sábado, 4 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20811: Os nossos seres, saberes e lazeres (384): Uma memorável visita ao mundo albicastrense (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Chama-se uma viagem ratificadora, com vários assomos de saudade.
No segundo ano da licenciatura em História, o professor, D. Fernando de Almeida, incitava os alunos a fazer trabalho de campo, e coube-me duas estadias na Egitânia (Idanha-a-Velha) e o castro eneolítico do Zambujal (Torres Vedras), o que se saldava por limpar e catalogar tíbias e caveiras, fazer fichas de pedras e pedregulhos e apoiar a equipa de arqueólogos nas interpretações estratigráficas, entre outros labores. Assim se chegou a Castelo Branco, que logo tanto impressionou o aprendiz de arqueólogo.
O que hoje assombra é a boa manutenção da cidade, respira-se ali muita qualidade de vida, as iniciativas culturais são muitíssimas e os critérios urbanísticos, salta à vista, são rigorosos e afeitos a uma cidade com muita História.

Um abraço do
Mário


Uma memorável visita ao mundo albicastrense (1)

Beja Santos

São coisas a que cada um está sujeito, pela vontade e pela boda do destino, tem-se uma casinha ali a pouco mais de setenta quilómetros, deambula-se por Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos ou Sertã, às vezes toma-se a A23 para ir a Trancoso visitar um grande amigo, também não é incomum dar um salto até ao Geopark Naturtejo, há quem nos peça para ir ver as Portas de Ródão, e depois damos conta que já soma décadas que não se visita Castelo Branco, de quem se tem as melhores lembranças, alguém atira com o nome da cidade e logo se fala no Paço Episcopal e o seu fabuloso jardim e o não menos atrativo Museu Francisco Tavares Proença Júnior. E à pergunta de que é que o viandante pensa do Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco, obra do catalão Josep Lluis Mateo, em colaboração com o arquiteto português Carlos Rei de Figueiredo, fica-se envergonhado, ainda mais porque se contou a história dos dois meses em que se andou por Egitânia, por força da disciplina de Arqueologia, aqui se fez o obrigatório trabalho de campo. Estava tomada a decisão, passar um dia em Castelo Branco, viagem preparatória para estadia mais prolongada. Foi assim que tudo começou.




Inicia-se a viagem dentro de um Monumento Nacional, o Paço Episcopal e o Jardim do Paço Episcopal. Aqui pontifica uma arquitetura renascentista, barroca e rococó. O jardim é de uma patente originalidade, no seu barroquismo indisfarçável. Dedicado a S. João Baptista, foi encomendado pelo Bispo da Guarda, quem completa o jardim e o Paço Episcopal é D. Vicente Ferrer da Costa, foi Bispo de Castelo Branco. Há quatro sítios dentro deste jardim, todos eles de visita obrigatória: a entrada, o patamar do buxo, o jardim alagado e o plano superior.




Tudo impressiona, os azulejos, a escadaria monumental que conduz ao patim principal, ali estão prantados os dois bispos impulsionadores da construção do jardim, o portal é do século XVIII. Sobe-se para o Jardim do Buxo, quem por ali anda, e o viandante é um puro leigo, olha-se como boi para palácio, falta o fio condutor. A brochura entregue à entrada ajuda a compreender o que se olha sem entender: vinte e quatro talhões, cinco lagos com repuxos, estátuas organizadas por percursos iconográficos, como se o visitante tivesse diante dos olhos um autêntico compêndio material e espiritual do mundo, abrange o ciclo de Zodíaco, as quatro partes do mundo, as quatro estações do ano, as virtudes teologais e as virtudes cardeais. Assim dá gosto andar por ali a cirandar e perceber a lógica do artífice.




Portanto o Jardim do Paço Episcopal estende-se por vários patamares, tem vários lances de escadaria, é no patamar superior do jardim que encontramos Moisés a encimar a cascata que jorra para o tanque grande. Dali também se avista o jardim alagado. Tudo somado e multiplicado, é um prazer para os olhos, desfruta-se de belas panorâmicas, podem-se ver os restos dos panos de muralha do castelo. É também lendo a brochura que se fica a saber que este fabuloso jardim fazia parte de uma vasta e complexa unidade agrária, paisagística e estética. Andamos só pelo jardim, a visita ao paço (hoje o museu mais precioso da Beira Baixa) fica para depois.



(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20784: Os nossos seres, saberes e lazeres (383): Andar por Ceca e Meca e não pelos olivais de Santarém (Mário Beja Santos)

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