Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Magnifica navega, no máximo, a 23 nós por hora, ou seja, a uns 43 quilómetros. Com mar calmo, a velocidade de cruzeiro - e estamos num navio de cruzeiros - , é mais baixa, uns 35 quilómetros por hora, o que significa que em 24 horas percorremos cerca de 800 quilómetros.
Todas as noites acontecem espectáculos na grande sala do teatro, com mil lugares. Às vezes são shows a moda do Cirque du soleil. com trapezistas. malabaristas, contorcionistas ou então noites mais completas com os bailarinos e bailarinas residentes a imitar o que de melhor se faz na Broadway, naturalmente não tão espectacular. Há cantores de ocasião ou grupos folclóricos contratados nos lugares de paragem do navio.
Come-se e bebe-se muito bem no navio. Há quatro restaurantes e um buffet no 13.º andar que funciona quase 24 horas por dia. Há jantares temáticos dedicados a comidas dos países ou regiões que vamos atravessando e o vinho branco, tinto ou rosé é servido à descrição nos almoços e jantares. Provém de boas garrafeiras italianas, francesas e argentinas. Lá mais para a frente haverá vinho chileno, neozelandês e australiano.
Os principais bares tem, ao lado, uma pista de dança onde uns tantos artistas dos acordes entram pela noite dando música a quem estiver interessado. Quase tudo isto acontece em outros navios de cruzeiros, variando no entanto, de acordo com a qualidade do barco e da companhia.
Temos conferencistas em varias línguas que, quase dia sim dia não, nos fazem palestras, com um power point auxiliar, sobre os lugares que vamos conhecer.
O Magnifica conta ainda com um casino com roleta, black jacket e slot-machines e com lojas onde se vendem desde o trivial necessário para o dia a dia, como pastas de dentes, sabonetes, pentes ou shampôs a relógios caros e baratos, a joias, a whiskies velhos, a charutos do melhor que se fabrica em Cuba ou na República Dominicana.
1. O nosso camarada e amigo António Graça de Abreu [ ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no nosso blogue], começou a "dar sinais de vida" em 22 do corrente... Até então sabíamos apenas que ele andava "embarcado"... Agora sabemos que também está "aquarentenado", não podendo ele e os demais passageiros e tripulantes sair a terra, nos portos onde o MSC - Magnifica tem que aportar para se reabastecer... Em 28 do corrente, mandou-nos esta nota do seu "diário de bordo".
Em navegação, Oceano Atlântico,
18 de Janeiro de 2020
por António Graça de Abreu
Este grande hotel flutuante, de quatro estrelas e meio, que dá pelo nome de Magnifica, pertence à MSC, uma das maiores companhias de navegação do mundo e foi construído em 2010 nos estaleiros STX Europe, em Saint Nazaire, colada a Nantes, na França atlântica.
por António Graça de Abreu
Este grande hotel flutuante, de quatro estrelas e meio, que dá pelo nome de Magnifica, pertence à MSC, uma das maiores companhias de navegação do mundo e foi construído em 2010 nos estaleiros STX Europe, em Saint Nazaire, colada a Nantes, na França atlântica.
A madrinha de baptismo deste navio de 95 mil toneladas foi a sempre jovem Sophia Loren. Sob a proteção das estrelas de cinema, vou então fazer um pouco de propaganda ao navio, que me perdoe o leitor que conhece as coisas dos cruzeiros de cor e salteado.(#)
O Magnifica navega, no máximo, a 23 nós por hora, ou seja, a uns 43 quilómetros. Com mar calmo, a velocidade de cruzeiro - e estamos num navio de cruzeiros - , é mais baixa, uns 35 quilómetros por hora, o que significa que em 24 horas percorremos cerca de 800 quilómetros.
O paquete - era assim que se chamavam antigamente estes navios - , conta com 1.259 camarotes, distribuídos por dezasseis pisos, e pode transportar 3.220 passageiros. Não vem propriamente lotado porque há resmas de gente, bem abonada em euros, que, sem se preocupar com gasto, viaja sozinha, ocupando um só camarote. Não querem zangas, nem mau ambiente permanente com o companheiro ou companheira com quem teriam de compartilhar a cama ou o espaço reduzido da cabina.
