terça-feira, 31 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22499: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XV: Férias em julho/agosto de 1973... e o teste da cerveja


Foto nº 1 > Guiné > Meados de 1973 > Não é uma  Dornier, uma DO –27.  mas um Cessna CR-GBE... Foi numa aeronave destas que o Joaquim Costa deixou Aldeia Formosa, "com a adrenalina (boa) nos limites a caminho de férias"...  
Mas esta foto não é dele, nem dos seus companheiros de viagem que alugaram uma avioneta civil para chegar a Bissau a tempo de apanharem o avião da TAP e poderem gozar a tão merecida de licença de férias na Metrópole. 

Esta foto é do  Luís Nascimento, aqui  o mais alto, o segundo a contar da esquerda, membro da nossa Tabanca, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533 (Canjambari, 1969/71).A avioneta era TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (voos internos), mas cada um dos 3 viajantes transportam já um saco de viajem de mão, oferta da TAP. No núcleo museológico da Tabanca dos Melros, pode ver-se um exemplar deste saco, oferta do nosso camarada Carlos Silva.

Foto (e legenda) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > c. 1972/4 > Imagem do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné (TAGP) em que o nosso camarada Álvaro Basto fez várias viagens entre o Xitole e Bissau, nos anos da sua comissão (1972/74). Se calhar foi na mesma aeronave ecom o mesmo mítico piloto, que o Joaquim Costa viajou até Bissau para apanhar o avião da TAP.

Foto (e legenda): © Álvaro Basto (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) (*)

Parte XV - Férias... e o teste da cerveja


Passado pouco tempo depois de todos estes acontecimentos extraordinários (a entrada em Nhacobá, a morte de um soldado e o ferimento grave de um camarada alferes, queda de Guileje, etc, …) chegou a minha vez de gozar as tão esperadas férias.

No dia anterior à partida para Bissau, com a ansiedade nos limites, procuro a minha “mala de cartão”, que trouxe de casa, para analisar o estado da minha roupa de civil. Ao retirá-la debaixo da cama de ferro, fico na mão apenas com a pega. Reparo que a mala praticamente desapareceu, assim como a roupa e outros haveres. Estava tudo podre da humidade. Dado o pouco tempo que estaria em Bissau já tinha assumido que teria de viajar com a roupa militar. Felizmente houve tempo e lá consegui comprar umas calças e uma camisa.

A pressa de partir era muita, pelo que não dava para esperar pela coluna Aldeia Formosa - Buba, e o avião da TAP tinha dia e hora marcada, pelo que, com colegas de outras companhias, “fizemos uma perninha” e alugamos uma avioneta civil, dos TAGP,  para nos levar de Aldeia Formosa a Bissau.

Viagem inesquecível, dada a loucura do piloto tudo fazendo para nos colocar em pânico com manobras estilo campeonato mundial da “Red Bull Air Race”, argumentando, contudo, que tais manobras, visavam apenas evitar veleidades ao IN em nos atingir com a sua nova arma: o míssel terra-ar Strela. (**)



Já dentro do avião da TAP constatei que afinal havia hospedeiras (bem giras e simpáticas...) e tratamento VIP com direito a uma malinha muito “catita”  (, parecida com a da foto acima, cortesia do Núcleo Muselógico da Tabanca dos Melros; foto: LG) e whisky de borla.

A chegada ao Porto, já que em Lisboa apanhei logo avião para a Invicta (sempre ouvi dizer que o melhor de Lisboa era a autoestrada para o Porto, embora para mim continuem a ser os pasteis de Belém), foi uma sensação que jamais conseguirei descrever: poucas horas depois de sair daquele inferno encontro um país sereno, despreocupado, falando de futebol, jornais sem uma única referência ao que se estava a passar em África.

Mergulhei nesta nova realidade, aproveitando ao máximo estes 30 dias, tropeçando aqui e ali no processo de reaprender a viver na dita civilização.

