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terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27507: Tabanca dos Emiratos (17): Porva de vida renovada (Jorge Araújo)















Seixal  > Corroios  > Alto do Moinho > Pavilhão Gimnodesportivo Municipal do Alto do Moinho > 18 de outubro de 2025 > Sessão de lançamento do livro de Jorge Alves Araújo sobre a história dos  50 Anos do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho (1975 - 2025), 2º volume

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].





Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); a viver há uns anos entre Almada e Abu Dhabi, Emiratos Árabes Unidos; e é um dos nossos coeditores; como autor, tem 345 referências no nosso blogue; anima várias séries: "Tabanca dos Emiratos", "Memórias cruzadas...", "(D)o outro lado combate"...


1. Mensagem do Jorge Araújo:


Data - domingo, 16/11/2025, 16:52
Assunto - Prova de vida renovada


Caro Luís, boa tarde, desde as Arábias (aqui são mais 4 horas).

Antes de mais, esperamos que estejas bem, ao mesmo tempo que agradeço, em particular, a tua mensagem de parabéns.

1 - Como deixei expresso no espaço reservado a "comentários", nesse fim-de-semana viajamos até Doha, no Qatar, que durou 50 minutos, com o objectivo de romper com as rotinas negativas e/ou cansativas, para usufruir, o melhor possível, de outras ofertas culturais de um país que nos está próximo.

Aqui procurámos gerir a estadia de 3 dias, andando percursos a pé, de metro e de táxi, conforme os locais e os objectivos das visitas.

Mas o ponto alto da viagem era, e foi, a de comemorar uma efeméride, ou seja, a comemoração das minhas setenta e cinco "primaveras" (no Outono)... ainda faltam mais vinte e cinco para o centenário.

2 - Uma vez que possuo algumas dezenas de imagens, como seria natural, peço-te que me digas quantas devo incluir em cada uma das partes? Ou apenas uma só reportagem?

3 - Quanto à minha fraca participação no fórum, ela tem sido influenciada pelas sucessivas mudanças de actividades, algumas delas bastante problemáticas, onde se incluem as ocupações profissionais dos mais jovens, ao facto da minha filha ter ficado viúva, e de outros factos de pequenos/grandes detalhes que o destino faz questão de nos presentear. 

Não estou a desculpar-me, mas a situação de andar aos "saltos" de um lado para outro (Almada-Abu Dhabi-Almada) não ajuda.

4 - Acresce referir que, em função de me ter voluntariado para escrever, e editar, a história dos «50 Anos do Centro Cultural e Recreativo do Alto do Moinho» (P-24254, de 26.04.2023), que será constituído por cinco volumes, um por cada década, só no passado mês de Abril me foi comunicada a aprovação do patrocínio do 2º. Volume (década 1985-1995). 

Este atraso obrigou-me a ficar retido em Portugal, para acompanhar a respectiva composição de 320 páginas até ao seu lançamento, que ocorreu em 18 de Outubro último, com voo agendado para o dia 21.



Qatar> Doha : Museu Nacional > Um candeeiro tipo petromax


5. - Pelo exposto, sugiro a seguinte metodologia de publicação:

(i) Reportagem sobre a publicação do 2º livro;

(ii) Tema - Petromax, na sequência dos P-27384 e P-27425, pois encontrei vários exemplares no Museu Nacional do Qatar, em Doha, mas estes eléctricos (com lâmpada);

(iii) Retrospectiva temática da viagem.

Aguardo um feedback sobre a proposta acima.

Agora vou anexar algumas fotos do ponto (i) para selecionar, e do petromax, a enquadrar na visita ao Museu Nacional.

Boa semana e até breve.
Um abraço.
Jorge Araújo e Maria João.


2. Resposta do editor LG:

Data - domingo, 16/11, 22:22 (há 12 dias)

Jorge (e Maria João): Folgo em ter notícias vossas. Ao fim de bastante tempo, e com mares (e guerras) a  separar-nos nem tudo o que me contas são coisas boas. A morte do teu genro (ainda novo, presumo) abalou a família, e sobretudo a tua filha (que deve ter filhos, teus netos).

Já todos passámos por diversos "lutos". A minha mulher, por exemplo, ainda não ultrapassou a perda da sua irmã mais querida, e já lá vão dois anos e meio. A vida nunca mais é como dantes,
quando a morte bate à nossa porta.

Mas temos de tratar dos vivos e fingir que somos... "imortais". Por isso, tu é que vais definir
as tuas prioridades (em relação ao blogue). E, se quiseres mandar-nos colaboração (que será sempre desejada e bem vinda), segue a tua "bússola" e o teu "mapa de navegação".

Mandas as fotos que entenderes (com boa resolução, como estas que anexas), de preferência com 0,5 MB ou superior. Não edites nada em pdf, dá-te uma trabalheira a ti e a mim. Prefiro que mandes o texto em word. As imagens, numeradas (com as legendas) no texto, devem vir em anexo, como estas que mandaste por mail. Desde que tenham  legendas (incluindo local e data), eu oriento-me. E depois edito, texto e fotos...

