sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8641: Blogpoesia (156): O Sonho e a Realidade ou a angústia de uma sentinela (Juvenal Amado)

1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, (Galomaro, 1971/74), com data de 1 de Agosto de 2011:

Caros camaradas
Quem não se lembra das noites passadas nos postos de vigilância em que o cansaço e o sono nos faziam ver um inimigo em cada sombra, onde os sons se tornavam quase fantasmagóricos.

Quando a luz parda do pré-amanhecer despontava, desfazia as nossas dúvidas sobre as sombras, e os sons eram substituídos pelos afazeres dos homens e mulheres.

Era com um inegável prazer que víamos e ouvíamos o Mundo despertar.

Juvenal Amado


O SONHO E A REALIDADE

Escrevo e alinho as ideias
Elas jorram desordenadas
Sem rimas
Outros disseram que era poesia
Condenso palavras vagas
Assim a vida é poesia
As palavras explodem
Urgentes como a luz da aurora
Sonolento, encosto-me aos bidões
Noites longas para quem espera
Aguço o ouvido
Só a natureza fala que é a voz de Deus
Dos geradores fica o silêncio
Timidamente através da floresta
A luz parda da manhã eleva-se no horizonte
Os últimos pássaros nocturnos
Lançam o seu desafio no ar
Também eles se despedem da noite
Não tardará e Sol elevar-se-á majestoso
Milagre repetido todos os dias
Rapidamente tornar-se-á agressivo e impiedoso
Vergará homens e mulheres
Recomeça a vida haverá alegrias e tristezas
O som ritmado do pilão espalha-se no ar
Parece música
Este pequeno canto do Mundo acorda
Cumprirá a sua tarefa.
Com a boca pastosa dos cigarros
Saboreio lentamente café e pão
O abrigo na penumbra do amanhecer
Reserva-me protecção e frescura
Vou-a saborear nem que seja por breves momentos
Despojado de tudo nos lençóis brancos
Prazer que vivo por antecipação
Fecho o mosquiteiro
Fecho os olhos e ainda acordado
Sonho com outro lugar
Paragens tão belas de névoas rasteiras
Que transbordam de perfeição
Mas porque ela não existe para além do sonho
O que será de mim sem sonhos?
E se condensar é poesia
Então em sonho, eu faço alguma poesia

Juvenal Amado
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8566: Blogpoesia (152): Uma parte de nós ficou para sempre lá (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 2 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8630: Blogpoesia (155): Pôr-do-sol alentejano (Felismina Costa)

3 comentários:

Anónimo disse...

É assim mesmo meu Amigo!
Condensando em nós o conhecimento do que nos rodeia e vivendo-o, observando-o, é que a poesia nasce.
Quem não pára para observar e sentir ,muito pouco terá para oferecer!
Essa vivência que descreve, ilustra o livro ainda por editar, tornando muito fácil a sua compreensão.
Pela parte que me toca: obrigada Juvenal!
Percebi... perfeitamente!
Consigo visualizar o que descreve.

Os meus parabéns e um abraço.

Felismina Costa

manuelmaia disse...

Juvenal,

Muito obrigado pela viagem que me fizeste retomar.
Está perfeito este teu poema.Gosto da sonoridade e do brilho das palavras.
Parabéns poeta.

Luís Dias disse...

Caro Juvenal

Soubeste recrear o momento, aqueles instantes em que a vida de muitos dependia do sentir da sentinela, do seu despertar, enquanto, muitas das vezes, o sono bailava diante dos olhos descendo as cortinas de um cansaço esperado.
Muito bom caro amigo.
Um abraço
Luís Dias