COMEÇOU ASSIM...
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 28 de Março de 2011:
Caríssimo Carlos Vinhal
Aí vai o "1º. Acto" do grande "TEATRO DO REGRESSO", que esteve em cena durante mais de uma década e um grande ABRAÇO do
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (26)
TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)
1º. Acto - E Agora?
Cenário:
Finais dos anos 60 do séc. XX.
Deck de navio, navegando em mar alto, transportando tropas de Bissau para Lisboa.
Personagens:
Dois alferes milicianos, fardados, apoiados nos ferros da amurada. Um segura a cabeça entre as mãos; o outro fuma um cigarro e fixa o horizonte, olhando em frente.
Acção:
A segunda personagem, apaga o cigarro, senta-se, encosta-se bem na cadeira, cruza os braços, encara o outro e pergunta:
- O que vais fazer, agora, quando chegares?
(Silêncio, durante uns segundos).
- Não sei se tenho cabeça e disposição para voltar a estudar. E tu?
- Vou abrir um consultório.
- Consultório?! De quê?
- Ponho um anúncio à porta. Assim:
PERGUNTEM TUDO SOBRE GUERRA.
EU RESPONDO.
Ambos sorriem. Sorrisos irónicos.
(CAI O PANO)
...A VAI TERMINAR ASSIM:
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 29 de Maio de 2011:
Caríssimo Carlos
Junto estou a enviar o texto do Contraponto (35), que consta do 10º. e último Acto do "Teatro do Regresso".
Despeço-me (eu, não o Contraponto) com um abraço
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (35)
TEATRO DO REGRESSO
(Peça em vários actos)
10º. Acto – Estou velho com’ó caraças!
(Último acto – aqui.)
Cenário
Porto de Lisboa. Cais da Rocha do Conde de Óbidos.
Amurada de navio que transporta tropas, que regressam da Guiné.
O navio está a fazer manobras para atracar.
Centenas de militares observam de bordo a multidão que os espera no cais, acenando, desfraldando faixas com escritos, agitando lenços de várias cores. Os gritos de chamamento de bordo e de terra misturam-se no ar, fazendo um barulho ensurdecedor.
Acção
O cabo “Alcântara” vem caminhando calmamente, com o saco militar às costas, da proa para a ré, tossindo e ziguezagueando por entre os militares, que procuram chegar-se mais à amurada tentando ver melhor e serem vistos de terra.
Finalmente consegue entrever o Fonseca (um “filho de Campo de Ourique”). Coloca-se ao lado dele, poisa o saco aos pés e, para conseguir fazer-se ouvir no meio da algazarra, berra-lhe ao ouvido:
- Está tudo na mesma, pá: a Torre de Belém, os Jerónimos, a Ponte, o Cristo-Rei, o rio, o Porto Brandão, a Trafaria… e, até, esta maralha toda aí em baixo é a mesma. Eu, é que estou velho com’ó caraças! Parece que já tenho 35 anos. E cheio de gosma…
(NÃO CAI O PANO), pois…
…de muitos e desvairados ACTOS se fez o teatro do regresso!
Alberto Branquinho
____________
Nota de CV:
Vd. postes do Teatro do Regresso de:
1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8028: Contraponto (Alberto Branquinho) (26): Teatro do Regresso - 1.º Acto - E Agora?
4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8048: Contraponto (Alberto Branquinho) (27): Teatro do Regresso - 2.º Acto
11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8083: Contraponto (Alberto Branquinho) (28): Teatro do Regresso - 3.º Acto
20 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8139: Contraponto (Alberto Branquinho) (29): Teatro do Regresso - 4.º Acto - Missa de Corpos Presentes
28 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8177: Contraponto (Alberto Branquinho) (30): Teatro do Regresso - 5.º Acto - (Des)encontros imediatos
3 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8210: Contraponto (Alberto Branquinho) (31): Teatro do Regresso - 6.º Acto - Que próximo-futuro?
10 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8254: Contraponto (Alberto Branquinho) (32): Teatro do Regresso - 7.º Acto - Prótese
17 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8288: Contraponto (Alberto Branquinho) (33): Teatro do Regresso - 8.º Acto - Foi outra guerra qualquer
24 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8316: Contraponto (Alberto Branquinho) (34): Teatro do Regresso - 9.º Acto - Filho da ausência
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Obrigado, Alberto, por teres sabido reconstituir, em texto, sob a forma cénica e dramatúrgica, com mestria, com fino humor, o nosso regresso, os nossos regressos, com todos os pesadelos, pior ou melhor climatizados, que trouxemos do TO da Guiné...
Oxalá alguém do teatro possa "dar vida" a estes personagens... Prometo levar uma camioneta cheia de gente à estreia da peça... Um xicoração apertado, meu amigo, meu irmão, meu camarada...
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