sábado, 21 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24001: Os nossos seres, saberes e lazeres (551): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86): A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
Graças ao desvelo do nosso confrade, o Coronel Morais da Silva, fiz o primeiro périplo pela Academia Militar, na Gomes Freire. Há anos que aspirava entrar neste espaço. Estava completamente esquecido que a vida ativa da escola passou de armas e bagagens para a Amadora, estão aqui uns larguíssimos milhões devolutos, ao que parece a instituição militar pode dar-se ao luxo de desmazelar ou deixar ao abandono tão importantes instalações. E há aspetos que doem bastante, passámos pelo que terá sido uma área de atividades desportivas e de educação física, tudo ao abandono, as ervas a tomar conta de um espaço que deverá ter sido formoso. Tudo agravado, talvez por ser dia feriado, por não ser ver praticamente vivalma. Há muita beleza na Bemposta, aqui o património denota a existência de muitos cuidados, mesmo com sinais de que há obras pertinentes para fazer, caso das portadas da entrada, já a descascarem. Mas será com imenso prazer que aqui voltarei para conhecer os outros tesouros da Bemposta.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (86):
A Academia Militar, fundada por Sá da Bandeira, pela entrada da Gomes Freire


Mário Beja Santos

Passei vezes sem conta à porta desta instituição, vi entrar e sair cadetes, o meu destino era lá mais abaixo, na zona do Campo do Mártires da Pátria, ia visitar a minha irmã, ou o meu amigo Raúl Perez ou o Instituto Alemão ou descer a Calçada de Santana, passar pelo Convento da Encarnação e desaguar no Martim Moniz, à procura de especiarias.
Um dia, conversando com um nosso confrade, o Coronel Morais da Silva, manifestei-lhe vivamente o meu desejo, ele fora professor da Academia mais de 20 anos, além de cadete, aqui se diplomara. E um dia acertou-se numa data de visita, uma manhã fria de feriado. Talvez tenha sido melhor assim, a falta de bulício deu para intensificar a sensação de que todo aquele espaço ao abandono é um gravoso desperdício. A instituição tem larga história, gozou de várias designações, foi Escola de Guerra, Militar e do Exército, tornou-se Academia em 1959, e mais recentemente transferiram-se para a Amadora as escolas e a vida dos cadetes. O que encontrei fechado não resultava de dia feriado, é puro abandono, ao que parece as nossas luminárias ainda não encontraram forma expedita de potenciar tão rico património, ademais todas esta Academia Militar assenta no primitivo Palácio da Bemposta, a residência da rainha viúva de Carlos II de Inglaterra, Catarina de Bragança. Propriedade enorme, mais tarde dela foi desafetado o terreno onde se construiu o Hospital Dona Estefânia, a igreja mandada construir pela rainha é um primor de arte.
Gostei do estado dos jardins, mas já conheceram melhores dias. Achei curiosa esta lápide do tempo do reinado de D. Carlos para comemorar o edifício da Escola do Exército, tendo ao lado um ginásio já do tempo da I República, há uma bela sintonia arquitetónica a despeito da diferença de regimes políticos.
Com tudo fechado, e de ouvido atento às descrições feitas pelo anfitrião, caminhámos para a Bemposta onde nos aguardava o sr. Coronel Rodrigues, Diretor do Museu Militar, era suposto uma visita a preceito ao edifício e mesmo à igreja, muita coisa ficará para a segunda visita. Avançou-se para a entrada da Academia a partir do Paço da Rainha, a multiplicidade de conjuntos de azulejos, obra de Jorge Colaço, enche-nos as medidas, conjuntos perfeitos, elucidativos, pela sua disposição vamos acompanhando as atividades das diferentes armas tratadas na então Escola do Exército, ou da Guerra ou Militar.
E daqui passou-se para um espaço museológico, impensável não captar a imagem do legado desse bravo militar que foi o Marquês Sá da Bandeira, até a prótese do seu braço direito deixou à escola que o fundou. Enquanto se visualizavam os oficiais mortos em combate, chamou-me à atenção nas paredes os oficiais mortos na Guiné e na Primeira Guerra Mundial, ocorreu-me ao pensamento que nós só morremos quando deixamos de ser lembrados, uma instituição militar que se preza grava para todo o sempre os seus heróis e os seus mártires.
Impossível não visitar a Sala do Conselho Académico, aqui decorrem atos solenes, pelas paredes espalham-se os retratos de antigos diretores.
Daqui se parte para um espaço de outras memórias, condecorações de antigos alunos que deixaram rasto pela bravura e reconhecimento pátrio, caso do general Almeida Bruno.
A nossa visita está prestes a terminar, voltaremos à Academia Militar para visitar a belíssima biblioteca, outro espaço histórico da Bemposta e a igreja. Chamou-me à atenção o vitral brasonado da escola da Academia e as sucessivas referências porque passou a Academia, como se disse foi designada por Escola até 1959. Até breve.
Biblioteca da Academia Militar

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23981: Os nossos seres, saberes e lazeres (550): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (85): Com que alegria revisitei Buscot Park, entre Faringdon e Lechlade (Mário Beja Santos)

4 comentários:

Valdemar Silva disse...

Durante alguns anos, ainda criança, fazia o percurso a pé de Arroios, Rua José Estevão, Rua da Escola do Exército, Passo da Rainha, Campo Santana, Torel, Escadinhas do Lavra, Restauradores, para vir trabalhar. Depois já ganhava para ir de electro até à Baixa.
O Ti Manel Rainho, homem de 60 e poucos anos, combatente da Grande Guerra, que tinha sido gaseado (e notava-se) era empregado de mesa na messe dos oficiais da Escola do Exército. Morava no meu prédio, fui com ele duas vezes 'eh rapaz aqueles oficiais não aguentavam os gases dos bochs' dizia-me, e eu ficava todo admirado por ver os oficiais todos muito bem fardados. Tinha 12/13 anos.

Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Beja Santos

Se puderes visita a "Estação Chronographica" junto do picadeiro.
Foi um museu/laboratório no fim do Séc. XIX inícios do Séc XX. No tecto ainda tem restos de pinturas "a fresco". Foi um "lugar de refresco" mas não da Bem Posta, a avaliar pelo estilo. Os lugares de refresco eram construções onde as senhoras da casa faziam tricot e renda e lanchavam nos dias amenos. Junto à porta há uma placa de mármore com as coordenadas do local relativas ao Castelo de S. Jorge que foi, durante alguns anos o referencial topográfico de Portugal (antes da Melriça ao pé de Vila de Rei). Tenho fotos que vou mandar pelo e-mail.

Um Ab. e bom domingo
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Também fiz em tempos, em setembro de 2015, no âmbito do Festival Todos, uma visita guiada à Academia Militar / Palácio da Bemposta,pela mão do cor art ref Vítor Lourenço. Desta vez, infelizmente não pude aceitar o amável convite do nosso tertuliano cor art ref Morais da Silva que tanta questão fazia em me mostrar o museu... Aguardo melhor oportunidade, quando puder deixar as "canadianas" em casa... Mas obrigado, Morais da Silva, pela grande gentileza. Vejo que o Beja Santos aproveitou bem a visita. LG
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Vd. postes de:

23 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15145: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte I)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/09/guine-6374-p15145-memoria-dos-lugares.html

28 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15170: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte II)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2015/09/guine-6374-p15170-memoria-dos-lugares.html

Fernando Ribeiro disse...

A Academia Militar fica na Rua Gomes Freire ou fica na Rua Dona Estefânia?