segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7174: Convívios (279): Encontro do Grupo do Cadaval no Couço-Coruche (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem de José Manuel Matos Dinis, membro do Grupo do Cadaval, com data de 24 de Outubro de 2010:

Carlos, bom amigo,
Segue a pretensa reportagem de um encontro do Grupo do Cadaval.
Amanhã, provavelmente, o Henrique enviar-te-á as fotografias.

Um grande abraço
JD


O Grupo do Cadaval conviveu no passado fim de semana no Couço, Concelho de Coruche.
Segue a reportagem do acontecimento


Grupo do Cadaval
1.ª fila da esquerda para a direita: Pimentel, Rosales, Borrego e Fernando Marques.
2.ª fila pela mesma ordem: Belarmino Sardinha, José Brás, Lima, Joaquim Galvão, Hélder Valério, Dinis e Henrique Matos.


No último weekend ocorreu um festim muito badalado na pré-cidade do Couço, na extrema ribatejana, a calcar as canelas do Alentejo, na orla da maior cobertura chaparral da Europa, como nos relatou o feliz ex-presidente da Junta, o Joaquim Galvão, também ele ex-militar na modorrona Guiné, no final dos anos de paz, 1960/62. Foi uma iniciativa do segundo-comandante do Grupo do Cadaval, um homem sábio e generoso que, com ares de soba, gosta de reunir-se de mentes brilhantes e companheiros de fácil mastigação.

Possuidor de ampla propriedade, vasta de ares puros e frescos, ali organizou a concentração para demandarmos à mesa do cozido. O grupo apresentou dois reforços locais: o Joaquim Galvão, homem de linguajar fácil, tanto que referiu eu estar quase ao nível dele, que nos presenteou com lembranças da Junta a que esteve quase a eternizar-se na sabida presidência: saquinhos individuais, com material de escrita (entre outros mimos), pois sabia da presença de um dos nossos, escritor laureado, o Zé Brás, por sinal vizinho de concelho; e o Pimentel, também ex-combatente da época do Rosales, produtor de uma pomada sem aditivos, que se mostrou competente e de bom paladar, pinguinha que viria a acompanhar o lanche.

Mas ainda houve mais quatro reforços de grande mérito: O Lima e o Borrego, residentes na região, também eles companheiros do anfitrião em terras da Guiné, sendo que o Borrego já lhe era familiar do jogo da bola, pois se um capitaneava a equipe do Estoril, o outro exercia o mesmo mister nos Leões de Santarém. Para além deles, apresentou-se o sempre bem-disposto Fernando Marques que me conduziu com grande competência ao lugar do repasto, e o Henrique Matos, que fez a pequena distância de trezentos quilómetros para abancar connosco. É de se lhe tirar o chapéu!.

O grupo do Cadaval, porém, registou uma baixa de peso, o comandante Vasco da Gama impossibilitado por afazeres de ordem particular. Mas foi bastamente lembrado e ainda teve dedicatória posterior com o tal vinho puro de três castas.

Outras faltas a registar: o Graça de Abreu, empenhado num curso sínico que ministra em Lisboa, e o Jero, que tinha jurado pelas alminhas, lagarto, lagarto, lagarto, que se propusera a um sacrifício adicional só para partilhar da nossa camaradagem e, afinal, baldou-se sem razões, nem explicações, nem sacrifício, que isto de faltar à palavra perante os unidos do Grupo do Cadaval, também deixa marcas, e sobras alimentares.

Por dever de consciência recordo aqui aos eventuais leitores a restante composição do Grupo do Cadaval: o sub-comandante, é o já referido Jorge Rosales, homem sagaz, inteligente, comedido e de jurisdição simples, que revela amizade em cada momento e merece a admiração de todos. O Zé Brás, homem de mundos vários, com facilidade na escrita, através da qual expõe com mestria cenários, personalidades, emoções, sonhos e sofrimentos, com delicadeza e assertividade. Os restantes, a quem não dedico palavras especiais, porque são cidadãos simples, mas generosos e atentos ao mundo, são o Hélder Valério, o Belarmino Sardinha, e cá o escrevente que vos cumprimenta.

