quinta-feira, 17 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13001: 10º aniversário do nosso blogue (10): O baú das memórias já está muito rapado... mas ainda consegui uma foto, que diz muito: um abrigo no K3 (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421, Mansabá, 1965/67)



Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3


Foto nº 4

Fotos (sem legendas): © Ernesto Duarte (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Duas mensagens, com data de 15 do corrente, do Ernesto Duarte [ex-fr mil.  CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67], respondendo ao nosso pedido para "rapar o baú" das recordações:


(i)  Assunto - O baú rapado


Primeiro o meu desejo que essa saúde continue
a ser reposta com a rapidez desejada ! Segundo desejo, uma boa Páscoa para ti e para os teus familiares !

Terceiro, os meus parabéns ao imortal blogue ! Sim, o blogue já é e continuará a ser imortal ! Viva o grande blogue, que deu voz a todos os silenciados !

Sim, o baú está mais do que rapado, tanto o caixote como a cabeça que caminha a passos largos para lá também e como a confusão é grande não juro que ainda não tenha mandado estas fotos !

Mas, aproveitando o assunto, vou tentar dizer quanto a mim uma das razões que muito contribuíram para que eles estejam muito rapados, muito por baixo !

Quando se pensa mais em pormenor na nossa história de vida de há quarenta e tantos anos, baila nas nossas mentes um milhão de coisas, e hoje que somos uns especialistas em trabalhar com computadores, com botões e sem gatilhos, nós temos que lembrar a dificuldade, ou falta de máquinas fotográficas, com rolo nessa altura, não como aquelas fitas que aquelas metralhadoras usavam, com as de hoje seria facílimo.

E depois o cenário, parava de disparar a G3 , para disparar a máquina, parar a guerra no cenário ideal, não era muito viável !

Agora outra grande verdade: nós normalmente saíamos ao anoitecer sem hora de regresso ! Levávamos umaa sandes. um cantil de água, muitos dois !

O bornal não era prático, principalmente quando se tinha que correr, ou passar cursos de água, com água até ao pescoço, a farda passava a ter poucos bolsos, porque havia coisas que tinham que ir: no cinto o cantil e seis carregadores, para a maioria, depois mais umas granadas; mais umas facas, às vezes mais uma pistola; eu costumava levar o casaco para a carga ser maior e ir mais bem dividida.
Não havia digamos assim, muito espaço para uma máquina [fotográfica] !

Aí pelo inicio de 1965 quando dei uma recruta em Beja, mais de metade daquela gente maravilhosa não sabia ler, grande parte da companhia também não, até me surpreende, como mesmo assim dos mais veteranos ainda chegaram cá tantas fotografias !

Na minha casa falou-se sempre de isso, mas eu já disse, e volto a dizer, convencer alguém que nunca viu nada daquilo, o convencer que não estamos a divagar, nós por vezes já perguntamos a nós próprios se não foi tudo um sonho mau !

Uma Boa Páscoa
Um grande abraço para vocês todos do blogue.
Um grande abraço a todos os ex-camaradas.



(ii) Assunto: Uma que estava no fundo do caixote


Luís: Esta [, foto nº 1,] tem mesmo muito valor !

É artesanal e significa tudo o que se possa dizer sobre condições más.... Era assim o abrigo para cada secção, abrigo e sala de estar !foi atacada tanta vez !


K3 – Farim

Um abraço


Ernesto Duarte
Furriel miliciano
CC 1421 BC 1857
Mansabá – Oio – Morés
1965 / 1967

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 17 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13000: 10º aniversário do nosso blogue (9): Sondagem: resultados finais (n=129); mais de um terço dos respondentes nunca falou da guerra, ou só muito raramente, aos seus filhos... Comentário da jornalista e escritora Catarina Gomes: "não esperem por perguntas, digam filho, anda cá que eu quero contar-te uma coisa"

3 comentários:

Luís Graça disse...

Ernesto:

Estou a imaginar (e arrepio-me todo!) uma roquete ou uma granada de canhão s/r a entrar por esssa fresta, a velocidade supersónica...

Aconteceu, felizmente não terá sido muito frequente... O IN não vinha com facilidade ao arame farpado, pelo menos com os canhões s/r...

Mais temíveis eram os morteiros 120 com granada perfurante... Não tínhamos abrigos para o canhão s/r nem para o morteiro 120...

Obrigado, pelos teus votos de melhoras e santa Páscoa... Somos um país culturalmente cristão, por isso desejamos uns aos outros boa Páscoa, bom Natal... Igualmente oara ti e para os teus, boa Páscoa. Obrigado pelos parabéns: o NOSSO blogue faz 10 anos no dia 23...

A perninha vai andando, fazendo progressos... Voltei à "tropa", quero eu dizer, ando na fisioterapia... No Amadora-Sintra.... Um erviço (o de medicina de reabilitação e fisoterpia) de cinco estrelas, com uma equipa comopetente e motivada, que eu recomendo, dirigida pelo dr. Paulo Beckert.

O que é nosso, é bom! Tenhamos orgulho no que os nossos compatriotas fazem, da saúde à educação, da ciência ao desporto, dasa empresas exportadoras à cultura,,,

E viva o 25 de abril que é de todos nós! Como v~es, hoje estou otimista e ligeiramente eufórico!... Não bebi nada, que ainda não posso...

Anónimo disse...

Ah ganda Arnesto.Vê o estado em que me deixaste o hotel que foi meu nos 8 meses seguintes. Podias ter-te esmerado. Um abraço e Boa Páscoa. Um abraço do
Veríssimo

Hélder Valério disse...

Caros camaradas

A foto do 'abrigo' é impressionante, embora tenha o pressentimento que quem não conheceu, dificilmente "entra na pele" de quem esteve por lá.

Havia a sensação de protecção a algo que viesse 'por cima', mas para o que quer que fosse que viesse 'de lado' o estrago seria sempre grande. Felizmente que não há notícias sobre isso.

Já a outra foto, do grupo, embora seja sempre uma recordação 'para nós', pode dar uma falsa indicação de que se tratava de um 'passeio', o que não correspondendo à verdade.

Hélder S.