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sábado, 28 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26966: Os nossos seres, saberes e lazeres (687): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (210): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 1 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Março 2025:

Queridos amigos,
Era então diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea a Emília Ferreira e deu-se um refrescamento do acervo permanente, diga-se de passagem que é riquíssimo, não há um outro referencial como este. Sendo vasto o acervo, fui primeiro cumprimentar mestre Columbano, ele está, de algum modo, no encerramento de uma época, mesmo dando alguns indícios que se predispunha a colaborar na rutura. O seu retrato de Antero de Quental é arrepiante, é um fim da Pátria. Entramos depois nos sinais de alvorada, nos percursos da modernidade, Almada e Amadeo, Viana e Eloy são nomes irrecusáveis, mas temos Canto da Maya na escultura e vai abrir-se espaço para dois movimentos, o neorrealismo e o surrealismo, mestre Pomar tem o ícone neorrealista no Gadanheiro e vão-se impôr vários nomes no surrealismo, curioso este fenómeno das artes plásticas que se prolonga até ao nosso tempo. Ainda recentemente anunciaram o último surrealista, um senhor desconhecido que vive lá para as Américas, isto quando verdadeiramente está vivo e a trabalhar Raúl Perez, de quem ninguém fala e é um grande artista. Caprichos ou tiranias dos críticos de arte...

Um abraço do
Mário


Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (210):
Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 1

Mário Beja Santos

O Museu Nacional de Arte Contemporânea alterou recentemente o seu acervo permanente. Digamos que o visitante tem tudo a ganhar com a compreensão dos objetos da rutura. O modernismo anuncia-se no início da década de 1910, digamos que tardiamente se pensarmos que o cubismo já está em movimento, sob a égide de Picasso e Braque. Chegaram artistas de Paris, como Francis Smith ou Emmerico Nunes, já estão a revolucionar o naturalismo, mas os nomes prestigiados da pintura dão pelo nome de Columbano, Malhoa, Carlos Reis ou Marques de Oliveira. Ainda ninguém conhece Amadeo em Portugal. De acordo com os historiadores de arte, a rutura põe-se em movimento com a Exposição Livre de 1911 e I Exposição dos Humoristas de 1912. Há nomes que começam a ganhar prestígio, Almada, Jorge Barradas, Leal da Câmara, um desenhador de humor consagrado em Paris.

É durante a guerra que se dá uma animação nas Letras e nas Artes Plásticas, basta pensar no Orpheu, em Pessoa e Sá Carneiro, Santa Rita, Eduardo Viana. Amadeo expõe no Porto e em Lisboa, não é verdadeiramente apreciado; o futurismo é o movimento efémero. A década de 1920 dá um salto com modernistas que não rejeitam as artes gráficas, caso de Viana, Almada, Bernardo Marques, António Soares, Stuart, mais tarde Carlos Botelho, António Ferro irá pedir-lhes a sua colaboração para a chamada política do espírito, que dominará a paisagem das artes até ao fim da Segunda Guerra. Eduardo Viana é um desses pintores marcantes da época, como Mário Eloy, que criou personagens grotescas e inquietantes, cores que fogem à realidade, tudo com elevado sentido expressionista.

A escultura parecia desaparecida depois de Machado de Castro, surge Canto da Maya. E assim chegamos aos movimentos dos anos 1940. No mesmo ano em que abre a Exposição do Mundo Português, António Pedro promove uma exposição onde apresentava pintura surrealista. Vai emergir o abstracionismo, caso da pintura de Fernando Lanhas, ainda durante a Segunda Guerra. E imediatamente depois vão entrar num quase confronto dois movimentos de alto significado, o neorrealismo e o surrealismo. E Almada Negreiros deixa os seus trípticos nas gares marítimas, vai buscar temas míticos e populares, varinas e a nau Catrineta, cenas de circo e as despedidas dos emigrantes, um governante do Estado Novo dirá apoplético que era preciso retirar dali aqueles mamarrachos, o que diriam os estrangeiros daquela rusticidade e provincianismo? Mas antes de entrarmos em ruturas, mostre-se duas obras-primas do naturalismo, de mestre Columbano, depois sim, virá a rutura. Iremos fazer a viagem até ao surrealismo, mais adiante prosseguiremos.

