quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18273: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XIII: uma mudança (histórica) sob o spinolismo: em 1 de janeiro de 1969, o administrador de São Domingos, cabo-verdiano, é substituído por um guineense


Foto nº 7 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Miúdos da Mocidade Portuguesa local, trajando a rigor e usando ténis...


Foto nº 7 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos  > Miúdos da Mocidade Portuguesa local


Foto nº 6 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > "Djubis" da população local,  imitando os jovens da Mocidade Portuguesa...


Foto nº 6 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Aspeto da povoação, com um grupo de miúdos à direita.


Foto nº 1 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Em primeiro plano, o cmdt do BCAÇ 1933 e o administrador cessante, cabo-verdiano.


Foto nº 1Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > O cmdt do BCAÇ 1933, o administrador cessante, cabo-verdiano, a população local e os militares da guarnição local (onde se realizou a cerimónia de boas vindas).


Foto nº 8 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos  > Em primeiro plano, o  novo administrador, guineense, e o administrador cessante, cabo-verdiano. Ao fundo,  uma representação da Mocidade Portuguesa local.


Foto nº 8 >  Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Os dois administradores, em primeiro plano, cumprimentados por uma criança.


Foto nº 5 A > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Mocidade Portuguesa e população local (1)


Foto nº 5 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Mocidade Portuguesa e população local (2)


Foto nº 4 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Assistência frente à sede da circunscrição administrativa.


Foto nº 3 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa de São Domingos > Os dois  administradores, o cessante, em primeiro plano.


Foto nº 2 > Guiné > Região do Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Janeiro de 1969 > Cerimónias da mudança do administrador da circunscrição administrativa (equivalente da concelho) de São Domingos (na província, havia mais as seguintes sedes de circunscrição administrativa: Teixeira Pinto, Bissorã, Mansoa, Farim, Bafatá, Nova Lamego, Bolama, Bubaque, Fulacunda e Catió) > Na foto, os dois administradores, o cessante, à direita, e o novo (aqui a falar comum régulo local), à esquerda.

Os administradores de circunscrição eram funcionários com vastos poderes, de acordo com a reforma administrativa ultramarina de 1933: para além das competências de administração p.d., as suas atribuições eram também nos domínios da  autoridade civil, da autoridade judiciária, da política indígena, da fiscalização, da defesa económica e da informação (artº 47 do decreto-lei 23229, de 15 de novembro de 1933).

Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita; economista reformado, vive em Vila do Conde].

Mensagem de 18 do corrente:

Boa tarde Luís e Vinhal:

Achei,  dentro dos meus álbuns, um acontecimento algo inesquecível, e que pode ser útil a alguém. Gostaria de o ver publicado e com o texto de anotações e legendagem

Um Ab
VT


II. Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira   > A mudança do Administrador de São Domingos, em janeiro de 1969 

Legendas e Anotações:

1 – Em 1 de Janeiro de 1969 deu-se a cerimónia de mudança do administrador local [, da circunscrição administrativa de São Domingos]. Sai um cabo-verdiano, o homem de bigode, e entra um homem preto, local,  guinéu de raça.

Há um conjunto de cerimónias de vários dias, com a participação da população local, em grande festa de ronco – estas fotos estão noutro lote – bem como as entidades militares oficiais.

No dia 31 de Dezembro de 1968 foi feita uma recepção nas instalações da administração, com convite do comandante do BCAÇ 1933 e restantes oficiais, onde eu lá estive também, e nunca me esquecerei da monumental ‘bebedeira’ com direito a ‘coma’,  e levado para a minha cama pelos furriéis da CART 1744, a quem devo e agradeço.

2 – Temos a chegada do novo administrador em avião civil, a recepção no ‘aeroporto’ de S. Domingos, e aquelas coisas todas que já se imaginam. O fotógrafo também estava lá.

3 – Há movimentos de crianças da Mocidade Portuguesa, e agora vejo pela primeira vez na foto com 2 rapazes, que eles já tinham ténis como agora todos usam [foto nº 7]. Não sei se esta foto é assim tão antiga – 49 anos.

