiam na área administrativa de Empada, (Circunscrição de Fulacunda)8.803 pessoas, divididas por próximo de setenta Tabancas, com a seguinte destribuição: Fulas - 160, Mandingas - 396, Balantas - 1563, Bijagós - 696, Beafadas -3836, Nalus - 44, Manjacos - 622, Papéis - 641 e Outras 845.
Quando eclodiu a luta armada, parte desta população especialmente Beafada abandonou as suas tabancas acolhendo-se à proteção das tropas em Empada.
Foi reagrupada numa tabanca em autodefesa e devido ao prestígiodo chefe Mamadi Sambu, foi organizada aquilo que viria a ser a Ciª. de Mílicia 6, e que permitiu a ocupação de UALADA.
Foram uns anos muito difíceis para toda as populações que viviam longe dos grandes meios.
Outros habitantes procuraram outros rumos.
E sendo os elementos do PAIGC obrigados a abandonar essa zona desabitada refugiando-se nas peninsulas do CUBISSECO e POBREZA e nas áreas de AIDARÁ SAUCUNDA, onde mantendo a população sob coacção, não permitia a sua apresentação em Empada.
O Nino toda a gente sabe que era Papel de Bissau. É possível que tivesse por lá algum familiar, mas mesmo assim, Empada era flagelada.
Um abraço,
Mário Fitas
Caro Camarada e amigo Mário Fitas.
Quanto ao meu texto, relativamente ao mencionado sobre a população e suas movimentações, são consentâneas com o teu comentário e conjugam na sua essência.
No entanto não entendi qual o teu pedido de esclarecimento no que concerne a "8 803 habitantes em 1962 e a 8 827 habitantes em 1963, torna-se irrelevante tal diferença.
Tocamos as mesmas notas musicais e com instrumentos diferentes.
Relativamente a Nino, na sabedoria do povo era do conhecimento que ele era de uma das tabancas de Empada e poderia ter nascido em Bissau. Também foi de bicicleta registar-se na Conservatória do Registo Civil, e, por ai não vai o gato às sardinhas.
Esclarecimento de interpretação, não disse que Empada não era atacada e sim "que Nino não se lhe oferecia a flagelações," mas haviam outros Ninos.
Ó Camarada Mário Fitas, "atão ... atão..! poisaste" (são termos algarvios) em Empada só para beber um copo e assim não deu para saber muito, quanto aos documentos que nós detemos provavelmente provêem dos mesmos registos.
Contudo é do conhecimento que permaneci oito meses em Empada. Era possuidor de um pequeno laboratório fotográfico, rsponsável por torneiras de petróleo e de gasóleo, tendo a oportunidade de oferecer e por isso era fácil dialogar com a população.
Assim, temos a nossa interpretação mas não divergimos da parte factual e provavelmente detemos crónicas similares.
Com um abraço amigo
Arménio Estorninho
Caro Arménio Estorninho.
Mantenho integralmente o que foi exposto no meu comentário. Essa informação por mim dada e que poderia ser mais documentada, foi reverificada pelos elementos que possuo e confirmados pelo Fur. Mil. de Transmições da Companhia 616, que acompanharam todas as evoluções da situação em Empada.
Por vezes os problemas no Blogue tomam dimensões desagradáveis porque não se procura o entendimento.
Por eu passar uma única vez por Empada não poderei saber coisas de Empada? Eu explico:
Tenho documentação do BAT 619, e o acima referido Fur. Mil. de Transmições da 616, Eduardo Alberto Sousa Lopes é meu conterraneo, jogámos com bola de trapos e presentemente ainda nos juntamos nos encontros da nossa aldeia Alentejana.
Poderia dar muitas mais achegas sobre este tema de Empada, mas já vi que não há sintonização.
Arménio quando dizes: Poisaste uma vez só em Empada, não dá para saber muito.
Pergunto eu: Porquê? Se sei e estudei outras coisas mais para além das descritas?
Quando afirmas que eu pedi o esclarecimento sobre os habitantes de Empada em 1962 e 1963. Desculpa isso não é verdade. Como é que se pode escrever história com esta forma de desvirtuar o que se escreve?
Lê o que eu escrevi e depois falamos.
Para mim acima de tudo, o respeito pelo que se escreve e não a sua disturção.
Um abraço,
Mário Fitas
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