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terça-feira, 8 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26663: (De) caras (230): Dois manos ribatejanos que passaram por Mansabá, o Ernestino e o Nelson Caniço, um alferes e outro furriel, ambos de cavalaria, e hoje médicos

 

Foto nº 1 > Bissau, esplanada do Pelicano



Foto nº 2A e 1> Bissau, Amura, QG / CCFAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > c. 1971 >


Guiné > Bissau > c. 1971 > Os manos Caniço, Ernestino e Nelson

Fotos (e legendas): © Ernestino Caniço (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Ernestino Caniço, ex-alf mil cav (*), hoje médico:

Data - quinta, 13/03, 17:31
 
Assunto - Nelson Caniço

Caros amigos

Votos de ótima saúde.

A propósito de Mansabá, levo ao vosso conhecimento, que também lá esteve um dos meus irmãos (c. nov 1970), já eu tinha saído para Mansoa: Nelson Caniço, ex-fur mil cav, tendo passado por Bula, Bambadinca e Hospital de Bissau.

Perguntais vós, porquê só agora? Porque ele tem mantido algum distanciamento desta temática. Obtida no entanto a sua anuência, cá estou a assinalar o facto.

Hoje médico, aposentado, continua a exercer clínica e vive em Cuba, distrito de Beja.

Anexo fotos de nós dois,  no tempo da Guiné (no café Pelicano e no QG).

Um grande abraço,

Ernestino Caniço (**)

2. Comentário do editor LG:

Ernestino, já me tinhas falado do teu mano. Ao telefone. Do teu discretíssimo mano, o dr. Nelson Caniço.  Pombas Caniço, devem ser os vossos apelidos, materno e paterno. Ribatejanos de Almeirim. Creio que ele de clínica geral / medicina familiare. Se for de saúde pública, tenho a obrigação de o ter conhecido, dos idos anos de 80... 

Tu continuas fiel às tuas raízes ribatejanas. Ele decidiu descer mais para sul, para o Baixo Alentejo. É possível que já nos tenhamos encontrado. Nos anos,  80/90 andei por esses lados a ajudar a reorganizar os centros de saúde, com base nas equipas nucleares de saúde. Não sei se ele é desse tempo. Ao tempo da Região de Saúde de Beja, Administração de Saúde do Alentejo. Bons tempos. Mando-lhe um abraço e abro-lhe as "portas" da nosso blogue e da nossa Tabanca Grande...Aqui não falamos só de guerra.

Ernestino, foi um gesto bonito da tua parte. Há aqui uma terna cumplicidade entre irmãos. Qual dos dois é o mais velho ? Imagino que sejas tu.

________________

Notas do editor:


(*) Membro da nossa Tabanca Grande desde 25/11/2011, e 78 referêncvias no blogue:


(i) nasceu  em1 de dezembro de 1944,  em Almeirim;

(ii) tirou a especialidade de Carros de Combate M47, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém;

(iii) foi alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208;

(iv) chegou a Bissau em fevereiro de 1970; tendo seguido para   Mansabá onde ficou  cerca de quatro meses com metade do pelotão e adido à CCaç 2403,  comandada pelo Capitão Carreto Maia, e posteriormente à Cart 2732;

(v) lembra-se desse tempo e lugar do Carlos Vinhal;

(vi) mais tarde irá para Mansoa onde ficou cerca de seis meses com a outra metade do Pelotão, dependente do BCAÇ 2885;

(vii) findo esse período e desativado o Pelotão,  foi coloacado na Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica (REp ACAP), em Bissau, até ao seu regresso em dezembro de 1971.(...)


(**) Último poste da série > 5 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26654: (De)Caras (229): Mais postais ilustrados da coleção do Agostinho Gaspar (ex-1.º cabo mec auto, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), que ontem fez 75 anos, três quartos de século

Guiné 61/74 - P26662: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXIII: Mais fotos de Mansabá, novembro de 1970

 


Foto nº 1 > Coluna Mansabá-Mansoa



Foto nº 2A e 2 _ Coluna Mansabá Mansoa - Mansabá  



Foto nº 3 > Mansabá _ Obus 8.8


Foto nº 4 >  Mansabá > Espaldão e obus 8.8



Foto nº 5 > Mansabá > Mesquita


Foto nº 6  > O Padre Zé Neves com um grupo de "djubis" junto à mesquita


Foto nº 7 > Mansabá > O mercadinho local


Foto nº 8 > Mansabá > Junto à messe



Foto nº 9 >  Mansabá > Participação de miliares e civis  na missa de sufrágio por alma do alf mil art  MA, Armando Couto, da CART 2372, vitima de mina IN (1)




Foto nº 10 e 10A  >  Mansabá > Participação de militares na missa de sufrágio por alma do alf mil art  MA, Armando Couto, da CART 2372, vitima de mina IN
 

Foto nº 11 > Mansabá > Os putos

Guiné > Zona Oeste > BCAÇ 2885 (Mansoa) > Mansabá >Novembro de  1970> Fotos do álbum do Padre José Torres Neves, capelão


Fotos (e legendas): © José Torres Neves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1, Mensagem do Ernestino Caniço (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/fev 1971, hoje médico, a residir em Tomar; fez amizade com o Zé Neves, e este confiou-lhe o seu álbum fotográfico da Guiné, que temos vindo a publicar desde março de 2022; são cerca de duas centenas de imagens, provenientes dos seus diapositivos, digitalizados; uma coleção única, preciosa.( Ele tem sido zeloso e diligente guardião do álbum fotográfico da Guiné, do padre missionário José Torres Neves, merecendo os dois os nossos melhores elogios e saudações.)

Curiosamente, o Ernestino Caniço também teve um irmão no CTIG na mesma altura (foi fur mil cav, tendo passado por Mansabá, Bula, Bambadinca e Hospital de Bissau; temos duas fotos dos manos, em Bissau,  para apresentar um dia destes.)

Data -. sexta, 4/04/2025, 21:12

Assunto - Fotos do Padre Zé Neves

Caros amigos

Que a saúde vos acompanhe preferencialmente até aos 120 anos.

Desta vez anexo a penúltima série de fotografias sobre Mansabá, que o Carlos Vinhal bem conhece.

Aqui ficam expressos votos de uma feliz Páscoa junto dos vossos familiares.

Um grande abraço,

Ernestino Caniço


2. Continuação da publicação das fotos relativas a Mansabá, do álbum da Guiné do nosso camarada José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) (*).