Para não pesar muito seleccionei estas poucas fotos e o amigo Luís edita as que quiser e achar melhores.

Foi um acontecimento marcado por grandes festas durante muitos dias. Diz-se que finalmente um administrador [, que era mais do que chefe de posto,] passou a ser negro, mas não sei bem.

Tenho esperanças que gostem destes postes.

Em, 18-01-2018 - Virgílio Teixeira
_____________

24 comentários:

Valdemar Silva disse...

Excelentes fotografias de grande interesse histórico.
Grande ambiente de portuguesismo, até havia crianças calçadas.
Bandeira Portuguesa, Mocidade Portuguesa, não sabemos se houve vivas ao Salazar.
Tudo isto por uma substituição do administrador de S. Domingos por um guineense.
'AQUI É PORTUGAL', tal como por cá em Castro Marim ou em Vila Verde, mas os de cá tinham Bilhete de Identidade de Cidadão Português os de lá eram nativos da Guiné.
O spinolismo chegou centenas de anos atrasado e os tempos já eram tempos de mudança.

Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Também interessante seria saber o percurso daqueles rapazes da Mocidade.
Passaram quase 50 anos, o que se teria passado com eles?

Valdemar Queiroz

patricio ribeiro disse...

Noticias actuais de S. Domingos.

- Há varias semanas que em S. Domingos, se ouvem as morteiradas do outro lado da fronteira, nas matas entre S. Domingos e Zinguichor.

- Por Bissau, desde há dois dias que ninguém se pode aproximar da Praça do Império, umas granadas e fumo e umas balas de borracha, não deixam...

- Não podemos esquecer que estamos em África.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio:

Aqui tens, vê se queres acrescentar algo mais ou corrigir... Devias querer dizer "administrador de circunscrição", que estava acima de "chefe de posto"... S. Domingos era sede de circunscrição administrativa (, equivalente a concelho).

Vejo, por outro lado, que a Mocidade Portuguesa estava bem implantada na região do Cacheu... Sabes a razão ? Era trabalho do administrador cabo-verdiano, cessante ?

Ab, Luís

PS - Deve ser do teu tempo o José Salvado, ex-fur mil arm pes inf, CART 1744 (S. Domingos, 1967/69), nosso grã-tabanqueiro. De 1971 a 1974, esteve am Angola na carreira de administração ultramarina. É hoje advogado, vive nas Caldas da Rainha. Também partilhou connosco o seu excelente álbum fotográfico da Guiné, em especial do "chão felupe".

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/CART%201744


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Jos%C3%A9%20Salvado

De Susana e Varela, e do Cacheu, e de Ingoré...temos vários camaradas: Luis Fonseca, Delfim Rodrigues, Armando Costa..., camaradas com uma relação especial com o chão felupe tal como os irmãos do nosso saudoso cap cav Luís Rei Vilar (que já não é do teu tempo).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Cap%20Lu%C3%ADs%20Rei%20Vilar

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar: independentemente do juízo que cada um de nós possa (e queira) fazer das instituições paramilitares do Estado Novo (Legião Portuguesa, Mocidade Portuguesa Masculina e Feminina...), a verdade é que as fotos como estas são raríssimas e têm interesse documental...

A raridade refere-se aos nossos álbuns, aqui publicados. Não me lembro, no meu tempo de Guiné (1969/71), ver miúdos (, já não digo miúdas...) da Mocidade Portuguesa...Talvez houvesse em Bissau, enquadrando a população estudantil... Mas no leste (Contuboel, Bambadinca, Bafatá...), nunca vi uma farda da Mocidade Portuguesa... Talvez os felupes gostassem mais de farads do que os fulas... No caso de São Domingos, pode ser até um caso "excecional"...