Os tripulantes são, no máximo, 945 distribuídos por 52 nacionalidades, A maioria são indonésios, filipinos, indianos, empregados vindos do Brasil ou dos países do leste da Europa, muitos deles com as tarefas mais humildes, não menos dignas mas creio que mais mal pagas, como as limpezas, a manutenção, a restauração.
Como a companhia MSC é italiana, são dessa origem o comandante e a maioria dos oficiais. Todo este pessoal, muito profissional, procura manter o Magnifica a navegar com perfeição, assegurando os bons serviços de um navio em jornada de quatro meses pelos cinco cantos e mil recantos do mundo.
Os dois mil e duzentos passageiros desta viagem também correspondem às mais variegadas e díspares nacionalidades, são gente a puxar para o idoso que só agora, após convulsionadas e trabalhosas vidas, tem tempo disponível, problemas familiares resolvidos e uns bons milhares de euros, ou dólares, na conta bancária para viajar durante a terça parte de um ano por terras e mares distantes.
Há sobretudo franceses a quem sorriu a desejada retraite, alemães sempre metódicos e organizados, italianos e espanhóis, mais alegres e expansivos, aparentemente abertos a todos os prazeres do cruzeiro, mais uns vinte portugueses, às vezes pendurados num fado lacrimejante e triste, com malhão e corridinho à mistura.
Há ainda suecos, noruegueses, finlandeses, checos, croatas, suíços, austríacos, norte-americanos, chineses, japoneses, etc. Entre os passageiros, não identifiquei pessoas negras, de países africanos, nem me apercebi da presença de muçulmanos. Há bastantes, sim, mas entre os simpáticos tripulantes. Os eventuais passageiros de África não terão poder económico para pagar estas viagens, os seguidores do Islão talvez considerem que este tipo de vida num navio repleto de infiéis, não estará de acordo com os princípios da sua religião, Entre outras preversões, bebe-se muito álcool, comem-se toneladas e toneladas de carne de porco, dança-se e ouve-se muita música decadente.
Também os mais fundamentalistas defensores do meio ambiente recusariam este cruzeiro. Greta Thunberg, a menina sueca, convidada a fazer-nos companhia durante apenas um dia de viagem, após uma discussão com o comandante do navio, teria talvez vontade de o lançar ao mar. É verdade que o Magnifica, tal como todos os grandes navios de cruzeiro que sulcam os mares, consome uma barbaridade de gasóleo, algumas toneladas por hora, o que polui os oceanos. Para atenuar a malfeitoria, através de uma fundação própria, a MSC criou, com uma pequena percentagem dos seus lucros, um fundação que se destina a gerir a conservação dos oceanos e dos fundos marinhos.
A viagem de Volta ao Mundo é dispendiosa e cara, no entanto, se considerarmos que são quatro meses cheios de pequenos luxos e mordomias, não haverá motivos para lamentar o dinheiro gasto. São 19 mil euros, num camarote duplo, com varanda, ou, como é o meu caso, são 14 mil euros, por um camarote duplo, com uma janela redonda, com vista de mar.
Temos quinze excursões para os mais diversos lugares incluídas no preço do cruzeiro, mas há que contar, pelo menos, com outras tantas, ou mais, excursões cujos preços oscilam entre os 60 e os 150 euros, cada uma.
Todas as noites acontecem espectáculos na grande sala do teatro, com mil lugares. Às vezes são shows a moda do Cirque du soleil. com trapezistas. malabaristas, contorcionistas ou então noites mais completas com os bailarinos e bailarinas residentes a imitar o que de melhor se faz na Broadway, naturalmente não tão espectacular. Há cantores de ocasião ou grupos folclóricos contratados nos lugares de paragem do navio.
O Magnifica trouxe também desde Itália um conjunto de cantores e músicos clássicos, São o Maschera in Musica capazes de encher de suprema qualidade qualquer palco do mundo. O primeiro concerto, com excertos de óperas de Verdi e de Puccinni e o segundo, com uma recolha de canções populares napolitanas, deixaram-me estupefacto de prazer. Ai vão os nomes de alguns dos cantores e músicos: Ivanna Speranza, uma fabulosa soprano nascida na Argentina que foi aluna de Luciano Pavarotti e cantou em tournées com o José Carreiras, o maestro e violinista Michel Manfrin e um virtuoso, um paganinizinho do violino, o baritono Oscar Garrido Bassoco, de voz potente e clara, acariciando as palavras e a rima, faz levitar a melodia e embevece a plateia, Davide Daniels, o pianista, vai buscar ao branco e negro dos teclados harmonias que afagam sensibilidades adormecidas.
