domingo, 13 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12977: Os nossos médicos (76): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (9): O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

1. Mensagem do nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS da CCS/BCAÇ 3872 - Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72 - Mansoa, e Cumeré, 1973/74), com data de 7 de Abril de 2014:

Como habitualmente venho procedendo, junto o texto enviado pelo nosso Tabanqueiro n.º 624 - Rui Vieira Coelho, ex Alf. Mil. méd. do BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, sediados, que foram, em Galomaro - Guiné.
Ele, e eu, formulamos votos de boa recuperação para o camarigo Luís Graça e de amizade para todos em geral.

Um alfa-bravo para todos.
Mário Vasconcelos


MEMÓRIAS DO DR. RUI VIEIRA COELHO

9 - Fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos"

Rui Vieira Coelho

Costumo dizer aos meus doentes deprimidos, aflitos com o desemprego e a resseção económica, com a desintegração social e familiar e que dizem estar "no fundo do poço", pois olhe que eu já passei por situações muito piores quando estive na guerra da Guiné e depois de ter estado no Inferno, tudo aqui me parece o Céu.
Depois enumero algumas situações dramáticas por que passei e que assisti no teatro de guerra e a seguir começam a sentir que os problemas por que estão a passar, não serão tão graves, comparados com as descrições que eu lhes fiz.
Por fim é necessário, após acalmarem, enumerar soluções para os seus problemas de uma maneira prática, enlevando -lhes a auto-estima, o sentido de humor e a esperança de tempos melhores que por certo acabarão por vir, não deixando de afirmar sempre o apoio, o "ombro amigo" a disponibilidade de saber ouvir e o "tempo ao dispor".

Na Tabanca dos Melros, a recordação dos tempos bons e maus da Guiné, as conversas entre nós servem de terapia e de divisão de problemas antigos de lá trazidos, as saudades de locais e gente boa que conhecemos, e para as quais algumas não há retorno, como o meu amigo Tenente Jamanca, comandante (comando africano) da CCaç 21 de Bambadinca, injustamente fuzilado e que tantas vezes nos protegeu as costas em operações quer em Galomaro, Dulombi, Cancolim e Saltinho.

O PAIGC no tempo do presidente Luís Cabral, perpetrou fuzilamentos sucessivos nos "Comandos Africanos", que iludiram dizendo que estes iriam constituir a Tropa de Elite do Novo País agora libertado. 
Ouvi isso mesmo já em Bissau quando estava de urgência no Hospital Civil, hoje denominado de Simão Mendes, no período de transição e de viva-voz do Tenente Justo e do Capitão Saiegh, que acompanhavam o Dr Bualdi, responsável pela Saúde do novo País (angolano e era casado com a Dra Niquita Bualdi que estava nomeada para Comissionária da Educação) e que veio reunir com os médicos sediados em Bissau, pedindo para ficarmos mais algum tempo, dizendo que tínhamos um dever histórico para com o Povo da Guiné.

O Tenente João Bacar Djaló rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos.

A maior parte de nós recusou o "convite" pois não estávamos em condições psíquicas, no fim da comissão de permanecer no território até à reorganização dois serviços de saúde.
Lembro-me de dizer ao Capitão Saiegh e ao Tenente Justo, que se fosse a eles, viria para a Metrópole, pois não me acreditava na ilusão criada pelo PAIGC e abarcaria com ambas as mãos a oferta de integração plena no Exército Português. Foi a última vez que os vi.

Posteriormente já cá, soube das atrocidades contra todos eles cometidas. A todos os massacrados do Batalhão de Comandos Africanos curvo-me com todo o respeito e rezo à minha maneira.

O Inferno que vos criaram, trará o CÉU para todos vós.  
Benditos sejam.

RVC
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12953: Os nossos médicos (75): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (8): Colegas meus

3 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Tenho dificuldade em escrever sobre esta bestealidade.
Li, fiquei aqui parado a pensar no Zacarias e noutros que andaram comigo no mato. Eram excelentes camaradas e combatentes. Se duvida houver o Mário B.Santos e o Jorge Cabral podem confirmar, além dos meus camaradas.
O que foi agora escrito pode-se juntar ao muito que aqui já se escreveu. Podia juntar-se tudo e muito mais que se irá escrever, numa Série: O FUZILAMENTO DAS TROPAS PORTUGUESAS... ou parecido.

Por isso disse e repito: Nunca esqueço e não sei perdoar. Foi crime. Dizerem :nada temos com o povo portugues temos e com os colonialistas. Mais uma mentira a juntar a tantas outras.

Ab,T.

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

Este tema é sempre motivo para se tecerem comentários à desgraçada maldade humana.

O assassínio (porque foi disso que se tratou) dos "comandos africanos" (pelo menos de muitos deles) foi um acto cobarde e uma falsidade.

Assassinato porque lhes fizeram crer que as suas anteriores acções em favor do anterior poder eram coisas do passado, que iriam ser integrados na nova sociedade e que as suas qualificações iriam ser utilizadas pelo novo poder.

Se as autoridades emergentes da nova situação tivessem logo manifestado a intenção de julgar como 'actos de guerra' contra os novos governantes o que aqueles soldados ao serviço do Governo Português fizeram, isso podia ser discutível mas teriam a legitimidade do momento e da honestidade declarada para o fazerem.

Como não foi isso que ficou acordado na 'passagem de testemunho', o que depois se passou foi miserável, foi cobarde, foi criminoso.
Não foi próprio de homens "livres e de bons costumes", como me asseguraram que Luís Cabral seria, a menos que não fosse ele o principal responsável (apesar de ser o Presidente) ou não tivesse capacidade e/ou força para se opor às circunstâncias.

A guerra, todas as guerras, arrastam consigo um conjunto de misérias físicas e principalmente morais. Muitas coisas são "inevitáveis", são produto das circunstâncias vividas, mas a falsidade, apesar de infelizmente ser prática corrente, é desprezável.

Na generalidade, concordo com a homenagem à memória dos homens que foram assassinados "à falsa fé", embora a prudência aconselhe a reservar opinião sobre as acções efectuadas.

Hélder S.

Antº Rosinha disse...

Uma das razões de não haver paz política na Guiné, tem nesta matança dos comandos africanos pelo PAIGC uma parte da explicação.

Também os abusos de toda a ordem sobre as populações durante a luta e agravada com a saída do "colon", são lembrados entre os guineenses,ainda agora durante a campanha eleitoral, re-lembrado em jornais e blogs guineenses.

Os anos vão passando e os que vamos re-lembrando aqueles anos, (muito poucos)é que ainda nos vamos "torcendo" de raiva,ao ler estas coisas, porque o resto da maralha é só foguetório.

Mas os africanos estão permanentemente lembrando a Europa o porquê a entrega dos povos à sua sorte.

Perguntam em Melila, em Lampedusa, na Sicília, em Caboverde, nas Canárias, nas ilhas Gregas.

Claro que eu além de retornado, com os as barbaridades que vamos ouvido e as «asinhas» que vamos criando vou refinando o meu reaccionarismo.