Membro da nossa Tabanca Grande, nº 859, desde 2 de março de 2022, é missionário da Consolata, tendo sido um dos 113 padres católicos que prestaram serviço no TO da Guiné como capelães. No seu caso, desde o dia 7 de maio de 1969 a 3 de março de 1971. 

Veio há pouco tempo de África, vive agora em Lisboa com a bonita idade de oitenta e muitos anos. Deus, Alá e os bons irãs o protejam e deem-lhe ainda mais uns bons anos de vida para gozar a sua merecida reforma...

Recorde-se que por Mansabá, na região do Oio,  passaram diversos camaradas nossos, que fazem parte da Tabanca Grande (citamos de cor. 
são apenas alguns dos nomes que nos vêm à cabeça)...

  • Carlos Vinhal,
  • Francisco Baptista, 
  • José Carvalho, 
  • Vitor Junqueira, 
  • Ernesto Duarte, 
  • Ernestino Caniço (e o irmão, Nelson Caniço),
  • António Pimentel, 
  • António J. Pereira da Costa,
  • Carlos Pinto, 
  • Jorge Picado, 
  • Manuel Joaquim, 
  • José Rodrigues, etc.

 Não sabemos exatamente em circunstàncias é que o nosso capelão esteve em Mansabá, e por quantos dias. Ele frequentava todos os aquartelamentos e destacamentos do setor de Mansoa, a cargo do BCAÇ 2885. Terá deixado de ir a Mansabá quando esta passou a ser a sede do COP 6. (Criado ou retivado em 11 de novembro de 1970: abrangia  os subsetores de Mansabá e Olossato, e a sua missão era  assegurar a continuação e o bom andamento da construção da estrada Mansabá-Farim.)

Sobre Mansabá temos cerca de 340 referências no nosso blogue.

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segunda-feira, 7 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26661: Notas de leitura (1787): Libelo acusatório sobre o colonialismo, como não se escreveu outro, no livro "Discurso Sobre o Colonialismo", por Aimé Césaire, editado em 1955 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,

Passando em revista os nomes sonantes do pensamento anticolonial, verifiquei que faltava nesta listagem uma referência a uma figura de primeiro plano, Aimé Césaire, hoje e ainda figura de proa surrealista, dos anos 1950 e 1960, alguém que, no primeiro Congresso dos Escritores Artistas Negros, em 1956, aludiu entusiasticamente às relações entre a situação colonial e a cultura, defendendo a necessidade militante de os intelectuais se comprometerem na luta popular de libertação nacional, a fórmula iria ser tomada à letra por líderes anticoloniais, como Amílcar Cabral, que reclamaram o direito dos povos, em situação colonial, a terem a sua própria história. 

Este discurso sobre o colonialismo tem a datação daqueles meados dos anos 1950, Césaire dirige um libelo acusatório à intelectualidade francesa e não subsistem dúvidas de que o seu documento faz parte da documentação fundamental do impulso anticolonial, um chamamento à ação dos intelectuais negros para as lutas de libertação.

Um abraço do
Mário



Libelo acusatório sobre o colonialismo como não se escreveu outro

Mário Beja Santos

A Martinica forneceu ao pensamento anticolonial duas figuras de referência: Aimé Césaire [foto à direita] e Franz Fanon, obviamente com características diferentes.

 Aqui se têm referenciado algumas obras indispensáveis para entender como se foi alicerçando o pensamento anticolonial, no continente americano, na própria atmosfera europeia onde ideólogos do antigo colonialismo foram bastante ativos, em África e na Ásia. De todos os nomes destes intelectuais que vão emergindo no Pós-Guerra ganhou preponderância o testemunho de alguém que ao tempo era dado como um poeta consagrado, um surrealista de peso, alguém que vinha da Martinica e que se formara em Paris, com altíssima classificação.

A obra que sujeitamos a análise, Discurso Sobre o Colonialismo, foi editada em 1955, (por coincidência, o ano da Conferência de Bandung, ponto de viragem para as lutas anticoloniais) o poeta lança-se num requisitório, como escreve Mário de Andrade, jamais um outro escritor negro proferiu, com tamanho talento, ao rosto dos opressores.

 Césaire escolheu claramente a quem se dirigia: aos intelectuais burgueses do seu país, a França, que ostentavam representar a consciência liberal, e ao fazê-lo alimentou a revolta nacionalista, como um seu colega de estudo, Leopold Senghor, mais tarde relembrou. O poeta começou por coligir testemunhos de colonialistas assumidos, irá fazer desfilar os horrores da dominação francesa em África, dará ênfase em Madagáscar, na Indochina e nas Antilhas.

Procurou reverter toda aquela argumentação da civilização dita cristã e ocidental. Começa por observar o que não é colonização: nem evangelização, nem empresa filantrópica, nem vontade de recuar as fronteiras da ignorância, da doença, da tirania, nem propagação de Deus, nem extensão do Direito. Colonizar é assunto de aventureiros e piratas, de comerciantes e de armadores, de pesquisadores de ouro e de mercadores. Tudo isto é uma hipocrisia recente.

 Nem Cortez, ao descobrir o México, nem Pizarro, diante de Cuzco, se proclamaram os mandatários de uma ordem superior, mataram, saquearam, enriqueceram a Espanha. A responsabilidade recai sobre o pedantismo cristão, ao considerar que o cristianismo é civilização e o paganismo selvajaria. Esta colonização esmerou-se em descivilizar o colonizador, embruteceu-o na verdadeira aceção da palavra, despertou-lhe os instintos para a cobiça, para a violência, para o ódio racial.

O colonialismo não aspira à igualdade, mas sim à dominação. E Césaire lança a questão das raças ditas superiores e das inferiores. Civilizar, para certos apologistas do colonialismo,  é não tolerar a “preguiça” dos povos selvagens. E o seu libelo acusatório sobe de tom:

“Onde quero eu chegar? A esta ideia: que ninguém coloniza inocentemente, nem ninguém coloniza impunemente; que uma nação que coloniza, que uma civilização que justifica a colonização é uma civilização doente e a colonização é testa de ponte numa civilização de barbárie.”

Daí, ele enuncia as expedições coloniais e os seus cadáveres: o coronel de Montagnac, um dos conquistadores da Argélia, o conde d’Hérrisson, que veio com um barril cheio de orelhas, o marechal Bugeaud que dizia que se devia fazer uma grande invasão em África que se assemelhasse ao que faziam os Francos, ao que faziam os Godos.

