sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

Guiné > Região de Tombali (Catió) > Cufar > Rio Cumbijã >1973 > Foto que documenta as brutais consequências do accionamento de uma mina, colocads pela guerrilha do PAIGC junto ao cais acostável de Cufar, onde havia um destacamento do PINT (Pelotão de Intendência) 9288 ... A mina, escondida no lodo, foi accionada por um barco, ao atracar ao cais. O barco, que levava carga da Intendência, pegou fogo e ficou destruído... Terão morrido quase duas dezenas de africanos. Este episódio também é descrito no libro do nosso camarada António Graça de Abreu, Guiário da Guiné: Sangue, Lama e Água Pura (2007). Na altura ele estava em Cufar, como Alf Mil, no CAOP1.

Às vezes esquecemo-nos destes valorosos camaradas da Intendência que também corriam riscos de vida nos seus destacamentos e nas viagens que faziam pelas rios e braços de mar da Guiné, ou acompanhando as colunas logísticas por terra... O 1º Cabo Enf António Baia, amigo do Fernando Franco, ambos membros da nossa Tabanca Grande, pertencia a este PINT e assistiu a esta tragédia (aliás, dupla, por que uma outra mina destruiu, no mesmo dia, um viatura militar e matou malta nossa).

O Fernando Franco, em Bissau, fez Guarda de Honra, até ao Hospital, ao cortejo fúnebre com os restos mortais dos dois soldados do PINT que morreram na explosão da mina anticarro.

Foto: © Fernando Franco (2006). Direitos reservados.


Telefonou-me o ex-Fur Mil Daniel Vieira, que fez parte da Companhia Terminal, sediada em Bissau, mais exactamente na antiga Fábrica da Cana de Açúcar, por detrás do Cemitério, em instalações que outrora terão pertencido à Casa Gouveia. Lembram-se ?

Eu nunca ouvira falar desta Companhia Terminal, cuja missão era fazer os reabastecimentos das unidades espalhadas pelo TO da Guiné, por ar, terra, rio e mar… Iam a todo lado, de Buba a Bambadinca...

Pois bem, pelo que o Daniel Vieira me contou ao telefone, e que eu aqui reproduzo, ele chegou à Guiné, em rendição individual, em Março de 1973 e foi um dos últimos militares a abandonar o território, em Outubro de 1974.

Pelo meio, aí por volta de 12 ou 13 de Março de 1974, foi ferido no Rio Geba, por ocasião de um ataque do PAIGC, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca, a um batelão carregado com 24 toneladas de munições. Morreu um cabo da Companhia Terminal, para além de 13 ou 14 africanos (civis ou militares, não faço ideia). Ele depois poderá contar mais pormenores: não sei se o batelão foi ao fundo, se houve explosões em cadeia, etc.


O Daniel Vieira (Fur Mil Vieira, como era conhecido) esteve três dias no HM241, em Bissau, e, depois da convalescença, terá sido colocado no aeroporto de Bissalanca.

Ele procurou-me por que nunca mais teve notícias dos seus camaradas da Companhia Terrminal. E anda à procura de pistas que o levem a reencontrar a malta dessa unidade, que não pertencia ao BIG – Batalhão de Intendência Geral (*) e que, estranhamente, não tinha número. Diz-me ele que era uma espécie de companhia ad hoc, formada nessa altura (1973), em Bissau, com malta de rendição individual…

Ele próprio era atirador de infantaria, tendo passado pelas Caldas da Rainha, Tavira e Castelo Branco (tal como eu...). Lembra-se que o comandante da Companhia Terminal era um capitão do quadro permanente, já entradote na idade, com os seus 50 e tal anos, natural da região de Viseu. Muitos anos depois do 25 de Abril, quando o tentou localizar, já tinha morrido.

Dos seus camaradas furriéis milicianos lembra-se do Barradas, que era alentejano, do Vilaça, que morava em Cascais, e do Mestre, que seria de Sacavém ou de Alhandra (já não pode precisar bem). Dos Alf Mil lembra-se do Tenrinho e do Morais. Do 1º cabo que morreu do Geba, tem o nome, em documentos que não tinha ali à mão.