O Grupo do Leão, pintura de Columbano Bordalo Pinheiro. Obra capital da pintura portuguesa do século XIX, por analogia é uma mostra de um coletivo de artistas, jornalistas e escritores que nos remete para uma atmosfera de ilustração social que oferecem Os Painéis de S. Vicente, atribuídos a Nuno Gonçalves. Naquele período da monarquia constitucional em que alguns intelectuais procuram explicar razões para a decadência do país, temos aqui um grupo folgazão, nada parecido com Os Vencidos da Vida, estão nele representados, entre outros, Cristino da Silva, Columbano, Silva Porto, António Ramalho e Rafael Bordalo Pinheiro. O quadro data de 1885, D. Carlos é o rei, já houve o Ultimatum, esta galeria de retratos já não cabe no romantismo, obedece às regras do academismo, mas é percetível o anúncio de uma rotura nas correntes estéticas vigentes.
Antero de Quental, pintado por Columbano, 1889. Os historiadores de arte reconhecem nesta tela uma alteração substancial na técnica de Columbano, mas o fundamental, para mim, é a mensagem que transparece naquele rosto em desânimo, é como se anunciasse uma Pátria em afundamento, e o poeta-pensador-ativista político não sabe qual a melhor saída.
A visita que me traz a este museu é para apreciar o novo olhar sobre a rutura moderna, como, ainda no interior do academismo – naturalismo, vão brotar os sinais do modernismo, no desenho e na pintura, em gente que foi a Paris, como Amadeo ou Eduardo Viana, aqui em Portugal, Almada ou Jorge Barrada. Há quem lhe chame a 1.ª geração do modernismo; seguir-se-á outra, onde irão confluir contestações, lembranças do expressionismo, e depois o neorrealismo e o surrealismo. O que fundamentalmente pretendo aqui deixar ilustrado é ver o que se passou entre 1911 e os anos 1950. A quem estiver interessado, peço a leitura desta síntese apresentada pela conservadora Maria de Aires Silveira.
Nocturno, por António Carneiro, 1910, porventura o primeiro sinal da modernidade. Como se lê na legenda: “Esta paisagem silenciosa, onde apenas se pressente a presença humana pela pontuação de manchas de luz, cria conversas sentimentais com o quadro Interior, de Aurélia de Sousa. É igualmente nesta década que irrompem as ruturas com o academismo do século XIX.”
Janela, Amadeo de Souza-Cardoso, 1916. Há vários Amadeo dentro de Amadeo, ele regressa a Portugal por razões da guerra, trabalha incessantemente em Manhufe, dá-se uma evolução, todo o seu cromatismo se vai depurando e simplificando, ainda há sinais da sua ligação ao cubo-expressionismo, mas o que se sente em obras tão simples como esta é que ele era um vanguardista original, o seu nome e a sua obra aparecerão ligados a exposições que deram brado antes da guerra.
Paisagem tropical – S. Tomé, por Jorge Barradas, 1931
Adão e Eva, pelo escultor Ernesto Canto da Maya, 1929-39
João Hogan, Carlos Botelho e muito, muito Almada Negreiros. Transição da década de 1930 para 1940, estão aqui alguns dos elementos de uma das obras fundamentais de Almada, os frescos das gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbitos, meados da década de 1940.
Quadros de Mário Eloy, incluindo dois autorretratos
Gadanheiro, por Júlio Pomar, 1945
A chegada do surrealismo, dois quadros de Marcelino Vespeira
Aurora hiante, por Cândido da Costa Pinto, 1942
La voie sauvage des songes, por Mário Cesariny, 1947

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 21 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26944: Os nossos seres, saberes e lazeres (686): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (209): Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 9 (Mário Beja Santos)

Guiné 671/74 - P26965: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/60) (2): o soldado Rebouta, municiador de morteiro, para quem a Ditosa Pátria Amada ficou em dívida

1. Mais um excerto do livro "Guiné: Memórias da Guerra Coçlonail", dso Joaquim Caldeira, grão-tabanqueiro nº 905,  ex-fur mil at inf CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69) (*)

Imagem à direita: Capa do livro de Joaquim Caldeira, "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021) 


O  soldado Rebouta, municiador de morteiro, para quem a Ditosa Pátria Amada  ficou em dívida

por Joaquim Caldeira




Muito alto e magro, embora dotado de boa constituição física, o Rebouta era um soldado natural de Felgar, arredores de Moncorvo. Tinha necessidade de mostrar que queria ser amigo de todos e esforçava-se por merecer a amizade de todos. Mas era um amigo e eu agora que o diga, passados mais de trinta anos. 


