sábado, 14 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23981: Os nossos seres, saberes e lazeres (550): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (85): Com que alegria revisitei Buscot Park, entre Faringdon e Lechlade (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
Último dia de permanência no Condado de Oxford, mais propriamente em Faringdon, dia ameno, podia gozar de total disponibilidade, foram dadas sugestões para ir aqui ou acolá, vinha entristecido do norte de Inglaterra, depois de visitar um querido amigo, acometido de doença incurável, carecia de palmilhar um belo espaço natural e edificável, ocorreu-me Buscot, natureza e arte. Todo aquele verde, toda aquela natureza bem estimada me atrai e há Burne-Jones, o mais genial dos pré-Rafaelitas. Ele percorreu toda esta região, uma fronteira das Cotswolds, perto de Buscot há uma igreja normanda, Eaton Hastings, onde ele introduziu belíssimos vitrais. E relativamente perto está Kelmscott Manor, a casa de férias de William Morris, outro génio, o grande pioneiro do movimento Arts and Crafts. Ficará para próximo passeio. É com grande satisfação que partilho estas imagens convosco.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (85):
Com que alegria revisitei Buscot Park, entre Faringdon e Lechlade


Mário Beja Santos

Peço ao leitor que aceite a minha discrição sobre a visita que fiz a Wakefield, vim despedir-me de um grande amigo, preso a uma doença incurável. Só guardei esta imagem de uma passeata por vários quilómetros em locais que dão pelo nome de Lofthouse, Rothwell e Robin Hood. Nunca me passara pela cabeça que uma figura mítica da minha infância, Robin Hood, tivesse direitos a nome de localidade. Não é surpresa para ninguém que os britânicos preservam a memória dos seus combatentes, particularmente da Primeira Guerra Mundial, a tal que os generais britânicos prometiam resolver em semanas e que durou quatro anos nos lamaçais da Flandres e de França, com milhões de mortos. Era impossível não reter esta imagem, a simplicidade do monumento e o permanente cuidado de gente anónima que aqui deixa as flores da sua gratidão.

Regresso amanhã a Lisboa e pedi aos meus anfitriões que me depositassem em Buscot Park, a residência do Lord Faringdon, agora sob os cuidados do National Trust, algo como o Instituto do Património Nacional, que zela não só sob o parque e as propriedades agrícolas e conserva Buscot House, que é visitável entre abril e setembro, no seu interior guarda-se uma coleção de pintura, mobiliário, cerâmica e porcelana e objetos de arte de incalculável valor. Coube a Alexander Henderson, primeiro Lord Faringdon, a expandir o espaço de jardim e sistematizar a coleção das obras de arte. Não escondo o que me atrai no interior desta casa, são as pinturas de Burne-Jones, a figura suprema dos pré-Rafaelitas, que cirandou por esta área e deixou marcas do seu genial trabalho. É no salão que se encontra uma série de quadros baseados na alegoria da Bela Adormecida, de uma qualidade estarrecedora, os olhos ficam presos a tal apuro pictórico.

Buscot House, austeridade neoclássica, influências neorrenascentistas
Uma escultura de Centauro à frente da fachada de Buscot House
O grande salão de Buscot House, mobiliário estilo Império e quadros de Burne-Jones sobre a alegoria da Bela Adormecida
Retrato de homem por Rembrandt, coleção de Buscot House
Pandora, pelo pré-Rafaelita Dante Gabriel Rossetti, Buscot House

Imprescindível é vir ao Salão de Chá construído no antigo estábulo. Dá gosto ficar aqui a contemplar esta pintura contemporânea e depois percorrer durante algumas horas o belo jardim murado chamado das quatro estações, visitar a avenida egípcia, onde não falta um obelisco, bisbilhotar o edifício do teatro, o grande lago e o charco, estava um dia ameno, daí ter que advertir o leitor que não era viável captar a intensidade do verde, passeei em todas as direções e aqui deixo o produto do meu trabalho, sinto-me sempre preso pela magnificência com que todo este espaço ajardinado se mantém cuidado, tornava-se imprescindível partilhar convosco o deslumbrante destes verdes, destas águas, destes arvoredos, destas esculturas.
E aqui me despeço, regressarei em breve, virei acompanhar este meu querido amigo à sua última morada.

Os frescos das paredes da Casa de Chá de Buscot Park foram pintados no final do século XX por Ellen-Ann Hopkins e evocam o estilo renascentista de Veronese, aludem a cenas familiares da família de Lord Faringdon e também estão relacionadas com motivos do parque. É um grande prazer beber um chá e comer uma fatia de bolo em ambiente tão prazenteiro e paredes tão coloridas, é uma animação que convida a voltar.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23957: Os nossos seres, saberes e lazeres (549): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (84): Em Oxford, em dia de exéquias reais (Mário Beja Santos)

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