Concentrada a tropa à hora devida, que os horários são para cumprir, a coluna deslocou-se pela picada que liga o Couço à Courelinha, notando-se o corajoso Rosales a conduzir a viatura rebenta-minas, e os vultos da malta que o seguia a levar com a poeirada. Ali chegados, deparou-se-nos uma casa simples, sem recursos arquitectónicos, mas limpa e alva como só naquelas bandas encontramos. A mesa, para doze, já tinha as alfaias prontas. Tomámos posições, entre graças, fotografias e manifestações de apetite, face aos cheirinhos provenientes da cozinha aberta, no prolongamento da sala.

A abrir, uma sopa do cozido, com pão do forno e uma hortelã inspiradora.

Depois passámos ao conduto, numa sucessão de vegetais saborosos da tradicional cultura biológica, a que as carnes carregadas de paladar, mai-los enchidos caseiros, transportaram-nos para um céu de prazeres, estranhamente contraditórios com o pecado da gula. Pena tive eu de não possuir estômago tamanho que comportasse outro tanto, pois ainda salivo da belíssima lembrança.

À sobremesa foi servido um pudim que esteve à altura do acontecimento. O tintol era do Cartaxo e bebeu-se com agrado.

Passe a publicidade, o Café Barbeiro, com o telefone 243 650 180, não é propriamente um restaurante. No entanto, serve refeições por encomenda, sem lista, mas de qualidade e com fartura para que ninguém saia de mau humor. Esportulámos dez aéreos por bico, com a gratificação incluída.

Depois do café, incluído no almoço, e de mais umas achegas em discursos vários, despedimo-nos dos comparsas locais e do nosso escritor, que tinham outros afazeres, para demandarmos a casa do Rosales e mamarmos o lanche, antes que fosse tarde, e consistiu de dois peixes escalados, salgados na hora para assentarem praça na grelha, prateados e com a frescura necessária. Nos entretantos, petiscámos um queijinho de ovelha e um chouriço, tudo de boa confecção e temperos, coisas que se foram num ápice, dando a parecer que o almoço não teria sido farto e bom. Só que às coisas divinais não temos por hábito manifestar desprezo, e então continuámos a cumprir religiosamente.

Pronto, meus caros leitores, não vos prolongo o sofrimento, e declaro-vos superiormente autorizados a comer um pedaço de pão com manteiga para matar a fome que vos assola.
JD
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7122: Convívios (195): 40 anos depois... Pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70 (António Rodrigues)

4 comentários:

manuelmaia disse...

CAROS MEMBROS DO GRUPO DO CADAVAL,

JÁ NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE DOU COMIGO,BABA A CAIR DA BOCA,ENQUANTO LEIO A "DINISIANA NARRAÇÃO" VOLTADA PARA A MASTIGAÇÃO E SOBRETUDO A TINCADEIRA( NESTE CASO DAS "TERMAS" DO CARTAXO...)
PELA FORMA COMO A NARRATIVA ACONTECE,VAMOS PROVANDO UM VIRTUAL PÃO ALENTEJANO,A AZEITONA( MAU GRADO NÃO TRATADA, "CONCERTEZAMENTE" POR LEVE VAPORIZAÇÃO BÁQUICA DO ESCRIBA DE SERVIÇO,CONHECIDO
TAMBÉM PELO PIPI DE CASCAIS",PARA NOS ENVOLVERMOS NA "LUTA" COM O PRATO DO CONDUTO,ATÉ QUE O "PANÇÃO" O ACOMODE NAS SUAS ALARGADAS INSTALAÇÕES CRIADAS DE HÁ UNS ANOS A ESTA PARTE,FRUTO DE ENCONTROS SIMILARES PRETEXTADOS TAMBÉM POR REUNIÕES "BÉLICAS"...

