Capa do livro de Valdemar Aveiro: "Murmúrios do vento: recordações da pesca do bacalhau" [ Lisboa: Editorial Futura, 2012, 223 pp + fotos; capa: Sofia Ferreira de Lima, Âncora Editora; reproduzida com a devida vénia].
Dedicatória autografada ao editor do blogue, Luís Graça
Nota biográfica sobre o autor, o capitão Valdemar Aveiro, nascido em 1934, em Ílhavo. Cortesia do autor e do editor.
Índice da obra
PREFÁCIO, por José António Paradela, Arquiteto [natural de Ílhavo, e meu grande amigo]
[por cortesia do prefaciador e do autor da obra, meus amigos de Ílhavo]
“…E dentro de uma geração quem é que se lembrará disto? A menos que fique escrito, tudo se perderá no nada.” (Valdemar Aveiro)
Esta reflexão, respigada do autor, confronta-nos por um lado com o risco de esquecimento da História, reagindo saudavelmente por outro, a essa entropia; à mudez que muitas vezes se segue às vivências cuja violência assume uma dimensão desmedida.
Não é por acaso que só agora, ao fim de mais de três décadas, haja na sociedade portuguesa coragem para contar as histórias que se passaram na segunda metade do século vinte, por aqueles que efetivamente as viveram. Sejam as da guerra colonial, sejam as dessa outra guerra que foi a não menos violenta, porque psicologicamente castradora, da pesca do bacalhau que, ironicamente, chegou a ser alternativa legal à guerra de África.
[Negritos e sublinhados de L.G. Vd. este tópico, a pesca do bacalhau como alternativa à guerra colonial, vd. aqui o respetivo marcador.]
Na verdade quando os acontecimentos superam a capacidade de assimilação do ser humano, este têm de se proteger criando mecanismos de defesa contra o excesso de estímulos de sinal negativo, gerados pelas condições adversas que obrigatoriamente têm de enfrentar. No caso de alguns acontecimentos traumáticos, esse escudo de proteção é porém insuficiente, e deixa marcas profundas que impossibilitam qualquer verbalização.
Tive em casa um exemplo disso: Gostando de escrever histórias nos últimos anos da sua vida, o meu pai nunca relatou, salvo um ou outro episódio da juventude, os mais amargos momentos que passou ao longo de uma vida de 50 anos no mar, embarcado em navios por vezes decrépitos, onde esteve em risco de naufragar várias vezes.
Mas felizmente, não é esse o caso do Capitão Valdemar Aveiro, que publica agora o seu terceiro livro (*), o último de um tríptico magistral, contado quase sempre na primeira pessoa, composto de tábuas pintadas de saborosa e colorida literatura. Essas tábuas são narrativas que formam, sem dúvida, o mais completo políptico sobre a gesta incomensurável da pesca do bacalhau escrita até hoje por quem, na verdade, a viveu.
[Negritos e sublinhados de L.G. Vd. este tópico, a pesca do bacalhau como alternativa à guerra colonial, vd. aqui o respetivo marcador.]
Na verdade quando os acontecimentos superam a capacidade de assimilação do ser humano, este têm de se proteger criando mecanismos de defesa contra o excesso de estímulos de sinal negativo, gerados pelas condições adversas que obrigatoriamente têm de enfrentar. No caso de alguns acontecimentos traumáticos, esse escudo de proteção é porém insuficiente, e deixa marcas profundas que impossibilitam qualquer verbalização.
Tive em casa um exemplo disso: Gostando de escrever histórias nos últimos anos da sua vida, o meu pai nunca relatou, salvo um ou outro episódio da juventude, os mais amargos momentos que passou ao longo de uma vida de 50 anos no mar, embarcado em navios por vezes decrépitos, onde esteve em risco de naufragar várias vezes.
Mas felizmente, não é esse o caso do Capitão Valdemar Aveiro, que publica agora o seu terceiro livro (*), o último de um tríptico magistral, contado quase sempre na primeira pessoa, composto de tábuas pintadas de saborosa e colorida literatura. Essas tábuas são narrativas que formam, sem dúvida, o mais completo políptico sobre a gesta incomensurável da pesca do bacalhau escrita até hoje por quem, na verdade, a viveu.
Outros o têm feito, mas quase sempre como espectadores privilegiados, como Bernardo Santareno, ou Alan Villiers, por exemplo.
Os narradores gostam de começar as histórias com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos factos, a menos que essas histórias se refiram a experiências autobiográficas. É isso que acontece nestes livros de Valdemar Aveiro, permitindo-lhe imprimir a sua marca nas narrativas, como o oleiro na argila do vaso, recheando-as com um cunho de verdade, de saudade, de solidariedade... falando em tons sempre adequados à natureza de cada estória.
Este, é o seu Terceiro Livro, como diz o autor, mas é nele que se encontra o alfa e o ómega desta soberba trilogia: No começo, o retrato do autor enquanto jovem, abrindo as pétalas da vida no despontar da manhã que o traria até estas estórias. No final, a homenagem serena e plena de gratidão àqueles em cujos ombros soube apoiar-se, e que o ajudaram a crescer nos princípios da verticalidade que lhe permitiram estar naquela vida, maior entre os maiores, enfrentando temporais de inveja e mesquinhez, mais traiçoeiros que a ventania no oceano, notavelmente relatadas neste último episódio.
Neste livro, e no espaço intermédio entre a primeira e a última narrativas, outros episódios se vêm somar ao acervo contido nos livros anteriores, pejados da mesma graça, e aguçada escrita, abundante de termos por vezes estranhos, apelando à consulta do glossário.
(Continua) (**)
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Os narradores gostam de começar as histórias com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos factos, a menos que essas histórias se refiram a experiências autobiográficas. É isso que acontece nestes livros de Valdemar Aveiro, permitindo-lhe imprimir a sua marca nas narrativas, como o oleiro na argila do vaso, recheando-as com um cunho de verdade, de saudade, de solidariedade... falando em tons sempre adequados à natureza de cada estória.
Este, é o seu Terceiro Livro, como diz o autor, mas é nele que se encontra o alfa e o ómega desta soberba trilogia: No começo, o retrato do autor enquanto jovem, abrindo as pétalas da vida no despontar da manhã que o traria até estas estórias. No final, a homenagem serena e plena de gratidão àqueles em cujos ombros soube apoiar-se, e que o ajudaram a crescer nos princípios da verticalidade que lhe permitiram estar naquela vida, maior entre os maiores, enfrentando temporais de inveja e mesquinhez, mais traiçoeiros que a ventania no oceano, notavelmente relatadas neste último episódio.
Neste livro, e no espaço intermédio entre a primeira e a última narrativas, outros episódios se vêm somar ao acervo contido nos livros anteriores, pejados da mesma graça, e aguçada escrita, abundante de termos por vezes estranhos, apelando à consulta do glossário.
(Continua) (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 24 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2300: Memórias de outra tropa, de outra guerra, a da pesca do bacalhau: escovar a história a contra pêlo (José A. Boia Paradela)
(**) Último poste da série > 14 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12714: Notas de leitura (562): "Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné-Bissau", por Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)
(*) Vd. poste de 24 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2300: Memórias de outra tropa, de outra guerra, a da pesca do bacalhau: escovar a história a contra pêlo (José A. Boia Paradela)
(**) Último poste da série > 14 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12714: Notas de leitura (562): "Usos e Costumes Jurídicos dos Fulas da Guiné-Bissau", por Artur Augusto da Silva (Mário Beja Santos)
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