Carpe diem. E parabéns pelos 75 anos "resilientes".  Chicorações para os dois. Luís

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 4 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26552: Tabanca dos Emiratos (16): Visita nas férias de Natal ao antigo Ceilão, a Taprobana de "Os Lusíadas", hoje Sri Lanka (Jorge Araújo) - Parte IV

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27506: Notas de leitura (1872): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Esta digressão sobre o tema Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil, entre a Regeneração e a década de 1950, num ensaio de Fernando Costa analisa o papel da História de Portugal e dos Descobrimentos portugueses na ideologia e na conduta das associações e organizações de juventude. Passam-se em revista as organizações de juventude católicas, os escuteiros, as organizações académicas republicanas, a Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira, a Ação Escolar de Vanguarda e daqui se partiu para a Mocidade Portuguesa, a organização mais duradoura e que aparece na Guiné no tempo do governador Carvalho Viegas, aqui se mostra uma imagem de um desfile em Mansoa, em 1961, era governador da Guiné Peixoto Correia. O período áureo desta Mocidade Portuguesa coincide com os tempos da guerra civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial, faz-se a saudação romana, comemora-se a Batalha de Aljubarrota e sempre o 1º de Dezembro, na Praça dos Restauradores, local por excelência que servia de recordatória de como tínhamos sacudido o jugo espanhol, e mostra-se como os heróis dos Descobrimentos eram patronos de todos os eventos desta mocidade. E importa não esquecer o papel marcadamente ideológico que teve Marcello Caetano à frente da Mocidade Portuguesa, exaltando todos os valores da Nação Imperial.

Um abraço do
Mário



Não fomos combater na Guiné pela integridade de Portugal de Minho a Timor?
(Uma abordagem dos valores educativos entre o liberalismo e o Estado Novo) – 3


Mário Beja Santos

O
terceiro e último ensaio desta obra dedicada ao entrosamento ideológico d’Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950), tem a ver com o trabalho de Fernando Costa quanto ao papel da História de Portugal e dos Descobrimentos na conduta das associações e organizações de juventude. Não se pode atribuir grande significado a estas organizações, no que toca à religião católica, até ao aparecimento do Centro Académico de Democracia Cristã, caber-lhe-á um papel propulsor na promoção do culto de D. Nuno Álvares Pereira. A Ação Católica Portuguesa dividia-se em setores (agrário, escolar, universitário, independente e operário). A sua atividade encontrou pontos de convergência com a Mocidade Portuguesa, a partir de 1936. Os Centenário de 1940 foram considerados pela imprensa juvenil católica como o ponto alto da História de Portugal, reacendeu-se o culto de Nuno Álvares Pereira e escusado é dizer que o advento do Estado Novo estabelecerá uma relação muito próxima entre o nacionalismo e os valores da moral cristã, isto nas organizações de juventude, mas também na escola.


Os escuteiros não ficarão indiferentes ao culto de o Santo Contestável, a figura de Nuno Álvares e da “Ala dos Namorados” irão aparecer associadas às bandeiras das associações de escuteiros. Aparecerão como patronos dos grupos além do Contestável, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Afonso d’Albuquerque, Vasco da Gama; e ler Camões é dado como um imperativo. Indo um pouco atrás, o autor trata as organizações de juventude republicanas e direita radical em Portugal, recorde-se o papel dos centros republicanos, os grupos republicanos de Coimbra; e com o 5 de Outubro o novo regime vai contrapor a República à Igreja, a Pátria a Deus e o patriotismo ao cristianismo. “A Pátria assume as características de uma mulher forte, decidida e lutadora, mas ao mesmo tempo consensual, capaz de aglutinar no seu seio a humanidade, a família e o indivíduo.” Nos bancos escolares dá-se grande importância aos grandes feitos da História de Portugal e emergem figuras de referência: Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira, D. João I, o Marquês de Pombal, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, entre outros.

Em julho de 1918, em pleno consulado de Sidónio Pais, é fundada a Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira: “acordar as energias dos portugueses, radicando neles, o amor da sua terra e o culto dos seus heróis, pugnar pela formação de caráter, reconstituir a família, base de toda a sociedade organizada, nacionalizar o espírito científico, preconizar a disciplina social, a ordem nas ruas, nos espíritos, na casa…” A Cruzada irá diluir-se com a ascensão do salazarismo e da sua União Nacional. Quando se está a dar o apagamento ideológico da Cruzada, surge a Ação Escolar de Vanguarda, constituído por estudantes nacionalistas das Universidades de Lisboa e Coimbra. Salazar não apreciou o seu radicalismo, este grupo desaparecerá com a constituição da Mocidade Portuguesa, em 1937 assiste-se à unificação do associativismo juvenil nacionalista, há aproximações inequívocas com as juventudes franquista, fascista italiana e até nazi.

