Caro Carlos: Caros Camaradas:
Parafraseando Hélder de Sousa (P12957) também “hesitei um pouco como enquadrar este meu artigo”.
Do mesmo modo também será para “dar cumprimento ao apelo do nosso editor chefe no sentido de “alimentar o blogue”.
O que vou contar ficou em suspenso quando escrevi, na série A Guerra Vista de Bafatá, o relato do 14º dia da minha viagem à Guiné-Bissau, em Março de 2010.
Escrevi então (P6668), “…no aeroporto de Lisboa, uma navalha de ponta e mola, que trazia na bagagem, protagonizou uma estória que só contada”.
Vou então contá-la, para ser inserida na série A GUERRA VISTA DE BAFATÁ com título: DIÁRIO DA IDA À GUINÉ – 18/03/2010 – O DIA SEGUINTE*.
Antes porém, e de forma introdutória, direi que já tenho essa navalha, de origem espanhola, há várias décadas. Acompanha-me, sempre que é possível, nas minhas viagens, quer como arma de defesa mas principalmente como auxiliar de cozinha.
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
87 - DIÁRIO DA IDA À GUINÉ – 18/03/2010 – O DIA SEGUINTE
Pois bem, uma vez fui a Paris, de carro, em 1986. Estava na fila para visitar a Petit Chapelle que, por fazer parte do Palácio da Justiça, havia uma segurança redobrada.
Estava então na fila que se desenvolvia entre dois separadores onde só cabia uma pessoa, uma atrás da outra. Em determinado momento da espera verifiquei que lá à frente os guardas passavam detectores de metais pelas pessoas além de verificarem o conteúdo de todas as carteiras e sacos. E a minha navalha no bolso!
Como não tinha espaço para recuar sem dar na vista aos guardas, entrei em pânico. Mas como demorei a entrar tive o tempo suficiente para acalmar e resolver a situação. De modo que ninguém se apercebesse, tirei a navalha do bolso e coloquei-a bem no fundo do pequeno saco que levava ao ombro. Os detectores não acusaram nada, o guarda espreitou de fugida para dentro do saco e lá vi a espectacular Petit Chapelle.
Contra luz da Petit Chapelle.
Há uns anos atrás, numa caçada ao javali, por acaso na Quinta de Vale Meão, quando procedíamos ao “mata Bicho” antes da caçada esqueci-me da dita em cima da grande mesa dos “comes”. Alguém, dos cerca de 200 caçadores presentes “guardou” a minha preciosidade e não se “descoseu”.
Também desta vez tive algum tempo para delinear uma estratégia. Antes de se ir para a caçada iria haver um breefing, entre outras coisas, para a distribuição das portas. Deixei o Presidente da Associativa de Caça falar e então de improviso fiz um “choradinho” sobre a minha navalha de estimação, sem resultado imediato. Tinha sido realmente “guardada”.
Mais tarde os remorsos falaram mais alto e vieram entregar-ma.
O resultado da batida.
Voltando então à Guiné e à viagem de regresso como contei no (P6668). Só trazia bagagem de mão (de cabine), um trólei e uma mochila. Como nessa altura referi não me preocupei com a navalha que vinha no fundo da maleta pois já tinha assistido, dias antes no aeroporto de Bissau ao “faz de conta” das máquinas de inspecção de bagagens.
Última fotografia, como despedida, que tirei no aeroporto de Bissau.
Quando cheguei a Lisboa, já com atraso, ia ter pouco tempo para apanhar o avião para o Porto. Sempre achei este aeroporto muito esquisito e complicado pelo que, e mesmo perguntando, não consegui mudar interiormente para o terminal do avião do Porto. Como já estava muito atrasado, alguém me aconselhou a ir pelo exterior, para o outro terminal, apanhando um autocarro gratuito.
Foi o que fiz. Porém quando entrei no novo terminal é que caí em mim: Estava a entrar. Tinha que passar a bagagem pelas máquinas de ultra sons que agora não eram de “faz de conta”. Agora, como qualquer passador de droga que se preze também não entrei em pânico. O trólei passou pela máquina e à saída peguei nele e comecei a dirigir-me, à pressa, para a porta de embarque. Foi nessa altura que um guarda me pediu para abrir a mala. Por fora não, mas agora, interiormente, entrei em pânico.
