Caro Carlos vinhal
Saudações amigas.
Em anexo, envio um pequeno texto. Numa noite de insónia resolvi escrever uns gatafunhos, que espero tenham alguma aceitação. Sempre fui um pouco despassarado o que se compreende pelos cerca de sete anos de interregno.[1]
Atenciosamente
fmorujão
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Caros camaradas
C - cuidado
O - organismo
V - viral
I - isolamento
D - definitivo
A minha intervenção tem a ver com o momento delicado e perigoso que o nosso País e o mundo atravessam. Com a ameaça de um inimigo invisível que investe porta a porta em que a logística consome enormes recursos sem êxitos aparentes.
Este exército, apesar de ser microscópico está apetrechado com biliões de soldados que tudo destroem. Entra de forma inopinada e ninguém dá por nada.
Todos os ex-combatentes com a experiência acumulada sabem que a luta é duplamente nefasta, porque sofremos baixas na nossa juventude e agora confrontamo-nos com as estatísticas que nos dão como alvo preferido.
Para expressar o meu modo de ver este imbróglio, vou usar a quadra:
Tive a tinhosa tinha
E a febre asiática,
A culpa não foi minha
Foi da sala de didática.
Agora estou assustado
Pode ser a minha vez,
Como lá diz o ditado
Não há duas sem três.
Vai andar tudo aos tiros
Com mortes colaterais,
“Raios partam” este vírus
Vai tudo prós hospitais.
Está ficar tudo em brasa
Desta guerra não me livro
Se tenho de ficar em casa,
Afinal, para que é que sirvo?
Apetece-me dizer em latim macarrónico.
ARRIUM PORRIUM, CATANORIUM
Quando das incursões que fizemos pelas matas africanas, éramos instruídos para mantermos as distâncias de segurança e não tocar em nada. É precisamente o que se pede, além de outros cuidados.
Este vírus politicamente incorreto, derrotou em poucos dias, embora de forma transitória mas eficaz, os afetos que o nosso preclaro PR promoveu durante quatro anos.
Dá que pensar!
Contra o vírus dos desafetos:
Quarentena de movimentos
Liberdade de pensamentos
Vamos nessa, o vírus está com pressa.
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Passemos agora à recordação da minha passagem pela Guiné:
Vou mais uma vez usar a quadra, porquê:
A quadra
É a única namorada
Que partilho com prazer,
Porque diz coisas simples
Na sua forma de dizer.
Quando ela me enlaça
Nos seus berços abraça
Todo o meu modo de ser.
O resto da vida passa
Vá-se lá saber!...
Coluna de Aldeia Formosa para Buba
A todos vós que estais
Em amena cavaqueira,
Aos ilustres comensais,
Uma pequena brincadeira.
Sou um pobre reformado
Que navega à deriva,
Quer morra, quer viva
Já me sinto conformado.
Nasci prós lados da serra,
Lugar de muita ilusão.
Fui mandado prá guerra
Para defender a nação.
Embarquei para a Guiné
Com destino a Bissau,
Viajei com muita fé,
Afinal era tudo mau.
Combati na juventude,
Sempre metido no perigo,
Não vi qualquer virtude
Em provocar o inimigo.
Metralhadoras e granadas
Eram os nossos brinquedos.
Havia aldeias queimadas,
Para afugentar nossos medos.
Presenciei vários perigos,
Sendo alguns fatais.
Para nós era um castigo
As minas antipessoais.
Muitas vezes acontecia
Um ficar c'a perna às postas,
O que a gente mais queria
Era levar os pés às costas.
Vi um tórax todo roto
O soldado não sofria
Embora estivesse morto
O coração ainda batia.
Uns diziam palavrões,
Pela má sorte dos seus,
Outros viam razões
Para rezar ao seu Deus.
Tive uma má experiência
Com mortos em combate,
Infligidos pela resistência
Onde é difícil o resgate.
Gente pobre com nobreza
Com escassez de cultura
Que fazem da esperteza
A sua principal armadura.
Fiz colunas para Buba
Por trilhos e bolanha.
Enfrentei muita chuva
Numa terra tão estranha.
Bolanha perto de NHALA
Para quê tanta guerra,
Para perder a colónia
E voltar à minha terra,
Com angústia e insónia.
Vivam agora o presente
Com muita suavidade
E que cada instante,
Seja bela eternidade.
Que a saúde vos acompanhe e a mim nunca me falte.
Abraço
fmorujão
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Notas do editor
[1] - Vd. poste de 13 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7776: Tabanca Grande (267): Fradique Augusto Morujão, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 (Aldeia Formosa, 1969/71)
Último poste da série de 29 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20787: Blogpoesia (668): "Mar encapelado e furioso", "Génios" e "Fragilidade", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
1 comentário:
13 DE FEVEREIRO DE 2011
Camarada MOrujão, saúdo-te na qualidade de fundador deste blogue e de editor, mas também de poeta... Levaste 9 anos a reaparecer na Tabanca Grande... Por tens andado » E onde tens guardados os teus versos ? E as demais fotos, convertidas dos teus "slides" ?
Temos cerca de 20 referências à tua CCAÇ 2615... E mais um membro da Tabanca Grande, o Manuel Amaro,além de ti. Precisamos de mais gente, de mais histórias, mais fotos...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/CCA%C3%87%202615
Um grande abraço. Cuida-te!... O COVID-19 não passará!
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