De qualquer modo, há um constraste evidente entre os miúdos das fotos 6 e 7...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Por outro lado, parte da população está descalça (bajudas, mulheres grandes, para não falar dos miúdos...). Ora os administradores (através da polícia administrativa) reprimia ou punia o andar de descalço nas vilas e cidades... Por exemplo, Bafatá.

Ainda no meu tempo ouviam-se queixas sobre os "abusos" da administração (administradores de circunscrição, chefes de posto, cipaios, sem falar dos régulos...). Com o Spínola, os "abusos" das autoridades (civis... e militares) passaram a estar sob "escrutínio"... Não sei se alguma administrador foi preso ou acusado de "abuso de autoridade"... Já de militares, tive conhecimento (pessoal) em Bissau: por ex., o capitão Pratas e um dos seus furriéis, o Vitor... (Um caso, de resto, bem conhecido de quem ia a Bissau, passava pelos Adidos ou frequentava a 5ª Rep).

Valdemar Silva disse...

Luís.
É verdade, em Bafatá havia multas para quem fosse apanhado a andar descalço (as crianças estavam safas).
Mas, contaram-me lá, uma vez, que com o pagamento da multa tinha direito a um par de chinelos ....devia ter sido ideia de algum comerciante.

Ab

Valdemar Queiroz

Cherno Balde disse...

Caros amigos Valdemar e Luis Graca,

Com as reformas introduzidas por Adriano Moreira em 1961 (muito tardiamente), o estatuto do indigena foi substituido por uma lei que facilitava a assimilacao e desta forma permitia a obtencao do BI de cidadao portugues. Em 1971 o meu irmao, q tinha concluido a 4.a Classe obteve em Bissau o seu BI como muitos outros colegas.

Desde 1968 ou mesmo antes, que em todas as escolas da Provincia havia a formacao e preparacao da Mocidade portuguesa e, mocidade que se preza tinha que ter o equipamento completo: camisa verde, calcoes, meias, sapatilhas e chapeu de cor castanho. Depois eram organizados encontros a nivel de cada regiao para competicoes desportivas e confraternizacao e ainda um acampamento nacional para os mais destacados em Quinhamel.

Surpreende-me que o Luis Graca nunca tenha visto jovens da Mocidade em Bambadinca e Bafata. Em Fajonquito sempre aproveitavamos a boleia da tropa para vir a Bafata ou Contuboel.

Na foto n. 7 o elemento da mocidade do lado esquerdo parece-me que eh uma menina com o par de tenis (Sancho) que nao era propriamente um equipamento oficial da Mocidade portuguesa. Do lado esquerda da bandeira pode-se ver parte do edificio da escola. Nos anos 60, com o inicio da guerra, foram construidas em todas as localidades com alguma importancia demografica. Ja era tarde demais para o imperio.

Com um abraco amigo,

Cherno AB.

Anónimo disse...

Nao, desculpem, nao se trata de uma menina, porque as meninas usavam saias da mesma cor.

Cherno

Valdemar Silva disse...

Caro Cherno.
Desconhecia, totalmente, o que acabas de nos contar.
Também, não me recordo de ver Escolas Primárias, quer em Contuboel, quer em Nova Lamego ou Paunca, quanto mais rapazes ou raparigas fardados à Mocidade Portuguesa.
Quanto à obtenção de BI de Português, julgo que era difícil a sua obtenção.
O Umaru Baldé teria parte do seu assunto resolvido se tivesse à data da vossa Independência BI de Português, documento que não possuía realmente, assim como muitos milhares de guineenses.
Cherno, continuas a ser uma enciclopédia de assuntos da Guiné, a tua colaboração no
nosso blogue é uma resposta para tudo....é caso para dizer tu até sabes o que é o esternocleidomestaoideu.
Um abraço
Valdemar Queiroz Embaló

Antonio Rosinha disse...

