
Desta vez, não são os editores que estão a prestar a singela homenagem de aniversário, não senhor; desta feite é um camarada da tertúlia que mandou o trabalho que abaixo se publica.
Eu, pessoalmente, apenas passei a tarde toda até agora (23h35m) a tentar localizar todos os postes que o Paulo com o seu trabalho, originou no nosso Blogue. Desculpa Paulo, mas desisti ao 57.º e após ver letras e algarismos aos saltos. Prometo continuar por estes dias a árdua tarefa a que me propus, porque tu mereces. Tens um manancial de intervenções, a todos os níveis notável. Parabéns.
Para ti e sobre ti, diz assim o Mário Migueis da Silva:
O PAI DO RUGBY EM ÁFRICA
Caricatura de: © Mário Migueis da Silva (2009). Direitos reservados
Ao contrário do que legitimamente pensaram, não vamos relatar a visita do Pai do Rugby a África, mas tão só, e com igual grau de legitimidade, dar a conhecer aos menos informados que o Pai do Rugby em África tem nome e é português. Chama-se Santiago - Paulo Santiago - e nasceu para os lados de Águeda, Aguada de Cima, onde ainda reside.
Frequentou a Escola Superior de Agronomia, em Coimbra, que testemunhou os seus primeiros ensaios e conversões. Mas eu, simples narrador da história, só uns anitos mais tarde o conheci, lá para os lados do Saltinho, na Guiné, onde então ondulava pavilhão português.
Estávamos em 1971, talvez meados. Tinha (ele, o alferes Santiago) chegado na véspera da metrópole, onde gozara férias – duvido que merecidas - na santa terrinha de deliciosos comes e bebes. Cruzámo-nos na parada, ele vindo do abrigo do célebre Pelotão de Nativos 53, que comandava com um orgulho maluco, e eu de um lado qualquer, de que me não lembro nem interessa ao caso.
- Que é isso, Santiago?!...
- É uma bola de rugby, que trouxe ontem da metrópole, - respondeu com um largo sorriso, exibindo-me a alva bola com cara de melão..
- De rugby?!...
- Pois… Logo à tarde vamos fazer o primeiro treino no campo de lançamento dos frescos.
Ah, granda maluco!..., pensei eu sem dizer nada, que o homem podia levar a mal.
Só no dia seguinte soube – eu, o narrador – do que se passara na clareira a norte do Saltinho, onde, à falta de colunas de reabastecimento, os Nord Atlas lançavam pára-quedas com frescos e coisas assim.
- Com pernas fracturadas foram só dois, mas há mais estropiados com cabeças rachadas e dentes partidos, entorses e luxações. Ui, meu furriel, a coxear eram mais que muitos!..., - contava-me, tim-tim por tim-tim, o Cruz das Transmissões.
É claro que os senhores comandantes dos pelotões da Companhia ficaram assaz furiosos com o extenso rol de baixas, tal como o pacato Alferes Médico da Unidade – o Dr. Faria, oriundo da cidade-berço, que Deus tenha! – com tantos trabalhos e canseiras, para além da razia verificada nos stocks de álcool, tinturas, massagins, ligaduras e adesivos.
- Isto, assim, não pode ser, meu capitão!, - queixava-se alguém ao Comandante, que, não sendo homem de atitudes precipitadas, ouvia, ouvia, e ia registando tudo mentalmente, como poderia depreender-se dos seus ligeiros e concordantes acenares de cabeça.
- Ó Santiago!, - chamou o Capitão discretamente, à porta da messe, já no final do dia, antes do jantar.
- Sim, meu Capitão?... – respondeu prontamente o nosso herói, com um sorrisinho inocente.
O Capitão Clemente, com o seu olhar verde metalizado a brilhar por sobre aquela pêra de azeviche, varreu o Santiago de cima para baixo e, em seguida, de baixo para cima, enquanto tentava encontrar as palavras adequadas para lhe transmitir a mensagem que se impunha. Finalmente, chupou profundamente a ponta já nos iscos do indispensável SG Ventil e, com aquela voz cavernosa como só a dele, sentenciou por entre uma baforada meia de alívio, meia de desalento:
- Vá-se f....!
Esposende, 06/01/2010
Mário Migueis
Nota: O texto acima não passa de mera ficção, nada tendo os diálogos constantes a ver com a realidade e, muito menos, com a personalidade e brio moral dos intervenientes, antes traduzindo a suposta reacção do autor que, no lugar do Capitão Clemente, teria realmente dado igual sentença, mas sem pontinhos e com todas as letras.




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Notas de CV:
Paulo Santiago foi Alf Mil e Comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72,
(*) Para ver todos os postes do Paulo Santiago, clicar no marcador com o seu nome, inscrito no lado esquerdo da nossa Página.
Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5590: Parabéns a você (62): Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 489/BCAV 490 (Editores)