segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P23988: Casos: a verdade sobre... (33): Vitorino Costa, o primeiro comandante da guerrilha, formado em Pequim em 1961, a ser morto pelas NT em meados de 1962

 

Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China, em 1961 |

Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 05360.000.084 | Assunto: Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China, para iniciarem treino militar na Academia Militar de Nanquim: João Bernardo Vieira [Nino], Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Manuel Saturnino, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira, Vitorino Costa e Hilário Gomes. | Data: 1961 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral | Tipo Documental: Fotografias


(1961), "Grupo de quadros do PAIGC recebidos por Mao Tse-Tung na República Popular da China", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43247 (2023-1-16)



(Detalhe: Reproduzido com a devida vénia... Legenda segundo o nosso colaborador permanente Cherno Baldé: "Na foto do grupo de Nanquim (China, 1961) estão presentes, a contar da esquerda, na fila da frente: Nino Vieira, um diplomata que não identifico, uma mulher que deve ser a companheira do diplomata (ou a tradutora, acrescentamos nós), o Presidente Mao Tse-Tung, Francisco Mendes (Tchico Té), Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi. Na segunda fila: Pedro Ramos, um diplomata Chinés, Vitorino Costa, Hilário Gomes, Constantino Teixeira (Tchutcho) e o Manuel Saturnino Costa".


1. Já aqui falámos de Vitorino Costa, Tem meia dúzia de referências no nosso blogue. De seu nome completo, Vitorino Domingos Costa, irmão de Manuel Saturnino da Costa (futuro primeiro ministro da República da Guiné-Bissau), foi morto, em 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153, comandado pelo cap inf José Curto, na região de Quínara (nas proximidades de Darsalame ou perto de São João, não sabemos ao certo).

Sobre esta época, de 1962, em que o PAIGC começou a fazer trabalho de formação político-militar e a recrutar gente nas tabancas,  sobretudo nas regiões de Quínara e de Tombali, continuamos ainda a saber muito pouco. Faltam os testemunhos, orais e escritos, de um lado e do outro. Faltam os relatórios. Faltam as fotos.  

Mas sabe-se que  o ano de 1962 não começou bem para o PAIGC que viu, por exemplo, em Bissau (a "zona zero")  ser descoberto e preso o seu presidente (do Comité Central, nomeado já na prisão, pelo Partido), que vivia na clandestinidade, o Rafael Barbosa, de etnia papel, e com ele centenas de militantes e simpatizantes (100 dos quais serão depois deportados para o Campo de Chão-Bom, Tarrafal, ilha de Santiago, Cabo Verde)

De resto, era ainda escassa a presença do exército português no território. E a PIDE tinha acabado de se instalar. Por tudo isso, é um período que se presta a muita especulação. O filme do George/Jorge Freire ainda mostra uma Guiné relativamente idílica, calma, tranquila, onde se pode viver e viajar, em segurança, nomeadamente no leste, no chão fula. Mas por quanto tempo ? Quando deixa Nova Lamego, no leste,  e é colocado em Bedanda, no sul, em novembro de 1962, com a sua 4ª CCAÇ, o cap Jorge Freire ainda leva consigo a esposa. Mas em dezembro ela é obrigada a regressar a Portugal, por razões de segurança. 

2. Tudo indica que o 'comandante' Vitorino Costa terá morrido  na sequência de uma "ação punitiva" do nosso exército, depois de um conhecido comerciante de Empada ter sido assassinado barbaramente na estrada, no regresso de Darsalame para Empada. Mas não sabemos, ao certo, se há uma relação entre os dois acontecimentos.

Vitorino Costa e Manuel Saturnino Costa, além de irmãos,   eram dois dos históricos militantes enviados para a China para receber treino político-militar,  tendo sido inclusive  recebidos pelo então "grande timoneiro", Mao Zedong, em 1961 (Vd. foto acima). Eis a lista completa, por ordem alfabética,  do grupo dos "primeiros comandantes da guerrilha", formados na Academia Militar de Pequim (nenhum deles hoje vivo, o último a morrer foi o Saturnino Costa, em 2021):
  • Constantino Teixeira
  • Domingos Ramos
  • Francisco Mendes
  • Hilário Gomes,
  • João Bernardo Vieira (Nino)
  • Manuel Saturnino da Costa
  • Osvaldo Vieira
  • Pedro Ramos
  • Rui Djassi
  • Vitorino Costa