Joaquim Caldeira: vive em Coimbra

Tinha como missão municiar o morteiro que o Machado apontava com precisão e grande mestria. O Machado, rapaz forte e bem constituído, natural de Larinho, também de Moncorvo, ficou feliz por ter arranjado para municiador do seu morteiro um homem seu conterrâneo, com quem viera a fazer grande e duradoura amizade que ainda hoje perdura. Ambos eram mestres no que faziam e eu sabia que não precisava de preocupar-me em dar-lhes instruções. Tiro do Machado, era tiro que acertava. Granadas dentro do tubo nunca faltavam ao seu jeito porque o Rebouta estava sempre atento às necessidades do seu apontador e sabia o momento ideal para deixar cair a granada.

Naquele fatídico dia 31 de Janeiro, corria o ano de 1968, cerca das 16 horas, durante uma operação que tinha por missão iniciar preparativos para construção do futuro quartel de Bissássema, a companhia, comandada pelo capitão Neves, caiu numa emboscada e, debaixo de tiros do IN, de roquete e de canhão e rajadas de metralhadora ligeira, responde com um fogo cerrado das nossas armas e consegue pôr em debandada o grupo IN que nos atacara. 

Feridos do IN, não constam. Ao meu lado, durante a refrega, cai o Rebouta e rebola-se como pode para debaixo de umas raízes a fim de poder abrigar-se enquanto uma dor lancinante lhe dilacera todo o pé e parte da perna esquerdos. Gritei para o Zé Carlos que heroicamente se dirigiu para o improvisado abrigo do Rebouta e ambos ajudámos a descalçar-lhe a bota para se dar inicio o seu tratamento. 

Credo! Tinha ficado sem o calcanhar, levado por estilhaço de granada de canhão sem recuo. Tratado como soube e pôde, pelo Zé Carlos que lhe fez um garrote na perna para evitar hemorragia e, bem ligado, havia que o carregar até que pudesse chegar ao quartel. 

Qual quê? Chamem já o helicóptero, gritei. Para que é que eles servem? E, assim, lá se foi o nosso primeiro ferido, ainda por cima um dos meus melhores homens. 

Fiquei em choque. Que mal teria eu feito para merecer tal coisa. Eu? Então o mal maior nem sequer foi meu. O pobre coitado é que foi ferido e eu estava a lastimar-me! Burro é o que eu sou. Em chegando ao quartel vou tentar lembrar-me de rezar para que ele não esteja muito ferido e possa curar-se rapidamente. Mas aproveitei o silêncio que se fez entretanto e rezei mesmo ali. Tinha-me despedido dele, pensando que nunca mais saberia notícias suas nem voltaria a vê-lo. 

Assim foi até ao dia 7 de junho – o mês dos Santos- só que do ano seguinte, 1969, portanto. Era perto do meio-dia e o sol tinha raiado depois de uma valente trovoada acompanhada de chuva intensa, daquela que abre rios onde antes era monte. O cheiro da terra é tão doce. O calor já não era como durante os meses de verão e inverno em Portugal. Eu estava de serviço ao piquete e tinha, entre outras preocupações e tarefas, a de garantir que a pista de aterragem estivesse desminada e a protecção de qualquer avião que quisesse ali aterrar.

 


DO-27. Arquivo do blogue
O Dornier encarnado sobrevoou o quartel e encaminhou-se para a pista de terra batida, ainda fresca da chuva mas sem poeira e lá vou eu, de jipe, correndo para me certificar de que todos os procedimentos de segurança estavam activados para a aterragem. 

Estávamos já em Fulacunda, povoação que encimava o nosso quartel onde tínhamos chegado quase um ano antes. A sua população civil era de maioria Fula e gente boa era o que não faltava. Os soldados regalavam-se, nas suas folgas a deitar-se pela tabanca, onde houvesse uma bajuda de mama firmada que os retivesse.

A picada que passava pelo meio da povoação até a pista estava muito esburacada e a chuva que tinha caído ainda ajudara à sua deterioração. Eu cavalgava aquele jipe sem dó, pois que não era meu e sabia que o meu amigo Almeida me ia desculpar por qualquer estrago que lhe provocasse. Logo que pude aumentei a velocidade e corri para o abrigo junto da porta de entrada da pista, donde verifiquei que a segurança estava feita e vi o avião iniciar a descida. Logo que parou, guiei até debaixo da sua asa e ajudei a abrir a porta do pequeno avião. 

Espanto meu. Ri-me de contentamento. Gritei até. O Rebouta estava de volta, com um saco de lona diferente dos que nos tinham sido dados antes. Sinal de progresso na Manutenção. Abraço-o. Ajudo-o a descer do avião e, já no chão, vi que ele coxeava. Abracei-o novamente e perguntei-lhe o que ele estava ali a fazer. 

− Voltei para a companhia!

