domingo, 7 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4477: FAP (29): Encontros imprevistos (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)


Carlos, Luís,

Aqui vai mais um texto ligeirinho para o blogue, como eu gosto de fazer.

Um deste dias, com mais tempo, tentarei explicar porque é que raramente aparecem textos detalhados das missões efectuadas pelo pessoal da Força Aérea, mas isso fica para outra vez.

Abraço,

Miguel Pessoa



ENCONTROS IMPREVISTOS


Texto e desenho de Miguel Pessoa


Numa guerra que se pautou muitas vezes por actos bélicos de grande intensidade nos confrontos que opuseram as nossas tropas aos elementos do PAIGC, testemunhados nos relatos publicados neste blog, parecia estranha a existência em alguns locais da Guiné de um ambiente de "paz podre" ou, talvez melhor, "paz consentida", em que os dois beligerantes pareciam travar os seus instintos guerreiros, antes permitindo aos que ali viviam uma existência relativamente pacífica, em que a guerra parecia por vezes passar ao lado.

A Força Aérea habituou-se a evitar ataques em zonas consideradas tabus (por exemplo, o Como), não sendo mesmo autorizadas acções contra essas zonas.

Do lado contrário, podemos incluir a capital da província, Bissau, em que, salvo um ou outro caso, se vivia um ambiente de uma certa tranquilidade e serenidade, que contrastava com a atmosfera tensa e inquieta existente na maioria dos nossos aquartelamentos, e com o risco que representavam as deslocações entre eles.

Essa calma podia ser transportada até à Base Aérea nº12, em Bissalanca, que nos dois últimos anos da nossa presença no território nunca sofreu qualquer ataque, bem como ao percurso entre a Base e a cidade, que se considerava relativamente seguro.

Nunca consegui perceber como, num conflito que vivia essencialmente de emboscadas e ataques imprevistos às nossas forças, nunca se lembrou o IN de atacar a carrinha VW (vulgo TP9) que diariamente transportava as tripulações (pilotos e enfermeiras pára-quedistas) entre a Base e Bissau.

Assim, era regra ver a carrinha chegar à BA12, vinda de Bissau, pelas 06H00, transportando o pessoal de alerta, regressando a Bissau e entrando novamente na Base às 08H00 com os tripulantes que iniciavam a actividade normal.

À tarde, pelas 18H00, repetia-se a rotina da manhã com transporte dos tripulantes que moravam em Bissau, podendo a carrinha fazer ainda mais um transporte do pessoal que, por motivos de serviço, chegava mais tarde das suas missões.

Com a facilidade em escolher o timing certo, torna-se claro que havia grandes possibilidades de êxito de uma acção do IN contra esse transporte: uma simples bazucada poderia diminuir num repente a operacionalidade da Força Aérea no território em 15 ou 20% da sua capacidade, acrescido dos efeitos psicológicos negativos que daí adviriam.
O facto é que essa hipótese nunca se concretizou, embora às vezes comentássemos essa possibilidade.

Um dia em que uma evacuação se prolongou até mais tarde, houve necessidade de se efectuar um transporte extra da enfermeira envolvida nessa missão.

Passado um tempo razoável, começou a haver alguma preocupação sobre o que teria acontecido ao transporte, pois nem a enfermeira Giselda tinha chegado a Bissau, nem o condutor tinha regressado ainda com a carrinha à Base. Temeu-se que tivesse havido um acidente ou uma acção do IN contra a carrinha, mas logo o ambiente se desanuviou com a chegada do condutor e da enfermeira, transportando uma jibóia de bom porte, garantidamente morta, dado o estado em que apresentava a cabeça.

Esclarecida a situação, soube-se que no percurso para Bissau, ainda relativamente próximo da Base, o condutor tinha deparado com uma jibóia bem constituída que atravessava pachorrentamente a estrada por onde seguiam. Travou para evitar o obstáculo mas acabou por passar por cima dela, o que foi bem visível nos ressaltos dentro do carro...


Decidiu então o condutor manobrar a carrinha de modo a colocar o rodado em cima da jibóia, prendendo-lhe os movimentos e evitando que ela tentasse um ataque contra eles. Sendo um tipo decidido, saiu do carro e, como o animal se contorcesse para se libertar, sacando da chave de cruzeta das rodas desfechou-lhe uns golpes na cabeça, no que foi ajudado pela enfermeira, tão decidida como ele, entretanto munida de uma barra de desmontar os pneus, empenhando-se os dois em acabar com o sofrimento do animal.