Importa não esquecer os massacres e as execuções, as conquistas coloniais fundadas sobre o desprezo pelo homem indígena, e assevera:

“Bem vejo as civilizações em que a colonização introduziu um princípio de ruína: Oceânia, Nigéria, Niassalândia. Vejo menos bem o que ela lhes trouxe. Segurança? Cultura? Juridismo? Entretanto, olho e vejo por toda a parte por onde existem, frente a frente, colonizadores e colonizados, a força, a brutalidade, a crueldade, o sadismo, o choque, e, parodiando a formação cultura, a fabricação apressada nuns tantos milhares de funcionários subalternos, ‘boys’, artesãos, empregados de comércio e intérpretes necessários à boa marcha dos negócios.”

Dirige-se em réplica de contraponto:

“Lançam-me à cara factos, estatísticas, quilometragens de estradas, de canais, de caminhos de ferro. Mas eu falo de milhares de homens sacrificados no Congo-Oceano. Falo dos que, no momento em que escrevo, cavam à mão o porto de Abidjan. Falo de milhões de homens arrancados aos seus deuses, à sua terra, aos seus hábitos, à sua vida, à dança, à sabedoria. Falo de milhões de homens a quem colocaram sabiamente medo, o complexo de inferioridade, o tremor, a genuflexão, o desespero, o servilismo.”

Dentro do seu libelo acusatório, vai desmascarando posições racistas, posturas de superioridade cultural e questiona os tais intelectuais burgueses franceses: 

“Os vietnamitas, antes da chegada dos franceses ao seu país, eram gente de cultura antiga, delicada e requintada. Estes malgaxes, que hoje são torturados, eram, há menos de um século, poetas, artistas, administradores. Impérios sudaneses? Bronzes de Benim? Escultura Songho? Livrar-nos-ia de tantos mamarrachos sensacionais que adornam tantas capitais europeias. O pequeno burguês não quer ouvir mais nada.”

Césaire também vai zurzir em missionários, etnólogos, amadores do exotismo, sociólogos agrários, a todos aqueles que, diz ele, desempenham o seu papel na sórdida divisão do trabalho, escarnece dos estudos sobre o primitivismo, os romancistas da civilização que negam os méritos às raças não-brancas, sempre para chegar à conclusão que todos os progressos da Humanidade acabaram por ser desencadeados pela raça branca, dirige-se mesmo a uma figura de proa do tempo, Roger Caillois:

“A inaudita traição da etnografia ocidental que, há algum tempo, com uma deterioração deplorável do sentido das suas responsabilidades, se engenha a pôr em dúvida a superioridade omnilateral da civilização ocidental sobre as civilizações exóticas”.

Acusa-o por favor parte do lote dos intelectuais europeus que se encarniçam a renegar os diversos ideais da sua cultura, isto quando no fundo, todos pensam pela mesma cartilha: o Ocidente inventou a ciência, só o Ocidente sabe pensar, no entanto, esses mesmos ocidentais esquecem certas verdades: a invenção da aritmética e da geometria pelos egípcios; a descoberta da astronomia pelos assírios; o nascimento da química pelos árabes; o aparecimento do racionalismo no Islão numa época que o pensamento ocidental tinha uma feição pré-lógica. 

“Nunca o Ocidente, no próprio momento em que mais se deleita com esta palavra, esteve tão longe de poder assumir as exigências do humanismo verdadeiro, de poder viver o humanismo verdadeiro – o humanismo à medida do Mundo.”

E despede-se na sua catilinária prevendo o que na prática veio a acontecer:

“Se a Europa Ocidental não toma de modo próprio em África, na Oceânia, em Madagáscar, isto é, às portas de África do Sul, nas Antilhas, isto é, às portas da América, a iniciativa de uma política das nacionalidades, a iniciativa de uma política nova fundada no respeito dos povos e das culturas, se a Europa não galvaniza as culturas moribundas ou não suscita as culturas novas, se não se torna despertadora de pátrias e civilizações, a Europa terá perdido a sua derradeira oportunidade.”

Eis, em síntese, um dos documentos de referência que levou ao conclave da liberdade dos povos colonizados, um conteúdo que chamou à atenção de futuros líderes anticoloniais, Amílcar Cabral seguramente que tomou em conta o princípio que Césaire enuncia, o direito dos povos, em situação colonial, a terem a sua própria história, como Cabral escreveu:

“(…) a libertação nacional de um povo é a reconquista da personalidade histórica desse povo, é o seu regresso à História, pela destruição do domínio imperialista a que esteve sujeito.”

Césaire foi um notável poeta que nos deixou um poderoso lirismo de combate, como se exemplifica: “Vejo a África múltipla e una/vertical na sua tumultuosa peripécia/com os seus refegos, os seus nódulos/um pouco à parte, mas ao alcance/do século, como um coração de reserva.”
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Nota do editor

Último post da série de 4 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26651: Notas de leitura (1786): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Na Terra do Novo Deus: O general Henrique Dias de Carvalho na Guiné (1898-1899) (5) – 2 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26660: Tabanca Grande (570): Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 901



 Foto nº 1 >  O Armando Oliveira, ex-1º cabo: passa a integrar a Tabanca Grande sob o nº 901



Foro nº 2A e 2  > Reabastecimento da companhia no porto fuvial de Fulacaunda


Foto nº 3 > O célebre fortim de Fulacunda


Foto nº 4 > A casa do adminisyrador da circunscrição de Fulacaunda


Foto nº 5 > O "campo de futebol" de Fulacunda



Foto nº 6 > Vista do quartel de Fulacunda


Foto nº 7 > O nosso cabno Armando Oliveira junto ao rio Fulacunda



Foto nº 8 > Uma voltinha de "motoreta"


Foto nº 8 > Em dia ade anos do Armando Oliveira (à esquerda, na segunda fila) (?)...No grupo reconmhecemos o oficial de dia, o nosso amigo e camarada Jorge Pinto (era o cmdt do 3º Pelotão)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fotos do álbum do Armandfo Oliveira, ex-1º cabo. natural do Marco de Canaveses, vive no Porto.


Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complemerntar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Na passada sexta, dia 4, tive o prazer de atender uma chamada do Armando Oliveira, que pertenceu à 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo integrado o 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo e camaradada Jorge Pinto. 