Ele também estava contente por me voltar a ver. Mas estava também muito triste por não ter conseguido libertar-se da tropa. Ainda por cima, mandaram-no para o mato. 

−  Quando um homem não tem sorte, furriel, nada há a fazer.

 Trouxe-o para o quartel e fui com ele até à presença do capitão Neves. Pedi-lhe que desse um impedimento fácil ao Rebouta que, afinal, apenas tinha sido objecto de operação plástica ao calcanhar, com aplicação de prótese e aí andava ele sem poder calçar botas. Coitado de quem tem azar ou não tem padrinhos. E assim foi decidido, com a anuência do alferes Pio, meu comandante de pelotão, que aceitou que o Rebouta passasse o resto da comissão como ajudante de cozinheiro. 

Finda a comissão, regressou a Portugal, emigrou para França onde trabalhou como pedreiro até que as dores lho permitiram. Quando já mais não podia, regressou definitivamente a Portugal, criou os filhos com uma esmerada educação e aguarda há seis anos que o Estado português lhe faça a justiça de lhe dar uma pensão que o ajude a comer a sopita até ao fim dos seus dias. 

Ditosa Pátria que tanto demora a reconhecer a dívida que tem para com os seus heróis!..


Guiné 61/74 - P26964: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (4): Cemitério Central do Mindelo: Talhão dos combatentes (portugueses e da Commonwealth) (Nelson Herbert / Luís Graça) - II (e útima) Parte

 


Foto nº 10


Foto nº 11


Foto nº 12


Foto nº 13



Foto nº 14



Foto nº 15



Foto njº 16


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19



Foto nº 20




Foto nº 21 e 21A


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério Municipal > Maio de 2025

Fotos: © Nelson Herbert  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemn: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



1. Publicação das restantes fotos do Talhão da Liga (Portuguesa) dos Combatentes, no Cemitério Municipal do Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde,  enviadas no passado dia 25 de maio, pelo nosso grão-tabanqueiro Nelson Herbert, jornalista reformado da VOA - Voice of America, guineense de origem cabo-verdiana.

Sabemos que o talhão das "Forças Expedicionárias Portuguesas (1939-1945)" é constituído  por  68 campas, de militares mortos por doença ou acidente, na Iha de São Vicente (40) e na Iha do  Sal (28)(*).

A sigla G.A.C.A (fotos nº 14 e 16) quer dizer "Grupo de Artilharia Contra Aeronaves".

Na foto nº 21 pode ler-ser a seguinte inscrição:

"À memória do cirurgião-mor do exército L. L. Guibara,  falecido em 31 de agosto,  por  ocasião do aparecimento do cólera-morbo. Testemunho de gratidão dos habitantes da ilha de São Vicente. Em 1856".

Trata-se do tenente graduado médico do exército português, Henrique Leopoldo Lopes Guibara (Gibraltar, 1826-1856), reconhecido como  um médico-mártir devido ao seu falecimento  num surto de cólera (ou cólera-morbo, como se dizia então),  em 31 de agosto de 1856, na ilha de São Vicente, Cabo Verde.

Eis a informação que recolhemos de Manuel Brito-Semedo, no seu blogue "Esquina do Tempo" (em poste de 13 de agosto de 2020), 

(...) "No dia 23 de agosto de 1856, começou em São Vicente a epidemia da cólera-morbo, importada de um vapor procedente da Madeira trazendo a bordo doentes dessa moléstia. 

Faleceram 645 indivíduos, até ao dia 20 de setembro, estando nesse número o delegado de saúde, o cirurgião-mor do exército Henrique Guibara, que morreu a 31 de agosto, ficando a ilha sem um dos principais responsáveis pela gestão da crise sanitária." (...)

Na altura São Vicente não teria mais do que 1,4 mil habitantes. (Na segunda metade do séc. XIX, Mindelo  começa a desenvolver-se,  graças sobretudo à sua atividade portuária: o porto da Baía Grande torna-se um ponto estratégico para o reabastecimento de navios a carvão; como imigrantes das ilhas próximas, como Santo Antão e São Nicolau, reforça-se a população local; no início da II Guerra Mundial, estima-se a população em 15 mil; segiundo o censo de 2010, teria mais de 70 mil.)

(...) "Conforme Henrique de Santa-Rita Vieira, no seu livro 'História da Medicina em Cabo Verde' (1999), como testemunho de gratidão da ilha de São Vicente, foi construído um mausoléu em sua homenagem, em 1856 (hoje desaparecido, aliás, como o cemitério, que ficava situado na Chã de Cemitério)." (...)