Na primeira noite em casa, depois de um dia bem passado com amigos, deitei-me cedo com a sensação de me deitar numa nuvem protegido por anjos celestiais... e sem rede mosquiteira: - Dorme, “meu anjo”, que hoje com toda a certeza não haverá flagelação nem ataque ao arame e nós estamos aqui para te proteger…

À meia noite, já em sono profundo, ouço rebentamentos muito perto, dou um salto na cama e estilhaço o candeeiro de mesinha de cabeceira à procura da minha G3. Havia festa numa aldeia perto com o tradicional fogo de artifício à meia noite. A minha mãe vem ver o que se passava, muito preocupada, enquanto eu já refeito, tentava acalmá-la inventando uma desculpa esfarrapada para os estilhaços do candeeiro no chão. Não obstante aquele aparato, foi uma sensação tão agradável saber que afinal estava em casa, em segurança, com a proteção dos meus anjos celestiais. Dormi como um justo.

No Minho, durante o Verão, todos os fins de semana há festa, pelo que lá me fui adaptando... tendo partido só mais um candeeiro...

Fui reaprendendo a viver na dita civilização e a matar saudades da maravilhosa gastronomia Minhota (fazendo esquecer o arroz com estilhaços e as rações de combate) : Bom cozido à portuguesa (feito pela minha santa mãe); boas feijoadas (na tasca da Sara Barracoa,  em Famalicão); uns rojões à minhota (no Tanoeiro, em Famalição); bom cabrito à Serra D’Arga e o “Pica no chão” (em Viana); uns magníficos rojões com arroz de sarrabulho (na magnífica Vila mais antiga de Portugal - Ponte de Lima); um Polvo assado na Brasa (na Bagoeira, em Barcelos). intercalado com um bom bife com batas fritas onde calhava...

A praia: o picadeiro da Póvoa de Varzim, cheio de emigrantes falando francês (mas os palavrões eram em português!), onde visitei, a seu pedido, a casa do nosso colega e amigo alferes de artilharia (o homem do fogo amigo) levando-lhe um “miminho” da mamã.

Ainda deu tempo para uma incursão pelo alto Minho: Viana, a bela Caminha, Cerveira (terra adotiva do escultor José Rodrigues e um dos fundadores da Biemal em 1978), e a maravilhosa praia do Moledo (muito frequentada pelas elites, como Vitorino de Almeida, o grande percursor dos festivais de verão, como o mítico festival de Vilar de Mouros e mais recentemente de Durão Barroso, ainda à procura, com uma lupa, das armas de destruição maciça no Iraque).

Esta incursão pelo Alto Minho terminou (aliás, era o objetivo principal), num baile de garagem junto à praia do Cabedelo , em Darque, Viana do Castelo, local onde nasceu (em 1974) a discoteca mais badalada no país e em Espanha - a mítica Luziamar.

Depois do regresso da Guiné fiz de Viana a minha segunda casa (comprando um andar no edifício mais mediático do país – o Prédio do Coutinho), onde a ida ao Luziamar era obrigatório. Esta mítica discoteca, hoje em ruínas, faz parte das minhas boas memórias.

Umas incursões à Invicta: rever amigos nos míticos cafés da cidade (o Estrela, o Piolho, o Magestic, o Ceuta…), cinema (relembrando as sessões duplas do tempo de estudante - uma “Coboyada” para o “macho” e um romance para a “garína”), um magnifico fino, com um pratinho de bolachas salgadas na antiga fábrica da cerveja e no final do dia umas tripas no restaurante Abadia ou na Casa Aleixo (Ramiro, o seu último proprietário, foi do meu pelotão nas Caldas da Rainha, fazendo também o caminho das pedras da Guiné, bem retratado na sua correspondência de guerra exposta nas paredes do restaurante), uma referência da cidade que não resistiu à pandemia. Felizmente o Abadia ainda existe e recomenda-se.