Foi então que regressaram à Base, onde deixaram a cobra a cargo do Oficial de Dia às Operações, tendo finalmente demandado Bissau para ali deixar a enfermeira em casa.

Não sei se no relatório do Oficial de Dia constou algo sobre esse incidente envolvendo a jibóia, mas soou-me que algum dos presentes na unidade lhe aproveitou a pele ("sopraram-me" que tinha sido o Oficial de Dia...).

A carrinha continuou a circular até ao fim do conflito, transportando os tripulantes sem mais encontros imprevistos. Quanto à jibóia, provavelmente poderá andar a circular ainda por aí, nos sapatos ou mala de alguém... 

Miguel Pessoa
___________

Nota de M.R.:

19 comentários:

Luís Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís Graça disse...

Querida Giselda:


Não te conhecia essa faceta, de reptilcida... Deixa-me dizer-e, não como editor (que não tem que comentar nada, deve ser equidistante, neutro, asséptico...) mas como indivíduo, com direito a a emitir a sua opinião, que isso que fizeram ao bichinho, com requintes de malvadez, não foi nada 'ecologicamente correcto'...

O bichinho era uma criatura de Deus e, pelo que se percebe do texto do Miguel, não estava decididamente ao serviço do inimigo...

O único azar do bicho foi atravessar a estrada, poeirenta, àquela hora e dia... sem polícia sinaleiro, sem sinis de trânsito, sem sequer um velhinho, simpático, como aqueles que a gente vê nas ruas das nossas cidades, com colete de segurança, amarelo fosforescente, a mandar parar o trânsito, na passadeira de peões, junto a escolas e centros de saúde, verdadeiros heróis, refomados, voluntários, cívicos, corajosos, em vez dos nossos não menos valentes polícias que a essas hora já andam embrenhados na selva, dando o coiro ao manifesto, em perigosos operações contra os ladrões e malfeitores que nos dão cabo da nossa tranquilidade e qualidade de vida...

Confesso que, com este episódio, baixou um ponto a minha incondicional admiração pelos bravos bissalanquenses...

Colaço disse...

Miguel Pessoa disse. Zonas consideradas "tabus" (por exemplo, o Como),não sendo mesmo autorizadas acções contra essas zonas.
O Miguel com esta frase responde á minha interrogação pessoal e que também fiz para o blogue no comentário ao P4047,porque razão após a gorada ida á mata do Cassaca em Abril de 1964 não mais o comandante operacional da Guiné na altura o brigadeiro Fernando Louro e a partir de Maio o comandante chefe brigadeiro Arnaldo schultz, parece que esqueceram aquela zona!
Miguel será possível dares mais algumas dicas das "negociatas" sobre o Como?
Cumprimentos Colaço.

Miguel disse...

Luís
Com esta tua intervenção, a Giselda meteu advogado de defesa. E cá estou eu... Num mundo em que ainda hoje se deixa esfolar animais vivos para lhes aproveitar a pele, apesar do salto ecológico verificado, o ecologicamente correcto que sugeres para há 35 anos atrás parece-me um pouco forçado, principalmente numa estrada deserta de África, no lusco-fusco e com aquele animal tamanhão a agitar-se à frente do pessoal. Decididamente, naquele caso o ecologicamente correcto era mesmo evitar ser apanhado por aquela besta... Parece-me aliás um nítido caso de legítima defesa... AB. Miguel Pessoa

Miguel disse...

Caro Colaço
Lamento não poder esclarecer-te sobre o Como. Apenas sei que era uma decisão anterior à minha chegada e que não estava prevista a execução de bombardeamentos naquela zona. Naturalmente não eram dadas aos júniores justificações precisas das decisões tomadas pelas altas patentes. Nem qui foras tenente...
Abraço. Miguel Pessoa

Hélder Valério disse...

Pois é! Então não escrevi eu que a guerra se travava em muitas frentes e de muitas maneiras? Quem sabe se a matreira de jiboia não estaria ali mesmo para dificultar as manobras do nosso pessoal? Agora, quanto ao modo como lhe acabaram o sofrimento, deveria ser objecto de elogio essa preocupação humanitária e não tanto de reprimenda...
Cumprimentos
Hélder S.

Luís Graça disse...