(...) Henrique Leopoldo Lopes Guibara poderá pertencer à leva de judeus que vieram para Cabo Verde no século XIX, provenientes do enclave inglês (de Gibraktar) e de Marrocos.

Um decreto datado de 10 de junho de 1851 nomeou o cirurgião civil Henrique Leopoldo Lopes Guibara para o serviço do Exército, passando a ser 'cirurgião ajudante', colocado no Batalhão de Caçadores n. º1.

Um novo decreto de 31 de agosto de 1854 determinou que o Dr. Henrique Guibara passasse a servir na ilha de São Vicente, por tempo de 6 anos e, para o efeito, foi promovido a 'cirurgião mor' do exército. Em março de 1855, foi nomeado Delegado de Saúde dessa ilha." (...)


Tem nome de rua no Mindelo.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26963: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (3): Cemitério Central do Mindelo: Talhão dos combatentes (portugueses e da Commonwealth) (Nelson Herbert / Luís Graça) - Parte I




Foto nº 1 > Forças Expedicionárias Portuguesas: talhão dos combatentes  (1)


Foto nº 2 >  Forças Expedicionárias Portuguesas: talhão dos combatentes  (2) 


Foto nº 3 >  Forças Expedicionárias Portuguesas: talhão dos combatentes  (3)



Foto nº 4 > Mindelo, 23 de outubro de 2002>  Homenagem da Liga dos Combatente  aos Militares da Força Expedicionária Portuguesa em Cabo Verde, 1939-1945

 

Foto nº 5 > Forças Expedicionárias Portuguesas: Militar não identificado


Foto nº 6  > Forças Expedicionárias Portuguesas: 2º saregnto Josér M. Mendes, falecido em 14/6/1941



Foto nº 7 > Forças Expedicionárias Portuguesas: José H. Feliciano,1º cabo eng, falecido em 28/10/1941



Foto nº 8 > Sergeant J. A. E. Crawfor, AIF (Australian Imperial Force)~(...) St Vincent Place. Mebourne. Who (...) (ilegíveis  as duas últimas frases).


Informação adicional : "15046 Staff Sergeant John Alfred Eric Crawford, Australian Army Medical Corps, died 16th September 1916". (Sargento-ajudante, nº 15046,  John Alfred Eric Crawford, do Corpo Médico do Exército Australiano, falecido em 16 de setembro de 1916)



Foto nº 9 > Tradução: À terna memória de Walter, querrido marido de Fances Herrinmg, morto em 29 de julho de 1942. Um dos heróis de Inglaterra".

Informação adicionl: "Chief Steward Walter Herring, S.S. Siris (London), Merchant Navy, died 29th July 1942, aged 36. Husband of F. Herring, of Hessle, W. Yorks." (Comissário-Chefe Walter Herring, S.S. Siris (Londres), Marinha Mercante, falecido em 29 de julho de 1942, aos 36 anos. Marido de F. Herring, de Hessle, West Yorkshire.)


Fotos: © Nelson Herbert (2025). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), com a seguinte legenda: "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea [do Monte Sossego] depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura [Horta, conterrâneo, da Lourinhã,] no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (médica)."


Segundo  Adriano Miranda Lima, autor do livro "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II GuerraMundial" (Mindelo, São Vicente, 2020, ed. de autor), morreram em São Vicente, entre 1941 e 1946, 40 militares das forças expedicionários (pág. 172) e 28 na ilha do Sal (pág, 173).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


1. O Cemitério Municipal  do Mindelo, no Talhão da Liga (Portuguesa) dos Combatentes, continha, em 2018, 68 campas de militares portugueses, expedicionários durante a II Guerra Mundial (1939-1945) (*). 

Há, além disso, lápides de cidadãos da Commonwealth, militares e civis (marinha mercante) que morreram na I Guerra Mundial (cinco ingleses e um australiano) e  na II Guerra Mundial (três britànicos).

Recentemente recebemos fotos desse lugar histórico, que vamos apresentar em dois postes.



2. Mensagem do nosso grão-tabanqueiro Nelson Herbert (tem mais de 7 dezenas de referências no nosso blogue).


Data - 25/06/2025, 21:13
Assinto - Fotos-relíquia

Hi ..., meu velho amigo

Em São Vicente, Cabo Verde, de férias e de uma visita da “praxe” ao túmulo dos meus pais…no Cemitério Central do Mindelo, algo que nem um ritual se repete sempre e quando por estas ilhas me “veraneio",  dou de caras com este “cantinho”, talhão dos combatentes, onde jazem elementos da tal força expedicionária portuguesa  (**) de que muito falávamos e que se cruza com a “história” de nossas vidas…, dos nossos “Velhos” …

Diga-se, um talhão devidamente conservado e “tido em conta", visitado, reza o testemunho dos coveiros, por muitos turistas… face ao interesse que o sítio histórico começa a despertar, sobretudo entre os ingleses…

Pois são igualmente visíveis,  e em relativo estado de conservação, túmulos de soldados e tripulação de navios ingleses “torpeados” nestas águas de Cabo Verde por submarinos alemães.