A esta companhia também pertenceu o José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, tal como o ex-alf mil Fernando Carolino.

Embora eu fosse em viagem, deu para registar o seguinte a respeito do Armando Oliveira:

(i) é conterrâneo da Alice Carneiro; nassceu no Juncal, a escassos quilómetros de Condoz, freguesia de Paredes de Viadores, concelho de Marco de Canaveses;

(ii) no Juncal ainda tem 3 irmãos, e um outro em Soalhães (outra freguesia, e antiga vila e sede de  c0ncelho, extinto em 1852);

(iii) vive hoje no Porto, tendo trabalhado 37 anos no Hospital Militar do Porto;

(iv)  já foi â Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda; 

(v) tem a melhor coleção de "slides" da Fulacunda do seu tempo: uma parte das imagens sobre o quartel e a tabanca  já foram publicadas no nosso blogue, tendo-as cedido ao seu amigo e camarada José Claudino da Silva;

(vi) já nos encontrámos pelo menos no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grandre, em Monte Real, em 5 de  maio de 2018;

(vii) foi amigo do Xico Allen; é amigo da Inês Allen (com quem foi a Empada, para em 23 de março de 2024 inauguar o Campo de Futebol Xico Allen);

(viii) é amigo da página do Facebook da Tabanca Grande (24 amigos em comum).


Armando Oliveira (Vila Nova de Gaia) e Carlos Vinhal. O Oliveira é "periquito" aqui em Monte Real...



Carlos Camacho Lobo (Maia) e Jorge Pinto. O camarada Camacho Lobo foi alf  mil médico do BART 6520/72 (Tite, 1972/74). É dermatologista, e veio da Maia. Convidei-o a integrar o nosso blogue...



Camacho Lobo (Maia) e Armando Oliveira (Vila Nova de Gaia)

Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >  >  Caras "novas" e "velhas"... Foi uma alegria ver gente desta geração que  faz 100, 200, 300 quilómetros para se encontrar e "matar saudades"... Outros vinha, pela primeira vez à procura dos camaradas da Guiné... Foi caso do Armando Oliveira (ao lado dpo Carlos Vinhal, na primeira fot;  e ao lado do Camacho Lobo (Maia), ex-alf mil médico do BART 6520/72 (Tite, 1972/74), na terceira foto. Na 2º foto, o Camacho Lobo e o Jorge Pinto.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





2. Excerto da página do Facebook de Armando Oliveira > 24 de junho de 2023 21:34

Faz hoje 51 anos que na Secretaria da unidade do Regimento de Infantaria 15 em Tomar, e sem a menor cerimónia, foi me dito: "você está mobilizado"...


Fiquei então a saber que tinha sido colocado na 3ª Companhia do Batalhão 6520 que estava a ser formado em Penafiel,com destino Guiné-Bissau.

Aqueles 10 dias de férias,sabendo a pouco,caíram que nem sopa no mel,tanto mais que me permitiram passar o S.João em família numa das Festas mais significativas da minha Cidade.

Terminadas as Festas São Joaninhas ,regresso a Penafiel,para no dia 25 todos o comboio com destino à capital,para no dia 26 rumar à Guiné. 

Havia, pois chegado a hora do pesadelo,se começar a tornar realidade ,no dia seguinte rumei à ilha de Bolama,para a realização da IAO.  .Logo em Bolama tivemos contacto com o inimigo,aquela noite de tréguas,os ataques insidioso daqueles minúsculos vampiros soube a uma estadia no Paraíso,na verdade,ainda nem sequer chegando ao aquartelamento de destino é já me sentia verdadeiramente flagelado.

Após a realização da IAO,  rumámos à Fulacunda.

Regressámos  a 21 de agosto de 1974.

Por último,quero aqui prestar a minha homenagem a todos os Combatentes da 3ª CART / BART 6520/72, que duma forma ou doutra viram as suas vidas condicionadas pela guerra,ou por causa dela,se viram na mesma vicissitudes Abraço a todos os Combatentes.
 

3. Comentário do editor LG:

Por todas as razões e mais uma (a de ser "conterrâneo", meu e da Alice), o Armando já cá devia estar desde 2018 na nossa Tabanca Grande. Expressei-lhe a minha vontade de o ver aqui entre nós, preenchendo o lugar de tantos camaraadas que deixaram a "Terra da Alegria", a começar pelo Xico Allen.  

Acabei de telefonar, para retribuir a gentileza de ter sido ele, há dias, a fazê-lo.  Aceitou, com entusiasmo, o meu convite. Já na sexta, dia 4, me tinha enviado montes de fotos da sua ida  a Empada, o ano passado, com a Inês Allen e outra malta dos "Metralhas". 

Vai-me mandar mais imagens dos seus excelentes "slides". (Um dos seus "hobbies" em Fulacunda era a fotografia.)

Fica doravente sentado à sombra do nosso poilão, sob o lugar nº 901. O seu nome passa a constar na lista alfabética dos nossos grãos-tabanqueiros. 

Prometemos encontrar-nos um dia destes no Porto ou na praia da Madalena. Desejo-lhe saúde e longa vida na continuação da sua caminhada pela picada da vida.

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Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 2 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26544: Tabanca Grande (569): Vilma Crisóstomo, esposa do nosso camarada João Crisóstomo, que se senta no lugar n.º 900 sob o nosso "poilão sagrado"


Guiné 61/74 - P26659: Tabanca da Diáspora Lusófona (31): Bom dia, desde Nova Iorque (João Crisóstomo, régulo)



Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > João Crisóstomo com Xanana Gusmão:
"a expressão de surpresa por ver a Escola de São Francisco de Assis, lá nas montanhas de Liquicá,  em páginas dum blogue sobre a Guiné" (*)…


Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2024). Todos os direitos reservados
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Timor-Leste > Boebau, Manati, Leotala, Liquiçá > 18 de março de 2018 > Inauguração da Escola de São Francisco de Assis > O João Crisóstomo e o Rui Chamusco: ninguém tem a coragem de chamar-lhes os nossos Dom Quixote e Sancho Pancha... Ser solidário, neste mundo cínico, hipócrita e sacana, é tudo menos lutar contra moinhos de vento, e enfrentar inimigos imaginários ou obstáculos inexistentes, gastando energia e fazendo esforços em vão. Bem, pelo contrário, é lutar contra a indiferença de muitos, e a prepotência de alguns, em prol da resolução dos problemas de quem precisa de coisas tão elementares como a saúde de e a educação. Palmas para o João e o Rui e para a ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), que eles representam aqui no nosso blogue. Podiam estar no conforto dos seus lares, a gozar a sua reforma...mas, não, ainda andam metidos "nestas guerras de bem-fazer"...

Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2018). Todos os direitos reservados
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O João Crisóstomo,
 um grande amigo de  Timor-Leste, da ASTIL
e da ESFA.
Foto: Luís Graça (2017)


1, Mensagem do João Crisóstomo:

Data - 6 de abril de 2025 09:22  
Assunto - Bom dia!
 
Caro Luís Graça,

São 04.19 AM, não consigo dormir. Hoje deu-me para ver televisão (concertos de André Rieux, que nunca me cansam).

Estive mesmo para te telefonar, para um pequeno bate papo, e nos mantermos em dia como eu gosto; mas reparei que talvez ainda seja cedo para vocês, tanto mais que hoje é domingo e onde quer que estejas não terás pressa em te levantares. Para mim quando se trata de dormir, sejam domingos ou dias de semana… são todos iguais. Nunca fui grande dorminhoco, mas agora para grande frustração minha, dormir é um problema. Por vezes passo noites inteiras em claro, para andar depois meio estremonhado o dia seguinte. Coisas da velhice! Portanto o bate-papo vai por email…

Ontem, dia 5, falei com o Sr. Padre Vitor Melícias . É que pela primeira vez o dia da Consciência, embora baseado no testemunho e decisão de Aristides de Sousa Mendes no dia 17 de junho, foi celebrado no dia 5 de Abril, para o fazermos em unanimidade com as Nações Unidas que escolheram este dia como “Dia Internacional da consciência.”

Ele confirmou que tenciona celebrar a missa no nosso encontro (da família Crispim & Crisóstomo, mais amigos e camaradas)  no dia 25 de Maio, como já fez duas ou três vezes quando os nossos “encontros" em Varatojo foram apenas um abraço no claustro depois da missa, sem comes e bebes.

Ele disse-me que, se eu quiser, que pode arranjar uma mesa ou duas no claustro para se tomar um café… e portanto é isso mesmo que vou fazer: vou trazer uns biscoitos, talvez uma salada de frutas ( ou algo que não exija garfos e facas) para estimular um bate-papo mais alongado…E vou pôr uma "mesa de recolha" à entrada para o caso de alguém querer trazer um bolo ou coisa assim (como sucede frequentemente) e não ter de o levar para dentro da igreja.

Estive também a reler as crónicas do Rui Chamusco (*), que geralmente não são novidade para mim, pois falamos frequentemente por WhattsApp e ele mantém-me informado das coisas à medida que vão acontecendo. Mas é sempre uma satisfação grande reler as suas crónicas pois não posso deixar de ter “ciúmes" dos seus momentos e experiências.

Quem me dera estar lá também!... Mas assim é a vida. Mas tive mesmo pena e quase inveja ao ver a sua satisfação e a dos alunos, pais e outras gentes no aniversário da escola , desta vez com a presença do Xanana. 

Tanto mais que, sem fingida modéstia, esta visita aconteceu porque fui eu que em Setembro passado lhe pedi e o convenci a ir visitar a escola como o meio mais eficiente de se inteirar da situação. 

No momento ele mesmo procurou um canto sossegado, sentámo-nos num banco corrido e tivemos uma longa conversa. Ele a princípio nem respondeu, mas eu sabia o quanto a sua visita podia ser “influente” e insisti várias vezes até ele responder sim ou não. 

 Ele estava de boa maré e perante minha teimosia acabou por dizer : ”OK OK, eu vou lá; mas primeiro deixa-me falar com o Dionísio. Dá-lhe um relatório do que me disseres para elementos enviar”. 

 O “Dionísio” era / é embaixador de Timor Leste nas Nações Unidas, que eu conheço bem e a quem eu já tinha levado a um encontro da "Academia de Bacalhau”.

Eu dei conhecimento disto ao Rui Chamusco para que escrevesse uma carta / convite . E deu certo!

Oxalá o assunto se resolva de vez! O pobre do Rui, aliás todos nós mas ele mais que ninguém, tem passado as ruas da amargura. Ele merece uma medalha! 

Bom vou tentar, ver se consigo dormir um pouco ,senão amanhã vou passar um dia difícil.

Sei que a Vilma ( que dorme que nem um anjinho) se associa a mim num grande abraço aos dois. Tenham um bom fim de semana.

João e Vilma 

domingo, 6 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26658: Convívios (1017): 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em Algés, dia 29 de maio, quinta, com a presença dos nova-iorquinos Vilma e João Crisóstomo (Manuel Resende, réguçlo)




1. Postagem do Manuel Resende na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha, com data de anteontem, 4 de abril, 22:49:

 

Manuel Resende, o magnífico régulo


Caros Magníficos, Convidados e Amigos, no próximo dia 29 de Maio será o próximo Convívio da Magnífica Tabanca da Linha. Este convívio será o nosso nº 61. (Esteve previsto para dia 31, mas foi alterado, não fazemos ao sábado.)

Espero que seja bem concorrido. Vem estar presente o nosso Magnífico e Camarada João Crisóstomo  e a sua esposa Vilma, que vêm de Nova Iorque, além de outros possíveis novos camaradas convidados por ele.

Não podemos deixar de estar presentes para conviver com este Camarada Crisóstomo, que tanto fez e faz para que o nome de Portugal seja conhecido no mundo. Vejam a sua História.

Peço aos Camaradas da CCAÇ 2585, a minha Companhia, e que são Magníficos, para estarem presentes. Seria dois em um. Contactar-vos-ei a todos.

Abraço para todos os Magníficos.

Manuel Resende.


Vilma e João, Nova Iorque, 2013... "Just married"


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Guiné 61/74 - P26657: VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: 22 de março, um dia histórico para a Escola de São Francisco de Assis, com a visita-surpresa de Kay Rala Xanana, o 1º ministro de Timor Leste




Timor Leste > Município de Liquiçá > 22 de março de 2025 > Não foi "a preciso a montanha ir a Maomé"... Desta vez, foi "Maomé que foi à monhanha"...