A Mocidade Portuguesa rege-se pelos grandes princípios do Portugal Salazarista: a escola, a família, Deus e a Pátria, pretende-se a recuperação das virtudes do Portugal de outrora; busca-se a formação integral do jovem, a escola passa a ser a “sagrada oficina de almas”; haverá fricções graves entre os condutores da Mocidade Portuguesa e a Igreja Católica, o Cardeal Cerejeira não quer que se ocupe o lugar que cabe à igreja na formação do indivíduo, teme o que se estava a passar em Itália e na Alemanha. Os ideais desta juventude da Mocidade Portuguesa prendem-se com os grandes princípios do nacionalismo: D. João I e Nuno Álvares Pereira, a salvaguarda da independência portuguesa face à ameaça castelhana, os heróis do patriotismo passam a ser patronos dos cursos anuais da Escola Central de Graduados da Mocidade Portuguesa.

E voltam a entrar em cenas os heróis dos Descobrimentos, logo o Infante D. Henrique, regressa-se à mítica escola de Sagres, aos conhecimentos geográficos, às descobertas da botânica e da zoologia; é a gesta dos Descobrimentos, não são esquecidos os navegadores Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Diogo Cão e Pedro Álvares Cabral.

Importa recordar que Marcello Caetano foi comissário da Mocidade Portuguesa, e recordou aos graduados as responsabilidades de Portugal como nação imperial, como disse em 1944: “A independência portuguesa permitiu que a Nação prestasse à Humanidade serviços tão grandiosos que a Eternidade os registará. E essa missão não acabou: oito colónias formam o Império de Portugal, onde à sombra da nossa bandeira se prossegue a obra tradicional de desbravamento e civilização. Destino magnífico, o destino português! Somos criadores e educares de povos!”

Coube indiscutivelmente à Mocidade Portuguesa um papel formativo, comprovado em livros, canções nacionalistas e teatro radiofónico, basta atender à lista dos livros recomendados para as bibliotecas, estão presentes autores como João Ameal, Henrique Galvão ou Manuel Múrias. Quando lemos o cancioneiro para a Mocidade vemos como se exaltava o Portugal marinheiro, como Portugal tinha vencido antigos medos, como de Sagres e do Restelo partiam caravelas levando a Cruz de Cristo: “Diu e Malaca, Azamor, Marracuene/ São, para nós, a garantia solene/ Que Portugal, uno e valente,/ Viverá eternamente!”

E temos os compêndios escolares, Maria Cândida Proença deles falou abundantemente.

O autor conclui observando que o projeto da Mocidade Portuguesa estiolou por ter ficado datado no tempo. A Mocidade nasce com a inquietação do que se passa em Espanha e com o advento do comunismo. “O fim da guerra em Espanha, a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e o consequente advento dos Estados Democráticos na Europa Ocidental esvaziaram ideologicamente este projeto que, para ser implementado na prática, necessitava de um longo período de gestação educacional e geracional. Provavelmente, só numa segunda ou terceira gerações é que começaria a poder avaliar os resultados da sua implementação. Isto não invalida o facto da organização nacional Mocidade Portuguesa ter constituído a primeira e única tentativa de integração global da juventude portuguesa numa grande organização patriótica, ao serviço do regime de Salazar.”
Barreiro, festival organizado pela Juventude Operária Católica, no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Juventude Operária Católica, 1965, RTP Arquivos
O Presidente Carmona recebe a Cruzada Nun’Álvares, Marcello Caetano é o primeiro à esquerda
O Movimento Escutista chegou a Portugal 1923
Desfile da Mocidade Portuguesa, em Mansoa, 1961, RTP Arquivos
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Notas do editor:

Post anterior de 1 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27483: Notas de leitura (1870): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 5 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27498: Notas de leitura (1871): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27505: Notas de leitura (1872): "A Mais Breve História do Ultramar", de David Moreira (Porto, Ideias de Ler, 2025) (Virgílio Teixeira, Vila do Conde) - Parte II

 



Capa e contracapa do livro de David Moreira, "A Mais Breve História do Ultrmar", Porto: Ideias de Ler, 2025, 








Capa, contracapa e índice do livro de David Moreira, "A mais breve história do Ultramar". (Porto, Ideias de Ler, 2025, 2025, 308 pp, ISBN: 978-989-740-410-8) (Prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa).
 

1. O Virgílio Teixeira, tripeiro de gema que os acasos da vida levou para Vila do Conde, não tem dúvidas em recomendar a leitura deste livrinho: 

"Fiquei a conhecer como foi a conquista da África portuguesa, as guerras que se passaram por um mundo que a maioria não conhece. Estou a ficar obcecado com tudo, mesmo que tudo seja dito em poucas palavras." (*)

Depois de uma primeira apresentação, e a nosso pedido, mandou-nos cópia do índice, que é afinal, numa obra ensaística como esta, a melhor montra de apresentação. O livro tem um prefácio, generoso, mas assertivo, do prof Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República. É um privilégio, não é para todos.