FIQUEI SIDERADO FOI COM A CAPACIDADE DE ENCAIXE DA VITUALHA,(TERIA QUE TER FICADO MUITO ARRUMADINHA AO ESTILO DA COMPARTIMENTAÇÃO DE MERCADORIA EM CONTENTOR...) PARA SER POSSÍVEL ARRANJAR ESPAÇO PARA ARRUMAÇÃO DOS GRELHADOS SERES DE BARBATANA E GUELRAS DENUNCIADORAS DE FRESCURA TOTAL...
ASSIM,NEM O MARITO SO ARES, CAPAZ DE ABSORVER O OUTRO MUNDO E AINDA A CABEÇA DESTE,COMO DIZIA UM AMIGO MEU SEMPRE QUE SE REPORTAVA AO MONTADOR DE TARTARUGAS DAS SEYCHELLES E ELFANTES INDIANOS...

UM GRANDE ABRAÇO PARA TODOS DESTE VOSSO AMIGO QUE,AO QUE FICOU REGISTADO NOS ANAIS,PARECE TER SIDO O RESPONSÁVEL PELA CRIAÇÃO DESSA VOSSA ASSOCIAÇÃO DO GARFO,CONHECIDA INTERNACIONALMENTE PELO GRUPO DO CADAVAL OU BANDO DO CADAVAL...

José Marcelino Martins disse...

Obrigadinho, Zé!
Pelo menos lembraste-te da malta (no final do texto).

Continuação de muito bom apetite!

Anónimo disse...

Cumprimento todos os camaradas e amigos retratados numa foto " sol e sombra" possivelmente em homenagem ao nosso escritor JB a lembrar os seus idos tempos de forcado amador ainda apaixonado, nos tempos de hoje, pela arte taurina.

Realço a pose desse amigo do peito e camarada de farda amarela que vos recebeu no Couço, o grande Rosales, renomado jogador de futebol do Estoril Praia que não perdeu o estilo que o tornou famoso em meados do século passado, fotograficamente falando é claro, pois a meter golos tinha um pouquito menos de à vontade, fazendo lembrar um tal levezinho do lado de lá da circular...

Que dizer do JD? Estranhei aquele sorriso de orelha a orelha, mas a explicação estava à vista: almocinho no CAFÉ Barbeiro; cumpriu pois o nosso "pipi de Cascais" o dois em um : almoço farto e bem regado e corte de cabelo à maneira, vulgo carecada, tudo por dez "aéreos".

Espero estar presente num próximo encontro pois vou também falhar a ida à Tabanca do Centro do nosso comandante e camarigo Mexia Alves.

Tudo se há-de resolver.

Um abraço para vocês e para todos os camaradas da Tabanca Grande.

Vasco A. R. da Gama

Luís Graça disse...

Vinte valores pela iniciativa, a amizade, a camaradagem, o convívio, o repasto... Vinte mais um pelo "relatório da operação"...

Se a qualidade literária dos relatórios de muitas das nossas operações no CTIG, em meados do século passado, se aproximasse um pouco deste português de lei, muitos dos nossos oficiais milicianos e do QP que os redigiram, seriam hoje "estudados" no ensino secundário e superior, como grandes prosadores da língua portuguesa... (Bem, a alguns não sobrava a língua, mas faltava o verbo)...

Pois, meus amigos e camaradas, é prosa de muitos quilates, ora castiça, curta e grossa, ora subtil, de fino recorte, esta, aqui assinada por mais um dos "penas de ouro" da nossa Tabanca Grande, o Zé Dinis, que eu em tempos tive a veleidade de tentar "contratar" para a equipa editorial deste blogue (mas outros valores ou voos mais altos de "alevantaram" dessa vez...).

Vejam só este início de oração (onde o que está a mais é só o anglicismo):

"No último weekend ocorreu um festim muito badalado na pré-cidade do Couço, na extrema ribatejana, a calcar as canelas do Alentejo, na orla da maior cobertura chaparral da Europa, como nos relatou o feliz ex-presidente da Junta, o Joaquim Galvão, também ele ex-militar na modorrona Guiné, no final dos anos de paz, 1960/62". (...)

Um Alfa Bravo para todo o Grupo (alargado e enriquecido) do Cadaval.

Luís Graça