Guiné > Bolama > Câmara Municipal. Postal da época.
Fotos do álbum de Virgínio Briote (2006)
Lisboa > 2009 > O Amadu Djaló no Cais do Sodré
Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2009). Todos os direitos reservados.
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (1940-2015) (*). Recorde-se aqui o seu passado militar:
(i) recenseado pelo concelho de Bafatá, sob o nº 21 em 1962, foi alistado em 4 de janeiro de 1962, como voluntário, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;
(ii9 depois da recruta em Bolama, seguiu-se o CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de condutor auto-rodas;
(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3);
(iv) regressou entretnanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;
(v) voltou a Bissau, em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966; (Já em meados de 1965 tinha passadp a ganhar mais 150 escudos, o equivalente a 64 euros, a preços de hoje.)
(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amsterdão).
Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVII: De volta à CCS do QG, fiz a escola de cabos em Bolama, tirei vinte valores e mandaram-me de novo para os comandos do CTIG, desta vez para o grupo "Os Centuriões" (pp. 130/133)
por AmaduDjaló
Em junho de 1965, com as guias de marcha na mão, dirigimo-nos ao QG, onde nos apresentámos. E depois, como de costume, fui logo até ao parque das viaturas, onde os condutores passavam o dia todo.
Para já, uma boa novidade. Ia passar a receber mais 150 escudos por mês, o que, na altura, dava para algumas coisas. Foi-me distribuída uma GMC, uma camioneta com 10 rodas.
Em Agosto, entrei na secretaria e encontrei o 1º sargento a lançar uns números num papel.
– Meu primeiro, para que são esses números?
– Por que é que perguntas?
– Porque estou a ver o meu número aí, é o segundo dessa relação!
– Este? Ah, então vais para Bolama, frequentar a escola de cabos e podes avisar os camaradas que tu conheces.
Assim fiz, voltei com a notícia para o parque.
Chegado o dia da partida, encontrámo-nos no cais para embarcarmos às 09h00, rumo a Bolama. Quando acabámos de nos concentrar, éramos cerca de cinquenta e tal soldados, vindos de todas as partes da Guiné, alguns meus conhecidos.
Mal chegámos a Bolama fomos fazer a apresentação ao 1º sargento que nos levou à arrecadação e nos distribuiu lençóis e cobertores. Ficámos numa caserna com 60 e tal camas e essa tarde foi para fazermos as camas, as limpezas e para arrumarmos tudo o que havia para arrumar.
No dia seguinte começou a escola. Decorreu tudo bem, desde o primeiro ao último dia. Tivemos um teste de trinta e três perguntas para dar a resposta em 60 minutos. À frente de cada pergunta havia três respostas escritas, duas eram falsas e uma era verdadeira. Bastava fazer uma cruz onde achava que era a certa. Começámos às nove para acabarmos às dez.
O alferes instrutor, no fim do teste, disse-nos:
– Agora vocês vão-se preparar para regressar ainda hoje. Os resultados vão para as vossas companhias.
Uns colegas não queriam regressar sem saber os resultados. Eu era contra, mas a maioria queria mesmo saber. Então o alferes convocou os sargentos para o ajudarem a corrigir.
Eu fui arrumar as minhas coisas e disse aos companheiros que nos encontrávamos no cais. Estava na caserna a arrumar tudo, quando entrou o Alberto, a correr, a chamar-me:
– Amadu, Amadu, o alferes está a chamar pelo teu nome.
E eu:
– Qual alferes?
– O instrutor, Amadu!
Saí a correr com a bagagem na mão e, quando cheguei à porta, entreguei-a a um companheiro e pedi licença para entrar.
Todos se levantaram, apertaram-me a mão e o alferes comunicou-me que eu tinha sido o primeiro classificado e que, se houvesse CSM - Curso de Sargentos Milicanios eu passava para este curso.
Agradeci, e quando saí alguns perguntaram a razão de me terem chamado.
– Todos passaram, ninguém chumbou!
Eu a acabar de dizer isto e o alferes apareceu com uma carta na mão a chamar pelos nomes com a respectiva classificação.
– Amadu, vinte!
Todos me abraçaram, estavam vários rapazes de Bafatá, a minha cidade, todo o pessoal estava contente. Fomos logo a correr direitos ao cais para tomarmos o barco para Bissau.
No dia seguinte, depois da nossa apresentação na CCS do QG, recomeçámos o nosso serviço diário, até ao dia 1 de Janeiro de 1966. Fomos promovidos a 1º cabos e no dia 2 de Janeiro apresentei-me como 1º cabo condutor.
Num dia dos finais de Fevereiro [1], eu estava no parque com alguns colegas, quando o Tomás Camará me disse:
– Tio[2], vamos outra vez para os Comandos!
– Quem te disse isso?
– Está ali o alferes Rainha a falar com o nosso comandante. Entregou-lhe uma autorização da 4ª Rep.!
– Mas vamos já hoje?
– Sim, porque o comandante mandou-me tirar o braçal.
O Tomás estava de cabo de dia. Estávamos com esta conversa quando ouvimos o alferes Rainha perguntar pelo Mamadu Bari. Chamaram-no e embarcámos os três, outra vez para Brá, para os Comandos.
Chegados a Brá, fomos directamente à arrecadação, levantar o material e o equipamento necessário.
Dois dias depois, surgiu uma missão[3] para cumprir, no sul. Apanhámos outra vez o barco para Cacine. O objectivo era Catunco Nalú, o local da última acção dos “Fantasmas” , a tal operação “Ciao”, onde tivemos um morto e nove feridos, em maio [4] de 1965. E agora, em fevereiro [5] de 1966, íamos voltar ao mesmo local para a operação com o código “Cleópatra”.
Dois dias depois, surgiu uma missão[3] para cumprir, no sul. Apanhámos outra vez o barco para Cacine. O objectivo era Catunco Nalú, o local da última acção dos “Fantasmas” , a tal operação “Ciao”, onde tivemos um morto e nove feridos, em maio [4] de 1965. E agora, em fevereiro [5] de 1966, íamos voltar ao mesmo local para a operação com o código “Cleópatra”.
Chegámos à tarde a Cacine, repousámos até cerca das 20h30. Esta era a primeira operação em que, eu, o Tomás Camará e o Mamadu Bari, íamos participar com os “Centuriões” [comandada pelo alf mil 'cmd' Luís Raínha]
[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas /Títulos: LG]
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Notas do autor ou do editor literário (VB):
[1] Nota do editor: 20 fevereiro 1966.
[2] O Tomás Camará chamava-me sempre tio, até quando fomos feridos em Cameconde, no meio do tiroteio, chamou-me tio.
[1] Nota do editor: 20 fevereiro 1966.
[2] O Tomás Camará chamava-me sempre tio, até quando fomos feridos em Cameconde, no meio do tiroteio, chamou-me tio.
[4] Nota do editor: 7 maio 1965.
[5] Nota do editor: 22 fevereiro 1966.
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Nota do editor:
(*) ÚLtimo poste da série > 7 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23958: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XVII: O maluco do Honório nunca mais!... E depois o meu adeus à guerra dos “Fantasmas”, maio de 1965
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