 Depois de destacar os méritos e os limites da obra, que, em menos de 300 páginas, se propõe contar e analisar 160 anos de história (da conferência de Berlim até ao pós-25 de Abril), o prefaciador agradece ao autor o ter escrito e publicado este ensaio, hoje, 50 anos anos depois 25 de Abril de 1974. Cedo demais, reconhece ele, para fazermos "juízos definitivos" sobre o que foi esse periodo da nossa história e da história dos povos, hoje independentes e lusófonos, mas "just in time" para, naquela efeméride, um jovem (que é neto de um veterano da guerra do ultramar), nos dar o seu contributo "sereno, culto e pedagógico".

Merece destaque a parte final do prefácio, numa altura em que o Patriotismo e o Portuguesismo voltam a ser uma arma de arremesso na luta político-ideológica:

"Em tempo de muita emoção, muita ilusão e alguma irracionaliade, pòr os pés no chão e introduzir  razão é um bem inestimável. Em particular, se o autor é tudo menos alguém que se possa acusar de ser  menos Português, menos Patriota, menos herdeiro de uam Linhagem orgulhosa de ser Portuguesa e  Patriótica" (pãg. 15).

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(**) Últinmo poste da série > 5 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27498: Notas de leitura (1871): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27504: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (59): Duas peças de museu compradas numa casa comercial de um português falecido em Bafatá: um petromax e um fogareiro a petróleo, da marca Hipólito


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Guiné-Bissau > Bissau > Casa do Patrício Ribeiro > Um petromax e um fogareiro a petróleo marca Hipólitouma fábrica metalúrgica portuguesa, com sede em Torres Vedras, que infelizmente já desapareceu:  Casa Hipólito (1902-1999 especializou-se nomeadamente no fabrico de fogareiros, fluxómetros e candeeiros tipo petromax) 



Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Patrício Ribeiro

Dara - sábado, 15/11/2025, 18:38

Assunto - Bom dia desde Bissai

Luís.

Seguem fotos de exemplares destas peças de museu. Fotos tiradas hoje no por do sol em Bissau.

Há algum tempo compradas uma casa comercial de um português falecido em Bafatá, que muitos deviam conhecer. Um petromax... virgem. E um fogareiro a petróleo .Casa Hipólito,

Abraço

Patrício Ribeiro (*)

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Patrício. São mesmo duas relíquias. Tanto o petromax com o fogareiro a petróleo deviam fazer parte do "kit de sobrevivência" de um bom africanista...O fogareiro, não tanto, mas o petromax fazia parte dos nossos apetrechos de "campismo militar". Embora tuvesse que ser usado com muita prudência. Por causa dos "snipers". (**).

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 30 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27477: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (58): Bolanhas e lalas de São Domingos, Susana e Ingoré; pôr-do-sol em Varela; e... manga de calor

Guiné 61/74 - P27503: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (7): o ferimento do 2º srgt pqdt Henrique Galvão da Silva





Angola > Luanda > s/d (c. 1970/72) > 3º Pel / 1ª CCP / BCP 21 (1970/72) > Os bravos do pelotão


O Jaime é o promeira da fila de pé, a contar da direita para a esquerda. 

Em  18 de fevereiro de 1970,  embarcou no eroporto de Figo Maduro num avião Dakota da Força Aérea rumo a Angola para se apresentar no BCP 21 (Batalhão de Caçadores Paraquedistas) a fim de iniciar uma Comissão de Serviço que só terminaria em 1 de julho de 1972.

"(...) Nessa madrugada lisboeta embarcaram três alferes milicianos (eu, Rosinha e Vítor Marques) e um tenente da Academia Militar (Sousa).

"Na madrugada do dia 19 tínhamos à nossa espera no aeroporto de Luanda o Comandante do BCP 21, tenente coronel Rafael Durão que, logo ali, após as boas vindas, não deixou escapar uns reparos quanto ao atavio da farda n.º 1 que vestíamos e de indicar as Companhias onde seríamos integrados. De seguida perguntou quem era o alferes  Silva e, após me identificar disse: «Você foi destacado para a 1.ª CCP (1.ª Companhia do BCP 21) e prepare-se para embarcar para o Leste no próximo avião onde, em Ninda, está destacada a sua companhia'-

"Um avião Nord Atlas transportu-me de Luanda à cidade de Henrique Carvalho e daqui um avião DO aterrou, finalmente, na pista de areia do destacamento de Ninda. Foi-me atribuído o comando do 3.º Pelotão, rendendo o tenente Grão, onde participai na minha primeira operação de combate, denominada  “ Operação Alfange” e onde fomos transportados nos helicópteros das Forças Armadas da África do Sul.

"Foram 29 meses de muitas operações de combate no Norte e no Leste, de algumas lutas renhidas frente a frente com o IN  e , em cujas refregas, abatemos alguns deles, tendo também eles conseguido roubar a perna ao Soldado Santos e a vida ao soldado Ramos!

"Foram também bons momentos de amizade cimentados na provação das operações de combate e no convívio nas horas livres no Batalhão ou nos 'botecos' espalhados pela cidade de Luanda!"