E, ainda, assistir a um jogo de futebol no estádio das Antas, descarregando todo o stress de guerra.

O meu grande problema surgia sempre que pedia uma cerveja, a primeira porção do líquido era lançado ao chão (gesto “pavloviano”) para certificar se esta estava em bom estado (obrigatório na Guiné este teste,  dado que grande parte das cervejas chegavam já estragadas - se fizesse espuma estava boa,  se não fizesse estava estragada). Lá me desculpava ao proprietário com a chegada recente da Guiné, que nunca convenci. Embora gostasse de beber cerveja da garrafa, comecei a intercalar com finos para evitar problemas.

Quando estava já a habituar-me a esta nova vida (já não me perturbava os fogos de artifício e já não deitava cerveja para o chão, já não assustava os meus amigos com saídas inopinadas da mesa de um café após um foguete), chegou a hora do regresso à Guiné.

O meu conselho aos camaradas que estavam a preparar-se para também partirem de férias era: não façam isso! É muito doloroso, mesmo, mesmo muito doloroso o regresso, sabendo o que nos espera, muito diferente da primeira partida. Sem sucesso, claro!

Continua...
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 25 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22482: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XIV: " Bora lá... para a nova casa, Nhacobá" (Op Balanço Final)

(**) Em mail que nos enviou ontem, às 16h47, esclarecendo algumas dúvidas do nosso editor, o Joaquim Costa escreveu:

"Luís, obrigado pela ajuda. Tens toda a razão. Obviamente a avioneta era dos TAGP e só podia ser um Cessna.

"Quanto ao piloto sei que era alguém muito conhecido na altura, com uma grande pedrada, pelo que, de acordo com o que me dizes só pode ser o Pombo.

"A foto da malinha claro que não é a da época mas foi a que encontrei mais aproximada.

"Quanto às minhas férias foram em 1973, no mês de Julho/Agosto (?). 

"(,,,) Uma vez mais obrigado pelo toque profissional que sempre dás aos meus postes.

"Um grande abraço e até ao dia 11 de Setembro, na Tabanca dos Melros." (...)

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Temos aí, no blogue, algumas boas descrições do alvoroço das férias e do seu penoso regresso... O descritor "férias" tem mais de meia centena de referências...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/f%C3%A9rias

Mas gosto da tua maneira bem humorado de contar... Essa do teste da cerveja não lembrava ao diabo!... Então, no final da guerra, a Intendência já vos mandava cerveja fora do prazo de validade?!... O teste que inventaste era infalível!...

Vínhamos todos "apanhados do clima" quando nos metíamos no avião da TAP...E depois aquela visão celestial, as meninas da TAP, lindas de morrer e gentis, a servirem-nos um uisquinho... Ainda dizem que a Pátria nos tratou mal...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já agora, Joaquim, tu que és um nortista (e portista) mas dos sete costados mas também gostas dos pasteis de Belém e de outras coisas e pessoas boas que há em Lisboandrade1@gmail.com (a começar pelos teus netos) diz-me: desde quando te lembras de a malta aí tratar os alfacinhas por "mouros" ? Desde o tempo do Ricardo Jorge ou do Pinto da Costa? É uma
curiosidade,sabes que eu tenho uma costela do Norte...As outras seis são de vários sítios... Abraço fraterno, Luis

Valdemar Silva disse...