Come-se e bebe-se muito bem no navio. Há quatro restaurantes e um buffet no 13.º andar que funciona quase 24 horas por dia. Há jantares temáticos dedicados a comidas dos países ou regiões que vamos atravessando e o vinho branco, tinto ou rosé é servido à descrição nos almoços e jantares. Provém de boas garrafeiras italianas, francesas e argentinas. Lá mais para a frente haverá vinho chileno, neozelandês e australiano.
Existe um grande número de actividades para entreter o turista. Temos aulas de taijiquan e pilates, de danças de salão, do tango ao foxtrot, da salsa à valsa, quem quiser aprender italiano ou inglês, ou simplesmente recostar-se ao sol dos trópicos, conta com as muitas espreguiçadeiras espalhadas pelo navio. Existem duas piscinas, uma interior outra exterior e seis jacuzzis com água sempre a 37 graus. Temos na proa do navio, um bonito ginásio, muito bem equipado.
Os principais bares tem, ao lado, uma pista de dança onde uns tantos artistas dos acordes entram pela noite dando música a quem estiver interessado. Quase tudo isto acontece em outros navios de cruzeiros, variando no entanto, de acordo com a qualidade do barco e da companhia.
Temos conferencistas em varias línguas que, quase dia sim dia não, nos fazem palestras, com um power point auxiliar, sobre os lugares que vamos conhecer.
No que nos diz respeito, quando a língua espanhola funciona como charneira com o português, vem um italiano ainda jovem chamado Massimo Cannoleta, com excelente domínio do idioma castelhano, que nos leva com facilidade, entusiasmo e clareza até Cabo Verde ou ao Brasil.
O Magnifica conta ainda com um casino com roleta, black jacket e slot-machines e com lojas onde se vendem desde o trivial necessário para o dia a dia, como pastas de dentes, sabonetes, pentes ou shampôs a relógios caros e baratos, a joias, a whiskies velhos, a charutos do melhor que se fabrica em Cuba ou na República Dominicana.
Existe uma sala fechada, ventilada, especialmente destinada aos empedrenidos fumadores, grupo a que felizmente já não pertenço há mais de trinta anos. Existe ainda uma biblioteca, uma sala onde se pode jogar cartas ou xadrez, um spa, com tratamentos de pele, cabeleireiro e massagens que costuma ter bastantes clientes com tanta velharia no navio, presa por parafusos e cordéis enchendo os camarotes do Magnifica.
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# O meu primeiro cruzeiro de volta ao mundo aconteceu de 1 de Setembro de 2016 a 18 de Dezembro de 2016, no navio Costa Luminosa ligeiramente maior do que este Magnifica.
Ver o meu livro Noticias (Extravagantes) de uma Volta ao Mundo, Lisboa, Nova Vega, 2018, doravante citado como Noticias (Extravagantes).
[Revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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# O meu primeiro cruzeiro de volta ao mundo aconteceu de 1 de Setembro de 2016 a 18 de Dezembro de 2016, no navio Costa Luminosa ligeiramente maior do que este Magnifica.
Ver o meu livro Noticias (Extravagantes) de uma Volta ao Mundo, Lisboa, Nova Vega, 2018, doravante citado como Noticias (Extravagantes).
[Revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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Nota do editor:
Último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.
Último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.
7 comentários:
Caro Amigo,Camarada,e näo menos,...Poeta!
3.200 passageiros é uma boa audiência "cativa".
Entre o restaurante,o casino e a piscina porque näo aproveitar a oportunidade para uns plenários, imediatistas e espontâneos como os do PREC?
Há que saber,mais uma vez,aproveitar esta oportunidade (infeliz mas...) para esclarecer detalhadamente todos os passageiros,(certamente muito interessados!),que a guerra colonial dos anos 60/70 na Guiné,näo estava,nem nunca viria a estar....militarmente perdida!