Nunca mais encontrou esta malta, para grande desgosto seu… E gostaria ainda de ter essa alegria. Costuma ir aos almoços-convívios dos Antigos Combatentes da Guiné, que se realizam todos os anos a 5 de Outubro, e que são organizados pelo Isaías Peralta. A última edição, o 26º almoço-convívio, em 2007, foi em Viseu. E o próximo será em Pombal. Mas até à data ainda não conseguiu localizar ninguém da sua Companhia Terminal.

É por essa razão que se dirigiu ao nosso blogue. Foi a filha, psicóloga, que lhe falou em nós. E da possibilidade de, através da Internet, obter pistas sobre os seus antigos camaradas. O filho, por sua vez, que está a tirar um curso de informática, ajudou-o a fazer pesquisas no nosso blogue. E daí o contacto, telefónico, que estava a efectuar.

Ficou entusiasmado com o conteúdo do nosso blogue e a nossa vasta rede de contactos. Pediu-me se o ajudava. Naturalmente, respondi-lhe que sim: é essa a nossa missão (e vocação). Convidei-o a integrar a nossa Tabanca Grande. Aguardo o envio de algumas fotos digitalizadas, em formato jpg, que me vai enviar através do filho.

Entretanto, aqui vai o resto da sua história. Tendo sido ferido em serviço, em combate, no ataque acima referido, no Geba Estreito, acabou por lutar pelo seu direito à reintegração nas Forças Armadas. Há seis anos (se percebi bem…) foi reintegrado, no Exército, como 1º sargento. Passou os últimos quatros anos nos serviços de saúde militar, aqui em Lisboa, Campolide. É amigo do nosso camarada Manuel Rebocho, com que fez o curso para a Sargento-Mor. Está entretanto reformado como Sargento-Mor, DFA.

O Daniel Vieira, novo membro da nossa Tabanca Grande, vive em Porto de Mós, distrito de Leiria, e autorizou-me a divulgar os seus contactos: Telefone > 244 402 876 ; Telemóvel > 65 274 287.

Se alguém tiver alguma informação sobre a Companhia Terminal (Bissau, 1973/74), entre em contacto com o Daniel Vieira ou com os editores do blogue. Um por todos e todos por um, como no nosso tempo de Guiné.

Luís Graça, editor

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Nota de L.G.:

(*) Sobre o BIG, representado na nossa Tabamca Grande pelo Fernando Franco e pelo António Bais (cito de cor...), vd. os postes de:

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2462: Convívios (38): Minitertúlia da Intendência / Administração Militar, Belém, Lisboa, 18 de Janeiro de 2008 (Fernando Franco)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1284: A Intendência também foi à guerra (Fernando Franco / António Baia)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1283: Os nossos intendentes, os homens da bianda (Fernando Franco / António Baia)

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1195: Ameira: O nosso encontro fez-me bem à alma (Fernando Franco)

Guiné > Bissau > Batalhão de Intendência Geral (BIG) > 1974 > O Fernando Franco, 1º cabo Caixeiro. Esteve em Bissau entre 1973 e 1974 numa CIAG (Companhia de Intendência de Apoio Directo). É muito provável que conhecesse a Companhia Terminal e o nosso Daniel Vieira.

Também temos outro camarada, o Diamantino Figueira, que pertenceu ao BIG, Bissau, 1971/73. Telefone de contacto: 214752070 (restaurante, na região de Cascais).

Foto: © Fernando Franco (2006)

Vd. último poste da série de 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3182: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) Parte II (José Martins)

1 comentário:

Isabel disse...

O meu pai era o comandante Luís dos Santos Figueiredo. Brinquei muito nessa companhia. Lembro-me do enfermeiro, conhecido por Pastilhas. Tenho algumas fotografias e não me importo de partilhar! Cumprimentos