Sabemos que Vitorino Costa era um homem próximo de Amílcar Cabral (e de Luís Cabral) e que a sua morte foi sentida como um sério revés para a guerrilha, em preparação. Também Bobo Keita (ou Queita)  se refere ao seu nome, na sua biografia "De campo em campo", escrita por Norberto Tavares de Carvalho, (ed. autor, 2011).  É um dos seus vinte guerrilheiro do PAIGC  que morreram de morte violenta, e que ele evoca, no final do seu livro (p. 237):

(...) "Vitorino [o autor escreve Victorino ] Costa era responsável pela mobilização da zona de Quínara, Fulacunda, Tite, S. João [ correspondente então à Zona 8 do PAIGC - Bolama - Tite - Fulacunda - Buba - Empada - Darsalame.] .  

"Em plena campanha de recrutamento, foi pernoitar numa tabanca cujo chefe colaborava com os portugueses. Vitorino Costa foi denunciado.  Era no tempo daquele  que era conhecido como 'capitão Curto', um militar português muito temido pela população. O seu ultimato era conhecido: 'Fogo ou chapa'. O fogo significava um tiro na cabeça  e chapa referia-se ao emblema do Partido.  Quem era suspeito de pertencer ou de colaborar com o PAIGC, ou entregava o emblema ou era morto. 

"O capitão Curto, uma vez alertado  da presença de militantes do Partido na região, invadiu a tabanca com os seus homens.  Vitorino Costa viu-se  cercado e tentou defender-se com a única pistola que possuía. Naquele tempo , no princípio da luta, o Partido não dispunha ainda de armas. O combate era desigual. Depois de ter sido morto a tiro, foi decapitado e a sua cabeça enfiada num grosso ramo com o qual os portugueses exibiram a cabeça do nosso camarada, fazendo-a circular por toda a tabanca, ameaçando e intimidando a população a não colaborar com os 'turras' (...). Esta cena ocorreu antes do início da guerra. Foi em 1962". 

3. Luís Cabral, na suas memórias ( "Crónica da Libertação", Lisboa, O Jornal, 1984), tem uma versão ligeiramente diferente deste episódio (pp. 127/128);

(...) "No Centro-Sul, na região de Quínara, a situação também se tornava difícil. Depois da sua saída precipitada do Gabu  [onde foi cercado em Canquelifá, escapando por pouco às autoridades alertadas pelo chefe da tabanca, vd. pp. 115/117 ], Vitorino Costa tinha sido enviado a esta região para reforçar a equipa que já lá se encontrava . Instalou-se na área de Tite (...). 

"Vitorino era um jovem com muito orgulho e estava entre os quadros do Partido que tinham mais habilitações literárias. (...) Apercebia-se facilmente nele o desejo de fazer tudo para cumprir o melhor possível a sua missão em Quínara.

"Vitorino dormia com os seus homens na tabanca de S. Joana , na área de S. João  [gralha ?  seria Santa Maria ? não localizámos este topónimo, S. Joana,  na carta e São João, 1955, escala 1/50 mil], quando a casa foi cercada pelas tropas coloniais. O inimigo tinha conhecimento das nossas fracas possibilidades de defesa (...).

"No seu grupo, só o Vitorino tinha uma pistola e foi com ela  que conseguiu chamar a atenção das forças inimigas, às quais ainda resistiu corajosamente o tempo necessário para a retirada dos  seus companheiros.

"Gravemente ferido, (...) morria pouco depois,  O seu corpo, transportado num veículo,  foi levado pelas tropas coloniais a várias tabancas de Quínara. Ao seu companheiro  Seni Sambu,  cortaram-lhe a cabeça, que  foi exposta em Fulacunda, sua terra natal, em presença da sua própria mãe (...).


4. Não encontrámos uma única foto individual de Vitorino Costa no Arquivo Amilcar Cabral que, em boa hora, passou a estar disponível, para consulta, a partir de 20 de janeiro de 2013.  Na foto em grupo, tirada em Pequim, em 1961, e acima reproduzida, não temos a certeza de quem é o Vitorino Costa (nem a maior parte dos outros elementos do PAIGC).

De qualquer modo, sabemos que o capitão Curto e a sua CCAÇ 153 foram inimigos mortais do PAIGC. O Vitorino Costa (e mais alguns dos seus homens) terá sido  morto em meados de 1962 (talvez julho ou junho). 