O 1º ministro da República Democrática de Timor-Leste (RDTL), Kay Rala Xanana Gusmão faz uma visita-surpresa â Escola de São Franscisco de Assis (ESFA), em Boebau, Manati, suco de Leotela, município de Liquiçá, na festa da celebração do 7º aniversário da sua fundação.

 E deixa uma mensagem de esperança com vista à resolução dos problemas pendentes (o mais grave, a falta de professores diplomados, fornecidos e pagos pelo governo da RDTL: ao fim de 7 anos, continua a funcionar com 5 professores voluntários, sem as habilitações exigidas por lei; a escola, privada,construida por iniciativa da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste, sediada em Coimbra, Portugal,   é frequentada por 102 alunos, 54 meninas e 48 rapazes, que vivem no suco de Leotela, sem acesso à esc0la pública. (Mesmo em Timor Loro Sa'e, a terra do sol nascente, em tétum, o sol quando nasce ainda não é para todos...)

Créditos fotográficos: Média - GPM / RDTL (República Democrática de Timor-Leste, com a devida vénia)... Fonte: Página do Facebook do 1º Ministro da RDTL, Kay Rala Xanana Gusmão



1. O  Rui Chamusco  é membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio de 2024. Tem 78 anos, é natural da Malcata, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário. Está reformado, mas ativo e proativo.

 É um dos cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), pensada em 2015, criada legalmente em 2017, com sede em Coimbra, com outros amigos, o luso-timorense Gaspar Sobral e a malcatense Glória Sobral. É uma instituição privada de solidariedade social sem fins lucrativos.

Esta é  uma grande história de amizade e solidariedade. Com esta, é a sexta vez  que o "avô" Rui viaja até Timor, desde 2016. Em geral, fica lá no mínimo 3 meses,  dedicando-se de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem lá desenvolvido, nas montanhas de Liquiçá, onde estão as raízes da família Moniz Sobral, e nomeadamente a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), em Manati / Boebau, suco de Leotala, município de Liquiçá, que no dia 19 de março de 2025 celebrou o seu 7º aniversário. (Mas a festa só foi no sábado, dia 22.)

Em Dili ele costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz Sobral) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral. É tratado como avô, tio ou pai. Ou malae (branco) e agora, mais recentemente, por katuas (velhote), à medida que os 78 anos começam a pesar. Mas, claro, ninguém lhos dá... em Portugal. Em Timor, um país extremamente jovem, quem vai para os 80 é um katuas (velhote, mas respeitado).



VI Viagem a Timor Leste: 2025 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte III: 22 de março, um dia histórico para a Escola de São Francisco de Assiz, com a visita-surpresa de  Kay Rala Xanana, o 1º ministro de Timor Leste 



21.03.2025, sexta  – Preparando o VII aniversário da ESFA

Confesso que sinto algum desânimo e deceção. Todos os convites formulados e entregues a pessoas e entidades não tivemos qualquer resposta. Algumas pessoas e amigos com quem contávamos, à última da hora, não puderam participar. Das cartas enviadas ao senhor Primeiro Ministro Xanana Gusmão e ao senhor vice-primeiro Ministro Assanami Sabino também não houve resposta. 

Foi então que disse para o Eustáquio: “Não faz mal. Vamos celebrar o aniversário entre nós (professores, alunos, famílias)”. E elaborei um pequeno programa para o efeito, simples mas bonito, que a seguir apresento.

ESCOLA SÃO FRANCISCO DE ASSIS “PAZ E BEM” 
– Boebau / Manati – Leotalá

VII aniversário

1. Boas vindas

- Eustáquio
- Hino da Escola

2. Imposição de tais

3. Celebração:

- Cântico “Vamos aclamar o Senhor”

- Cântico das criaturas

- Música “Amazing Grace” com leitura da Oração de S.Francisco

- Cântico “Nós damos graças ao Senhor”

4. Inauguração do muro de proteção

- Leitura do poema “O Muro” de Alberto Oliveira

- Música de acordeão e canas, paus, pedras

5. Canções portuguesas:

- “A Chuva” )

- “A dar-te um beijo” ) Adobe

- Abre a janela /As modinhas / É bom camarada

6. Parabéns a você

- Canto dos Parabéns


- Corte e distribuição do bolo e do champanhe

7. Almoço para crianças e adultos

8. Visita às instalações da escola e casa dos professores


Depois de um pequeno ensaio com a Adobe e o Eustáquio, achamos que já estávamos preparados para o dia seguinte. Toca a descansar…”Vamos a la cama que hay que descansar / Para que mañana podamos trabajar” (canção espanhola para as crianças irem para a cama).

22.03.2025,  sábado – VII aniversário da ESFA


De manhã cedinho, toca a levantar para que a hora marcada iniciemos a viagem até Boebau que, como sempre, será uma aventura no bom e no mau sentido: caminhos difíceis em que tanto veículos como pessoas têm de andar aos saltos, e onde nós os mais velhos,  katuas,  ficamos feitos num oito, todos escangalhados, mas também paisagens muito bonitas, com pessoas amáveis que nos dão o “bom dia!"... 

 nossa chegada já se ouviam as crianças da SFA cantando, sob o comando de Titânia, uma nossa antiga aluna que agora frequenta a escola CAFE de Liquiçá. Logo que descemos as escadas, toda aquela gente corre para nós para o ritual do “beija mão”, ou outros cumprimentos mais ocidentais. 

Mais ou menos à hora prevista, começou a realização do programa, que não foi cumprido na íntegra porque, a um determinado momento, começou a avistar-se um carro da polícia, seguido de mais seis carros de Estado. E, num grito, alguém anunciou: “Xanana!...Xanana!"... 

Foi um autêntico reboliço que se gerou. Programa interrompido, para ir receber o Sr. Primeiro Ministro e todo o seu séquito. Ao som de palmas e de aclamações, eu e o Eustáquio fomos ao seu encontro, e depois de uma saudação efusiva, perguntei: “Porque não nos respondeu?”. E ele respondeu: “Quis fazer-vos uma... surpresa!”

E pronto, a partir daqui o programa teve que ser alterado mas não na totalidade. Continuamos a pequena cerimónia, agora com a presença de altas individualidades e do povo de Boebau que ao saber da presença do Kay Rala Xanana se aglomerou na escola e nas redondezas.