Caros amigos:

Não sou um especialista em fauna, muito menos em répteis, e muito ... Mas tenho uma dúvida : Havia jiboias na Guiné ? Sempre achei que a jiboia era um animal do Novo Mundo (Américas)... Nome científico: "Boa constrictor"...

Vejam o que diz a Wikipedia (em inglês):

"Boa constrictor is a large, heavy-bodied species of snake. It is a member of the Boinae family found in Central America, South America and some islands in the Caribbean. A staple of private collections and public displays, its color pattern is highly variable yet distinctive. Ten subspecies are currently recognized, although some of these are controversial.[2] This article focuses on the species Boa constrictor as a whole, but also specifically on the nominate subspecies Boa constrictor constrictor". (...)

http://en.wikipedia.org/wiki/Boa_constrictor

Vd. também em português:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jiboia-constritora

Miguel disse...

Caro Luís
O bom deste blogue é que, para além de irmos partilhando as nossas memórias, vamos tendo ocasião de ir adquirindo informação sobre os mais diversos assuntos. A tua dúvida sobre a existência ou não de jibóias na Guiné levou-me a procurar esclarecimento no Google; teclei Guiné-Bissau Fauna e logo me apareceu à cabeça este site, www.icn.pt/envolvimento_internacional/cufada/fauna.htm
Sobre os répteis, ali se refere que "Sem dúvida existirão também no Parque a jibóia (Pyton sebae) e Naja melanoleuca, apesar de as populações aí residentes exercerem pressão sobre os grandes ofídeos."
Também num panfleto dos anos 70 publicado pela Agência Geral do Ultramar, se refere, relativamente à fauna, a existência de "répteis temíveis, como serpente surucucu e cuspideira".
Devo dizer que o meu conhecimento de histórias de jibóias não se limita a esta. Houve um reporte de outra jibóia na mesma estrada, feito por um transporte da BA12, de que não sei pormenores, mas pelo ar lampeiro que levava o bicho, ainda não devia ter jantado...
O 3º reporte é mesmo meu, em pleno Guileje, em Dezembro de 1995. Quando se preparavam as filmagens dum documentário sobre a retirada do Guileje, a equipa de produção teve o o cuidado de mandar descapinar toda a zona de modo a se poder circular à-vontade e melhor observar os restos ainda existentes no local. Durante uma passeata descontraída dei de caras com uma jibóia, mas rapidamente constatei que estava "clinicamente morta" há vários dias. Informaram-me então que tinha sido a equipa de limpeza que tinha encontrado o bicho e que, mesmo sem chave de cruzetas, lhe passaram logo ali o atestado de óbito...
Abraço Miguel Pessoa

Luís Graça disse...

Há uma diferença (até no comprimento) entre a jibóia (nome científico, 'Boa constrictor') e a pitão, jibóia africana ou 'irã cego' (na Guiné-Bissau) (nome científico, 'Python sebae')...

Esta última, sim, é a maior cobra da África subsahariana. Quando adulta, pode atingir os 6 metros e ultrapassar os 100 quilços de peso... Habita a floresta-galeria, as matas e só ocasionalmente a savana.

A sua dieta é constituída por aves, pequenos roedores e ainda mamíferos de média dimensão. Pode viver trinta anos e não está em risco de desaparecer.

Já a jibóia p.d. (que está no nosso imaginário, pela pomada jibóia e não só...) é centro e sulamericana.

"Boa constrictor" deve o seu nome à forma como mata as suas vítimas, por constrição, sufocando a presa, técnica usada pelas cobras não venenosas.

Contrariamente a muitos mitos populares, é pacífica e fugidia, evita sempre o contacto com animais de grande porte, incluindo o homem...

Em média anda nos três metros...É sobretudo caçadora nocturna, alimentando-se de roedores e aves...

Vd. sítio Bicharada
http://bicharada.net/animais/animais.php?gid=6

Amigos e camaradas: gostava que nso contassem mais histórias de encontros e desencontros com réptéis da Guiné, em geral, e cobras, muito em particular...

António Matos disse...

