Foto nº 1 > Guiné-Bissão >Região de Quínara > Buba > Esquadrão de morteiro 81 >
Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabarl > Pasta: 05360.000.325 > Espaldar de morteiro, mais provavelmente do Pel Mort 2138 [e não 2139], que esteve em Buba (1969/71). Como o espaldão está desativado, a foto deve ser posterior ao 25 de abril de 1974.
Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Buba > CCAÇ 2382 (1969/71) > Posição do espaldão do morteiro 81, na embocadura do rio Grande de Buba [poste P18231]
Fotos (e legendas): © Fernando Oliveira ("Brasinha") (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974)
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969 (AO TEMPO DA CCAÇ 2382 E DO PEL MORT 2138): OS FRACASSOS ASSUMIDOS PELO PAIGC
por Jorge Araújo
1. INTRODUÇÃO
Como tive a oportunidade de referir na anterior narrativa sobre este tema, uma foto de um “espaldão de morteiro” localizada na Casa Comum - Fundação Mário Soares - na pasta: 05360.000.325, com o título/assunto: “Ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2138, do exército português… estrutura militar portuguesa à beira de um rio [?]: ponto de tiro de morteiros, do pelotão de morteiros 2138” [poste P18223] deu lugar a uma nova investigação, tendo duas questões de partida [foto nº1]:
(i) como chegou ela (foto do espaldão) às mãos da guerrilha e/ou aos arquivos de Amílcar Cabral (1924-1973);
(ii) em que aquartelamento das NT teria ele sido construído?
Quanto à primeira questão, creio ser difícil, quase impossível, obter uma resposta fiável, a não ser que o seu autor tomasse a iniciativa de se identificar. Quanto à segunda, foram várias e imediatas as respostas, dando-nos conta tratar-se do «Espaldão do morteiro 81», colocado na embocadura do rio Grande de Buba, junto ao arame farpado do Aquartelamento de Buba. [foto nº 2]
Para além da preciosa ajuda dos nossos camaradas tertulianos que por lá passaram, destaco aqui o contributo do Fernando Oliveira (Brasinha) do Pel Mort 2138, que fez o favor de nos mandar algumas fotos desse local [poste P18231] … com história, e que muito agradecemos.
Para que conste, apresentamos acima duas fotos desse espaldão, a primeira, talvez de 1973 ou princípios de 1974 [ou mais tarde] (a do arquivo de fotos de Amílcar Cabral), a segunda do tempo do Pel Mort 2138 (1969/1971), do baú de memórias do camarada “Brasinha”.
2. O ATAQUE A BUBA EM 12 DE OUTUBRO DE 1969
A análise ao modo como o PAIGC planeou este ataque ao aquartelamento de Buba em 12 de Outubro de 1969, domingo, deu origem à elaboração de um “Relatório do Ataque” por parte do comandante da CCAÇ 2382 (1968/1970), ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes de Araújo, bem como o competente croqui sobre a distribuição das forças IN. Este foi redigido a partir da informação obtida através da leitura dos documentos apreendidos ao capitão cubano Pedro Rodrigues Peralta, na sequência da sua captura por tropas paraquedistas do CCP 122/BCP 12, em 18 de Novembro’69, durante a «Operação Jove» [vidé poste P18223].
Recorda-se que este ataque foi liderado por Pedro Peralta e 'Nino' Vieira. De acordo com as informações do camarada Fernando Oliveira, este ataque foi lançado pela parte superior da pista de aterragem de aeronaves, tendo o IN estado muito próximo do arame farpado. O especial desempenho vai para o Esquadrão de Morteiros, junto à pista. Este ataque foi o baptismo de fogo do Pel Mort 2138, coincidindo com a despedida da CCAÇ 2382, comandada pelo Cap Carlos Nery Araújo.
Na infogravura abaixo, retirada do livro «Guerra Colonial», do Diário de Notícias, p. 295, as setas a amarelo servem para referenciar a zona onde se iniciou o ataque.
3. RELATÓRIO DO PAIGC SOBRE O PRIMEIRO ATAQUE A BUBA
- 12 DE OUTUBRO DE 1969
Como instrumento de investigação histórica «do outro lado do combate», visando encontrar eventuais elementos contraditórios entre versões, recorremos, uma vez mais, à principal fonte de consulta (privilegiada) que são os Arquivos de Amílcar Cabral, localizados na Casa Comum – Fundação Mário Soares.
Aí encontrámos referência a este ataque a Buba, realizado em 12 de Outubro de 1969, que pode ser consultado em: (1969), “Relatório das operações militares na Frente Sul”,
http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40082 (2018-1-20).
