Meus caros tertulianos, com uma saudação muito particular ao nosso inquilino, Luís Graça, permitam-me a impertinência de meter a minha colher.
Fui Sargento Pára-Quedista e estive colocado na Guiné entre os dias 8 de Maio de 1972 e 8 de Julho de 1974, sempre como operacional. Sou, de momento, Sargento-Mor Pára-Quedista, na Reserva e tenho por nome Manuel Rebocho.
Sobre o assunto que o Idálio Reis colocou a Nuno Rubim, posso acrescentar-lhe que a história da sua Companhia, a CCAÇ 2317 do BCAÇ 2835, se encontra disponível ao público e está na caixa nº 74, da 2ª Divisão, da 4ª Secção, no Arquivo Histórico Militar, junto a Santa Apolónia, em Lisboa.
Todavia, e como muito bem acentua Nuno Rubim, os relatórios das operações não constam, nem fazem parte desta história, vá-se lá saber porquê! Mas tenho uma opinião, que pode não passar de uma especulação: as histórias são sempre contadas pelos vencedores, logo, à sua semelhança e medida.
E, como concluí, no final da minha investigação sobre a Guerra da Guiné, que conduziu à minha tese de doutoramento em Sociologia, na Universidade de Évora, nos últimos anos da guerra, não havia, ou praticamente não havia, Oficiais oriundos da Academia em lugares de combate. Então, os relatórios das operações só podem revelar que a guerra foi feita pelos milicianos, que não fazem parte dos vencedores de Abril, logo, suprimem-se os relatórios.
É a vida meus amigos… É a vida.
Um abraço a todos,
do Manuel Rebocho
PS - Ah, faltava dizer-lhes, que tomei contacto com o vosso/nosso blogue, através do então Furriel Miliciano José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350 (a que abandonou Guileje, em 22 de Maio de 1973), o grande herói de Gadamael Porto, que, não obstante isso, também não faz parte da história oficial da Guerra da Guiné (1).
Comentário de L.G:
Meu caro Manuel Rebocho: O José Casimiro Carvalho já me tinha falado em ti. Ex-combatente da Guiné e doutorado (ou ainda doutorando ?) em sociologia, estás duplamente em casa, que é como quem diz: deves sentir-te confortável na nossa tertúlia virtual. Como já cá estás dentro, faz o favor de cumprir a praxe: 2 fotos, uma estória... ou as estórias que quiseres, porque o nosso hobby era a blogoterapia... Escrevemos, contamos estórias, mostramos as nossas fotografias, investigamos, apontamos o dedo à muralha de silêncio que se faz à nossa volta, a geração que fez a guerra colonial e que a perdeu (ou talvez não, por que como diz o Leopoldo Amado, a guerra colonial é apenas uma das faces da moeda; podremos ter perdido a guerra, mas ganhámos a paz, ou pelo menos estamos a tentar comquistá-la)...
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Nota de L.G.
(1) Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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