Sempre disse mal da minha vida no que ao ex-ultramar português dizia respeito, muito concretamente à Guiné.
E isto porque desde logo me passaram o atestado de óbito aquando da mobilização ( eh pá vais para a Guiné ? Tiveste azar ! ); depois porque passei 2 anos enfiado num sítio onde, nas horas de serviço, estava rodeado de capim, de bolanhas, de mosquitos ou à pancada ; fora das horas de serviço ou me metia debaixo dum mosqueteiro a dizimá-los um a um ou lá ia lendo uns livros ; finalmente, mas não menos importante, porque até a cidade onde me deslocava por vezes, a coberto de uma consulta externa, não tinha qualquer laivo de interesse capaz de me despreocupar durante as horas que lá passasse.
O tempo era gasto na "5ª repartição" entre dois dedos de conversa pontual ou na apreciação sempre gulosa de verdadeiras misses fossem pretas, mulatas, cabritas ou brancas !
Eram, de facto, todas dignas de se lhes tirar o chapéu ! Porque seria ?
Mas voltando à desgraça de ter ido cair à Guiné, lembro-me que, porque estava em África, teria imaginado fortuitos encontros com elefantes, pacaças, serpentes, leões, etc.
Mas qual quê, o pior, o mais sanguinário, o mais ordinário, a mais temível fera que me foi dado encontrar, foi o mosquito !
Perante as confissões de ignorância do Luís e do Miguel, junto a minha, não sem que não refira uma luta que travei com uma cobrita algures quando me encontrava encavalitado no passadiço suspenso a uns 2 metros de altura de uma construção moderníssima no meu destacamento de Augusto Barros e pomposamente chamada de latrina.
Recordo que a posição que se assumia naquela assoalhada permitia uma visão em grande angular do recinto lá em baixo todo ele repleto de "flores de cheiro", e outros despojos.
Pois numa dessas ocasiões, e absorto de qualquer pensamento bélico, começo a reparar num movimento lento mas decidido, que restolhava por entre toda aquela javardice. Mantive-me atento do meu ponto de observação e reparei que era uma cobra.
Sentindo-se, talvez, alvo de atenção, parou.
Foi a altura própria para a tentar atingir entre os olhos com um bombardeamento digno desse nome.
Qual avião que se preparasse para lançar umas cargas de Napalm, também aquela desgraçada cobra foi trucidada por um verdadeiro e repugnante bombardeamento de precisão milimétrica.
Nunca mais fui para a latrina sem G3 e até cheguei a pensar em levar uma HK21 e uma fita de munições mas o tripé não deixava espaço para outras manobras e desisti.
António Matos

Santos Oliveira disse...

Luis e Miguel Pessoa
Temos um encontro, talvez mais imediato, com um destes "bichos". O Luis deve ter a foto (que vos vou remeter, por Mail) que não foi publicada na série "o Álbum fotográfico", mas cuja história é comum com o Mário Fitas, em Cufar. Um dia, será contada por um de nós, ou talvez por ambos. Afinal, ele ( com outros) e o Bicho, deram a cara para a foto. Por mim, ainda sinto pele de galinha apenas por lhe haver tocado.
Mas que foi um manjar dos deuses para o Pelotão Nativo, lá isso foi.
Abraços
Santos Oliveira

Luís Graça disse...

Camaradas: Temos aqui material para alimentar mais uns postes... Que tal retomar a série Fauna & Flora ?... Fartámo-nos de escrever sobre os babuínos, por que não falar de cobras & lagartos ?

Vou publicar uma pequena história sobre o "irã-cego", o nome crioulo para as grandes serpentes africanas, das quais a maior é pitão (uma espécie diferente da jibóia)... Pode ser que apareça alguém especialista em répteis... Eu tenho algumas histórias...

Na brncadeira com a Giselda e o Miguel até inventei um termo novo, que não vem no dicionário: reptilcídio...

Tenho aqui três fotos com cobras de grande porte, apanhadas na Guiné, no nosso tempo. Duas são do Mário Fitas (Cufar, 1965/67), outra do Paulo Raposo (Mansoa, 1968)...

Joaquim Mexia Alves disse...

Meus caros camarigos

Se há jibóias ou não na Guiné, não vou eu afirmar, mas que no Mato Cão comi um bife de facochero, frito em banha de uma dita cuja, que para mim era em tudo uma jibóia, no tamanho a na "pelagem", disso não tenho eu dúvidas.

Julgo até que num qualquer post meu sobre o Mato Cão, já publicado está referenciado esse "manjar dos deuses"!

Abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

Camaradas
É verdade que enciclopédias e o dicionário Porto-Editora da língua portuguesa, revelam que a jibóia é bicho sul-americano.
No entanto, a colecção Vida Selvagem, da Reader's Digest refere sobre a jibóia: "hoje, a família das jibóias engloba os pitonídeos (oviparos), que, à excepção de uma espécie, vivem nas regiões tropicais do velho mundo, e as jibóias (vivíparos) - como a anaconda e a jibóia - que são sobretudo americanos e africanos. A estas últimas juntam-se as que pertencem ao género Erix".
E noutra passagem:" De facto, as jibóias, cuja origem remonta a uma época anterior à separação dos continentes, não são realmente perigosas..."
Trata-se pois duma jibóia, corme, aliás, o Miguel confirmou.
É a primeira vez que tenho notícia de uma no CTIG. Mas, em Angola, era frequente encontrar jibóias a decorar a grelha de camions que circulavam pelo interior, que as liquidavam por atropelamento. Dessa maneira , também matei duas surucucus, cobras de mais ou menos um metro, e de mordedura fatal. Foi por esta razão que as liquidei. Na época ainda não havia preocupações ambientais, e nós defendíamo-nos primariamente.
Recentemente tirei, na África do Sul, um curso de ranger, numa reserva de 9000 hectáres. Não vi qualquer jibóia, mas uma cobra de cerca de 1,5 mts, da espessura de um punho, estava alojada no tronco de uma árvore, junto à tenda de um colega. Não houve qualquer azar. Aliás, o acampamento era aberto, e uma noite, quando estava a adormecer, uma restolhada grande, mostrou-me um rino a pastar junto da tenda. Felizmente não saí esparvoado para o fotografar, pois assustando-o, poderia causar um reboliço grave. As hienas eram visitas frequentes e, de uma vez. a Glória, nossa cozinheira, com dois berros pôs uma a andar da cozinha.
Há lugar para todos, o importante é sabermos adoptar um bom comportamento, e evitar perigos desnecessários.
A jibóia, não sendo perigosa, mata por estrangulamento, como refere o Luis, mas se se sentir ameaçada pelo homem, pode derrubá-lo com uma estalada de meio corpo(a outra metade serve de base de apoio) que, normalmente, o inutiliza por lhe partir a coluna, e só depois o estrangula.
Abraços
JD

Anónimo disse...

No comentário anterior , onde se lê "esparvoado", deve ler-se espavorido. Obrigado.
JD

Anónimo disse...

Anónimo disse...
Tem razao o Luis Graca. O familiar mais proximo da giboia sul americana, na Guine e o "Iran Cego". De crianca,sempre ouvi dizer que o unico "Ser" que esse tal de "Iran Cego" de facto temia. imaginem: eram as formigas...( qual que: formiguinhas). Aquelas tipicas da Guine, conhecidas pela sincronizacao das dolorosas "dentadas" a acrobatica posicao de "pino". Melhor aquelas que "mordem" a vitima, de pernas pro ar ! Curioso, nee ! Mas existe uma explicacao logica ! E que engolida uma ave,um reptil ou ate um cabrito ( a lenda fala de bois), o "bicharoco" necessita de algumas espacosas horas para a digestao da presa...tanta e a languidez ... E pois nesses momentos, que o bicho, ele mesmo torna-se presa facil das formigas. Alias,nao e por acaso que na Guine, em tudo que seja , terreno por excelencia de pastagens, por perto existe sempre um "morro de baga baga"...nao va pois o "Iran Cego" tecer das suas !

Ainda relativamente a esse "bicharoco", baptizado de "Iran Cego", por conseguinte, a luz de algumas crencas e crendices, nossas ( guineenses), um animal outrora venerado, senao temido, Amilcar Cabral faz referencia em alguns dos seus escritos, as dificuldades enfrentadas no inicio da guerrilha,no aliciamento de alguns guerrilheiros para operacoes, que tivessem por cenario...qualquer mata cerrada, tida por santuario dos "Iran Cego". Cabral mobiliza esse exemplo, para exemplificar o quanto o "obscurantismo", poderia em certa medida comprometer o avanco da guerrilha nas matas da Guine.

Nelson Herbert
USA

Anónimo disse...

" Essa calma podia ser transportada até à Base Aérea nº12, em Bissalanca, que nos dois últimos anos da nossa presença no território nunca sofreu qualquer ataque, bem como ao percurso entre a Base e a cidade, que se considerava relativamente seguro."

