segunda-feira, 14 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12983: 10º aniversário do nosso blogue (7): "Não fui soldado raso"... Poema de J. L. Mendes Gomes, bravo "Palmeirim de Catió", 1964/66

1. Poema do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, acabado de chegar esta manhã, como pão fresco, e sob título "Não Fui Soldado Raso".

Queremos que seja associado às comemorações do nosso 10º aniversário.

Recorde-se que o nosso blogue nasceu em 23/4/2004... (LG).




Não fui soldado raso....

por J. L Mendes Gomes

Podia tê-lo sido.
Não seria desonra.
Por sorte, mero destino, não.

Fui um dos muitos
Que lá andou.
De arma em punho...
Pertenço ao grupo
Dos que voltaram.
Sorte. Destino.
Salvo e são...


Muitos, iguais a mim,
Lá deixaram a vida,
Na mocidade...

Como um rio a correr,
A vida marcha.
Vertiginosa.
Parece lenta.

Inexoravelmente,
Corre, dia a dia,
Gota a gota.

E, nela marcho,
Agora,
Soldado raso,
Sem qualquer espingarda.
Ando na luta.
Com a minha força.

Inimigos não faltam.
Não vêm de fora.
Por todo o lado.
Estão cá dentro.

Andam ocultos.
Não vestem farda.
Não usam arma.
Mandam atacar.

São dos perigosos.
Muito ardilosos.
Andam opacos.
Vestem jaquetas.
Põem gravata,
Uns caras de anjo.

Gozam palácios.
Não vivem na tenda...
São generais.
De quatro estrelas.
Vivem à farta.
Ao pé do sol!...

À custa de quem?...
Dum grande exército,
Cada vez maior
De soldados rasos!...
Desarmados....o que é pior.

Ouvindo Hélène Grimaud

Mafra, 14 de Abril de 2014, 6h22m

Joaquim Luís Mendes Gomes


[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; jurista, reformado; autor do livro de poesia "Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013, 232 pp., preço de capa;: € 14; encomendar aqui]
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12973: 10º aniversário do nosso blogue (6): A propósito da nossa sondagem... "Ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Migel Nuno que aos dois anos esteve comigo e com a mãe em Bissorã, de set 73 a jan 74, o significado destas fotos e de quando em vez faço o mesmo com o seu filho, meu neto" (Henrique Cerqueira)

1 comentário:

Luís Graça disse...

Soldado, sem espingarda, sin... E espero bem que não voltes a tê-la, nem muito menos a tê-la que usar, camarada!... Contra o teu povo, contra outros povos!...

Agora, poeta desarmado, não!... Isso não, nunca!

Afinal a palavra é (sempre foi e será) uma arma: que o diga Buda, Jesus Cristo, ou Lutero, ou Ghandi, ou Luther King, ou Mandela...

Tu, poeta, és capaz de nos dar conta, neste poema singela, da profunda revolta larvar que está a minar a confiança e a esperança de largos setores da população portuguesa e europeia...

A palavra será cada vez preciosa à medida que dois valores fundamentais da nossa civilização, a justiça e a liberdade, são postos em causa...

Mas nós, os da nossa geração, também não fomos feitos para morrer na cama!...

O teu mérito, poeta, é o de falar de coisas muito sérias e complexas com palavras muito simples, mas que vão direitinhas ao coração e à razão....

Como balas de G3!