A versão que sabíamos é que a tabanca onde foi abatido o Vitorino Costa seria em Darsalame, e a sua "cabeça" terá sido trazida para Tite, sede do BCAÇ 237.  Tratava-se de um "grande ronco" para as autoridades portuguesas em luta contra "o início da subversão", e foi seguramente um grande revés para o PAIGC (*) que, oficialmente, só vai começar a luta armada em 23/1/1963, com o primeiro ataque ao aquartelamento de Tite.

Falámos ao telefone, em tempos, em 2010,  com dois camaradas contemporâneos dos acontecimentos: o fur mil Octávio do Couto Sousa, da CCAÇ 153, de Ponta Delgada, e o José Pinto Ferreira, ex-1.º cabo radiotelegrafista, CCS/BCAÇ 237 (Tite, 1961/63), do Marco de Canaveses.   Infelizmente nenhum deles integra,  ainda hoje,  a nossa Tabanca Grande, apesar do nosso convite, e de já  termos publicado postes com o seu nome (**). Dada a delicadeza do assunto, o Octávio do Couto Sousa não nos autorizou, na altura, a publicação do seu depoimento; ele integrava o grupo do cap Curto que cercou, "em Darsalame" (sic),  o Vitorino Costa (menos de 30 homens).

Seria importante o testemunho de mais camaradas sobre estes acontecimentos do início (mal conhecido) da guerra. De qualquer modo, tanto o Octávio do Couto Sousa como o José Pinto Ferreira  reforçaram a ideia de que o  capitão Curto, pese embora a lenda a que está associada o seu nome na Guiné (mesmo ao fim de mais de meio século!), foi um militar destemido, corajoso e competente. (Temos 13 referências sobre este oficial, que infelizmente já faleceu em  18/11/2018, com o posto de ten gen ref.) 

No livro da CECA, não encontrámos qualquer referência a este episódio (Vd. Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6.º volume:  Aspectos da actividade operacional. Tomo II: Guiné. Livro 1. Lisboa: 2014,  538 pp).

De qualquer modo, nunca é demais recordar que ao nosso blogue interessa apenas a verdade dos factos. E, como é nossa norma, não fazemos juízos de valor sobre o comportamento, individual, de nenhum combatente da guerra colonial na Guiné, muito menos dos nossos camaradas operacionais (de soldado a capitão). (***)

 Sobre a CCAÇ 153, escreveu o nosso camarada Octávio do Couto Sousa [Mafra, 1959, Tavira em 1959/60; furriel miliciano em 1960/61; sargento miliciano em 1962/63], em comentário ao blogue Rumo a Fulacunda, em 2/10/2008:

    (...) A Companhia 153 proveio do RI 13, de Vila Real, com cabos e praças daquelas redondezas, alguns com nomes das suas terras, o Vila Amiens, o Chaves, etc. Como disse no primeiro escrito, foi uma pena termo-nos separado em Vila Real, terminada a comissão, desejosos todos de partir para as nossas famílias, sem o cuidado de trocar endereços que nestes anos seriam preciosos para nos reencontrarmos. A maioria dos oficiais e sargentos foram mobilizados de outras zonas. No nosso caso e do João M. C. Baptista, estávamos já na disponibilidade e a viver nos Açores.

    O nosso Comandante de Companhia foi o Capitão, hoje General, José dos Santos Carreto Curto.

    Fomos a única companhia em todo o Sul da Guiné em 1961, com um pelotão em Buba e uma secção em Aldeia Formosa. Tivemos depois um pelotão em Cacine. Estivemos também aquartelados em Cufar numa fábrica de arroz, assim como em Catió, até que tudo se agudizou em termos operacionais. Para Buba chegou uma companhia, a 154, outra para Cacine e por muitas outras localidades foram chegando mais unidades consoante a guerra se intensificava.

    As fotos mostram o quartel de Tite onde se instalou o primeiro Batalhão, o 237, ao qual passámos a pertencer como tropa operacional e por questões de organização.

    Acompanhámos o primeiro ataque a Tite [em 23 de Janeiro de 1963], de Fulacunda saíram reforços nos quais estivemos integrados, visto que o Batalhão, como sede, não estava ainda operacional.

    A nossa companhia, a 153, acabou por ficar toda junta e em várias missões percorremos todo Sul na busca e destruição das casas de mato que o PAIGC proliferava por tudo quanto eram zonas mais ou menos isoladas. (...)