PS/ Faz-se sentir a tua falta nos nossos täo construtivos diálogos comentaristas neste blogue.
Um abraco do J.Belo
No MSC - World Cruise, agora "à deriva", vão pelo menos três "tugas" da Guiné: o António, o Constantino e um terceiro, cujo nome ainda não sei...
O António andou este tempo todo, do início do ano até agora, sem "dar cavaco" à Tabanca Grande...
Abraço para todos. Luis
Nao dei cavavo porque nao tinha net, nem computador. So agora o capitao do navio libertou os computadores do navio, que passaram a ter acesso gratuito, ate ver. A net e carissima, nos cruzeiros.
Meu caro Ze Belo
Ja encontrei dois passageiros no navio interessados em saber se a guerra da Guine estava, ou nao, militarmente perdida. Expliquei-lhes detalhadamente, com rigor e com todo o cuidado. Tal como muitos camaradas do nosso blogue, nao perceberam nada.
Abraco,
Antonio Graca de Abreu
Ainda bem, António, que passas, tu (e o Constantino), a estar ligado à Net, ao mundo, à Tabanca Grande... De facto, a Net é, inexplicavelmemnte (?), caríssima nos cruzeiros...
A tua esposa e os teus filhos estão bem ?... Que tenhas boas notícias... e vai "aguentando o barco", que nós aqui fazemos o mesmo... No nosso caso, é o "bote"... Luís
PS - Um alfabravo para o Constantino e a esposa, Elisa.
Caro Graça de Abreu
Por momentos julguei ter encontrado no teu comentário algo de “defetista”.
Leitura errada certamente.
Se tal como muitos camaradas do blogue os teus companheiros de infortúnio não perceberam ainda,têm paciência,continua a explicar!
Vale a pena.
Acabarás sentindo-te apoiado por este pensamento do Gigante Oriental de...saudosos tempos:
“Há que lutar e continuar a lutar mesmo que só seja possível a derrota “
Um abraço do J.Belo
Meu caro Ze Belo
Continuas a nao perceber ou a fingir que nao percebes.
Na Guine, tal como em Angola e Mocambique, a guerra estava perdida desde o primeiro dia, politicamente perdida. Jamais o mundo ia entender a utopia do "Portugal uno e indivisivel, do Minho a Timor, muitas racas, uma so nacao". Era o tempo da independencia irreversivel, para o bem e para o mal, dos territorios ate entao colonizados. Salazar e Marcelo tambem nao perceberam, ou "orgulhosamente sos"fingiram que nao estavam a perceber. Dai as nossas vidas e sofrimento, numa guerra politicamente perdida desde o primeiro dia.
Em termos militares, ate 1974, nao ha uma derrota no terreno. Guileje, Guidage, Gademael sao acidentes de precurso. O PAIGC nao conquistou nenhum aquartelamento, Guileje foi abandonado pelo Coutinho e Lima. Em 1974 eramos mais fortes do que o PAIGC, ao contrario do que propaga o grande especialista Mario Beja Santos. Isto nao significa que iamos ganhar aquela guerra, uma guerra de guerrilhas, num territorio como a Guine, jamais pode ser militarmente ganha. Como a situacao nao podia continuar, estavamos em becos sem saida, houve o 25 de Abril, tambem para acabar com as guerras em Africa.
Sera que isto e assim tao dificil de explicar?
Eu ja consegui convencer um dos pacovios aqui do navio. O outro ja entendeu que nao se trata de uma questao de guerra perdida ou guerra ganha. Vai no bom caminho.
Abraco desde o Oceano, Indico, ao lado de Java, Indonesia.
Antonio Graca de Abreu
Vi esta noite na RTP 1, uma bruta batalha num filme inglês já antigo, em que os "soldados da rainha" VICTÓRIA, tiveram uma luta contra os Zulus, da África do Sul, qual guilege, qual Pedraverde, qual Mueda, qual Teixeira Pinto, qual Paiva Couceiro,
acabaram no fim da luta com os capacetes na cabeça, branquinhos, casacos vermelhos limpinhos, e nem ai nem ui!
Gosto de ver estes ingleses a lutar, não discutem, já nos filmes da India tambem não discutem, mas gosto mais de ver, porque eu não estava lá.
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