sábado, 28 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24802: Os nossos seres, saberes e lazeres (598): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (126): Nos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
Os palácios, os jardins e as infraestruturas agrícolas são verdadeiramente sumptuosos, merecedores da classificação de monumento nacional. O conde de Oeiras e Marquês de Pombal esmerou-se, abriu os cordões à bolsa e usou a sua fortuna para que não faltassem meios ao arquiteto para que houvesse em profusão e na melhor qualidade ostentação com bom gosto e maravilhamento de uma agricultura modernizada ao tempo, daí a profusão de boa azulejaria, de elementos escultóricos, de um edifício monumental destinado a Adega/Celeiro, no fundo pretendia-se numa conceção de representação cénica grandiosa sair do palácio e avistar mesmo das escadarias as alamedas, as cascatas e uma vegetação luxuriante. Como todos os projetos de grandeza, houve quedas a pique e em 1939 o recheio do palácio foi leiloado e a propriedade vendida e fracionada. Em 1958, a Fundação Gulbenkian adquiriu espaço, lembro-me de ter vindo aqui ver tesouros artísticos inauditos, mais tarde por aqui andou o Instituto Nacional de Administração e estes 6 hectares de palácio e jardins foram adquiridos em 2003 pela autarquia. Vale a pena visitar um espaço que tem conhecido recuperações e cuidados na preservação de um projeto grandioso, a quinta de lazer do temível Sebastião José de Carvalho e Melo.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (126):
Nos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras

