Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos estas duas publicações da sua autoria.
IMPOSSIBILIDADE
ADÃO CRUZ
© ADÃO CRUZ
Persegue-me a impossibilidade de lá chegar…
Como se fora um belo dia de primavera nos olhos de um prisioneiro atrás das grades.
Faltam-me as pernas, o tempo, as palavras e o caminho.
Falta-me a força das coisas simples e o gesto subtil da liberdade.
Cada dia é um mundo oferecendo-me todos os frutos que não sei colher, cada cidade um labirinto por onde não sei andar.
A minha fragilidade é metade de um sonho inacabado, a outra metade é este quadro que pinto numa manhã de sol da minha doce loucura.
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Tremem-me as pernas a caminho de Belvedere onde me espera Egon Schiele, num salão enorme tendo ao fundo uma mulher.
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MONTE DAS OLIVEIRAS
ADÃO CRUZ
©ADÃO CRUZ
Não sei o que entra em mim no cálido fim desta tarde alentejana, não sei ao certo o que me diz o silêncio aberto destes campos sem fim, nem sei se procuro o lugar seguro para abrir o pensamento.
Há qualquer coisa para lá do horizonte entre a angústia e a Esperança, estranha esperança de futuro no silêncio aberto destes campos sem fim, qualquer coisa que arde no cair da tarde entre a magia da vida e a dor contida no monte das oliveiras.
Para lá do horizonte, no fim de La Codozera, não havia ninguém à minha espera no cálido fim desta tarde alentejana.
Nesta tarde alentejana, feita de silêncio aberto e de campos sem fim, parei o carro na berma da estrada que vinha do nada de onde parti à procura da cidade com todas as ruas que há dentro de mim.
Há anos que não me adormecia um sono tão profundo nem o sol trigueiro me dourava a figura, num quase azul, pintando de ternura esse sonho perdido no fim do mundo.
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Nota do editor
Último poste da série de 7 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18185: Blogues da nossa blogosfera (89): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (8): "Quando vens ao meu encontro"
2 comentários:
Caro Adão:
Há dias fiz um comentário às crónicas “AI DINO O QUE TE FIZERAM” do nosso camarada José Claudino da Silva. Aí referi, além de outras coisas, que não as teria começado a ler se tivessem o primeiro título para elas imaginado: “EM NOME DA PÁTRIA”.
Agora contigo passou-se algo semelhante. (Também no tal comentário disse, que presentemente ando a ler pouco do que se escreve no blogue e que só quando fico preso a alguma frase, questão, etc. é que, aí sim, me embrenho no poste, como foi o caso do título do Dino). Nunca me apercebi que o que tu escrevias ao lado dos teus quadros era poesia. Só desta vez isso aconteceu e desde já te dou os parabéns pela sua qualidade. Também não deixou de contribuir para o meu interesse em ler a tua escrita, digo poesia, o facto da qualidade (que tem vindo a crescer) dos quadros que a acompanham. Sou nordestino mas o “teu Alentejo” está, para mim, soberbo.
Um grande abraço.
Fernando Gouveia
Que delícia este "Jardim das Delícias"!
Manuel Joaquim
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