Ficamos muito bem impressionados com a simplicidade, a empatia e a capacidade desta personagem emblemática para Timor Leste e para o mundo. O sr. Primeiro ministro falou e disse coisas importantes, cantou e orientou a cantoria, distribuiu comida às crianças, tirou fotografias com quem solicitou, etc…

 Embora já tivéssemos um bolo de aniversário, ele preocupou-se de trazer um bolo de aniversário enorme, bonito, aonde podemos ler “ Escola S. FRANCISCO DE ASSIS “ Paz e Bem”/ VII aniversário / 22 de Março de 2025”, e que depois cortou e partilhou pelas crianças e adultos. 

Trouxeram também carregamento de sacos de arroz, caixas de supramin, caixas com garrafas de óleo, livros para as crianças e caixas com camisolas (t-shirt), que oportunamente serão distribuídos pelas famílias mais carenciadas.

Depois do almoço para adultos e crianças, e depois de uma prolongada sessão de fotografias, chegou a hora da partida. Todos agradecemos esta agradável surpresa e, ao som de palmas e de agradecimentos, o senhor Primeiro Ministro e seus acompanhantes procederam à retirada, até porque tinham ainda de marcar presença noutro evento. 

Dia memorável em Boebau. Dia memorável para a ESFA. Diz-se por cá, que este dia vai ficar para sempre, e que há dois acontecimentos que ficam na história de Boebau, a saber: a inauguração da Escola São Francisco de Assis e a visita do Senhor Primeiro Ministro Kay Rala Xanana Gusmão.

E assim o VII aniversário da ESFA se tornou num facto histórico. Imaginam com certeza o nosso inebriamento, a nossa alegria, a nossa satisfação. A visita do Sr. Primeiro Ministro foi muito importante, que muito agradecemos. Mas não é de menor importância a sensibilidade

Assim, e a pedido dele, estamos a preparar um pequeno portefólio sobre a escola, de modo a ser-lhe entregue durante estes oito dias. Depois veremos. Mas temos esperança que, desta vez, ou “vai ou racha”, porque há pessoas em lugares de chefia que podem tomar essa decisão.

“Sursum corda!” (Corações ao alto!)

22.03.2025 – A seguir…

Embora extenuados pelo cansaço corporal e pelas fortes emoções, tivemos de pensar também no regresso a Dili. Mas a chuva era tanta e o nevoeiro tão intenso que não ousamos fazer a viagem. Não valia a pena arriscar. Tivemos então que decidir pernoitar em Boebau, para amanhã regressar à capital. 

E vai daí, tivemos tempo para tudo: para entregar as prendas e os donativos dos padrinhos, para em amena cavaqueira bebermos o café timorense, e para mais uma vez. sermos “instrumentos de paz”. Já não é a primeira vez que sou chamado para
exercer tal função perante situações conflituosas, às vezes até muito violentas. Talvez porque sou katuas e malai,  e porque sou associado à figura de São Francisco de Assis e à escola “Paz e Bem”, todos têm um grande respeito e carinho por mim. O grande interlocutor destas situações é sempre o Eustáquio que me disse” Tiu, temos de ir a casa de… para falar com… e para ele(a) perdoar e fazerem as pazes”. 

Missão cumprida. Fizemos o que devíamos, e o resto cabe a Deus. Mas, parece que deu resultado. À noite, na casa para os professores, cada um procurou o seu canto para poder descansar.

23.03.2025, domingo – O regresso à base

Logo de manhã, porque temíamos que a chuva e o nevoeiro nos boicotassem o caminho, aí vamos nós. Nada de relevante, a não ser os buracos e a lama (manteiga) em alguns troços do caminho, o leito da ribeira que não tem dez metros que sejam direitos, a boa estrada de Liquiçá a Dili e, para a gente não se habituar, o calvário dos caminhos (mercado de Perunas e seguintes) que nos trazem até aqui, em Ailok Laran. 

Normalmente, seja na ida ou na vinda, fazemos uma paragem antes da descida para qualquer direção, a fim de arrefecer o motor da pickup e dos fumadores engolirem o fumo de dois ou três cigarros. 

O local da paragem é um sítio lindíssimo, donde se avistam paisagens maravilhosas aonde predominam árvores de grande porte (20 a 30 metros de altura, com uma copa a condizer) – a madre cacau – que abriga os cafeeiros. Ouve-se um som muito intenso que é produzido pela grande quantidade de cigarras que povoam a copa destas árvores. 

Foi então que o Eustáquio me saiu com esta: “Quando eu era garoto, à noite acendíamos uma fogueira, e as cigarras atraídas pelo fogo caíam em cima do lume, ficavam assadas e a gente comia”. 

Ora aqui está mais uma descoberta, mais um grande petisco. Mas não as comeram todas, como se pode verificar pelo som atordoador que ouvimos. Dó que, se a moda pega, não há cigarra que resista, e teremos mais uma espécie em vias de extinção.

25.03.2025, terça – Carta de Agradecimento


Hoje fomos entregar no Palácio do Governo, Gabinete do Sr. Primeiro Ministro a carta de agradecimento pela visita surpresa que nos fez, assinada por mim e pelo Eustáquio, em nome da ASTIL de Portugal e da ASTILMB de Timor Leste, em nome das crianças e adultos da Escola São Francisco de Assis, em nome do povo de Boebau. 

Jà ontem tivemos uma reunião de trabalho com o amigo Rui Pacheco, técnico do governo na área de apresentação de projetos, que se disponibilizou para elaborar um pequeno dossiê sobre a ESFA, a fim de ser entregue ao primeiro ministro Xanana Gusmão e ao vice primeiro ministro Assanami Sabino, que eles próprios me solicitaram. 
 
O Ministro Ray Kala Xanana pediu-me em Boebau para lhe fazer chegar esse relatório nos próximos oito dias. Tudo faremos para que assim seja. E esperamos com alguma ansiedade que nos façam chegar decisões que sejam a solução para os problemas que enfrentamos.

Sua Excelência
Kay Rala Xanana Gusmão
Primeiro Ministro da República Democrática de Timor Leste

Com os nossos melhores cumprimentos, vimos agradecer a Vossa Excelência a visita surpresa que nos fez por ocasião da celebração do VII aniversário da Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”, em Boebau, nas montanhas de Liquiçá, suco de Leotalá. A presença de Vossa Excelência, bem como de todas as pessoas que o acompanharam, foi para todos nós motivo de honra e satisfação, que deu a esta escola projeção ímpar tanto em Timor Leste como noutras partes do mundo, sobretudo no país irmão Portugal. 