Em Angola. milhares de estudantes do liceu, escola industrial e comercial em geral pertenciam à Mocidade Portuguesa já desde os anos 40 e 50.
Os chamados estudantes da casa do império, a maioria foram da Mocidade Portuguesa.
Só depois de 61 é que terá havido menos incremento dessa actividade, não sei explicar o porquê.
Então os filhos mestiços dos velhos comerciantes e fazendeiros e de funcionários, (que alguns foram para o MPLA), a maioria ia para a Mocidade, onde tinham tudo quanto era desporto, natação, vela...eram uns privilegiados, enquanto os primos deles aqui no "puto" viviam nas aldeias do velho pai, descalços no pastoreio e às vezes nem à escola iam.
E esses malandros quando vinham de férias à metrópole, até se davam ao luxo de se passearem pelas aldeias, de farda completa da Mocidade, cinto com S e botins pela meia canela, só para chatear.
(Devemos contar coisas presenciámos)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, se a nossa Tabanca Grande fosse convidada a formar governo... na Guiné-Bissau, não tenhas dúvidas que faríamos boa figura... E um dos nossos incontornáveis ministros da cultura seria o Cherno Baldé... É um privilégio tê-lo aqui, no nosso blogue, como assessor sempre pronto-a-usar sobre as mais variadas questões religiosas, históricas e étnico-linguísticas que a Guiné-Bissau nos põe...

O Cherno não me leva a mal por eu lhe dizer que "nunca vi" uma farda da Mocidade Portuguesa, em Contuboel (onde estive menos de 2 meses) ou em Bambadinca (onde passei o resto do tempo) ouy em Bafatá (onde só ia "em passeio", em geral...) ou em Bissau (sítio de passagem)...

Bambadinca era uma terra importante, com CTT, posto administrativo, várias casas comerciais, porto fluvial... Havia escola primária, e uma professora cabo-verdiana... E uma igreja e uma missão católica, e uma c9munidade cristã...

Se à frente sda escola estivesse um homem, talvez este tivesse mais apetência para organizar localmente a Mocidade Portuguesa... A escola, que devia ter várias turmas, da 1ª à 4ª classe, ficava dentro do perímetro militar. Como eu era operacional e passava muito tempo fora, é possível que nunca tenha visto cerimónias com autoridades civis e militares em que entrassem também os jovens (rapazes e raparigas) da Mocidade Portuguesa... Confesso que devia ter estado mais atento a estes aspetos da vida daquela comunidade... Infelizmente nunca falei com a professora nem sequer me lembro do chefe de posto... Já do poderoso régulo de Badora, lembro-me muito bem...

Cherno AB disse...

Caro amigo Valdemar,

Compreende-se que voces que vieram fazer a Guerra nao tivessem olhos para ver outras coisas, pois o esforco para a sobrevivencia falava mais alto e nao era por menos. Em Paunca, de certeza que havia uma escola a funcionar o que nao se pode dizer de Guiro-Iero-Bocar que eh uma aldeola perdida no mato.

O 10 de Junho era festejado em todas as escolas e com a participacao da administracao civil e, em alguns casos, tambem de oficiais das companhias em quadricula como mostra uma foto que enviei mostrando o meu irmao mais velho a discursar na presenca de Oficiais do exercito e dos Professores por ocasiao do 10 de Junho de 1971, em Fajonquito, fardado a rigor e com o chapeu colocado por cima do ombro esquerdo, como mandavam as regras. No local estavamos muitos, mas o fotografo concentrou-se no alvo principal.

Caro Valdemar, a obtencao do BI nao era dificil, mas era preciso preencher certas condicoes. Todos os casos que conheco sao de pessoas que tinham concluido, no minimo, a 4a Classe. A milicia (voluntarios da sua propria desgraca) nao precisava na altura e, se calhar nem preenchiam as condicoes exigidas.

Por outro lado, duvido muito que os jovens da mocidade fossem Felupes, como pensa o Luis Graca, mais plausivel seria que fossem filhos de familias de comerciantes assimilados originarios de outros grupos e que trabalhavam em S. Domingos e arredores, pois os verdadeiros Felupes ainda nao teriam saido dos seus tarrafos, de qualquer modo ja se notavam algumas mudancas sociais em todos os grupos etno-linguisticos da Guine. A este periodo os nossos velhos apelidaram de "a epoca dos brancos" que na linguagem moderna se convencionou chamar de globalizacao ou mundializacao.