    5. Há uns largos anos atrás (mais de doze!), recebemos uma mensagem de um leitor nosso, guineense, que nunca chegámos a publicar... (Na altura, trabalhava localmente para as Nações Unidas.) Achamos oportuno fazê-lo agora, até na esperança de haver mais elementos informativos sobre este caso.

    De: Augusto Domingos  Costa <costa4@un.org>

    Data - quarta, 8/06/2011, 16:48

    Assunto -  Em busca de informações

    Caro Luís Graça!

    Saudações de uma longa vida a juntar e reconstruir memórias de um período agridoce e extremamente rico em termos de relacionamento humano entre nossos dois povos.

    Sou um cidadão guineense que vai lendo, sempre que possa, memórias plasmadas no vosso blogue. Mas interesso-me, neste momento, da história da CCAÇ 153, do lendário Cap Curto, Fulacunda, 1961/63. Já li o depoimento de José Pinto Ferreira, ex-1º Cabo Radiotelegrafista, acerca do Cap Curto não ter mandado cortar a cabeça do Victorino Domingos da Costa, e ter sido injustamente diabolizado com esse cunho. 

    Interesso-me também em saber a verdade, sem rancores nem mágoas, por esse Senhor que foi decapitado ser o primogénito da nossa família. Aguardo com serenidade o depoimento do ex-Fur Mil Octávio do Couto Sousa porque temos o objecto de encontrar as ossadas e trazê-las para Bissau.

    Um abraço,
    Augusto A. Domingos da Costa
    _______

    Notas do editor:


    (...)  Carta do futuro diplomata do PAIGC e da República da Guiné-Bissau, Gil Fernandes, a estudar em Boston, EUA, datada de 1/12/1962, dirigida a Amílcar Cabral. Começa nestes termos:

    "Caro Amílcar: Foi com grande consternação que recebi a sua última carta relatando a morte de Vitorino Costa. Eu e ele fomos grandes amigos e fui por algum tempo seu explicador. A sensação de choque  que se recebe perante acontecimentos desta natureza é absolutamente  indescritível, este é mais um crime que mais tarde os portugueses terão que dar conta. Imagino em que estado é que o Amílcar se deve encontrar, mas confio inteiramente na sua perseverança, agora é que é preciso mais coragem"  (...)"


    (...) "Fui telegrafista muito activo ao serviço do Comando do BCAÇ 237, o que me permitiu assimilar algumas verdades nunca desmentidas. Dito isto, peço que aceitem e reflictam no que se diz nos Postes acima referidos:

    (...) "O Comandante da CCAÇ 153 foi o Capitão José dos Santos Carreto Curto, aquartelado em Fulacunda. Era um oficial corajoso, visto como inimigo fidalgal pela Rádio Conakry. Nunca terá cortado cabeças a ninguém, mas tão só sido acusado injustamente de um acto menos digno que terá sido praticado por um seu subordinado no IN, morto quando fugia para o Rio. Actos repelentes, sem confirmação, não devem ser credibilizados." (...)

    Vd. também poste de 5 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19259: (D)o outro lado do combate (39): Vídeo de 2/3/2008 com entrevista a antigo guerrilheiro do PAIGC, contemporâneo do cerco a Darsalame, em julho de 1962, pelo grupo de combate da CCAÇ 153, comandado pelo cap inf José Curto (Luís Graça)

    (***) Último poste da série > 5 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23847: Casos: a verdade sobre... (32): o pós-25 de Abril no CTIG, as relações das NT com o PAIGC, a retração do dispositivo militar e a descolonização

    14 comentários:

    Valdemar Silva disse...

    Carlos Gaspar, 1961 será uma passado longínquo, próximo ou recente.

    ".... escritor ou jornalista o cabo verdiano que disse que tinham que se libertar dos libertadores, pois a cultura dos cabos verdianos não tem nada a ver com modelos copiados dos paises do leste no passado recente."

    Este escritor ou jornalista tem de ir para a escola da marreca aprender os pontos cardeais.
    Ainda bem que os cabo verdianos não foram nas cantigas do oeste para não ficarem reduzidos às habituais sambices e rumbices das favelas e bairros de lata da América Latina.

    Saúde da boa
    Valdemar Queiroz

    Tabanca Grande Luís Graça disse...

    Confirma-se: quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto...

    Tabanca Grande Luís Graça disse...

