terça-feira, 2 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8630: Blogpoesia (155): Pôr-do-sol alentejano (Felismina Costa)


1. Mensagem da nossa amiga e tertuliana Felismina Costa *, com data de 31 de Julho de 2011:

Caro Editor e Amigo Carlos Vinhal
Mato muitas vezes as saudades do meu Alentejo, falando dele.
Sinto a terra como parte integrante de mim, encontrando nela a segurança e o equilíbrio que nos oferece as coisas que amamos e com as quais fomos criados.

Ofereço a todos os tertulianos e amigos deste nosso imenso Blogue, o pequeno texto que se segue, incluindo a si Carlos e à Dina, meus Amigos do Norte.

Um abraço fraterno para todos.
Felismina Costa


Planície alentejana
Imagem retirada do Portal de Nisa, com a devida vénia


Aspiro o teu cheiro… meu Alentejo!

Quem, ao cair de uma tarde de verão, se aventurar a apreciar a grandeza da planície alentejana, (e quando digo, aventurar-se, refiro-me ao tempo, que convém ter disponível, para apreciar a imensidão), depara-se com um espectáculo maravilhoso:

O sol a cair sobre o imenso e longínquo horizonte, qual bola cor de fogo, cerca-se de uma imensa auréola de um tom mais diluído e pinta, com laivos dessa cor, os restolhos quentes, que ele dourou.
A paz não é traduzível!

Uma, ou outra ave, de porte razoável e de recorte magnífico, torna o espaço inusitado, pela dimensão da sua beleza, alegria e tranquilidade!
Perplexos, olhamos o nada, cheio de tudo!
Respiramos fundo, e um cheiro a terra e a pão, vem até nós, trazendo-nos a certeza de estarmos perante um milagre, chamado… Mãe!

Sim! Terra Mãe!
Porque do seu ventre colorido, num degrade de tons terra, rosa, negra ou vermelha, irrompem todas as espécies necessárias à alimentação humana, que, conforme a sua evolução, vão pintando e alterando os tons, transformando o espaço permanentemente.

Laboriosamente, o homem ajuda-a, e decora a paisagem, conferindo movimento ao espaço.
O crepúsculo enche-se de uma luz incomum, oferecida pelo azul-cobalto da cobertura celestial!
A noite, acorda, ao som único das canções das cigarras, dos grilos e dos ralos.
Balidos, mais ou menos próximos, conferem harmonia ao todo. Um pastor assobia para reunir o rebanho, e recorda-nos… que não estamos sós.

Bandos de insectos, passam voando, quase imperceptíveis, num zumbido rápido, a uma velocidade incrível.
A temperatura, fabulosa, convida a olhar a noite e a vivê-la, na sua paz, nos seus aromas, que a brandura faz libertar.

Lentamente, a lua eleva-se, e o canto das cigarras aumenta deliciosamente!
Pejado de estrelas, o céu é um luzeiro e as constelações despertam a nossa atenção, pelo seu desenho geométrico, pelo seu brilho.

Daqui, aspiro o aroma a feno, a rosmaninho, a alecrim, a Lúcia lima, a cidreira, a orégãos, a marcela, a poejo, a milho verde, a trigo, a pão acabado de cozer.

Convido-vos a aspirar também, estes aromas inconfundíveis, a observar o espaço imenso e a usufruir da sua paz, que nos é oferecida com toda a singeleza das coisas grandiosas.

Saudosa, aspiro-te inteiro, meu maravilhoso Alentejo!..


Pôr-do-Sol Alentejano

Punha-se o Sol na planície!
Plana, a terra,
Prolongava os horizontes…
O sol, descia lento,
Devagar,
Deixando-me apreciar
Aquela hora única.
O astro rei brilhava
Qual metal pesado e polido
E em volta, o alaranjado das chamas soltas,
Dava uma nota, colorida, viva!
A terra brilhava!
Da cor do ouro.
Da cor do restolho, que deu o pão.
Dispersos, azinheiras e sobreiros
Davam a nota que faltava,
Na paisagem
Primitiva e franca,
Do meu Alentejo,
que encantava!...

Felismina Costa
26/8/08
____________

Notas de CV:

(*) Vd. último poste de 18 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8567: Estórias avulsas (114): O tio Quim Quim (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8598: Blogpoesia (154): Se permaneces em silêncio e não falas/, as gerações futuras nada terão que contar (Han Shan / António Graça de Abreu)

3 comentários:

Hélder Valério disse...

Caríssima Felismina

A escolha da foto do "Portal de Nisa" é bastante feliz. É um festival de cor, numa paleta de cores com vários matizes.

Abraço
Hélder S.

Gumerzindo Caetano da Silva disse...

Minha Cara Amiga.
Adorei o seu Por-do-Sol.Não sou alentejano,sou beirão do Litoral,mas a verdade é que em 1961,com apenas 12 anos de idade,este tertuliano fez parte de um grupo de trinta homens,que eram contratados para as ceifas no Alentejo.Calculo que não será preciso dizer nada mais para perceber o sacrificio que um jovem de tão tenra idade passaria ao longo dum periúdo de aproximadamente 30 dias,trabalhando de sol sol,no meio dum Sol escaldante como era o Sol do Alentejo.Recordo ainda as dores de costas.Tempos duros,mas que nos abriu caminhos,para enfrentar-mos a vida duma outra,maneira.Obrigado pelo seu Por-do-Sol.Um abraço.

Anónimo disse...

Textos magníficos...surpreendentes!
Muitos Parabéns, amiga Felismina.
Joaquim Gomes