Curiosamente grande parte dos túmulos de expedicionários portugueses visitados, com exceção de um punhado deles , são de soldados não identificados, como se pode ver nas fotos que anexo (não de grande qualidade mas enfim…).

Do porquê dessas campas, salvo raras exceções, não terem na lápide tumular a identificação do soldado expedicionário,  gerou-me uma certa curiosidade… Why ?

Relativamente aos túmulos de ingleses também “não identificados”, reza a versão da época…, é pelo o facto de serem restos mortais de marinheiros, cujos corpos terão sido  recuperados por pescadores desta Ilha … e em avancado estado de decomposição e na sequência de navios “torpeados” nestas águas… palco, como se sabe , de algumas batalhas navais da época.

Ficam estas observaçõe, redigidas num Café â Beira Mar … e nesta Ilha acolhedora da minha ancestralidade.

“O Mais Velho”  (**) iria por certo adorar,  rever tais momentos de uma juventude consumida em parte por esta acolhedora Ilha de S Vicente. (***)


(Revisão / seleção de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Recorde-se que,  durante a II Guerra Mundial, à semelhança dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens, bem como da Madeira, com mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das duas ilhas com maior importância geoestratégica, a ilha de São Vicente e a ilha do Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos por 3 ilhas (i) 3361 (São Vicente): (ii) 753 (Santo Antão); e (iii) 2244 (Sal).

Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (ou seja, do porto atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos).

Os portugueses, hoje, desconhecem ou conhecem mal o enorme esforço militar que o país fez, na II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nas ilhas atlânticas e nos territórios ultramarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época.

Vd. poste de 20 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10282: Meu pai, meu velho, meu camarada (30): Dispositivo militar metropolitano em Cabo Verde (Ilhas de São Vicente, Santo Antão e Sal) durante a II Grande Guerra (José Martins)


(**)  O Nelson Herbert Lopes (que foi jornalista da VOA - Voz da América) refere-se   aqui ao seu pai, Armando Lopes  (Mindelo, 1920 -  Mindelo, 2018), uma antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Búfalo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB e do Benfica de Bissau, tendo sido também internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa:


(...) O meu velho entrou para a tropa a 15 de agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,Depois do juramento da bandeira (...) é transferido para Lazareto e São Pedro [na parte oeste, sudoeste da ilha].

Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metrópole. Termina o serviço militar em janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos chegavam... (...)
  


Guiné 61/74 - P26962: Notas de leitura (1814): O fotógrafo Alfredo Cunha, a Guiné, o 25 de Abril no mais antigo museu português (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Maio de 2025:

Queridos amigos,
São coisas que nos acontecem, se bem que fortuitamente, vem-se com uma missão, alcança-se a dobradinha de forma inesperada. Num folgado vestíbulo, em duas salas, o Museu Militar de Lisboa expõe fotografias de Alfredo Cunha, lembrança certamente das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, tudo de portas abertas para aquele amplo espaço conhecido por Pátio dos Canhões. O que deixo aqui é um mero chamariz para que antigos combatentes venham conhecer ou recordar, não só os talentos de Alfredo Cunha mas o conjunto de alto prestígio de obras de arte que este museu acolhe, os maiores nomes da pintura do fim do século XIX e o princípio do século XX aceitaram a encomenda de um diligente diretor do museu, o capitão Eduardo Ernesto Castelbranco que transformou este edifício num património sem rival.

Um abraço do
Mário



O fotógrafo Alfredo Cunha, a Guiné, o 25 de Abril no mais antigo museu português

Mário Beja Santos

Importa dar uma explicação prévia. Munido de um livro intitulado "Museu Militar, Pintura e Escultura, de José-Augusto França, uma edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996", saí no metro de Santa Apolónia e dirigi-me ao Museu Militar de Lisboa para captar imagens que me ajudassem a ilustrar um artigo para uma colaboração periódica que mantenho no jornal "O Templário", de Tomar. 