Fonte: Jaime Bonifácio da Silva > Página pessoal do Facebook > 18 de fevereiro de 2018 (com a devida vénia...)  (Foto editada por LG)


Foto à direita: Jaime Bonifácio Marques da Silva, autor do livro "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), 235 pp.

Jaime Silva (ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande, nº 643, desde 31/1/2014, tendo já cerca de 130 de referências, no nosso blogue; reside na Lourinhã, é professor de educação física, reformado, foi autarcaa em Fafe, com o pelouro de "Desporto e Cultura": residiu lá durante cerca de 4 décadas): 



Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci (7) > o ferimento do 2º srgt pqdt Henrique Galvão da Silva


por Jaime Silva



Eu não esqueci quando o 2.º sargento paraquedista Henrique Galvão da Silva foi ferido durante a Operação “Bútio Encarnado”, realizada entre 6 a 10 de agosto 1970.

O acidente ocorreu na região da serra Vamba, Norte de Angola, depois de aquele ter tropeçado numa armadilha. 

O acidente deu-se já ao final da tarde, e não houve hipótese de ser evacuado por helicóptero. O seu corpo ficou crivado com alguns estilhaços de granada. Por isso, teve que ser transportado numa maca improvisada feita com troncos de árvores.

Conseguiu sobreviver, passando a noite com morfina e com o apoio dos cobertores de todos os elementos do grupo de combate. No dia seguinte, ainda se tentou o resgate e evacuação através do guincho do Helicóptero, mas, dada a altura das árvores e a densidade da mata, não foi possível fazê-lo.

Restou-nos caminhar, até ao meio da tarde, em direção a uma fazenda de exploração de café e madeira, cujas coordenadas me foram indicadas, via rádio, pelo Comandante de Companhia.

Acontece que, a poucos quilómetros da chegada a essa fazenda, onde iríamos ser recuperados, deparámo-nos com uma clareira de árvores abatidas por colonos portugueses.

Este facto, em local em que a tropa sofria emboscadas dos guerrilheiros do MPLA ou FNLA e, ao mesmo tempo, civis madeireiros conseguiam aí chegar e derrubar árvores e transportar a madeira sem problemas, demonstra “o que se dizia por lá”, acerca da eventual colaboração entre colonos e guerrilheiros dos Movimentos de Libertação.


Fonte: excerto de Jaime Bonifácio Marques da Silva,  "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 87-88.
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domingo, 7 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27502: Op Abencerragem Candente, subsetor do Xime, L1, 25 e 26 de novembro de 1970 - Parte I: Agrupamento A, CART 2714: itinerário Mansambo - Chacali-Taibatá-Xime


Guiné > Região de Bafatá > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil) > Reconstituição do percurso feito pelo Agrupamento A (CART 2714, Mansambo), nos dias 25 e 26 de novembro de 1970, no âmbito da Op Abencerragem Candente (subsetor do Xime, Sector L1, 25/26 de novembro de 1970).. 

Legenda: 

(i) tracejado a preto: Mansambo.Bólô - Mampará - Chicamiel - Chacali. Taibatã, das 11h00 do dia 25. até c. 18h00 (com pernoita em Chicamael, depois de percorridos cerca de 10 km desde o ponto de partida, Mansambo); retoma a progressão âs 5h45 do dia 26, asd NT dirigem-se para Taibatá (4 km em linha reta), que atingem às 8h00;

(ii) tracejado a roxo: percurso de Taibatá até ao Xime, no dia 26: Chacali - rio Canhala - Gidemo - Taliuará - Xime (que foi atingido pe4las 13h00 (cerca de 11 km)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)








Guiné- Bissau > Região de Bafatá  > Mansambo > 1996 < Monumento erigido pela CART 2714 ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/1972). Era  o único que restava de pé em 1996, quando o Humberto Reis lá passou. 


Não temos nenhum representante desta subunidade, no nosso blogue. Há muitos anos (em 2009) escreveu-nos de França, onde estava emigrado, o nosso camarada Guilherme Augusto Sousa, ex-sold cond auto, à procura de camarada da companhia. Deixou-nos os seus contactos: Guilherme Sousa. França: telef. 0033386951938 ou 0033670611957. 

Nunca mais nos deu notícias. 

O cmdt da CART 2714 era o cp art José Manuel Silva Agordela.
 
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Recorde-se que o que se passou no subsetor do Xime em 26/11/1970, 4 dias depois da Op Mar Verde. A subunidade de quadrícula do Xime é a CART 2715 / BART 2917, que  que foi render, em maio de 1970, a CART 2520. Era comandada pelo cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos (acabados de fazer em 22 de novembro).