Mário Beja Santos

O conjunto do palácio e jardins está classificado como monumento nacional; faz parte integrante da antiga Quinta de Recreio da Família Carvalho, propriedade formada por vários casais e quintas. A sua construção decorre durante o século XVIII e articulava os espaços de recreio de lazer da casa aristocrática, como os da proveitosa e experimental exploração agrícola. Obra de família, tudo começou com um morgado tio de Sebastião de José Carvalho e Melo, que foi seu herdeiro, e dos dois seus irmãos, Francisco de Xavier Mendonça Furtado e Paulo de Carvalho e Mendonça. Se o leitor observar a primeira imagem, verificará que o palácio foi uma construção que conheceu diferentes épocas, é a capela que faz a ligação entre os dois principais corpos. Bem tentei entrar no palácio, recordo que aqui estive em finais da década de 1950, o palácio será adquirido pela Fundação Calouste Gulbenkian, fazia-se uma exposição de parte da coleção do multimilionário arménio, mesmo quando o museu passou para as instalações atuais ali ficou um grande acervo da coleção, que conheceu danos numas terríveis inundações de 1967, curiosamente fui ver a exposição de estampas japonesas (julho de 2023) no edifício da avenida de Berna e aí se fazia referência a todo o processo de recuperação das obras danificadas pelas inundações; depois instalou-se aqui o Instituto Nacional de Administração, recordo que aí por 1986-87 fui convidado a palestrar a futuros intérpretes portugueses o que era a política dos consumidores a nível europeu, a sessão decorreu numas instalações por cima da Cascata dos Poetas. Bem tenho procurado entrar no palácio, está sempre fechado ao público bem como um conjunto de dependências que penso que são alugadas para eventos como a adega e o celeiro. O leitor verá na imagem esse património construído, a antiga casa dos coches, hoje Paços do Concelho, do lado esquerdo, e a ligação com os jardins faz-se para o Jardim do Bucho, podendo a visita começar por visitar à esquerda o Terraço das Araucárias ou indo diretamente atravessando uma ponte sob a Ribeira da Laje para a Cascata dos Poetas.
A Cascata dos Poetas foi a última obra nos jardins, considerada uma das principais atrações na visita da rainha D. Maria I, em 1783. Chamava-se então Gruta Nobre e depois batizada com o nome Cascata dos Poetas, pelo facto de integrar os quatros bustos de poetas épicos: Homero, Virgílio, Camões e Tasso, bustos esculpidos em mármore por Machado de Castro. Integra ainda a figura de um Deus-rio, inspirado nos que existiam nos jardins renascentistas do Belvedere, no Vaticano. E da cascata bem se pode perceber que o projetista quis adaptar os jardins a um programa mediterrânico de verões tórridos e secos. A gruta é de influência italianizante, concebida em pedra ao natural, encimada por um tanque e varandas.
Da Cascata dos Poetas envereda-se para um amplo espaço ajardinado onde está o Lagar do Vinho e a Adega/Celeiro, este é um edifício monumental que aparenta um palácio ornado com os bustos de emperadores romanos. A Adega tinha uma capacidade para novecentas pipas e era a maior da região. O Celeiro situava-se no andar de cima, cuja cobertura é abobadada e destinava-se a armazenar a produção dos cereais da propriedade, bem como dos géneros que resultavam das rendas e foros pagos ao morgado de Oeiras. O visitante dos jardins contempla esta magnificência, não pode visitar como igualmente não pode visitar o lagar do azeite, ali bem perto. Resta dizer que há um conjunto de dependências que estão em recuperação que é o caso da casa de pesca. Isto vem a propósito de acrescentar mais algumas informações. Esta área do palácio e jardins era designada por Quinta de Baixo, incluía o palácio, a capela, os jardins e todo este complexo de estruturas para transformação dos produtos agrícolas, é o caso da Adega/Celeiro, lagares, o alambique, a azenha e a casa da malta. A Quinta de Cima, ali ao lado, compreendia a Casa da Pesca, o Pombal, a Abegoaria, as cascatas do Taveira e a Fonte de Oiro. Há muitas obras neste lugar, estou ansioso de um dia voltar para conhecer estes espaços. Importa também dizer que os jardins foram objeto de uma intervenção do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, em 1965. Palácio e jardins estendem-se por uma área de seis hectares, são propriedade da Câmara Municipal de Oeiras desde novembro de 2003.
Estamos agora na horta ajardinada e Fonte das Quatro Estações. Atenda-se que o os jardins estão enriquecidos com uma profusão de elementos escultóricos, a imagem destaca o grupo escultórico da Fonte das Quatro Estações, que centra o horto ajardinado, as bicas esculpidas dos tanques do Jardim das Merendas, assim como outros elementos ornamentais que iremos encontrar no Terraço das Araucárias. Aqui se conjugavam os aromas dos pomares de citrinos, flores e plantas com o som da água fresca e murmurante das cascatas. Carlos Mardel (1696-1763), engenheiro militar cujo nome está associado à recuperação da Baixa Pombalina depois do terramoto, terá assinado todo este projeto e planeado o magistral sistema hidráulico da quinta, para que não houvesse lugar ao desperdício de água. Lê-se num dos textos que o Jardim da “Água”, segundo conceção singular dos jardins de Conimbriga e dos tanques dos jardins do Bispo, em Castelo Branco, incluía ainda nos espaços envolventes outros jardins.
Imagem que permite visualizar a conceção aparatosa da ligação entre o palácio e os jardins, chegara-se a uma época em que o palácio é lugar de festividades e receções que se estendiam até ao exterior, seguramente que o Marquês de Pombal queria exibir aos seus convidados este património de ajardinamentos, azulejaria e esculturas e as infraestruturas do portentoso empreendimento agrícola.
A imagem permite fazer a articulação entre dois elementos do palácio, avista-se a grandeza da araucária e as escadarias azulejadas.
Três imagens que permite visualizar os elementos da azulejaria (de estilo rococó da segunda metade do século XVIII), ornamentam os muros, escadarias, terraços e bancos de jardim, com composições variadas: motivos vegetais e florais, ornatos geométricos representado cenas da vida quotidiana da época onde não faltam caçadas ao javali e ao veado.
Chegámos ao final da visita, descemos para o Terraço das Araucárias, sente-se que ainda há muito para fazer na recuperação da azulejaria, contempla-se com satisfação o bom estado em que está o horto, dá-se por muito bem empregue o tempo em que se percorreram os jardins de grandiosas e retilíneas alamedas, terraços, escadarias, cascatas e fontes. Não perca esta visita, é gratuita e os jardins estão abertos todos os dias.

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Nota do editor

Vd. poste anterior de 21 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24778: Os nossos seres, saberes e lazeres (596): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (125): Em Leiria, pedindo muita desculpa por lhe ignorar os tesouros (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 26 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24796: Os nossos seres, saberes e lazeres (597): Fotos da cidade de Maputo, terra onde nasceram, minha avó e meu pai, e onde estou a passar uns dias de férias (Jaime Machado)

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