Queridos amigos,
Há sempre boas razões do coração e da emoção para retornar a Tavira. Desta feita a fisgada envolveu uma exposição sobre Balsa, cidade romana sediada ali para os lados da Luz de Tavira, que permaneceu praticamente ignorada até aos trabalhos arqueológicos do tavirense Estácio da Veiga; e também ver se se resolvia uma velha questão pendente na minha curiosidade, e que passa pelo entrosamento (que, na generalidade, me parece bem-sucedido e certamente merecedor dos responsáveis culturais da região) entre as velhas muralhas e o seu adossamento de casario, jardins e vias. Por ali andei a calcorrear caminhos e virei a seguir fazer o meu relatório, a velha questão pendente parece-me satisfeita e aguça o apetite para voltar a Tavira.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (79):
Em Tavira, para visitar Balsa, cidade romana, que existiu há cerca de 2000 anos
Mário Beja Santos
Viajo sempre com entusiasmo até Tavira, há sempre bons pretextos (afetivos, lúdicos, instrutivos) para aqui regressar. Há a História, abarcando presenças fenícia, romana e muçulmana, Tavira, nos alvores da Idade Moderna foi o principal porto comercial do Algarve, está polvilhada de igrejas, conventos, ermidas e capelas, são inesgotáveis as coisas para ver no meio urbano, na Ria Formosa, no barrocal e na serra, onde se desfrutam paisagens onde avultam alfarrobeiras, amendoeiras, medronheiros ou citrinos. Um pouco de tudo aqui já se referiu, além e aquém da ponte que atravessa o Gilão, hoje fomos atraídos por uma exposição e pela vontade de reter um outro olhar sobre a cidade embebida nas velhas moradas. A exposição é dedicada a Balsa, que existiu há cerca de 2000 anos, perto da Luz de Tavira. Manda a sinceridade que se diga que é uma bela exposição, prima pelos aspetos didático-pedagógicos, possui um bem pensado percurso expositivo um bom aproveitamento de peças que vieram de vários museus, é uma bem-sucedida retentiva das investigações ali feitas desde o século XIX, exibem-se sinais do seu esplendor, houve seguramente uma pujante economia marítima, e os seus sinais se alistam expostos em recipientes, como é dado ao visitante ver materiais relacionados com a saúde e a beleza, as práticas religiosas e funerárias, e tudo culmina numa apresentação de um projeto de investigação científica que subjaz a tão surpreendente mostra. Vale a pena visitar Tavira só para apreciar as principais peças arqueológicas recolhidas na cidade romana de Balsa. O que vem a seguir, como se disse, é um passeio à volta do centro histórico, algo maravilha o visitante que é o diálogo entre uma estrutura defensiva que se ergueu ao longo dos séculos com a habitação contemporânea, e que tanto dá encanto a esta maravilhosa Tavira.
Capitel coríntio de folhas lisas, século III-IV, Museu Municipal de Tavira
Balsa, a cidade romana esquecida até ao século XIX
Vestígio da imponência de Balsa, aqui vemos o seu nome
Referência da menção de André de Resende a Balsa
Texto do arqueólogo Estácio da Veiga sobre a descoberta numa quinta da Luz de Tavira de vestígios de Balsa
Objetos em cerâmica provenientes de Balsa
Retrato do arqueólogo Estácio da Veiga pelo pintor Reys Santos
Balsa na Turdetânia
Porquê esta imagem? Simplesmente para exaltar que às vezes mesmo com recursos modestos se organiza museograficamente uma exposição com grande relevância didático-pedagógica
Fragmentos de mosaicos romanos
Uma bela exposição de objetos da vida quotidiana
A exposição sobre Balsa não esqueceu a medicina, a religião e os ritos funerários, bem como a alimentação (do tipo da chamada dieta mediterrânea), o luxo, o quotidiano
Para despedida, esta belíssima reflexão de Petrónio, no clássico Satyricon
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 25 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25560: Os nossos seres, saberes e lazeres (630): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (155): Em dia de muita chuva, a vagabundear pelas imagens que aguardam apeadeiro (Mário Beja Santos)
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