Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 11 de novembro de 2012
Guiné 63/74 - P10653: Contraponto (Alberto Branquinho) (47): Momento de poesia com Augusto Gil e a "Jovem Lília Abandonada"
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 9 de Novembro de 2012:
Caro Carlos Vinhal
Porque me parece oportuno e porque não é da minha autoria, aí vai um "Momento de poesia".
Um abraço.
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (47)
MOMENTO DE POESIA...
"JOVEM LÍLIA ABANDONADA...
Sempre que a vejo a contemplar os céus
com um ar de lírica neurastenia
dá-me a impressão de estar pedindo a Deus
ao menos um alferes de infantaria..."
AUGUSTO GIL (1873-1929)
«O canto da cigarra»
NOTA: O autor deveria ter esclarecido se poderia ser um alferes miliciano (de infantaria, claro!)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10511: Contraponto (Alberto Branquinho) (46): Banho... de cobra
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13 comentários:
Miliciano de infantaria pois claro.
Um abraço
Maria da Graça é uma
Cachopa de olhos em brasa.
Vive sózinha e não fuma,
Mas tem cinzeiros em casa.
Augusto Gil no mesmo livro.
É um escritor pouco conhecido ou esquecido. Viveu pouco e mal e ainda morreu pior, como é hábito.
mas é um óptimo poeta, de uma sensibilidade impressionante.
Um Ab. do
António J. P. Costa
Também gosto de Augusto Gil e tenho um bocadinho dele pegado aos meus tempos de guerra:
Musa da guerra que alegrias cantas?
Quem ergue e agita as triunfantes palmas,
Se um espasmo de dor prende as gargantas
E a treva ensombra os corações e as almas?
Um abraço do
Manuel Joaquim
Pereira da Costa
Vê bem que a senhora não exigia a Deus um alferes de ARTILHARIA ou de CAVALARIA, mas, ao menos, um de infantaria. Esse sim, exigia.
Mas...
Fico de olhos em alvo:
- Se um oficial de artilharia
gosta de poesia,
o mundo está salvo!
Um abraço do
Alberto Branquinho
Caro Branquinho
Os oficiais de artilharia gostam de poesia, até porque são os "intelectuais" da tropa..por isso o mundo salva-se..por enquanto.
Um alfa bravo
C.Martins
Ora toma, oh Branquinho!
Augusto Gil era pobre, advogado e, ao que parece, coxo.
Porém, lá no fundo, eu sei bem que ele o que queria ser era alferes de artilharia...
Um Ab.
António J. P. Costa
O Amor quando aparece
Dizem que faz maravilhas.
Eu nunca vi que fizesse
Mais do que filhos e filhas.
E a Balada da Neve?
Ainda há quem se lembre?
Era giro! Naquele tempo até poesia sabíamos de cor.
É isso, Pereira da Costa!
Augusto Gil tanto tem a ternura e encantamento da "Balada da neve" e do "Passeio de Santo António", como, em prosa, nos surpreende com histórias pícaras e imprevistas de criançada em "Gente de palmo e meio", como faz DISPAROS DE ARTILHARIA (certeira!) contra a... Mulher. O que vai a seguir é menos conhecido.
«Um dia uma víbora mordeu num pé
da pérfida Cloé.
Perguntareis: que aconteceu
à pérfida Cloé? Morreu?!
Ah!... Isso morreu ela!...
Mal sentiu a mordidela
não teve dores,nem febre,nem nada!
A bicha é que morreu envenenada!...
---
Nota: No texto acima, "bicha" é sinónimo de "víbora"...
Alberto Branquinho
É isso, Pereira da Costa!
Augusto Gil tanto tem a ternura e encantamento da "Balada da neve" e do "Passeio de Santo António", como, em prosa, nos surpreende com histórias pícaras e imprevistas de criançada em "Gente de palmo e meio", como faz DISPAROS DE ARTILHARIA (certeira!) contra a... Mulher. O que vai a seguir é menos conhecido.
«Um dia uma víbora mordeu num pé
da pérfida Cloé.
Perguntareis: que aconteceu
à pérfida Cloé? Morreu?!
Ah!... Isso morreu ela!...
Mal sentiu a mordidela
não teve dores,nem febre,nem nada!
A bicha é que morreu envenenada!...
---
Nota: No texto acima, "bicha" é sinónimo de "víbora"...
Alberto Branquinho
É isso, Pereira da Costa!
Augusto Gil tanto tem a ternura e encantamento da "Balada da neve" e do "Passeio de Santo António", como, em prosa, nos surpreende com histórias pícaras e imprevistas de criançada em "Gente de palmo e meio", como faz DISPAROS DE ARTILHARIA (certeira!) contra a... Mulher. O que vai a seguir é menos conhecido.
«Um dia uma víbora mordeu num pé
da pérfida Cloé.
Perguntareis: que aconteceu
à pérfida Cloé? Morreu?!
Ah!... Isso morreu ela!...
Mal sentiu a mordidela
não teve dores,nem febre,nem nada!
A bicha é que morreu envenenada!...
---
Nota: No texto acima, "bicha" é sinónimo de "víbora"...
Alberto Branquinho
Aqui fica a obra completa de Augusto Gil (1873 - 1929):
Musa Cérula (1894)
Luar de Janeiro (1909)
O Canto da Cigarra (1910)
Gente de Palmo e Meio (1913)
Alba Plena (1916)
Sombra de Fumo (1915)
Rosas desta Manhã (1930)
O Craveiro da Janela (1920)
Avena Rústica (1927)
Versos (1898)
Um Ab.
António J. P. Costa
Caros camaradas
Parece-me ver (ler) por aqui alguma leitura 'enviesada'...
A jovem Lília queria de facto algo 'melhor', algo mais 'consistente' mas, na falta ou na impossibilidade, lá se teria que contentar "ao menos com um alferes de infantaria". É esse, só pode ser, o sentido do "ao menos..."
O Augusto Gil é o da "Balada da Neve", a do "batem leve, levemente, como quem chama por mim...". E, já agora, lembram-se do autor de "ninhos, ninhos, gosto tanto de os ver pelos beirais..."?
Abraço
Hélder S.
HELDER
(Falou o mais velho!)
Pois claro! A questão era saber se, caso o "alferes de infantaria" fosse miliciano, seria mais ou não mais "consistente".
Mas atravessaram-se dois artilheiros a fazer fogo de armas pesadas e não conseguimos esclarecer nada! Até o médico-artilheiro veio dizer que eles é que são os "intelectuais" da tropa, porque... têm que fazer contas à resistência do ar, à velocidade e à orientação do vento, à força da gravidez e etc.. Complicaram tudo!
É o que dá a gente começar a querer escrever coisas sobre poesia. Não dá de comer a ninguém...
Adeus. Boa noite!
Alberto Branquinho`
Camaradas
Este texto está datado, pela situação que retrata. O alferes de infantaria era um 2bom partido" e as meninas casadoiras tinham de procurar assegurar o seu futuro. Eram meninas virtuosas e recatadas, porém pobres e com um futuro problemático, como era a situação do tempo. O alferes era um rapaz habilitado e provavelmente com boa posição social. Além disso, a farda era, então um motivo de "atracção". Era uma vaidade. E as unidades mais numerosas, na Guarda ou em Lisboa, eram de infantaria. Este é mais um indício e ter em conta na caracterização da sociedade daquele tempo.
Um Ab.
António J. P. Costa
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