Na Op Abencerragem Candente, que envolveu 3 destacamentos (CART 2714 / Mansambo, CART 2715/Xime e CCÇ 12/Bambadinca), num total de 8 grupos de combate (c. 250 homens), a CART 2715 e a CCAÇ 12 apanharam uma das mais sangrentas emboscadas na história do subsetor do Xime (e até do setor L1), com 6 mortos e 9 feridos graves. (*)

Os mortos foram penosamente transportados até ao Xime, em macas improvisadas, os feridos foram encaminhados para Madina Colhido e dali helievacuados para o HM 241, em Bissau... Não temos fotos desse dia de inferno.Nunca vi tanto sangue e restos humanos como nesse dia, na frente  da coluna que progredia, apeada, até à Ponta do Inglês, seguindo (perigosamente) ao longo da antiga picada Xime-Ponta do Inglês. E repetindo (!) o memso trilho da véspera. Calro, tinha uma emboscada em L, do lado direito,  à sua espera, com uma formidável seção de roqueteiros à cabeça, que massacrou os nossos homens da frente (CART 2715)...Enquadrados por cubanos, tiveram tempo de levar as espingardas G3 de mortos e feridos... E retiraram, na direção da margem direita do rio Corunal, com apoio de armas pesadas de infantaria (morteiro 82 e canhão s/r). Terão tido também seis mortos, segundo notícias posteriores.



Excerto da História do BART 2717 (Bambadinca, 1970/72)

 Operação "Abencerragem Candente"   > 25 e 26 de novembro de 1970 >  Agrupamentos (A=CART 2714, Mansambo), B (=CART 2715, Xime) e C (=CCAÇ 12, Bambadinca) > Desenrolar da acção


Parte I - Agrupamento A [CART 2714, Mansambo]


25 de Novembro de 1970

Em virtude do aquartelamento de Mansambo ter sido atacado pelo IN pelas 6,50 horas, só foi possível a saída dos 2 Grupos de Combate da CART 2714 às 11,00 horas.

 Os 2 Grupos de Combate progrediram e reconheceram ao longo do itinerário Mansambo-Bólô  que foi atingido às 12,30 horas.

 Feito um pequeno alto para almoçar continuou-se a progredir na direcção de Mampará, que foi atingida cerca das 15,00 horas.[7 km em linha reta]

 A norte de Mampará, e no trilho para Chicamael, sensivelmente no ponto de coordenadas [XIME 5E4-95] foi encontrado um trilho de passagem recente.

Da exploração deste trilho detectou-se que o mesmo se encontrava orientado na direcção do Rio Buruntoni-Moricanhe.

Continuou-se a progredir na direcção de Chicamael que foi atingida cerca das 17,45 horas. [3 km em linha reta].

Em Chicamael, foi avistado um trilho bastante batido na direcção de Madina.

Feito um alto para pernoitar, os 2 Grupos de Combate instalaram-se de forma a montar emboscadas nocturnas ao longo desse trilho e no trilho de Chicamael- Mampará.

26.de novembro de 1970

Pelas 5,45 horas começou-se a progredir na direcção W procurando encontrar as nascentes do Rio Canhala.

Dada a grande vegetação não foi possível progredir nessa direcção tendo-se resolvido caminhar para Norte, que apresentava melhores condições de orientação.

Às 8,00 horas atingiu-se Taibatá [4 km em linha reta] onde foram pedidos 2 guias que pudessem levar o  Agrupamento até Gidemo.

Às 8,15 horas saiu-se de Taibatá a caminho de Chacali onde pelas 9,00 horas foi ouvido grande tiroteio e rebentamentos na direcção do Xime. 

Mandado ligar o Racal, fez-se uma chamada para o aquartelamento do Xime,  não se tendo obtido resposta a esta chamada. Continuando a progredir, o Rio Canhala  foi atravessado pelas 10,00 horas.[4 km em linha reta ]

Continuando a progressão até Gidemo,  detectaram-se trilhos batidos junto do ponto de Cota 24 que se orientavam para Sul (Rio Gundagué).

Dado que os guias não afiançavam a passagem do Rio Gundagué em Lantar [4 km em linha reta] ,  foi resolvido retirar novamente para Chacali  e daqui par Taliuára.

No trilho Chacali - Taliuára foi detectado terreno batido recentemente no ponto de coordenadas [XIME 6A5-49], se dirigia para direcção do alto de Ponta Coli.

Continuando a progressão até Taliuára [ 5 km em linha reta], este ponto foi atingido às 13,00 horas, com evidente cansaço de todo o pessoal.

Dado conhecimento a Bambadinca da localização do Agrupamento A,  foi o mesmo mandado avançar para o Xime, onde chegou cerca das 13,00 horas [  1,5 km em linha reta].

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)




Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Xime > Madina Colhido > CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) > Op Boga Destemida > 9 de fevereiro de 1970 > A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... Madina Colhido era um dos poucos sítios seguros para se fazer as helievacuações dos nossos feridos graves, como aconteceu com os nossos camaradas dos Agrupamanentos B (CART 2715, Xime)e C (CCAÇ 12, Bambadinca) apanhados pela emboscadada do PAIGC, no dia 26 de novembro de 1970, por cilktra das 08h50, na antiga estrada Xime- Ponta do Inglês, na sequência da Op Abencerragem Candente, mal planeada e pior executada. Resultado: 6 mortos e 9 feridos graves. Não uma linha no livro da CECA sobre a atividade operaciobnal das NT no ano de 1970. 


Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor LG:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27468: Efemérides (378): foi há 55 anos a Op Abencerragem Candente (25 e 26 de novembro de 1970, subsetor do Xime), com meia dúzia de mortos de um lado e do outro

Guiné 61/74 - P27501: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXXII: crianças

 


Foto nº 1 >  Crianças em "dança a pedir festa". Em segundo plano, as instalações do quartel: quartos dos oficiais e sargentos.


Foto nº 2 > Meninos ensaiando dança (1)




Foto nº 3A e 3 >  Meninos ensaiando dança (2)


Foto nº 4 > Meninos rezando a N. Sra. Fátima


Foto nº 5 > Interior da igreja


Foto nº 6 > A Marina da mancarra


Foto nº 7 > Maria e Fátima



Foto nº 8A e 8 > Delegação de saúde


Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) >  

Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, antigo capelão militar.



Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Alferes graduado capelão José Torres Neves,  CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71).
É natural de Meimoa, Penamacor.


1. Mais um conjunto de fotos sobre Mansoa, enviadas no passado dia 10 de outubro pelo nosso camarada e amigo Ernestino Caniço.

Nunca é demais  dizer que ele tem sido o guardião, solicito, zeloso, dedicado, entusiasta, do álbum fotográfico da Guiné, do padre missionário da Consolata, José Torres Neves, natural de Meimoa, Penamacor. 

O Padre José Torres Neves reformou-se recentemente de uma vida inteira, generosa, abnegada, dedicada às missões católicas, nomeadamente em África. 

Entrou para a Tabanca Grande, em 22/2/2022,  pela mão do Ernestino Caniço, que é médico.  É o nosso grão-tabanqueiro nº 859. Tem 46   referências no nosso blogue.

Segundo o  Ernestino Caniço, seu amigo de longa data, deste os tempos de Mansoa, o álbum deve conter cerca de 400 fotos (obtidas a partir de "slides"), dos quais já teremos publicado mais de metade.
 
 Em geral as fotos trazem sumárias legendas (ou títulos). Sem data. E não vêm numeradas. As que publicamos hoje têm a ver com o quotidiano do quartel Mansoa, semppre aberto à população, e noemadamente aos miúdos, às lavadeiras, etc.
 
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sábado, 6 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27500: Os nossos seres, saberes e lazeres (712): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (233): Por casualidade, o fotógrafo interessou-se por tal momento, por ele considerado esplendente - 5 (Mário Beja Santos)

Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf
CMDT Pel Caç Nat 52

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Verdade verdadinha, andei com amigos alemães a matar-lhes saudades de Lisboa, não vinham cá há dez anos. Foi a seu pedido que fui mostrar o novo Museu Nacional dos Coches, lembravam-se do picadeiro, implantado no Palácio de Belém, estavam cheios de curiosidade por ver todas aquelas viaturas em espaço mais desafogado. Foi essa a viagem que fizemos, achei por bem reter uma série de imagens de peças de altíssimo valor no nosso Património Cultural.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (233):
Por casualidade, o fotógrafo interessou-se por tal momento, por ele considerado esplendente – 5