Luís, o teste da cerveja já era utilizado em Nova Lamego (1969/70) por causa dumas cervejas de marca São Jorge (?) julgo duma fábrica de Coimbra, que "morria" na viagem e aplicávamos o teste generalizando a outras marcas.
Já vi por cá ser aplicado o mesmo teste, por quem nunca andou na nossas andanças, mas devido, julgo, a utilização de stocks fora de prazo.
De todas as peripécias das viagens de férias havia uma habilidade que não era para todos: a tática da viagem paga a prestações com o aval da Companhia.
A Agência de Viagens, ao lado do Grande Hotel ou da Igreja, em Bissau, num edifício colonial interessante, julgo também ser a Pensão da D. Berta, levava "banhadas" por, entretanto, a rapaziada passar à peluda pelos intervalos da chuva, com regresso a casa. Não me recordo como é que começavam as conversações/acertos destas viagens.
"Banhada" também tive eu quase a levar com um negócio de fotografias ao deserto tiradas do avião, vendem-se como tordos, dizia o fotógrafo banha de cobra.
A treta foi assim, inesquecível.
O meu colega de assento no avião TAP, quando vim de férias, eram um fuzileiro (?) comunicativo, que também vinha de férias e trazia uma máquina fotográfica a tiracolo. Conversa puxa conversa, propunha-se gastar o rolo que trazia na máquina em fotografias ao deserto por terem muita venda e como não tinha muito dinheiro para a revelação e várias cópias eu adiantava algum e quando voltasse-mos fazíamos contas. Não há problemas e dou a minha morada em Lisboa, dizia ele.
Como já tinha assistido várias vezes, na Baixa lisboeta, a negócios parecidos, e para não querer entrar em "pensas que eu sou totó" atirei-lhe com um 'ainda que fossem fotografias a gajas nuas pensava no assunto, agora do deserto não, por já toda a rapaziada ter centenas delas'.
Ele, entretanto, adormeceu e eu vi lá de cima o deserto do Saara durante algum tempo, até chegarmos a Lisboa.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Isto de escrever no telemóvel, à pressa, na sala de espera da fisioterapia, tem os seus inconvencimentos. O corretor automático prega-nos partidas... Por exemplo queria dizer apenas "Lisboa"..

Tabanca Grande Luís Graça disse...

JQueria dizer, no comentário das 10h56, que já eliminei, devido às gralhas:

"Joaquim, nesse tempo, quando vieste de férias, em junho de 73, também era um anacronismo dizer-se na laracha que o melhor de Lisboa era a autoestrada para o Porto. A A1 simplesmente não existia"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No comentário das 11h24, que também já eliminei, devido às gralhas, queroa dizer:

"Já agora, Joaquim, tu que és um nortista (e portista), dos sete costados, mas também gostas dos pasteis de Belém e de outras coisas e pessoas boas que há em Lisboa (a começar pelos teus netos) diz-me: desde quando te lembras de a malta aí tratar os alfacinhas por "mouros" ? Desde o tempo do Ricardo Jorge ou do Pinto da Costa?

É uma curiosidade minha,sabes que eu tenho uma costela do Norte...As outras seis são de vários sítios... Abraço fraterno, Luís".

Anónimo disse...

Meu caro Luís

Fiquei surpreendido pelo facto de no teu tempo de Guiné não se fazer o o teste da cerveja. Julgava eu que este necessário e infalível teste já vinha de longe. Ninguém acredita mas vivemos durante algum tento no Cumbijã sem os famosos frigoríficos a petróleo. Nessa altura só se conseguia beber uma cerveja de manha cedinho depois de ficar ao relento, durante toda a noite, a apanhar o cacimbo. Para alem de quente uma grande percentagem chegava já “morta”
O teste era mesmo fundamental. Nos encontros anuais há camaradas que continuam a fazer o teste deixando a zona do bar um “chiqueiro”.