Apreciamos muito a sua simplicidade e a sua empatia com as crianças e adultos presentes, e vamos guardar bem nos nossos corações e nas nossas memórias este dia extraordinário da visita do Sr. Primeiro Ministro Kay Rala Xanana, personagem muito querida e respeitada por esta gente das montanhas. 

Dia 22 de março de 2025 fez-se história em Boebau, fez-se história na Escola São Francisco de Assis “Paz e Bem”

MUITO OBRIGADO SENHOR PRIMEIRO MINISTRO, em meu nome pessoal (abô Rui), em nome do Coordenador da ESFA (Pai Nino), em nome da Escola São Francisco de Assis(ESFA), em nome da Associação de Amigos de Timor Leste de Portugal (ASTIL) eda Associação de Amigos de Timor Leste de Manati/Boebau (ASTILMB), em nome de todas as crianças e pessoas de Boebau e localidades mais próximas.

Queremos também manifestar a nossa disponibilidade para colaborar, segundo as nossas possibilidades, na educação e desenvolvimento deste país irmão, ao qual estamos intensamente ligados por laços culturais e de amizade. Timor Leste, e particularmente as crianças mais necessitadas das montanhas e dos bairros mais pobres de Dili, estão no nosso coração. Que São Francisco de Assis a todos nos abençoe…

Com muita estima e consideração

Professor Rui Chamusco / Coordenador João Moniz Sobral


27.03.2025, quinta– A Elisa


A menina Elisa é a filha mais nova de 14 irmãos da família Vitor, veterano da resistência de quem muito tenha falado nas minhas primeiras crónicas. A Elisa já não conheceu o pai porque ele faleceu antes ou pouco tempo depois de ela nascer. Devido à situação degradante em que esta família vivia – um verdadeiro caso social –
tentamos logo resolver alguns problemas, através da angariação de meios económicos que permitissem a construção de uma casa digna para habitação. Conseguimos também que quatro dos seus filhos fossem apadrinhados por sócios da Astil. E foi sempre nossa preocupação que as crianças em idade escolar frequentassem a escola.

Este ano, logo quase no início da minha estadia, os padrinhos da Elisa enviaram um donativo bastante generoso, e por isso a Elisa foi convocada (eles habitam aqui em Ailok Laran) para vir receber o donativo. E a menina(já vai a fazer 9 anos no mês de Junho) apareceu ao final da tarde. Limpinha e bem vestida(creio que o vestido foi alugado para a ocasião). E, perante a pergunta que lhe fiz “em que classe andas na escola?”, a Elisa, triste, respondeu: “Eu não vou à escola”. Parece que explodiu em mim uma bomba. “O quê? Esta menina não anda na escola? Então não se entrega o donativo enquanto este assunto não for esclarecido e resolvido.” E lá fui eu e o
Eustáquio a casa da família Vítor, ver o que se passava. O irmão mais velho, José, explicou então que a Elisa ainda não foi matriculada na escola porque não tem a certidão de batismo. Em Timor Leste, a certidão do batismo é um documento oficial, que substitui a certidão. E não vale a pena fazer mais perguntas, porque todas as respostas que nos possam dar não conseguirão justificar a negligência desta gente.

Ainda lhes disse que, se isto fosse em Portugal era a polícia que vinha ter com eles, porque é um crime privar uma criança de frequentar a escola. “Então nós (eu e o Eustáquio) vamos tratar disto”. E lá fomos nós ao Cartório Paroquial da Sé tentar obter
a certidão de batismo. Foi uma trabalheira, porque os nomes não batiam certos. Nós pensávamos que a filiação era o pai e a mãe que tods conhecemos, mas afinal, o José e a Rita (o irmão e a cunhada) perfilharam a menina que já foi batizada depois de o verdaeiro pai morrer. Ao fim de alguns dias ou semanas lá conseguimos a dita certidão que nos vai permitir deslocarmo-nos até uma escola das redondezas para matricularmos para matricular a Elisa.

28.03.2025, sexta – A matrícula da Elisa

Logo de manhã, a Marcelina (Akai) telefona ao Eustáquio para dizer que espera por nós às 10 horas para ir connosco à Escola de Hudi Laran falar com o diretor sobre a matrícula. Passamos pela casa do Vítor para apanhar a Elisa, que depois de algum tempo de espera porque tinha de se preparar, lá vem a menina. Enquanto esperávamos, algo nos chamou a atenção. Primeiro o filho Valente, que nós ajudamos a reintegrar na escola há alguns anos mas sem grande êxito porque só estudou até ao nono ano.

Educadamente veio cumprimentar-me, e depois tentou disfarçar ou encobrir o que se estava a passar. Junto a ele estava um grupo de jovens, alguns já casados e com filhos, bêbados que nem um cacho, alguns já na ressaca e sem saberem o que diziam ou faziam. Tinham junto deles um garrafão de 5 litros de sabu. Uma bebida alcoólica extraída das palmeiras parecida com a aguardente. Começaram a beber ontem à noite e esta manhã ainda tinham lá uma pinguinha. Hoje é para a ressaca, também ela cheia de peripécias que nem vale a pena contar. 

“O timorense é assim. Tem dinheiro e gasta logo em cigarros e sabu”, diz o Eustáquio. É pena que assim seja. Há tanta coisa a emendar por aqui!... 

Mas vamos ao que interessa. Chegados à escola, fomos recebidos pelo diretor que logo nos disse: ”Agora já é tarde para fazer a matrícula porque os dados desta escola já foram enviados para o ministério da educação". 

Então pedimos que a Elisa, mesmo sem estar matriculada, pudesse informalmente ir a esta escola para conviver e assistir às aulas e para o começar logo no início. O diretor aceitou, e ficou de falar com uma das professoras. 

E assim a Elisa, na próxima segunda feira já pode ir à escola. Depois, lá fomos nós comprar duas fardas, meias e sapatos, mochila e material escolar para que a Elisa se sinta integrada neste novo mundo, no seu ambiente escolar. Que este seja o princípio de uma nova vida…


(Revisão / fixação de texto para publicação no blogue: LG)
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Notas do editor:

(**) Vd. postes de:

30 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26630: Facebook...ando (70): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte I

31 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26631: Facebook...ando (71): Timor-Leste: 1º ministro Kay Rala Xanana Gusmão faz visita surpresa à ESFA - Escola São Francisco de Assis, nas montanhas de Liquiçá, em 22 de março - Parte II