" Nunca consegui perceber como, num conflito que vivia essencialmente de emboscadas e ataques imprevistos às nossas forças, nunca se lembrou o IN de atacar a carrinha VW (vulgo TP9) que diariamente transportava as tripulações (pilotos e enfermeiras pára-quedistas) entre a Base e Bissau."

Estas duas passagens do artigo do Miguel Pessoa avivaram -me a memoria um episodio, envolvendo uma dessas camionetas da Forca Area.

A carrinha VW (vulgo TP9)a que se refere era a mesma- ou seja o camionete ou autocarro azul-navy que tambem transportava diariamente o pessoal da Forca Area, para as sessoes de cinema e nao so, na Base de Bissalanca?

Um autocarro azul,que tinha por habito ficar estacionado junto a messe dos sargentos da Forca Area, na Rua Engenheiro Sa Carneiro ( a rua do servicos metereologicos)?

A razao desta minha questao,deve-se ao seguinte: se nao me falha a memoria, foi pois entre 73/74, que um desses autocarros "escapou", diria "ileso" a explosao de uma bomba-relogio, colocada a escassos 10 metros da minha residencia,onde habitualmente permanecia varias horas estacionado, a espera da hora de recolha dos habituais passageiros para a Base de Bissalanca.

Um explosivo colocado na altura junto a uma residencia,mesmo defronte a messe dos sargentos, cujo murro frontal de um pouco mais de 1 metro de altura, servia de ponto de recolha dos "cinefilos" para Bissalanca.

Recordo-me da explosao que testemunhei a distancia e que na altura fora atribuida as celulas clandestinas do PAIGC, em Bissau !

Inesperadamente alterada a rotina nessa noite...a camioneta zarpara uns 15 minutos antes do local, deixando desguarnecido o improvisado e habitual ponto de encontro, feito "Bus Stop" .

Porventura, recorda-se desse episodio ?

Mantenhas

Nelson Herbert
USA

Miguel disse...

Curiosamente no caderno nº15 d'"Os anos da Guerra Colonial", recentemente saído, é referido o episódio de um ataque a um autocarro da FA com um engenho explosivo, a que se seguiu, uma semana depois, um rebentamento num café da cidade. Não me recordo de terem sido reportadas vítimas nestes incidentes. Duma coisa estou certo: a viatura envolvida no 1º incidente era o que normalmente se designava TP40 ou TP50 (40 ou 50 lugares), que fazia também os transportes regulares diários entre a Base e Bissa, bem maior que a usada no transporte das tripulações (a velha VW Transporter de 9 lugares, com porta deslizante). O autocarro estava nessa altura envolvido no trsnsporte de pessoal para o cinema e por uma questão de sorte evitou o pior afastando-se antes do rebentamento. Enfim, é um assunto que procurarei aprofundar junto do pessoal Especialista da Força Aérea. Mas isso ainda poderá demorar um tempo. O que me baralha na verdade, Nelson, é que eu estava convencido que o que estava a ser feito naquela noite era o transporte do pessoal que morava em Bissau para o cinema da Base, com posterior regresso à cidade. Quem conheceu os dois cinemas acredita nesta versão pois o UDIB não tinha as condições do cinema da BA12. Eu, na verdade fui ao UDIB uma única vez - fui porque só se deve dizer mal do que já se experimentou e também porque corria lá o "Trinitá", filme que eu não tinha tido oportunidade de ver em Lisboa - e que na época estava na berra.
Miguel Pessoa

Anónimo disse...

O Cafe/Pensao/Restaurante alvejado foi o Ronda...situado a meio da avenida que liga o palacio do governador ao Cais de Pindjiguiti ( e nao e que me escapa agora o entao nome daquela avenida...hoje Amilcar Cabral) ...Uma terceira bomba explodiu no parque de estacionamento do cinema UDIB, tambem na mesma avenida...alvejando, se nao me falha a memoria, o veiculo do entao "inspector da PIDE em Bissau...A explosao da pensao Ronda, essa, recordo-me ter provocado algumas vitimas entre soldados portugueses que a frequentavam...e djilas-os tais comerciantes ambulantes vendedores de relogios, pulseiras e bugigangas...

Quanto ao autocarro da Forca Aerea era precisamente o de transporte de pessoal, para o cinema da Base Aerea. Deixava religiosamente a Messe dos Sargentos-na minha rua de infancia as 7 da noite, ainda a tempo da sessao de cinema das 21.30, na Base Aerea.E no dia da explosao..tinha saido mais cedo !


Nelson Herbert