Mário Beja Santos

Prossegue a viagem, recebi a visita de queridos amigos alemães, não visitavam Portugal há dez anos, resolvi mostrar-lhes o perene e o que está em mudança. Por exemplo, numa viagem anterior, levara-os às instalações do antigo Museu Nacional dos Coches, sito no antigo picadeiro de Rainha D. Amélia, agora foram visitar as novas instalações, bem espaçosas. Sabendo do seu fervor pelos jardins, levei-os em primeiro lugar aos jardins do Torel, não conheciam esta panorâmica, conheciam o jardim em frente, o de São Pedro de Alcântara, que também visitaram, agora magnificamente recuperado e conservado. Na travessa da Cruz do Torel, já perto do jardim, encontrei esta lápide da casa em que nasceu e morreu Venceslau de Morais (1854-1929) marinheiro, diplomata e torrencial escritor, porventura o escritor português que mais amou Japão, houve o cuidado de pôr nesta lápide tudo escrito nos dois idiomas. Pena é que a inscrição não esteja devidamente conservada.
Lápide à memória de Venceslau de Morais, na Travessa da Cruz do Torel, pertinho do jardim com o mesmo nome
A remexer nas fotografias da nossa visita aos jardins de Monserrate encontrei esta que fora injustamente esquecida, a flor chama-se cosmos, tem uma coloração intensa, sobressaía naquela paisagem quase outonal, dominada pela natureza verde que só irá despontar na primavera.
Já estamos no Museu Nacional dos Coches. Como se impunha, começámos por este coche raríssimo, o mais antigo da coleção do Museu. Integrou a comitiva régia de Filipe III de Espanha e II de Portugal, na viagem entre Madrid e Lisboa em 1619. A sua arca, na parte da frente, servia para guardar utensílios de viagem. É um trabalho espanhol.
Este coche é um exemplar raro da “Carrosse Moderne” - caixa fechada com oito janelas. Pertenceu à Rainha D. Maria Francisca de Sabóia-Nemours, prima de Luís XIV. Foi trazido para Portugal no dote do seu casamento com D. Afonso VI, em 1666. Nas portas, duas figuras femininas ladeiam um medalhão com o monograma da rainha.
Este coche foi mandado construir em 1708 pelo Imperador José I de Áustria para o casamento da sua irmã, Maria Ana com o Rei de Portugal, D. João V. A caixa é revestida a talha dourada e decorada com leões coroados, monogramas da rainha e um escudo com as armas de Portugal. Os doze raios das rodas têm formas de cetros. É um trabalho holandês.
Este coche foi mandado construir por D. João V, a caixa anuncia o estilo rococó. A decoração apresenta bustos, em madeira de bronze cinzelado. Nas rodas traseiras estão representados os doze signos do Zodíaco. É trabalho português.
Este coche tem como tema a ligação dos Oceanos e representa um importante episódio da história marítima de Portugal. A composição escultórica do alçado traseiro apresenta, ao centro, Apolo que canta os feitos dos portugueses e está ladeado por duas figuras femininas, a Primavera com flores e o Verão com espigas. Em frente ao globo terrestre, dois velhos, o Oceano Atlântico e o Oceano Indico dão um aperto de mão simbolizando a passagem do Cabo da Boa Esperança. Trabalho italiano.
A 8 de julho de 1716 realizou-se em Roma o cortejo da Embaixada enviada por D. João V ao Papa Clemente XI. Os exemplares únicos de carros triunfais foram idealizados pelo Embaixador de Portugal, Marquês de Fontes. Destacam-se pelas dimensões, pelo modelo de caixa aberta “à romana” e são revestidos de ricos tecidos bordados a ouro e prata. Na sequência desta cerimónia Portugal obteve o estatuto de Patriarcal para a Capela Real. Em 1718, a pedido do Rei, estas viaturas foram enviadas por mar até Lisboa.
Este coche pertenceu a D. José I e é considerado um dos melhores exemplares do barroco português – estilo artístico que se caracteriza pela decoração com excesso de detalhes. A talha, apresenta grinaldas de flores e frutos e cabeças de índio, simbolizando os primeiros contactos com o Brasil. No alçado traseiro destaca-se uma águia imperial, representando o poder absoluto do Rei. É trabalho português.
Os carrinhos de passeio em estilo italiano, decorados com motivos vegetalistas sobre fundo dourado, foram encomendados pela Rainha D. Maria I. a família real utilizava-os para passear nas quintas e nos jardins dos palácios. Eram viaturas de dois lugares, com duas ou quatro rodas, conduzidas pelo próprio ocupante ou por um boleeiro. A caixa aberta tem na parte dianteira um painel de couro que serve de porta e o acesso é feito por estribos suspensos. Na parte traseira tem um banco para o pajem. Há quem lhe dê o nome de cabriolé.
Liteira à francesa
Pormenor de Liteira à romana. São viaturas sem rodas, utilizadas na Europa desde o tempo dos romanos até ao século XIX. Eram veículos de caixa aberta ou fechada, com dois lugares frente a frente, carregados por duas mulas ou cavalos que se atrelavam aos varais fixos nas ilhargas laterais. Por serem fáceis de manobrar, permitiam deslocações cómodas e rápidas nas ruas estreitas da cidade e em caminhos de difícil acesso.
Landau de D. Pedro V, modelo de viatura que teve origem na cidade de Landau, na Alemanha. A caixa, com acesso por estribo desdobrável tem duas capotas de couro rebatíveis, o que permite que a viatura possa ser utilizada aberta ou fechada. Na decoração destaca-se o brasão de armas do Rei D. Pedro V ladeado por manto de arminho e encimado por coroa real. Trabalho inglês.

Na viagem de regresso procurei satisfazer a curiosidade destes meus amigos alemães que pretendiam esclarecimento de como é que Portugal possuía esta tão impressionante coleção de coches. De forma muito simplificada, expliquei-lhes que tínhamos o clima a nosso favor, tivemos muito menos guerras do que os outros povos europeus, estas viaturas não eram implicadas em conflitos e quando perderam o uso não foram destruídas. E contei-lhes uma história aparentada sobre os nossos instrumentos científicos da Universidade de Coimbra, todas as universidades europeias já os tinham deitado fora, nós guardá-mo-los, deram brado na Europália portuguesa de 1991, vieram excursões de toda a parte para ver tais instrumentos científicos que só eram conhecidos por gravuras e desenhos. É assim a vida. Que o leitor se prepare, um dia destes vou-me pôr ao caminho e fazer três cidades de Andaluzia, rever Sevilha, Granada e Córdova. É claro que darei notícia de tudo quanto vi e senti.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 29 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27476: Os nossos seres, saberes e lazeres (711): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (232): Por casualidade, o fotógrafo interessou-se por tal momento, por ele considerado esplendente - 4 (Mário Beja Santos)