segunda-feira, 12 de junho de 2006

Guiné 63/74 - P865: Ecoturismo, memória, história e vida em Guileje: os tertulianos serão bem-vindos (Pepito)

Texto do nosso amigo Pepito, com data de 9 de Junho de 2006:

Caro Nuno Rubim:


Obrigado pelo seu interesse no Projecto Guiledje.

Caso tenha tido oportunidade de visitar o site da AD, ficou a conhecer as diferentes componentes desta iniciativa e poderá seguir melhor as informações que lhe dou de seguida:


1. Reabilitação do Quartel:

Iniciámos há mais de um ano a limpeza do antigo quartel com o apoio entusiástico dos antigos militares guineenses que lá estiveram e de jovens (naquela altura) que lá viveram. Paralelamente às fotos vitais fornecidas pelo Capitão Neto, foi determinante o envolvimento de quem lá viveu durante anos para identificar as casa da população, do régulo, a mesquita, abrigos, posto de transmissões, capela, pista de helicóptero, etc., bem como inúmeras histórias da tropa contadas com sotaque português e em puro vernáculo.

Deste trabalho recuperaram-se alguns marcos, ainda em bom estado (não esquecer que o quartel foi mandado bombardear pelo Spínola e nem um edifício ficou de pé), identificaram-se as fundações de quase todas as instalações e recolheram-se objectos da altura (garrafas de cerveja típicas daquele tempo e que já não se fabricam, garrafas de larangina, pratos metálicos, etc.).

Tivemos que atrasar os trabalhos devido aos inúmeros UXO, isto é, bombas que estavam nos paióis e que podem ser perigosas. Aguardamos que as equipas anti-minas da ONU, que por cá andam há anos a caçá-los, lá cheguem para a remoção.

Entretanto um arquitecto já visitou o local e propôs um plano de reabilitação (ver documento em formato.pdf que mandámos, por e-mail, para a tertúlia) que irá procurar ao máximo respeitar a disposição inicial das casas, mesmo se com outras finalidades:

- centro de documentação-museu;

- bungalows para ecoturistas, na antiga zona de habitação da população;

- restaurante, na antiga cantina, etc.

Em função do levantamento das bombas, ir-se-á dar inicio à reconstrução das infraestruturas, havendo um projecto financiado pela ONG portuguesa IMVF [ Instituto Marquês Valle Flor] com apoio da União Europeia que irá assegurar este trabalho.

2. Centro de Documentação-Museu:

Vai ser uma das grandes apostas desta iniciativa. Estamos por um lado, a recolher depoimentos dos antigos guerrilheiros do PAIGC que por lá passaram antes e durante o assalto final, bem como de militares guineenses destacados em Guiledje. Conseguimos um excelente conjunto de fotos do Capitão José Neto [CART 1613], apenas referentes ao período em que lá esteve (1967/68) e do Abílio (1970/71)[CCAÇ 2617]. Precisamos de ter fotos de outros períodos para finalizar o dossier fotografias.

Os testemunhos e vivências pessoais, como a que o Capitão Zé Neto (1) fez, dos contos do João Tunes e das inúmeras crónicas que têm saído no nosso blogue, são o que seria interessante ter. Podem ser aerogramas enviados de Guiledje, ou lá recebidos. Tudo que mostre a quem não esteve lá, o que era a vida naqueles tempos. Estes relatos são extensivos a Gandembel, Bedanda, Gadamael, entre outros.

3. Ecoturismo:

Começámos já a formação dos primeiros 12 guias ecoturísticos e de 7 jovens artesãos para o fabrico de esculturas de madeira. Começaram-se a identificar alguns percursos e caminhadas, aliando o histórico com o ambiente (mata de Cantanhez lindíssima e animais selvagens: chimpanzés, búfalos e elefantes) e cultural (danças étnicas).

Temos recebido manifestações de interesse de algumas pessoas que lá querem ir ou voltar. Embora estejamos no início e não se possa falar verdadeiramente de ecoturismo organizado, os tertulianos e ex-militares que estiveram em Guiledje têm a prioridade absoluta se cá quiserem vir, disponibilizando a nossa organização, a AD, o apoio para as visitas e acolhimento local.

Aliás, a população pergunta-me sempre quando é que vocês cá voltam de novo. Tenho a certeza que para muitos vai ser um momento emocionante, tanto para vocês como para os antigos viventes locais de Guiledje.

Em resumo, neste momento gostaríamos de ter recordações vossas do tempo que lá estiveram (fotos, crónicas, cartas, testemunhos, etc.) e que farão parte do acervo documental do Museu.


Um abraço

pepito

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 5 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXIX: José Neto, outro senhor de Guileje (CART 1613, 1967/68)

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