Coimbra > IPO - Instituto de Oncologia > Abril de 2015 > O "paciente" António Eduardo Ferreira na sua 5ª sessão de quimioterapia. Foi-lhe diagnosticado um cancro em 2004. E lutou contra ele quase 20 anos, com tenacidade, coragem e dignidade. Era natural de Moleanos, concelho de Alcobaça.
I. A porta estreita da vida (**)
(...) Como encarar a vida quando confrontados com um doença como o cancro?
António Eduardo Jerónimo Ferreira (1950-2023) |
Primeiro, “descer à terra” e pensar que, apesar de não parecer, estamos a ser confrontados com algo cada vez mais normal. Por vezes somos levados a perguntar, mas porquê a mim? Pergunta que só tem razão de ser pelo desnorte que naquele momento estamos a viver. Quantos, antes de nós não passaram pelo mesmo? Uns mais velhos, outros mais novos, algumas ainda crianças.
Para que tudo decorresse tão bem há que realçar o trabalho desenvolvido por um grupo de pessoas que tudo faz para que os doentes se sintam o melhor possível, desde o pessoal médico, as enfermeiras/os, os técnicos, pessoal administrativo, e outros, não esquecendo os voluntários sempre prontos a ajudar sem receber nada em troca.(...)
(...) Cada caso é um caso, o meu tratamento tinha uma duração de aproximadamente duas horas, outros demoravam o dobro e alguns ainda mais, os efeitos secundários podem ser muito diferentes de pessoa para pessoa, pois o tratamento administrado não é igual para todos e a reação de cada um também pode ser diferente. (...)
(...) A minha doença foi diagnosticada nos últimos meses do ano de dois mil e quatro, seguiram-se cinco meses de espera e a cirurgia em fevereiro do ano seguinte, hoje talvez esperasse menos tempo, passados cerca de dois meses, fui sujeito a trinta e cinco tratamentos de radioterapia, reagi sempre bem, os efeitos secundários foram quase inexistentes.
Ao longo destes anos continuei sempre a ser seguido no IPO de Coimbra.
No início do ano de 2015, os valores tumorais estavam demasiado altos, foi então que foi decidido que tinha de fazer quimioterapia, o que aconteceu a partir do início do mês de abril, seguiram-se dez tratamentos com intervalos de três semanas.
No início do ano de 2015, os valores tumorais estavam demasiado altos, foi então que foi decidido que tinha de fazer quimioterapia, o que aconteceu a partir do início do mês de abril, seguiram-se dez tratamentos com intervalos de três semanas.
No início fiquei um pouco assustado, atendendo ao que ouvia falar acerca dos possíveis efeitos secundários, no primeiro dia fui acompanhado por uma pessoa de família ao tratamento, a viagem é de aproximadamente cem quilómetros de minha casa até ao hospital, nas restantes nove sessões a que fui sujeito entendi que não era necessário ir alguém comigo.
Tudo foi menos complicado que eu imaginava, o mais aborrecido era a deslocação, mas também se tornou fácil a partir do momento em que decidi utilizar o transporte facultado pelo hospital em viaturas dos bombeiros (...).
Tudo foi menos complicado que eu imaginava, o mais aborrecido era a deslocação, mas também se tornou fácil a partir do momento em que decidi utilizar o transporte facultado pelo hospital em viaturas dos bombeiros (...).
Terminadas as dez sessões, fim do tratamento, senti um alívio enorme próprio de quem passou por mais uma porta estreita da vida, daquelas que nunca se sabe se conseguimos passar, os efeitos secundários comparando com o que acontece a algumas pessoas foram poucos, o que me permitiu continuar a fazer uma vida quase normal, com exceção do dia do tratamento, todos os outros continuei a fazer a caminhada como antes fazia, de aproximadamente uma hora.
(...) Cada caso é um caso, o meu tratamento tinha uma duração de aproximadamente duas horas, outros demoravam o dobro e alguns ainda mais, os efeitos secundários podem ser muito diferentes de pessoa para pessoa, pois o tratamento administrado não é igual para todos e a reação de cada um também pode ser diferente. (...)
António Eduardo Ferreira (2016) (Excertos) (**)
(Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos: LG)
(*) Vd. poste de 22 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24783: In Memoriam (487): António Eduardo Jerónimo Ferreira, (15/05/1950 - 21/10/2023), ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 / BART 3873 (Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)
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Notas do editor:
2 comentários:
António Eduardo, Grande camarada da minha idade e do meu tempo na Guiné.
E assim nos vamos despedindo, como abelhas do mesmo enxame que vão morrendo até à última.
Um grande abraço até ao sítio onde possas estar.
Carvalho de Mampatá
Entrar e sair do IPO (ou em serviços de oncologia, nos outros hospitais) é uma experiència brutal... Perdemos todas as "peneiras", passamoa a relativizar tudo e todos, a começar por nós...Passamos a dar importância àquilo que é realmente importante na vida... Passamos a ser mais tolerantes e pacientes... E sobretudo a refinar o nosso humor, a nossa ironia... A vida vai melhor com humor e ironia...
A honra, a glória, a vaidade, o glamour, a fama, a riqueza,a fanfarronice, o ego do tamanho do mundo, náo cabem, de facto, meu querido camarada António Eduardo, na "porta estreita da vida"...
Boa viagem, todas as estrelas são tuas. Luís Graça.
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