Quanto ao chamar Mouros aos alfacinhas, segundo os livros da quarta classe, o primeiro foi D. Afonso Henriques;
Mas de facto, julgo eu, tudo começa (não como dizes no tempo Ricardo Jorge, mas no castelo de S. Jorge com o sacrifício do Martin Moniz) quando o Presidente Américo de Sá, que governava o clube a partir de Lisboa (pois era deputado do CDS/PP) demitiu Pinto da Costa e por arrasto Pedroto, pela forma como estes tratavam os clubes de Lisboa, causando-lhe alguns embaraços com os seus pares da capital. Foi o nosso (portistas) 25 de abril com Pinto da Costa a arrasar Américo Sá, e Pedroto a soltar os cães ao centralismo de Lisboa, que passaram definitivamente a ser Mouros. Eu próprio por vezes chamo a o meu neto mais velho,de 6 anos, de “Mou...rinho”
Eu desde sempre enfatizei as maravilhas do Porto cidade e em particular o FCP e vou mandando uma bicadas aos “Mouros” e em particular aos benfiquista e aos Sportinguistas. Contudo: a minha mulher é de lisboa e benfiquista; os meus filhos nasceram no Porto e são portista mas trabalham em Lisboa; a Minha Nora é Lisboeta e Sportinguista e os meus netos nasceram os dois no Hospital de Santa Maria em Lisboa. Como vez não tenho uma vida fácil.
Julgo estar a montar um cavalo de troia (azul) na mourama!
Joaquim costa

Valdemar Silva disse...

Caro Costa
No blog evitamos, e até é proibido, falar de clubismo futebolístico: o meu e melhor que o teu. E acho bem.
Mas, só desta vez e sem aleijar clubites.
Julgo que essa coisa, recente de +/-30 anos, de chamar mouros aos lisboetas nasceu da clubite entre o FCP e o SLB, interessante só em relação ao SLB.
É de tal maneira interessante que até sem querer, julgo eu, escreves benfiquistas e Sportinguistas. Porquê benfiquistas em letra pequena?
E ficamos por aqui, afinal de mouros todos temos um pouco, em 700 só se safaram uns poucos nas Astúrias, e é muito mais interessante os lisboetas serem alfacinhas e os portistas tripeiros.
E agora ia uma imperial, só para evitar o teste da cerveja engarrafada.

Abraço e saúde
Valdemar Queiroz

p.s. Viva o Glorioso!

Anónimo disse...

Caro Joaquim Costa,
Tenho de dar os meus mais sinceros parabéns ao Joaquim Costa.
Subscrevo na totalidade as suas delirantes histórias. Eu passei pelo mesmo, mais ou menos, mas há uma diferença temporal acentuada.
Fiz a comissão entre 21set67 a 04agosto69. Há aqui mais ou menos 5 anos de diferença temporal, que será da maior importância, num contexto destes.
Em 1972 a 1974 já tinha 3 filhos para criar e uma familia para sustentar, o que não era nada fácil.

Respondo a este Poste, porque és Nortenho como eu, sou do Porto, Portista, Bairrista, e um adepto do maior Presidente de um Clube de Futebol de todo o mundo, o nosso Pinto da Costa. Não sou amigo pessoal dele, conheço-o de longa data, jantamos lado a lado, tantas vezes, num Restaurante de Matosinhos, do qual não vou fazer publicidade, nunca nos falamos, apesar de tão perto estar dele. Eu com a minha garrafa de vinho branco fresquinho e ele com a sua garrafa de água do Luso. É uma falha da parte dele.
Podem por todos os defeitos que entenderem, mas é o nosso maior presidente de um Clube, e por acaso do meu clube, que o transportou ao maior símbolo nacional em todo o mundo, da era moderna. Tudo o resto é bater no molhado. Uma cidade honrada e trabalhadora, em antítese com a cidade consumidora, onde a maioria vive de esquemas de toda a ordem.
No meu tempo dizia-se que o melhor de Lisboa era a Estrada para o Porto, ou até podia der a Auto Estrada, pois havia Auto Estrada à saída de Lisboa e também uns quilómetros à saída do Porto. Este ditado deve vir já do tempo do nosso maior Presidente, sem o qual, o Porto, cidade e Clube, seria do tipo de Alfarelos ou Entroncamento. Bem haja a este homem que sabe honrar a sua cidade. Tenho as minhas reservas a certos pontos de vista da sua vida privada, mas isso nada tem a ver com a sua vida de dirigente ao mais alto nível.
Já via os jogos do Porto no Campo do Lima, depois no Campo da Constituição e assisti à construção do Estádio das Antas, onde passei momentos felizes. Depois na era moderna as coisas já não são assim, mas isso não é da minha competência.