Vasculharam a mala mas não encontraram nada. Eu tinha-a escondida muito bem no meio da roupa. A seguir um outro guarda, face à suspeita inicial, mandou passar outra vez a mala pela máquina. A essa passagem já assisti e pude ver perfeitamente no ecrã, no meio das manchas acastanhadas de tudo que estava dentro da mala também uma mancha bem definida, azul, com o formato da lâmina da navalha.
A navalha em questão.
Antes que os guardas dissessem alguma coisa passei a explicar que vinha de visita à Guiné-Bissau, que era ex-combatente, que a navalha me tinha sido muito útil na Guiné, etc. etc. e que gostaria de a conservar. Surpreendentemente viraram-se para mim e disseram-me que podia fazer uma de duas coisas, ou entregá-la ali no posto da PSP e que depois a levantaria quando quisesse ou então despachava a mala no porão do avião.
Como estava em cima da hora para embarcar para o Porto resolvi, a correr, entregá-la na polícia. Estavam dois guardas. Foram-me dizendo que não podiam ficar com a navalha pois era ilegal por ter uma lâmina com mais de 9cm, etc. etc.
Expliquei-lhes que não tinha tempo para ficar ali a discutir (o sexo dos anjos). Ainda disseram que então tinham que pôr a navalha no lixo. Disse-lhes que fizessem o que quisessem e a correr fui para porta de embarque.
Tarde de mais, teria que ir no próximo avião, uma hora depois.
Vai daí, como já tinha mais tempo, fui novamente ao posto da PSP. Estavam os dois guardas com a minha navalha de estimação nas mãos, muito provavelmente a decidirem quem iria ficar com a preciosidade.
Autenticamente saquei-lhes a navalha das mãos dizendo-lhes que tinha muita pressa para ir apanhar o avião para o Porto. Ao sair notei que estavam como que paralisados a olhar para o meu afastamento. Meti a navalha na maleta que despachei para o porão e nas calmas esperei pelo próximo avião.
A foto é a prova que ela continua comigo.
Abraços
Fernando Gouveia
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Nota do editor
(*) Vd. poste de 1 DE JULHO DE 2010 > Guiné 63/74 - P6668: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (35): Diário da ida à Guiné - 17/03/2010 - Dia catorze
Último poste da série de 24 DE MARÇO DE 2011 > Guiné 63/74 - P7989: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (86): Fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro...
4 comentários:
Fernando, essa é mesmo de transmontano, orgulhoso, teimoso e cioso do que é seu...
Afinal, essa navalha é uma extensão do teu corpo, e mais do que um simples objeto de estimação. Não estou a imaginar transmontanos e alentejanos sem uma navalha...
Agora que eu fiz um artroplastia da anca (prótese total da anca), passo a ter um objeto, estranho, metálico, no meuo corpo, que vai apitar nas "Máquinas de deteção de metais"... Por certo vai também dar histórias como as tuas...
Feliz Páscoa!... Desta vez fico-me pelo sul, o que é raríssismo em quase 40 anos...
Na boa Fernando.
Não é que estava a ler a tua história
e estava a "terrincar" os dentes porque estava mesmo a ver que ias perder o avião!
Vá lá que no fundo os polícias até não eram más pessoas e lá te devolveram a "naifa".Também tenho várias e de diversos formatos e aplicações,mas estão guardaditas no fundo do baú pois que tenho e sempre tive muito apreço por navalhas e facas,mas só como adorno.
Um abraço e Boa Páscoa.
Já agora ó Luís estou mesmo a verte um dia deitadinho em cima dum tapete detector de metais em pleno aeroporto só para te verem á transparência.(Mais uma graçola sem gosto nenhum)
Henrique Cerqueira
Desculpem o comentário saiu repetido.Era uma folha de químico a mais.
Henrique Cerqueira
Entre os "troféus" de caça, as tranças da bajuda e o teu canivete, desculpa, mas escolho a foto do meio...
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