Nas primeiras duas páginas desse relatório de um total de vinte e três, cujo autor se desconhece, e que abaixo se apresenta dividido em pequenos fragmentos, é referido:
Na introdução:
“Após um longo período de minucioso reconhecimento e preparação das condições para a actuação da artilharia (tiro directo e indirecto) distribuída por 3 posições de fogo distintas, dedicou-se especial atenção em encontrar as vias de acesso para a infantaria e locais para a sua disposição. No cumprimento desta última missão de reconhecimento temos a lamentar a morte de um camarada e o ferimento de outros dois, entre os quais o camarada CAETANO SEMEDO, em consequência da detonação duma mina antipessoal”.
Efectivos:
Dispunhamos para a operação dos seguintes efectivos:
Artilharia
- 9 canhões sem recuo B-10, com 90 obuses;
- 9 morteiros 82, com 180 obuses;
- 2 peças GRAD, com 7 foguetes;
Infantaria
- 5 bi-grupos para o assalto ao quartel;
- 3 bi-grupos para isolar Buba dos visinhos;
- 1 bi-grupo para a segurança da artilharia;
Defesa anti-aérea
- 12 DCK
Desenvolvimento da acção:
A operação devia ter início no dia 12 de Outubro [1969] às 17 horas, mas devido a atrasos na instalação dos canhões, só foi possível iniciá-la às 17h30.
Os canhões efectuariam tiro directo a uma distância de 1.200 metros; os morteiros 82 e GRAD estavam em ligação telefónica com o posto de observação, situado a 800 metros do quartel. A posição dos morteiros estava a 2.200 metros e a das peças de GRAD a 3.950 metros do quartel.
Primeiro abriram fogo os canhões B-10, que falharam completamente, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia], concentrando sobre o posto de observação (possivelmente já descoberto por ele), sobre a posição do fogo dos canhões e sobre o itinerário percorrido pela linha telefónica; como resultado da explosão dos obuses o fio telefónico foi cortado em 7 [sete] lugares diferentes, ficando a ligação interrompida.
A operação devia ter início no dia 12 de Outubro [1969] às 17 horas, mas devido a atrasos na instalação dos canhões, só foi possível iniciá-la às 17h30.
Os canhões efectuariam tiro directo a uma distância de 1.200 metros; os morteiros 82 e GRAD estavam em ligação telefónica com o posto de observação, situado a 800 metros do quartel. A posição dos morteiros estava a 2.200 metros e a das peças de GRAD a 3.950 metros do quartel.
Primeiro abriram fogo os canhões B-10, que falharam completamente, tendo apenas dois obuses atingido o quartel. O inimigo respondeu com um nutrido fogo de morteiros [Pel Mort 2138], canhões [2.º Pelotão/BAC], metralhadoras e armas ligeiras [CCAÇ 2382 + Pel Milícia], concentrando sobre o posto de observação (possivelmente já descoberto por ele), sobre a posição do fogo dos canhões e sobre o itinerário percorrido pela linha telefónica; como resultado da explosão dos obuses o fio telefónico foi cortado em 7 [sete] lugares diferentes, ficando a ligação interrompida.
Além disso, unidades inimigas de infantaria cruzaram o rio, pondo sob a ameaça de liquidação do posto de observação, os canhões, em retirada, e os morteiros.
Nestas condições, abortou a acção da artilharia, que teve que se retirar, sempre debaixo do fogo das armas pesadas do inimigo.
Como não actuou a artilharia, tampouco actuou a infantaria.
Tivemos duas baixas na operação: dois feridos, um dos quais veio a falecer mais tarde. Além disso, temos a lamentar a morte de um camarada de infantaria, por acidente.
Fonte: Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivo Amílcar Cabral
Pasta: 07073.128.011. Título: Relatório das operações militares na Frente Sul. Assunto: Relatório das operações militares do PAIGC contra Buba, Bedanda, Bolama, Cacine, Cabedu, Empada, Mato Farroba, Cufar. Utilização dos foguetes. Algumas impressões sobre a utilização da arma especial (GRAD) na Frente Sul durante os meses de Outubro e Novembro de 1969. Data: c. Novembro de 1969. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969. [Guileje]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.
Em jeito de conclusão, podemos dizer que os dois relatórios se complementam, pela adição dos detalhes particulares observados em cada um dos lados do combate.
Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
22JAN2018.
_______________
Nota do editor:
Último poste da série > 14 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18086: (D)o outro lado do combate (16): razões e circunstâncias da prisão e condenação do arcebispo católico de Conacri, Raymond-Marie Tchidimbo (1920-2011), na sequência da Op Mar Verde: de "santo" a "diabo", aos olhos do "guia iluminado", Sékou Touré: o testemunho do mais célebre prisioneiro político do sinistro campo de Boiro (excerto com tradução de Jorge Araújo)