Quanto a isto estamos falados, e nada há mais doloroso do que ver o Porto perder, e os outros clubes da capital a ganhar graças a outras variáveis que não entram nesta equação, que já não são do 2º grau, mas talvez do terceiro ou quarto.
Vou fazer uma pausa para poder continuar logo que possa.

.... continua .............

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Parte II:
Fiz as minhas férias, que já publiquei em dois postes ou mais, em Junho de 1968 e Março de 1969, com curiosidades também picantes, nos aviões da TAP, tratados como lordes, com hospedeiras que já não víamos há muito, na primeira vestido parcialmente como um FULA, fiz a cobertura aérea de toda a viagem, os desertos do Sahara, Mauritânia, Marrocos e outras, era só areia, bem como a cobertura no seu interior, tal era a sensação de voltar ao nosso lar.
As peripécias envolventes a quando da minha saída para férias são kafkianas, em especial a última, em finais de Fevereiro de 69, S. Domingos, a avioneta dos TAGP sem parar os motores, o comandante agarrado a mim que não me deixava ir, até que o piloto farto de esperar fez o seu ultimato, ou entra ou sai, e tinha o Bilhete já pago.
Dei um empurrão ao Coronel Xavier e dei um salto para dentro da avioneta DO, (fiz também outras viagens nos CESSNA).
O piloto arranca a grande velocidade, e o parolo do comandante ficou a olhar para o ar.
Por razões de serviço durante as minhas férias, quando regressei nunca mais voltei a S. Domingos, e nunca mais vi aquela aberração, a que os que ficaram chamavam de ‘Lavrador’ ou ‘Papaias’. Sei que depois o Spínola ou mandou para outro sítio mais ‘agradável’.
Todas as sensações são iguais para todos, quer na saída, mas também no regresso à Guiné, mas não me lembro de grandes mazelas a nível da tola.
Os tempos passados no Porto e arredores foram amplamente vividos ao lado da minha já namorada, hoje minha mulher, há 51 anos, e faltam os que vêm a seguir.
Todos esses sítios que falas parece que são a papel de cópia, mas realço os melhores momentos em sítio onde falas.
Nunca fui grande fã em cerveja de garrafa, só bebo finos, à pressão, com um grande colarinho, a espuma a cair pelo copo abaixo, Lisboa não tem disto.
A antiga fábrica de cerveja que falas, era a CUF, que passou para a Via Norte e no antigo local, na Praça da Galiza, nas traseiras da antiga Fábrica de Fiação do Jacinto, hoje com um empreendimento chamado da Galiza, que não teve grande sucesso, aí, nas mesas cá fora, em pleno Verão comiam-se as tais bolachinhas de sal, os camarões ao natural, mas o símbolo daquela casa, eram as sandes em pão pequeno – os chamados ‘mais um’, era o preâmbulo dos preguinhos de carne picada, picantes e muito agradáveis. Hoje são os hambúrgueres que nada têm a ver com os ‘mais um’, pois pedia-se um, e depois mais um, e depois mais um, etc…
Deves lembrar-te destas coisas, mas 5 anos de diferença podem ter alterado muita coisa, e eu fui viver para fora do Porto a 30 km, e perdi o fio da meada.

… Vamos continuar, mas por hoje, já não, o sono está a tirar-me as ideias…..

Virgilio Teixeira

Em, 02 de setembro, o dia da minha passagem à disponibilidade, em 1969.

Anónimo disse...

Poste P22499:
Virgilio Teixeira disse:

… Continuação …..

Face ao grande interesse que mereceram os meus comentários, acho que está tudo dito, e cesso aqui a minha intervenção neste tema.

Nem os Editores tiveram uma palavra de apoio!
Tem de se fazer parte do comité dos homens grandes…
VT.