Caro Valdemar, ha um proverbio nosso que diz assim: "O velho nao eh, de modo algum, amigo de Deus, simplesmente convivem ha muito tempo". Isto a proposito das tuas palavras de elogiu (?).

Com um abraco amigo,

Cherno Balde

Anónimo disse...

Quanto a questao central do presente Post que eh a mudanca do Administrador, julgo que se enquadrava perfeitamente na politica ou estrategia do Gen. Spinola, em que ele acreditava profundamente e quis dar continuidade mesmo apos o 25ABRIL74 (o que poderia motivar o 25 de Novembro, por exemplo). Nao foi compreendido e poucos o quiseram acompanhar na sua aventura que, provavelmente, vinha muito atrasada ou muito cedo demais, nao sei ao certo. O tempo se encarregara de mostrar quem tinha razao. Eu, pessoalmente, acho que ele tinha razao mesmo se as hipoteses de faze-las passar eram muito poucas. Os velhos tem sempre razao.

Cherno AB

Anónimo disse...

Queria referir-me ao golpe de 11 de Marco de 1975.
As minhas desculpas.

Cherno

Valdemar Silva disse...

....'A milícia (voluntários da sua própria desgraça)'...
....'O velho não é, de modo algum, amigo de Deus, simplesmente convivem há muito tempo'....
Cherno Baldé


Valdemar Queiroz

Cherno AB disse...

Caro Valdemar,

O proverbio nasceu de um surate do alcorao que diz mais ou menos assim: Diz (oh Muhammad) Ele eh allah (Deus), o unico, o absoluto, omnisciente e omnipresente, que nao gerou e nao foi gerado, que nao tem amigo nem inimigo, nao tem parceiros ou subalternos e ninguem eh comparavel a Ele.

Nao eh sujeito a discussao nem para submeter ao contraditorio, trata-se de um dogma religioso.

Um abraco,

Cherno

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Cherno, pelo contributo (mais uma vez, importante para o nosso blogue) que me mandaste, lembrando que tens diversos apontamentos sobre a organização e funcionamento da Mocidade Portuguesa (MP) na Guiné, no teu tempo de menino e moço...

Vou fazer um apanhado de tudo o que escreveste, no blogue, "en passant", sobre a MP na Guiné...

Tens aqui uma entrada, na Wikipédia, com informação relevante sobre a MP:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mocidade_Portuguesa

Criada em 1936 e obrigatória para os jovens até aos 14 anos, esta organização juvenil do Estado Novo, pelo Decreto n.º 29453, de 17 de fevereiro de 1939, foi alargada «à Mocidade Portuguesa das colónias, de origem europeia, e à juventude indígena assimilada» a quem passava a ser dada "uma organização nacional e pré-militar" que devia estimular: (i) a sua devoção à Pátria, (ii) o desenvolvimento integral da sua capacidade física; e (iii) a formação de carácter", incutindo-lhes ao mesmo tempo (iv) o sentimento da ordem, (v) o gosto pela disciplina e (v) o culto do dever militar, e colocando-as em condições de (vi) concorrer eficazmente para a defesa da Nação.

Tens razão, os felupes em S. Domingos, em 1968/69, não deviam ser "elegíveis"...

Vou ver mais fotos de (ou relacionadas com) a MP que temos no blogue, além das de Fajonquito.

Abílio Duarte disse...

Olá Valdemar, como tens passado?
Espero que tudo corra no melhor.
Esta minha entrada no blog, e em relação ao assunto em questão, só te quero alertar, que em Nova Lamego,havia Escola Primária.
Quando saiamos do nosso Quartel (Quartel de Baixo) era do lado direito da rua, em frente á residência do Administrador do Concelho.
Espero que recuperes e a ver se vamos á Nazaré ao nosso Almoço. Grande abraço.

