domingo, 31 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8622: Memória dos lugares (157): Djufunco, no chão felupe, junto à foz do Rio Cacheu

Neste poste falamos de Jufunco (lê-se: Djufunco) e Bolol, tabancas situadas em chão felupe, junto à foz do Rio Cacheu, zona onde os portugueses sentiram alguma resistência ao contacto e dificuldade em convencer homens a combater ao nosso lado contra o PAIGC.


Djufunco e Bolol, junto à foz do Rio Cacheu


Canhão do Fortim de Bolol

Durante o período colonial, no final do século XIX, os portugueses estabelecem um Fortim em Bolol para controlar o movimento marítimo na embocadura do Rio Cacheu, já próximo do Oceano Atlântico.

A tabanca felupe de Djufunco, situada a pouca distância de Bolol, não aceita a presença desse Fortim e faz uma investida que acaba por destruí-lo e impedir de vez o seu funcionamento.

Ofendido, o governador da Guiné, sediado em Cabo Verde, organiza uma expedição punitiva a Djufunco, que acaba por se traduzir na morte de quase todos os soldados portugueses envolvidos nesta operação.

Passará a ficar conhecido na história como o Desastre de Bolol, vindo a ter como consequência imediata a afectação de um governador na Guiné, em vez de continuar a estar em Cabo Verde.

Nota do editor: Foto e texto retirados do site da AD (Acção para o Desenvolvimento), com a devida vénia

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Lagoa de Djufunco

[...] Ainda dentro deste projeto, temos em desenvolvimento uma parceria com o Complexo de Ténis da Câmara Municipal da Maia que pretende dinamizar um Torneio de Ténis nos dias 30 e 31 de Julho cuja receita reverterá integralmente para um novo poço cuja localização será no Djunfunco na Região de Susana – Norte da Guiné.

Djufunco tem uma população de cerca de 810 pessoas, com 180 crianças.
Utilizam para consumo a água de uma lagoa existente na tabanca, relativamente grande onde toda a gente vai fazer as suas necessidades fisiológicas, desde banhos a lavagem de roupa.[...]

Foto e texto retirados do P563 do Blogue Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné, com a devida vénia.

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Djufunco

Passada a floresta, atravessado o deserto, avista-se, além do labirinto das barreiras das bolanhas, a tabanca de Djufunco, uma de 54 aldeias em que o VIDA trabalha no norte da Guiné-Bissau.

As casas de adobe agrupadas debaixo das enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança.

No chão aqui e além vê-se dên-dên a secar e no ar ressoa o chiar da roldana do poço e o bater do pilão.

Djufunco aparece já referenciada nos primeiros relatos dos Franciscanos na Guiné sendo famosa pelo seu conhecimento de venenos.

No terreiro onde está o bombolon o povo construiu com o VIDA a sua Unidade de Saúde Comunitária: uma farmácia, uma sala de consulta e uma sala de parto.

A velha parteira tradicional veio buscar a sua mala para ir fazer um parto na “maternidade sagrada” da aldeia, lugar tabu para homens e sítio da glória de todas as mães da aldeia.

O grande curandeiro aceitou que os meninos já não tenham terra colocada no umbigo e que quem tem dores vá buscar “mezinho” à Unidade.

São tempos novos e os barcos já não têm de fazer mais uma viagem ao fim do dia para ir procurar pelo mar o Hospital do outro lado da fronteira, no Senegal, onde há guerrilha.

Em 2005 as 54 Unidades de Saúde Comunitária feitas pelo VIDA com outras tantas aldeias isoladas do norte da Guiné-Bissau, assistiram mais de 10.000 adultos e 11.866 crianças. Estes são tempos novos diz o régulo de Djufunco orgulhoso diante do seu “hospital”.

Texto retirado do site Vida - Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento Africano, com a devida vénia.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8455: Memória dos lugares (156): Texas, o anexo do Hospital Militar Principal, na Rua da Artilharia Um, em Lisboa (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / António Tavares)

Vd. postes de autoria do nosso camarada Luís Fonseca sobre os Felupes na série Cusa di nos terra

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Carlos,

Aconteceu em finais (talvez mesmo em Dezembro) de 1878. A Guiné era governada por um governador, dependente do governador-geral de Cabo Verde.
Foi uma grande mortandade: falou-se mesmo em cerca de duas centenas de mortos. Tudo aconteceu por incompetência das autoridades portuguesas, em especial, do governador, que mandou sair tropas com armas descarregadas e ficou num barco a ver o desenrolar dos acontecimentos. Depois, o barco onde estava disparou o canhão (que me desculpe o C.Martins), que, mal assente, tombou e foi parar ao mar, etc.. A Câmara dos Deputados tem debates acalorados sobre os acontecimentos, ao longo de várias sessões, bem como sobre a legislação que, em 1879, criou a "província da Guiné portuguesa", tornando o seu governo independente do de Cabo Verde. Administrativamente ficou dividida em quatro concelhos: Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola.
Três aspectos sempre em destaque nos debates(além de outros, naturalmente):
1 - Que fazer? Expedição punitiva ou reconhecimento da incompetência das autoridades ao terem intervindo numa rixa que não tinha propriamente a ver com os interesses portugueses?
2 - A falta de informações sobre as realidades ultramarinas e o problema da dificuldade das comunicações.
3 - As insuficiências das guarnições militares em todas as "possessões".

