domingo, 28 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18262: Blogpoesia (550): "As sombras dormem ao sol", "O despertar da toupeira", e "Os astros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


As sombras dormem ao sol

As sombras dormem ao sol,
Estendidas no chão.
Se levantam sonâmbulas e deambulam perdidas na noite.
Prendem-se aos corpos e giram sem asas, amarradas por cordas adiante dos passos.
Tingem de negro a terra e não deixam pegadas.
Derramam frescura no solo e se escondem do sol.
Empurram e abrem as portas sem chave.
Ficam à porta e sacodem os pés.
Tangidas por feixes, escorrem do telhado das casas e se espalham secas no chão.
Escrevem rabiscos e formas com ordem
E cavam buracos.
Sem óculos, tapam a cara e tingem de negro os olhos.
Semeiam sementes de sombras. Mesmo molhadas, morrem ao sol.
São e não são…

Ouvindo Pachelbel - Forest Garden
Berlim, 21 de Janeiro de 2018
9h25m
Jlmg

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O despertar da toupeira

Da minha janela, pela manhã,
Ponho-me a ver o despertar da toupeira, na encosta do monte,
No meio das urzes.
Bate-lhe o sol. Aí vem ela saindo da toca,
Regalada da cama.
Estrega os olhitos. Limpa as ramelas. Olha em redor.
Tudo nas calmas.
Lava a cara com a saliva quentinha.
Depois todo o corpo, onde chegam as patas.
Avança cautelosa, pelas veredas de terra.
Debica as folhitas mais verdes.
Come formigas.
E vai. Calmamente. Orelhitas no ar.
Há um gato vizinho.
Uma ameaça constante.
Passa um coelhito,
Nem olha pra ela.
Fica a mirá-lo e faz seu xi-xi.
Às tantas, lá vem a sua vizinha.
Pergunta-lhe pelos seus.
Quando pensa mudar.
A encosta de sempre já não é como era.
A pouco e pouco, está no topo do monte.
De lá vê-se tudo.
-hei-de pegar minhas trouxas e venho para cá.
Assim pensava a toupeira no caminho para a toca.

Berlim, 24 de Janeiro de 2018
8h44m
Jlmg

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Os astros

Pontinhos humildes.
Luzentes, ocultos.
Estáticos, ao alto.
Na realidade, gigantes.
A distância infinita os humilha.
Parecem inúteis.
São tantos.
Faúlhas latentes.
Tecem de luzes o céu das estrelas.
A ciência diz:
Correm velozes, calados,
Em órbitas imensas.
Um jogo de forças.
Equilíbrio total.
Aquele maior,
Que nasce e se põe
Nos longes da serra
E do mar,
Iluminando a terra,
Cobrindo-a de verde,
Quem diria,
É um deles.
O sol.
Controla ao redor,
Em harmonia total,
Com diversos tamanhos,
Uma dezena de
Bolas sem luz,
Será que têm vida?...

Berlim, 25 de Janeiro de 2018
10h39m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18235: Blogpoesia (549): "As escolinhas primárias", "Parado às dez...", e "Secaram as fontes", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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