Queridos amigos,
Não é mais do que o passeio à volta de muralhas, não se trata de um interrogatório à História, nem se veio fiscalizar se há para aqui obras bizarras, Tavira oferece aos seus cidadãos e a quem a visita esta singularidade de ter um casco histórico inserido, adossado, participando do benefício de uma lendária construção militar. Por aqui se cirandou, agradado ou um tanto inquieto, há evidentes situações de que se está a asfixiar a fruição dos panos de muralha, a entaipar vistas, descontinuando a contemplação de um equilíbrio que cede à ganância dos construtores. O resultado final ainda continua positivo, mas assiste ao visitante deixar algumas questões a todos aqueles que queiram ver o seu património (também nosso) protegido e valorizado.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (157):
Em Tavira, a Vila a Dentro, em profundo derriço com as suas imponentes muralhas
Mário Beja Santos
Tenho para mim que um dos encantos da cidade de Tavira se prende com o intenso e permanente diálogo dos vestígios das muralhas com a organização da chamada Vila a Dentro. Porque há uma parte de Tavira que se fixa, contorna, confronta, se embebe, nos panos da muralha. Que o visitante inicie a sua viagem fora delas, por exemplo, começando nos Paços do Concelho, passa ao lado do Núcleo Museológico Islâmico, vire à direita, dá com a Porta de D. Manuel I, esta até parece que está suportada por dois edifícios paralelos, dá para imaginar o que houve antes deles e até que aproveitamento se faz da muralha um suporto à habitação. Desça-se, começa-se a circundar todo o exterior, nada de ter a tentação de visitar a Igreja da Misericórdia, a muralha fenícia, o Palácio da Galeria, há tempo para mirar a Torre do Relógio na Igreja de Santa Maria do Castelo, e estamos agora no castelo, foi a partir dele que se desenvolveram as muralhas da cidade. O seu interior está ajardinado, quem subir à torre octogonal vai desfrutar de uma panorâmica espetacular, logo no primeiro plano os telhados de quatro águas.
Edifícios encostados a panos de muralha é acontecimento banal no país e na Europa, quem vive em Lisboa e se passeie no interior do Castelo de S. Jorge encontrará casas adossadas dentro e fora, e há mesmo aspetos curiosos (continuamos a falar do Castelo de S. Jorge) em que no exterior e próximo de um pano de muralha se ergue um belo templo religioso, a Igreja do Menino de Deus. O que atrai o visitante, neste Aquém da Ponte, é namoriscar como se processa o entrosamento entre todos estes vestígios da muralha, as habitações existentes, os espaços circundantes e, vamos lá, se há uma valorização do património de molde a não entaipar a contemplação das muralhas (e não se esconde um certo pesar por se ver construções atentatórias de uma fruição visual, houve para ali autorizações de construção de valia mais do que duvidosa).
E sem mais, vamos percorrer o perímetro e o que há de circundante das muralhas tavirenses, há uma impressionante beleza, desleixos a remediar e erros na autorização de empreendimentos que deviam servir de lição aos cidadãos hipotecados no respeito que é devido a estes bens patrimoniais que dão tanta graciosidade a Tavira.
A porta de D. Manuel I, um dos monumentos-ícone da cidade
Só espero que não se venha a entaipar esta vista, afogando os terrenos com hotéis e habitação
Assim sim, é uma beleza ver esta torre de vigia que parece despontar do empreendimento
Mostra-se este pano de muralha em dois sentidos, aqui aparentemente só há à vista a degradação do que terá sido um torreão, mas fica-se na dúvida se não cortaram o pano de muralha para pôr construçãoSalvo melhor opinião, houve para aqui uma atrocidade, a que título se meteu aquele paredão, interrompendo o enfiamento da muralha, quem autorizou a sua demolição?
Sim, aqui há proteção, por favor, não venham agora sufocar a vista deste impressionante pano de muralha metendo para aqui construção habitacional ou hoteleira
O jardim do castelo está muito bem tratado, apanhei em boa floração este cipó, também conhecido por flores de S. João, este jardim é um dos atrativos da cidade, é de visita obrigatória, é quase certo que houve esmero nas intervenções feitas, são panos de muralha que não se deixaram degradar, dá encanto por aqui passear e ver uma boa parte da cidade de cima para baixo.
O castelo parece ter ganho vida ao nível dos seus fundamentos, a construção privada e até mesmo a piscina não entravam a vista e, ponto curioso, até parece correto dizer-se que há mais castelo fora do castelo, veja-se aquela torre, que parece de menagem, lá em cima, espera-se que aquelas duas gruas não estejam a construir edificações fora da escala.
Houve cuidado no elemento urbanístico, o bom propósito de deixar ao cidadão poder aproximar-se de umas muralhas que, mais tarde ou mais cedo, vão carecer de uma manutenção adequada.
Ao vermos estas três imagens fica-nos certamente umas perguntas por responder, como as manter como bons exemplares de património militar, como garantir que se mantenha um bom diálogo entre o militar e o civil, entre o passado que exige salvaguarda e o que se melhora por já estar construído e como se garante que o que bate à porta para construir de movo algum acarretará degradação visual. Responda bem quem melhor estiver habilitado.
Aqui finda a visita a Tavira, daqui segue-se para Belas, que além dos conhecidos bolos que dão pelo nome de Fofos tem património que merece seguramente uma cuidada visita.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 1 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25591: Os nossos seres, saberes e lazeres (631): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (156): Em Tavira, para visitar Balsa, cidade romana, que existiu há cerca de 2000 anos (Mário Beja Santos)
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