Não resisto a transcrever esta passagem de um discurso do deputado Freitas Oliveira, na sessão de 11 de Março de 1879 (http://debates.parlamento.pt/page.aspx?cid=mc.cd)

"Ouvi fallar das fortalezas da Guiné, como se ali houvesse alguma fortaleza! O que se chamou fortaleza da-Guiné, consiste em um paredão sobre o qual estão dez peças do artilheria, collocadas em sarilhos de madeira, que em dias de grande galla, por occasião das salvas, se voltam de traz para diante, quando disparam, como aconteceu ao rodizio da canhoneira que ultimamente aggravou com o ridículo o desastre dè Bolor".

Só mais uma coisa: fala-se sempre em "Bolor" e não Bolol. No mapa aqui publicado também tem a indicação "Bolor". Deve ter havido alteração do nome.

Um abraço,
Carlos Cordeiro

zé teixeira disse...

A melhor forma de compensar os desastres de outro tempo, é ajudar os atuais habitantes de Djufunco a melhorar as condições de vida e sobrevivência.

Com a maior das alegrias que me vai na alma, posso informar que a Tabanca Pequena com os apoios financeiros conseguidos pela organização do Torneio de Ténis " Uma gota de água para a Guiné-Bissau da responsabilidade do Complexo de Ténis da Maia com o patrocínio da C.M. da Maia e um grupo de Maiatos,(firmas e particulares) conseguiu o capital para abrir um poço de água potável nesta Tabanca de Djufunco.

Zé teixeira

Luís Graça disse...

Obrigado, Carlos Cordeiro, pelas tuas notas eruditas... Tudo o que tem a ver a "historiografia" da nossa presença na Guiné, nos interessa... Julgo que podias preparar um poste sobre esse "desastre de Bolol" ou (Bolor), perto de Djufunco...

Zé (Tixêrta): Tu és um campeão!... Parabéns por mais esta pequena vitória, que já não é a das armas, mas do coração... português.

De qualquer modo, era importante "saber" onde fica Djufunco... Pedi ao nosso editor de serviço, neste mês de Agosto do nosso contentamento descontente, para preparar um poste para a série Memória dos Lugares... A maior parte dos amigos e camaradas da Guiné são sabiam onde ficava Djufunco... Pois ficamos a saber mais alguma coisa, e que isso seja justamente para nos aproximar, ainda mais, à volta do essencial: a verdade, sem ressentimentos; a memória, com reciprocidade; a amizade, sem paternalismos; o respeito mútuo pelas nossas diferenças, e pela história de cada um dos nossos povos...

Da Lourinhã, com votos de um mês de Agosto pars os veraneante, os turistas, os viajantes... e claro, todos os nossos amigos e camaradas!

Luís Graça

Anónimo disse...

Ok, Chefe*. Prepararei. Estou de partida para S. Jorge para lá passar duas semanitas com todo o maralhal familiar. É sempre uma festa (e alguma confusão).
Um abraço,
Carlos Cordeiro

*Não sei se por aí, nos idos 60-70, também se dizia "Ok, chefe, contrariado mas..." Quando dizia isto a meu Pai ele não ficava bem disposto. Minha Mãe ameaçava, mas não fazia nada.

Anónimo disse...

Já agora: também nos debates (e no mapa) também aparece "Jufunco" e não "Djufunco".
Carlos Cordeiro

Luís Graça disse...

Carlos Cordeiro:

Meu camarada de armas, meu colega universitário... Também te desejo um querido mês de Agosto... Esquece o blogue, se puderes; esqueces os "teus meninos e meninaS", se puderes; esquece a tu função de "pegagogo"... Em Agosto não se ensina, só se aprende...

Ainda há dias, num jantar de homenagem do meu amigo e colega Prof Constantino Sakellarides (SAK, seu "nickname", e também ele de ascendência grega, nascido em Moçambique) que se jubilou (como manda a lei, aos 70), eu lembrei a origem etimológica da palavra "pedagogo"...

"...) Podem, meu caro SAK, tirar-te, tirar-nos tudo, mas são estas pequenas recompensas imateriais, dadas pelos nossos alunos, que nos reconciliam com a vida de professor, suas grandezas e misérias, suas alegrias e tristezas… Acho que é bom sentir que afinal o pedagogo (do grego, paidagōgós) é mais, muito mais – etimológica e metaforicamente falando - do que o escravo que leva a criancinha, pela mão, à escola" (...) (*)

Dá um abraço ao Puim, se o encontrares por São Jorge... Depois em Setembro fazes o "trabalho de casa" sobre Jufunco (grafia correcta, sim, chefe!)... Eu vou estando pela Lourinhã e a partir de 20, em Candoz (que felizmente não vem no mapa)...

Mantenhas para todo os camaradas açorianos. Luís Graça

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(*) Vd. meu Luís Graça > Blgpoesia > Julho 01, 2011 >
Bogantologia(s) II - (94): Homenagem ao Prof Constantino Sakellarides

http://blogueforanadaevaodois.blogspot.com/2011/07/bogantologias-ii-94-homenagem-ao-prof.html