O antigo Largo dos Caminho de Ferro está no verdadeiro estaleiro e o Museu Militar sofre-lhe as consequências: não há acesso ao pórtico da entrada principal, mesmo o pórtico da fachada oriental está encerrado, era por aqui que eu entrava quando vinha fazer consultas no Arquivo Histórico Militar, agora transferido para um ponto ermo de Alfama, no Largo do Outeirinho da Amendoeira. Seguindo uma indicação entre tapumes, tem-se uma entrada provisória e o vestíbulo acolhe uma pequena, mas bela exposição de fotografias de Alfredo Cunha, que andou nas ruas no dia 25 de Abril, e bateu depois às portas de um império a caminho da independência.

Se a todos recomendo uma visita a este museu que acolhe o mais importante conjunto de pinturas dos fins do século XIX académico com as assinaturas de Columbano Bordalo Pinheiro, José Malhoa, Carlos Reis e Veloso Salgado, isto para já não falar da eloquência dos quadros de Sousa Lopes expostos na Sala da Grande Guerra (entrada gratuita para antigos combatentes), julguei oportuno matar dois coelhos de uma só cajadada, estas fotografias de Alfredo Cunha, por mais conhecidas que sejam, possuem o talento de um grande observador, faz parte do pequeno grupo de eleitos que têm o dom para o disparo no momento certo, só imagens que retém um ambiente histórico que apraz sempre relembrar. Mais um bom motivo para os antigos combatentes vir a recordar ou reconhecer aquele que é historicamente o primeiro dos museus portugueses.


Fachada oriental do Museu Militar de Lisboa, no antigo Largo dos Caminhos de Ferro, hoje Santa Apolónia
Em cima, Gabu, Guiné, 1974, A Bandeira Branca.
Em baixo, monumento do tempo colonial apeado na independência de São Tomé e Príncipe
Em cima, reunião em Bafatá, 1974
Em baixo, cemitério militar português em Bissau, sem data
A Revolução dos Cravos: 25 de Abril de 1974.
No Largo do Município, instruendos da Escola Prática de Cavalaria, pertencentes ao 5.º Pelotão de Atiradores, esperar de armas na mão, as forças leais do Governo. (Cartazes de propaganda colonial, promessas de uma sociedade pluricontinental e multirracial num império que se estende de Minho a Timor).

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Nota do editor

Último post da série de 24 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26953: Notas de leitura (1813): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte II: apresentação de Joaquim Pinto Carvalho

Guinér 61/74 - P26961: In Memoriam (554): Algumas "histórias pícaras" do regresso a casa (Fernando Calado, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70) (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025)


T/T Carvalho Araújo > Viagem de regresso Bissau - Lisboa > BCAÇ 2852 >Estuário do Tejo >  Ponte Salazar e Monumento de Cristo Rei > Chegada a 26 de junho de 1970.

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




Documento da passagem â disponibilidade, passado em 19 de julho de 1970, pelo cmdt do RI 2, Abrantes. (Cortesia de Fernando Calado.)



T/T Carvalho AraújoO T/T : propriedade da Empresa Onsulana de Navegação. Tinha lotação para 354 passageiros. Foi abatido em 1973. Imagem extraída do sítio "Navios porugueses", que deixou de estare dispponível "on line". Estava alojada no Sapo.pt.




Fernando Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), 
ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)


1.  O T/T Carvalho Araújo levou, no rgresso a Lisboa,  9 dias a fazer uma viagem que levaria cinco dias (em condições normais). Segundo o comandante em exercício da CCS/BCAÇ 2852, o alf mil trms Fernando Calado, o navio esteve parado em alto mar mais um dia, por causa de um tufão.

Recorde-se que o BCAC 2852 terminou a sua comissão, no Sector L1 (Bambadinca), região de Bafatá, Zona Leste   em finais de maio de 1970. Nos dias  29 e 31 de maio [de 1970] chegaram as forças do BART 2917, que vieram render o BCAÇ 2852,  começando-se assim a sobreposição. Durante esse período, as novas companhias de quadrícula [CART 2714, Mansambo; CART 2715, Xime; e CART 2716, Xitole] ficatram a conhecer as suas zonas de ação.

O BCAÇ 2852 tinha chegado a Bissau, quase dois anos antes, em 29 de julho de 1968.

Em 8 de junho de 1970, o BCAÇ 2852 deixou o Setor L1, indo para Bissau, viajando em LDG a partir diooXime, e aguardando entáo embarque para a Metrópole. O regresso a Lisboa, no velhinho  T/T Carvalho Araújo,inicou-se em 16 de junho de 1970. Aliás, não foi o batalhão, foi o comando e a CCS do batalhão, m
ais a CCAÇ 2404, do mesmo Batalhão (passou por Mansambo, fez algumas operações em conjunto com a CCAÇ 12).