Valdemar Silva disse...

Olá Duarte.
Cá vou andando. Obrigado.
Uns dias melhores outros piores.
Não me recordo da Escola Primária em Nova Lamego. Com certeza que havia a Escola
que era frequentada pelos filhos de comerciantes, funcionários, cabo-verdianos, etc
mas com pouquíssimas crianças da tabanca, mas crianças fardadas da MP nem vê-las.
Já estou em estágio, para estar forma para o nosso almoço na Nazaré.
Grande abraço
Valdemar Queiroz

Agora muita atenção: nunca peças dois bilhetes prá bola por podes ir de 'cana'.

Anónimo disse...

Bom dia Valdemar Silva e Abílio Duarte,
Quero confirmar que havia uma Escola Primaria em Nova Lamego, eu tenho fotos da sala de aulas com crianças. Estão a digitalizar, quando tiver isso pronto vou mandar ao Luís para publicar, mas não há duvida, e o local indicado pelo Abílio está certo. Também tinha cinema, um café esplanada, onde nunca mais esqueço, passava nessa altura - Dez67 - a musica do Roberto Carlos - Quero que você vá para o inferno ... )- aquilo era um massacre, pois era vira o disco e toca o mesmo, mas ficou na memória, e sempre que ouço essa musica, ainda hoje, transporto-me logo para esse local, instantaneamente. Havia a Casa Caeiro (e a filha do Caeiro) os únicos comerciantes Libaneses, tenho fotos dela e dos seus atributos físicos. Fora isto havia mais uns dois ou 3 estabelecimentos de comes e bebes.
Bons tempos com 24 anos ainda!
Em relação a S. Domingos - que não tem nada a ver com NL -, apenas existia uma empresa - uma serração de madeiras para exportação, ainda lá mandei fazer 3 grandes caixas para trazer bebidas, e também faziam os caixões,e um tasco onde se comiam uns caranguejos apanhados no rio, não eram muito bons, mas dava para beber umas cervejas. Fora isso não havia nenhum comerciante, nem nenhum branco naquela terra, fugiu tudo.

Isto para o Abílio, que fala no Quartel de baixo em NL. Referes-te às instalações onde estava a CC1742, a Companhia de intervenção? Pois porque para cima para o outro lado do centro de comando, era a caminho da pista de aviação, certo?

Já agora em SD tínhamos a CC1744 como intervenção, do Capitão Serrão. Havia alguma ligação a um Batalhão?

Um abraço para ambos,

Virgílio Teixeira

Valdemar Silva disse...

