1. Mensagem do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]
Data: 15 de novembro de 2016 às 00:14
Assunto: ÚLTIMAS... MAS POUCAS
Camaradas
Estou sem computador. Caiu água na minha secretária e fiquei sem computador. Só na casa do meu filho tive acesso ao Blogue.
Estranho ter enviado mensagens para o Luís e Carlos e não me terem respondido.
Estou numa fase confusa da minha vida. Não perco batalhas. Naquelas em que me envolvi saí sempre vencedor.
Verdade que nada tirei de partido. Desde estudante; fundador de um jornal estudantil; crítico de cinema; Ajudante de padeiro (com carteira profissional) - meu pai depois de trabalhar para patrões com a profissão de padeiro, saiu-lhe a Sorte Grande e tornou-se Industrial de Panificação; fui para o Serviço Militar OBRIGATÓRIO - nunca fui voluntário. Era contrário a essa guerra, podia dizer que era padeiro mas não o fiz, essa não era a minha profissão.
Fui um vagabundo na Recruta, Especialidades - mas essas guerras, por serem guerras perdi-as todas. O pior foi saber dos milhares de jovens que morreram e ficaram deficientes. Morreram muitos amigos. Todos os militares merecem a minha consideração.
Na guerra perdida fui um bom militar. Não fui medalhado, também por não querer. Salvei de morte certa o Capitão e Alferes, entre outros e outras. Fui professor de adultos; construtor civil entre aqueles atributos. Comandei 90 militares africanos (Praças "U" e Caçadores Nativos). Tive 4 comandantes de pelotão, no meio de tudo comandei eu.
E as minas. Dos 4 especialistas, morrem numa granada armadilhada o maue amgo, furriel miliciano Vitor José Correia Pestana e o soldado Costa.
Outro Amigo de MA [Minas e Armadilhas], António Magalhães Maia cia num aramadilha e fica ferido e o alferes milicianp Sousa Teles apanha tamanho susto que nunca mais pega em MA. Resto eu...
Safei-me e regresso diferente. Tanta merda fiz. Cumpri sempre. Nunca enganei ninguém. Baldar-me. Paludismo e vezes e foi o amigp furriel miliciano Durães que me safou. Estava dispensado, mas não houve saídas para Operações.
Regressei e fui um bom Profissional - Lapidador de Diamantes. Passaram pela DIALAP 1000 e muitos, talvez mais perto dos 2000 trabalhadores, alguns pouco tempo. Juntos mais de 600. Fui sindicalista; estive numa greve em janeiro de 1974 como delegado de sector. Eleito no pós 25 de
Abril, delegado de sector e entre os delegados fui dos 3 executivos da Comissão de Reestruturação.
Fui Cooperativista, estando na origem da COOP LISBOA (acho que ainda existem uns restos). Andei metido no 25 de Abril até às raízes dos cabelos. Era outra história.
Fiquei até à última meia centena de Trabalhadores da DIALAP. Gostaria de saber de quem é o Património da DIALAP - onde se encontram a RTP e RDP.
Fui Autarca. Fundador e membro da Comissão de Moradores do Campo Grande. Ocupei o Asilo D. Pedro V. Foram lá colocados umas 50 pessoas sem posses.
Despedido aos 53 anos. Fundador e Dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra. Foram 11 anos. Fui uns meses vogal da Direcção Nacional, substituí o secretário. 4 anos vice-presidente e 6 presidente e responsável por toda a Legislação. Destaco o trabalho do 1º Presidente da APOIAR, Jorge Manuel Alves dos Santos
(curiosamente também colaborou com o Blogue). Foi ele a escolher-me para fundador e 1º director do Jornal APOIAR. Vários anos no cargo.
Cheguei a escrever artigos para quase todos jornais.
Tinha ideias e avançara no terreno, era só assinar Protocolos para que a Rede Nacional de Apoio às Vítimas do Stress Pós Traumático de Guerra funcionasse em todo o Território Português.
Fui um dos 3 presidentes a assinar Protocolo com o Ministério da Defesa Nacional.
Ainda sou dirigente da Academia de Seniores de Lisboa e fundador do Jornal "Olhar do Mocho" e 1º director.
É de pasmar... Cortam-me o apoio, primeiro o Psicológico, depois o Psiquiátrico, no momento mais grave de saúde da minha vida. Já viram, camaradas, sou vítima daquilo que criei.
Escrito no computador do meu filho. Estou sem computador.
Tenho imensos problemas de saúde. Estou vivo. Passei por um outro "corredor da morte".
Nem tive tempo de rever o que escrevi. Já passa das 24h00
Cumprimentos,
Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16698: Banco do Afecto contra a Solidão (19): Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74): está hospitalizado, com graves problemas de saúde... Vamos mandar-lhe uma palavrinha solidária (Juvenal Amado)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Camarada Gaspar
Acabei e ler o teu poste.
Tiveste uma vida cheia e solidária e segundo julgo ter compreendido, estás agora doente, sem ajuda e sem retribuição do quanto deste aos outros.
o meu email é o sacaduramado@gmail.com se puder fazer algo por ti diz alguma coisa.
Um abraço
Olá Camarada
O meu e-mail é: toze.pereiradacosta@gmail.com
Se necessitares estarei aqui pode ser que possa ajudar.
Um Ab.
António J. P. Costa
A frase é atribuída a Platão: "Teme a velhice porque ela nunca vem só"... É uma frase certeira e verdadeira: em muitos casos, com a velhice vem a morte social, a solidão, o abandono, a doença, a depressão... É uma caixinha de Pandora, a velhice... Por isso é preciso ser "sábio" e saber lidar com esta fase, mais delicada, porque mais vulnerável, das nossas vidas...
Mário, como diz e bem o Juvenal, tiveste "uma vida cheia e solidária"... Foste um herói na Guiné e no resto da vida... Agarra-te também a essa ideia, porque te dará forças... Faço votos para que recuperes a saúde e o ânimo. Luís Graça
Camarada Mário Vitorino:
Estás a passar um momento de vencido, mas não de derrotado, Força!
Fica com o meu e-mail: terrafaria@iol.pt
Abraço solidário
Manuel Luís Lomba
Camarada Mário:
Um grande abraço de compreensão e solidariedade. Concordo com o Luis quando fala de dignidade e lucidez. Eu acrescentaria, coragem para corrigir as opções e ir à luta noutra direcção, sempre buscando o que nos faça sentir melhor.
Força, Mário.
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