O navio ficou um dia no Funchal, o que permitiu que alguns militares, em grupo, alugassem  táxis e fossem dar uma voltinha pela ilha. Foi o caso do Otacílio Luz Henriques, o "capinhas", que tirou "slides" de algums sítios madeireenses.

Acrescente-se que o Fernando Calado, foi nomeado comandante da CCS/BCAÇ 2852 (e não propriamente das tropas embarcadas), face à escusa do tenente SGE (Serviços Gerais do Exército), o nosso conhecido, açoriano, Manuel Antunes Pinheiro, o chefe de secretaria do comando do BCAÇ 2852. 

Explicação dada pelo Fernando Calado: não havia mais  oficiais do comando e CCS do batalhão (por o gen Spínola lhes ter posto um "par de patins"...).
 

2. Em pequena homenagem ao amigo e camarada "bambadinquense" que acaba de se despedir da "Terra da Alegria (`), vamos aqui recuperar e reproduzir livremente algumas peripécias que ele nos contou dessa viagem (**).
 


O  regresso a casa, do pessoal do BCAÇ 2852, no velhinho T/T Carvalho Araújo


(i) O Fernando Calado, no dia da partida do T/T Carvalho Araújo, esteve muito atarefado com as diligências e as burocracias do embarque, pelo que nem sequer tivera tempo de almoçar a bordo. 

O capitão do navio, pronto a partir, deu-lhe autorização para "em vinte minutos, meia hora, no máximo" ir ao “Pelicano”, ali ao lado, na marginal, comer qualquer coisa... Ainda se lembrava do prato que escolhera e de que gostava muito, "um bife de gazela com batatas fritas" (!)...

(ii) A caminho de Lisboa, o navio fez uma paragem no Funchal... Houve aproveitasse fora fazer turismo... Outros foram provar a poncha...Dois camaradas ficaram em terra a curtir uma “cardina”… 

No regresso, feita a recontagem do pessoal embarcado, faltavam dois militares… Seriam reencontrados a dormitar numa esplanada…(Não sabemos se eram da CCS/BCAÇ 2852 ou da CCAÇ 2404; também não sabemos se, sendo da CCS,  apanharam uma "porrada", mas  é pouco crível que o comandante, no final da comissão, lhe tenha estragado a vida.)

(iii) Outra peripécia: o Fernando Calado lembra-se ainda que teve de “acalmar” vários militares da CCS que vieram com blenorragias (“esquentamentos”), mal curadas... 

Alguns eram casados, um inclusive tinha-se casado por procuração (!)… O drama era saber o que é que iriam dizer às esposas que os esperavam...

Alguns, mais desesperados, batiam com os punhos na cabeça: “Mas porque é que não eu fiquei em Bissau?!”... 

O Fernando lá arranjou uma solução diplomática mas salomónica: quando chegassem a casa, os “entrapados” contavam a verdade, pura, dura e crua: ficavam à espera que a penicilina acabasse por surtir efeito… e que a "patroa" os perdoasse...

 Em suma, não era caso para se atirarem ao mar, infestado de tubarões... E, felizmente, havia já a "bala mágica", como a malta chamava à penicilina...E,. depois, as Marias também sabiam que "a carne era fraca"...

(v) Enfim, ele tinha prometido, no regresso a Lisboa, passar ao papel estas e outras memórias dessa algo rocambolesca e pícara viagem que, em vez de cinco, demoraria nove dias (de 16 a 25 de junho de 1970)... Por causa do tufão e da paragem técnica no  Funchal. Em boa verdade, até deu jeito aos "entrapados": tiveram quatro dias extra para ver acontecer o milagre da "bala mágica"...


Aqui fica um primeiro resumo. Infelizmente, o  resto fica para contar, pelo Fernando Calado, na nossa próxima tertúlia celestial...(Ainda não consergui falar com ninguém que tenha lá estado ou por lá passado, mas imagino que 0 sítio não deve ser nenhum hotel de cinco estrelas...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de:

27 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26960: In Memoriam (553): O Fernando Calado (1945 - 2025) que eu conheci e com quem convivi na Casa do Alentejo (José Saúde, Beja)

27 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26959: In Memoriam (552): Fernando de Carvalho Taco Calado (Ferreira do Alentejo, 1945 - Lisboa, 2025), ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968-1970): foi gestor de recursos humanos e docente universitário

(**) Vd. poste de 25 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21196: Os nossos regressos (36): Comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): foi há 50 anos, no T/T Carvalho Araújo, com algumas pequenas peripécias... (Fernando Calado)