Caro Virgílio Teixeira.
Eu não disse que não havia uma Escola Primária em Nova Lamego disse que não me recordava, com certeza que havia.
Quanto ao mais, até me estou a arrepiar, só ouvir, ou melhor ler, o que acabas de
dizer sobre Nova Lamego.
No nosso tempo, meu e do Abílio Duarte, quem estava em Companhia de Intervenção no
Quartel de Baixo era a nossa Companhia a CART 11 'Os Lacraus', a CC 1742 já tinha seguido prá peluda antes da nossa chegada em Junho 1969.
Não me recordo do local da Escola Primária, mas o Aeroporto era bastante longe dali.
Com que então também conheceste o Sr. Caeiro (não era Libanês) e as suas belas filhas e também atacavas nuns bioxenes na esplanada do cinema, nós também e até era
perto do Quartel.
É verdade Teixeira, belos tempos aqueles passados em Nova Lamego e ainda por cima tínhamos todos vinte e poucos anos de idade. Belos tempos.
Atira cá para o nosso blogue as tais fotos de Nova Lamego, de certeza que são também
muito boas como as que tens enviado de S. Domingos.
Um abraço
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Esqueci-me de dizer que os nossos soldados, que eram africanos do recrutamento local, quando ouviam o Roberto Carlos cantar 'Eu seu um gato preto de arrepiar', talvez por ele cantar com sotaque brasileiro, pensavam que também era africano como eles.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Boa noite Valdemar Silva:
Só hoje li estes dois últimos comentários, nunca percebo como lá chegar, ando sempre às aranhas com isto, falta de prática, mas já estou a melhorar.
Quanto à escola primária estamos de acordo, não há duvidas, nem do cinema, nem das filhas do Caeiro - não era Libanês, então? - nem da esplanada do café que não me lembro do nome.
Realmente é de arrepiar estas lembranças, mas nós não estivemos na mesma altura, só lá estive de 24Set67 a 25Mar68. Só lá voltei em Dezembro de 1984.
Foi pouco tempo que passei aqui, mas foi a época mais marcante da minha carreira de alferes miliciano, eu tinha uma missão ingrata, era o Conselho Administrativo e as contas que tinha de apresentar mensalmente e isso punha-me doido, não dormia, pensava nas maneiras de resolver os problemas durante a noite, depois de dia estava cheio de sono, dores de cabeça, depois vinham as bebidas alcoólicas e muitas, iniciei a minha dependência de drogas com o Valium 20 que os médicos receitavam, depois fugia dali nas colunas para todo o sitio, tinha muita independência devido à minha missão - eu não podia regressar à metrópole sem ter as contas todas aprovadas pela Chefia de Contabilidade, e conhecia alguns camaradas quando lá cheguei que já tinham uns meses a mais - , corri perigos sem ter necessidade, e depois era um circulo vicioso. Em todo o caso guardo excelentes recordações de NL, umas boas outras menos boas, como tudo na vida.
Quanto às reportagens fotográficas, eu nos primeiros meses só pensava na minha função, não andava ali a fazer fotografia, nunca tive uma Camara antes de chegar a Bissau, e o meu gosto foi-se desenvolvendo, até que depois de um mês em Bissau, fomos para São Domingos, e aí era uma terra diferente, podemos dizer como alguém já disse 'Um campo de concentração, com os prisioneiros livres dentro do arame farpado'. Já havia tempo para tudo, porque não havia nada para passar o tempo, foi uma viragem de 180º, todos sabem disso. NL era um paraiso à beira de SD.
Depois aparecem os rolos a cor, e dá outra sensação, e o gosto e o tempo dá para tudo, mesmo que faça 1000 fotografias dentro dum perimetro de mais ou menos 4k2.
Estou a organizar este imenso manancial de fotos, mas tem de ser por 'temas' senão é uma baralhada. Tive de digitalizar mais de 1000 fotos e slides, ainda tenho mais 500 fotos por digitalizar, por isso demora o seu tempo.
Agora estou empenhado numa narrativa sobre São Domingos, pois tenho material para isso, são 50 imagens de centenas delas escolhidas ao acaso ou daquelas que tenhj disponíveis. Vou mandar um dia para o Luís ver e ir publicando/editando, pois são muitas. Depois espero pelas restantes e vou fazer um artigo completo sobre NL. Nunca me esqueço das 'colunas para Madina do Boé' do aeroporto, do quartel de baixo, da tabanca do morteiros do Pelotão de Morteiros, do Pelotão Daimler, do Pelotão de canhões s/r, das Fox, dos meus condutores com os quais partilhava a maior parte dos meus tempos livres, eram os meus amigos a par dos Furriéis. Nunca me dei bem com a oficialada, porque só gostavam de jogar às cartas até de madrugada. Depois escrevia muito, duas cartas diárias com mais de 10 folhas cada para a minha namorada, hoje minha mulher, era como se fosse um diário de guerra. E lá metia montes de fotografias que ela ia guardando para quando eu chegasse.
Há duas coisas que não me esqueço nunca ainda hoje e me lembram NL e a Guiné num todo:
As canções do Roberto Carlos, que eu até nem apreciava até as ouvir naquele espaço militar, e o roncar dos Helicópteros, como sendo imagens de morte.


Até lá um abraço para todos, como podem ver escrevo sempre muito, é uma disfunção da profissão.

Virgilio Teixeira