    Segundo conta o "insuspeito" Luís Cabral, o jovem Vitorino Costa ia-se lixando logo em Canquelifá, na região de Gabu... Meteu-se com os fulas, a tentar passar-lhes a "palavra libertadora" do camarada engenheiro Amílcar Cabral, e no intervalo foi ajudar os camponeses da terra nos trabalhos agrícolas (estava-se na época das colheitas), querendo assim aplicar, no terreno, os ensinamentos do "grande timoneiro" Mao Tse Tung (como se dizia no meu tempo)... Não ganhou para o susto quando apareceu a tropa e/ou a polícia administrativa do posto mais próximo, alertado pelo chefe da tabanca... O Amílcar puxou-lhe depois as orelhas...Mas ele não aprendeu, e cometeu novo erro fatal, em Darsalame...

    Tabanca Grande Luís Graça disse...

    Valdemar, o jornalista, escritor e investigador a que te referes,é o Daniel Santos. Reproduzimos largos excertos de uma entrevista sua ao "Expresso das Ilhas", uma semanário que não é afeto ao PAICV e não morre de amores pela figura do Amílcar Cabral... A frase é dele: "Cabo Verde precisa de libertar-se dos libertadores"...

    Expresso das Ilhas,15 de setembro de 2018 >
    Cabo Verde precisa de libertar-se dos libertadores



    20 DE DEZEMBRO DE 2022
    Guiné 61/74 - P23899: Antologia (86): Excertos da entrevista de Daniel Santos, ao "Expresso das Ilhas" (15/9/2018): Amílcar Cabral e a "falsificação da história"

    https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2022/12/guine-6174-p23899-antologia-86-excertos.html

    Antº Rosinha disse...

    Fatos de bom corte , por medida, gravata bem aburguesada, posando ao lado de Mao, com a sua fardalheta chapa 5, é um contraste curiosíssimo.
    Digno de 1001 legendas.

    Cherno Baldé disse...

    Caros amigos,

    Na foto do grupo de Nanquim (China, 1961) estão presentes, a contar da esquerda, na fila da frente: Nino Vieira, um Diplomata que não identifico, uma mulher que deve ser a companheira do Diplomata, o Presidente Mao TT, Francisco Mendes (Tchico Té), Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Rui Djassi.

    Na segunda fila: Pedro Ramos, um Diplomata Chinés, Vitorino Costa, Hilário Gomes, Constantino Teixeira (Tchutcho) e o Manuel Saturnino Costa.

    Cordialmente,

    Cherno Baldé

    Valdemar Silva disse...

    Luís, recentemente Ulisses Silva, Chefe do Governo, do MpD, apoiado por este jornalista, inaugurou um novo local, mais condigno, da grande estátua de Amílcar Cabral, na cidade da Praia.

    Antº. Rosinho, parece que em 1961 ainda não era obrigatório andar com aquela celebre fatiota e boné azuis.

    Saúde da boa
    Valdemar Queiroz

    Anónimo disse...

    PS: Este grupo de jovens que na altura andavam entre os seus 18 e 22 anos com excepção talvez do Osvaldo Vieira, sem o saberem marcavam assim o início de uma nova era perante os desígnios do seu país sob a liderança de Amilcar Cabral que assim punha fim a retórica política dos primeiros movimentos entre Dakar Accra e Conakry e iniciavam um período marcado pela mobilização e início da guerrilha no interior do território. Assim, estes jovens rapidamente se transformariam em líderes e temidos guerrilheiros, formando o primeiro núcleo de comandantes das FARP nas matas da Guiné e, mais tarde seriam conhecidos e imortalizados pelo slogan popular de: Altos, Fortes e Corajosos.

    Pode-se gostar ou não, mas como diz um provérbio guineense "Mesmo que não se goste do Lobo, não se pode dizer que não é um felino ágil" ou seja " Lubu nin si u já gosta dele Kai dal padja do bóbora".

    E eu não sou e nunca fui do PAIGC.

    Salam,

    Cherno Baldé

    Tabanca Grande Luís Graça disse...

    Preciosíssima ajuda, Cherno!... Precisávamos de mais gente da tua terra, como tu!...Sempre atento, perspicaz, objetivo, isento, culto, sábio...E com orgulho na sua gente e na sua terra!... Já corrigi. As legendas das fotos do Arquivo Amílcar Cabral deixam muito a desejar. Temos melhorado muitas!

    Tabanca Grande Luís Graça disse...

    Bem apanhado, também, o teu comentário Rosinha. E como a China mudou, de então para cá.

