Fotograma de vídeo da RTP, 1968, "Marco Paulo Anima Tropas na Guiné" (1' 23'') (com devida vénia...) (No vídeo, outro dos artistas que atua neste espetáculo é o cabo-verdiano Bana, então em início de carreira; e na assistência parece-nos também reconhecer o gen Arnaldo Schulz, a bater palmas...)
1. A propósito do popularíssimo Marco Paulo (Mourão, 1945 - Sintra, 2024) que acaba de deixar da Terra da Alegria, depois de uma prolongada, digna e corajosa luta contra o cancro, e que nos seus verdes anos foi nosso camarada na Guiné (*)...
(i) Luís Graça:
A história do Hugo Guerra (*), hoje cor inf DFA reformado, ... é uma delícia!...
Vem um gajo do "inferno de Gandembel" para desopilar em Bissau, e é apanhado "em contramão" pelos sacanas da PM... Quem apanha a seguir com a fúria toda acumulada, é um pobre de um cabo, nos Correios, o peito ao léu, desabotoado, afogueado pelo calor...Mas não é um cabo qualquer, ponto e vírgula, é o Marco Paulo, é já o futuro grande artista Marco Paulo!...
Salvaguardas as devidas proporções (e sem qualquer crítica para ninguém), faz-me lembrar a história dos cães famélicos e vadios da "Cova do Lagarto", vítimas da Op Noite das Facas Longas:
Um bela noite de verão tropical, com milhões de insetos atacar em voo picado os ouvidos dos pobres "tugas", mais a sinfonia lancinante dos vira-latas, que tomavam conta da parada à noite, uivando como verdadeiras alcateias de lobos..., tudo somado fez encher o copo...
Às 3 da manhã, um piquete exterminador, armado de Walthers P38, com balázios de 9 mm, em loucas correrias de jipe, deu cabo de todo o canil da "Cova do Lagarto"... (Este massacre ficou, obviamente omisso, na história do batalhão...).
Toda a gente, a começar pelo comandante, teve um resto de noite descansada, e até com direito a sonhos cor de rosa... Nessa altura, ainda não havia o partido dos animais e da natureza... Nem cão era gente, e muito menos "turra". Mas pior que "turra".
Este é mais "um conto com mural ao fundo"... A verdade é que quando o mar bate na rocha quem se f*de é sempre o mexilhão...
(ii) A a propósito de um militar ficar ou não em Bissau (como acontecia com os artistas, os futebolistas, e outras figuras públicas, mais os "meninos" que tinham cunhas...), bem pergunta o alentejano José Colaço (ex-sold trms, CCAÇ 557, 1963/65), que foi parar com os costados ao inferno do Cachil, no Como:
Salvaguardas as devidas proporções (e sem qualquer crítica para ninguém), faz-me lembrar a história dos cães famélicos e vadios da "Cova do Lagarto", vítimas da Op Noite das Facas Longas:
- o tenente coronel andava com os cabelos em pé com medo de levar um "par de patins" do Spínola;
- pressionava o segundo comandante (um militarista, que nunca se vestia à civil!) e o major de operações a mostrarem serviço;
- estes, por sua vez, obrigavam os desgraçados dos "pretos de 1ª e 2ª classe" a andar no mato a toda a hora do dia e noite;
- o capitão não chiava porque, á beira dos 40 anos, estava na calha para ser promovido a major;
- o "chico" do alferes "ranger", garboso 2º comandante da companhia, com um ego de todo o tamanho, batia-se à cruz de guerra, e estava sempre danado para sair com os seus "rapazes";
- os furriéis, os cabos e o resto da "tropa-macaca" andavam à beira de um ataque de nervos...
Um bela noite de verão tropical, com milhões de insetos atacar em voo picado os ouvidos dos pobres "tugas", mais a sinfonia lancinante dos vira-latas, que tomavam conta da parada à noite, uivando como verdadeiras alcateias de lobos..., tudo somado fez encher o copo...
Às 3 da manhã, um piquete exterminador, armado de Walthers P38, com balázios de 9 mm, em loucas correrias de jipe, deu cabo de todo o canil da "Cova do Lagarto"... (Este massacre ficou, obviamente omisso, na história do batalhão...).
Toda a gente, a começar pelo comandante, teve um resto de noite descansada, e até com direito a sonhos cor de rosa... Nessa altura, ainda não havia o partido dos animais e da natureza... Nem cão era gente, e muito menos "turra". Mas pior que "turra".
Este é mais "um conto com mural ao fundo"... A verdade é que quando o mar bate na rocha quem se f*de é sempre o mexilhão...
(ii) A a propósito de um militar ficar ou não em Bissau (como acontecia com os artistas, os futebolistas, e outras figuras públicas, mais os "meninos" que tinham cunhas...), bem pergunta o alentejano José Colaço (ex-sold trms, CCAÇ 557, 1963/65), que foi parar com os costados ao inferno do Cachil, no Como:
(...) "Sorte ficar em Bissau?!... O Zé Manuel Concha do Duo Concha também teve essa sorte... que se chama "Cunha"... E aí formou um conjunto e animava as noites de Bissau. Como diz o provérbio popular, "Quem não tem padrinhos, morre Mouro"....
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26075: In Memoriam (515): Marco Paulo (1945-2024): "Nosso cabo, não, meu Alferes, sou o Marco Paulo" (.... nome artístico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, ex-1º cabo escriturário, QG/CCFAG, Amura, Bissau, 1967/69)
(**) Último poste da série > 9 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26025: S(C)em Comentários (48): O quarto dos horrores... no "Anexo de Campolide" do HMP (Excerto do livro "Cabra Cega", 2015, de A. Marques Lopes, 1944-2024)
2 comentários:
Zé Colaço, não conhecia esse provérbio popular, alentejano mais do que popular, "Quem não tem padrinhos, morre Mouro"...Os estigmas e os preconceitos contra os mouros, tal como os judeus (para não falar de outras minorias, como os ciganos), ficaram consagrados na nossa língua...Conheço alguns:
Moirama,
Mourejar,
Moura (chouriço de sangue),
Moura encantada,
Mourisco/a (Casta de uva),
Trabalhar que nem um mouro,
Mouro de trabalho,
Quem não poupa seu mouro não poupa seu ouro,
Vinho e mouro não é tesouro,
Em mouro morto grande lançada,
Judeus em Páscoas, mouros em bodas e cristãos em pleitos gastam os seus dinheiros, Em casa do Mouro, nam fales algaravia,
Abaixo do Douro, cuidado com o mouro
Em terra de mouros, cristão é mouro, etc.
mourão/mourões = estacas para baixar ou erguer as videiras.
Valdemar Queiroz
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