Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 30 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4109: Blogpoesia (36): E Viva a Vida, Vida a Poesia! (Jorge Cabral)
E VIVA A POESIA!
Com um Abraço
Jorge Cabral
UMA MINA EM SANCORLÁ
Segundos? Um Minuto?
O Tempo desta Morte
Meio corpo evaporado
Só resiste o olhar
Quem a terá pisado?
Fui eu que tive sorte
Ou ele que teve azar?
Depois a Raiva, o Medo
Sim, Beber
(Chorar só em segredo)
E para sempre o Luto!
Missirá, 14/Fev./1971
...................................
ANIVERSÁRIO
Vinte seis ou Mil, conto pelos dedos
Os anos que vivi, eu não sonhei
Este tempo de Angústia e de medos
Que soletro e nunca sei.
Que Guerra é esta? Onde não estou!
Que rio aquele? Não cheira a Tejo!
Que combate? Combato, mas não sou.
E quando olho o espelho, não me vejo!
Aqui em Missirá, escravo e senhor
Invento-me. E guarda-prisioneiro
Bebo, fingindo em Alegria, a Dor.
Hoje faço anos... e continuo inteiro.
Missirá, 06/Nov./1970
...................................
O HELICÓPETRO
Pelo ar lento que aquece
Um pássaro de ferro e aço
Leva um morto que apodrece
Na boca mais um abraço
A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa
Já vêm mais pelo mar
Vêm muitos e depressa
A gente pensa mas fica
Com o dedo no gatilho
Na garganta um nó que pica
Na preta o ventre com um filho
Missirá, Dez./1970
Jorge Cabral
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd.último poste da série > 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Jorge,
Chorar, não é necessário ser só em segredo.
Só é homem quem chora a mágua do seu músculo vascular.
Chora a mulher negra que não consegue o filho que almeja!
Poesia vivida e sentida! Obrigado!
Um abraço agora simples porque não estive lá.
Mário Fitas
Enviar um comentário