    Cherno, a única mulher presente na foto de grupo só pode ser a intérpetre. E é de origem afro... Segura uma pasta na mão e na cabeça tem um lenço...

    Há mais dois elementos do PAIGC que acompanharam o Amílcar Cabral na sua visita à China, onde foi garantido "um apoio fraternal para o desenvolvimento da luta" (Luís Morais, "Crónica da Libertação", Lisboa, O Jornal, 1984, pág. 102), e que lá ficaram para também receberem formação na Academia Militar de Nanquim: foram eles o Luciano N'Dao e o Dauda Bangurá. (Eu nunca tinha ouvido falar nos seus nomes... O que foi feito deles depois ? Entretanto juntaram-se a eles os jovens da foto (que penso já morreram todos, com exceção do Saturnino).

    De qualquer modo, Cherno e Rosinha, temos que concordar que é uma foto para a história.

    Antº Rosinha disse...


    O Cherno traduz-nos o verdadeiro retrato da imagem criada para os heróis que vieram da China, nos termos de Altos, Fortes e Corajosos.

    Altos, fortes e corajosos, que devia ser para a juventude guineense nos primórdios da independência de ficar todos em sentido e boquiabertos ao vê-los passar, "desfilar" nos seus Volvos ministeriáveis de vidro fumado.

    De facto era impressionante como o povo, principalmente os jovens, particularmente "as jovens", se sentiam subjugados àquelas figuras autenticamente gigantescas.

    Arredava-se toda a gente â passagem do mercedes de Manuel Saturnino!

    Era o mais admirado pelos meus inúmeros porta miras, apesar da fome de sete dias.

    P.S. Eu tinha muitos porta miras embora apenas precisasse de dois, primeiro porque a mão de obra era barata, talvez o valor de um pão por dia, e devido à fome,estavam sempre doentes, e como o trabalho era o da Av. UNIDDADE GUINÉ-CABOVERDE (1980), era um desfile constante daqueles ministros nos seus Volvos e até chegava a haver palmas à sua passagem, pelo povo esfomeado, mas reconhecido.

    Era de facto esse termo que Cherno nos traduz, que eu na minha incapacidade de entender o crioulo não captava: Altos, Fortes, Corajosos.

    Manuel Saturnino tinha físico de Globtroter,segundo o povo tinha direito a "todas".

    Cherno Baldé disse...

    Caro Luis Graça,

    O Luciano N'Dao, falecido em Bissau ha alguns anos atras, foi dos primeiros a ser enviado para Conacry em 61 ou 61, segundo consta, para enquadrar os mais novos, pois era dos poucos com alguma formaçao e experiencia militar, provavelmente seria dos primeiros guineenses incorporados e preparados pelo exercito portugués nos anos 50 a que se seguiriam outros como o Domingos Ramos, o Rui Djassi entre outros.

    A mulher da foto assim como o senhor ao seu lado nao tem ar de guineenses, parecem mais com Moçambicanos, penso eu.

    Um dos filhos do veterano Luciano NDao (Luciano Indau junior) foi meu colega no Ministério das Obras Publicos, Engenheiro Técnico formado em Cuba e penso que ainda trabalha la.

    O grupo de Nanquim infelizmente ja nao tem sobreviventes, pois o Comandante Manuel Saturnino Costa também ja faleceu no ano passado (2021), em Bissau.

    Abraços,

    Cherno Baldé

    Anónimo disse...

    Caro Rosinha,

    Perfeitamente de acordo, o filme que descreves é autentico e retrata o cenario surreal do inicio dos anos 80, de um "...povo esfomeado, mas reconhecido".

    Cherno Baldé

    Tabanca Grande Luís Graça disse...

    "Altos, Fortes, Corajosos"... Postura de heróis. Os povos precisam de mitos, de heróis. Em todas as guerras, em todos os empreendimentos épicos.

    Em Cabo Verde os poucos combatentes ( umas escassas três dezenas de militantes do PAIGC que receberam treino militar em Cuba e depois na URSS, enquadrados pelo 'comandante' Pedro Pires, e depois desembarcar nas ilhas para dar início a uma nova frente de luta, o que felizmente para todos, e sobretudo para eles, nunca chegou a acontecer...) ainda hoje são tratados como "Melhores Filhos"... Ou auto-intitulam-se... Enfim, a retórica de todas as revoluções, à esquerda ou à direita...