segunda-feira, 2 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18479: Convívios (847): XXXV Encontro do pessoal da CCAÇ 2317, dia 9 de Junho de 2018, no Restaurante Santa Luzia - Fátima (Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf)

XXXV Encontro do pessoal da CCAÇ 2317

Dia 9 de Junho de 2018

Restaurante Santa Luzia - Fátima


Joaquim Gomes Soares (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel / Ponte Balana, 1968/70)




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Nota do editor

Último poste da série de 23 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18452: Convívios (846): Esteve magnífica a Tabanca da Linha: na 5ª feira, dia 22, no restaurante "Caravela de Ouro", em Algés, com a presença de 63 convivas, entre amigos/as e camaradas, uns periquitos, outros maçaricos e, a maior parte, vê-cê-cês... (Fotos de Manuel Resende) - Parte I

Guiné 61/74 - P18478: XIII Encontro Nacional daTabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 5 de Maio de 2018 (3): Lista dos primeiros 45 inscritos, de A a V, e da Maia a Beja...


Só em dois encontros (em 2012 e em 2015) é que fizemos o "pleno": atingindo as 200 inscrições (lotação máxima de salão de jantar Dom Dinis, do Palace Hotel Monte Real). Em 2016 ficámos perto: 194. (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)


LISTA DOS PRIMEIROS 45 INSCRITOS NO XIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE - 5 DE MAIO DE 2018, PALACE HOTEL MONTE REAL (**)

Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Acílio Azevedo e Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Joaquim Alves - Malveira / Mafra
António Martins de Matos - Lisboa
Armando Pires - Algés / Oeiras

Carlos Cabral e Judite - Pampilhosa
Carlos Vinhal e Dina Vinhal - Leça da Palmeira / Matosinhos


David Guimarães e Lígia - Espinho

Hernâni Alves da Silva e Branca - Vila Nova de Gaia

João Francisco M. Antunes e Julieta - S. Domingos de Rana / Cascais
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Pinto e Ana - Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Barros Rocha - Penafiel
José Casimiro Carvalho - Maia
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa
José Saúde - Beja
Juvenal Amado - Amadora

Luís Graça / Alice Carneiro - Lourinhã
Luís R. Moreira e Irene - Sintra
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras

Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel José Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Miguel Pessoa e Giselda Pessoa - Lisboa

Rogério Cardoso e Maria Teresa - Cascais

Virgínio Briote e Maria Irene - Lisboa
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Notas do editor:



21 de março de 2018 Guiné 61/74 - P18443: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 5 de Maio de 2018 (1): Primeiras informações e abertura das inscrições (A Comissão Organizadora)

Guiné 61/74 - P18477: Notas de leitura (1054): Colóquio Internacional "Bolama Caminho Longe" (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Na década de 1990, no âmbito de uma iniciativa destinada a revitalizar a cidade de Bolama, realizou-se um colóquio internacional onde houve intervenções de muitíssima boa qualidade, tem todo o cabimento dar-lhes aqui guarida.
Neste texto refere-se concretamente a folha "Fraternidade", um caso admirável de solidariedade com as vítimas cabo-verdianas a sofrerem uma longa e penosa estiagem; e também a importância dos Gans, porventura o caso mais bem-sucedido de mestiçagem cultural que ocorreu na Guiné entre os séculos XIX e XX.

Um abraço do
Mário


Um importante evento cultural: 
Colóquio Internacional Bolama Caminho Longe

Beja Santos

Aqui funcionou o tribunal de Bolama, capital da Guiné

A publicação sobre o Colóquio Internacional "Bolama Caminho Longe", subintitulado "Bolama entre a generosidade da natureza e a cobiça dos homens" foi dada à estampa pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Guiné-Bissau, em 1996, tendo como coordenador o investigador Carlos Cardoso. É um documento extenso, com grane riqueza e pluralidade de opiniões. Vamo-nos cingir a duas intervenções da segunda parte, intitulada “Bolama e a sua contribuição na formação de uma consciência nacional”.

A primeira intervenção foi assinada por Benjamim Pinto Bull, trata-se de uma releitura da folha “A Fraternidade”, publicada em Bolama em 1883, iniciativa do cónego Marcelino Marques de Barros e Alfredo da Silva, que aparecem como signatários de uma peça dedicada ao eminente linguista português Adolfo Coelho. O que levou a esta publicação?

Havia fome em Cabo Verde e o Cónego tomou a iniciativa de sensibilizar toda a população da Guiné pedindo auxílio para as vítimas, assim apareceu em 31 de Outubro de 1883 esta folha A Fraternidade, Guiné a Cabo Verde. Folha destinada a socorrer as vítimas da estiagem. Tratava-se de uma folha de 4 páginas e a sua tiragem era um verdadeiro recorde para a Guiné, 10 mil exemplares, atenda-se igualmente ao número reduzidíssimo dos funcionários da Imprensa Nacional em Bolama, em 1883. A mensagem principal era a de partilhar a dor do outro.

Tratou-se de um empreendimento a todos os títulos inéditos, nele participaram portugueses e franceses, guineenses e cabo-verdianos, coisa nunca vista seis mulheres escreviam na folha, foi um ajuntamento e tanto: cónego, governador, chefes de serviços e pequenos funcionários, oficiais de alta patente ao lado de sargentos, um agente consular, gerentes de casas comerciais e pequenos comerciantes. E também coisa nunca vista, até não se atendeu muito à hierarquia, o Administrador do Concelho de Buba, Capitão António José Machado, não hesitou em reconhecer no seu depoimento a incapacidade do governo do reino para resolver o conflito entre Fulas e Mandingas.

O impacto material, os socorros financeiros, os agradecimentos são largamente documentados. Uma citação do que veio do Governo-geral da Província de Cabo Verde: “As estreitas relações e laços de amizade que outrora ligavam o distrito da Guiné a Cabo Verde não minguaram nem enfraqueceram com a sua separação. Disso dá uma prova frisante o ato humanitário e generoso dos habitantes da Senegâmbia portuguesa”.

Já demoradamente se falou no nosso blogue de uma das figuras mais prestigiantes da cultura guineense do século XIX, Marcelino Marques de Barros (1844-1929) a quem a Guiné e Portugal não tratam com o devido carinho, dada a monumentalidade da sua obra na evangelização e nas ciências sociais e humanas. Fez parte de comissões importantíssimas, foi o primeiro ensaísta da entidade guineense, poliglota em termos de línguas africanas faladas na Guiné, autor do primeiro dicionário português-crioulo, com 5420 palavras. João Dias Vicente escreveu um trabalho muito apurado subordinado ao título “Subsídios para a bibliografia do sacerdote guineense Marcelino Marques de Barros”.

Investigação igualmente importante é a de Filomena Miranda e intitulada “Grandes famílias luso-africanas guineenses ou Gans do século XIX: o seu papel na integração urbana de autóctones – subsídios para o seu estudo”. Gam é um termo usado no crioulo da Guiné-Bissau para designar a casa de uma determinada família. No século XIX e ainda no início do século XX o termo era usado para se referir às casas das grandes famílias luso africanas das praças na Guiné. Assim, até muito recentemente (anos 1950/1960) ouvia-se dizer Gam Pinto, Gam Martins, Gam Carvalho para se referir às casas de família de Pinto, Martins ou Carvalho (abro parêntesis para dizer que no regulado do Cuor havia e há Gam Gémeos, na orla do Geba Estreito, servia-me do ancoradouro para utilizar o Sintex na época das chuvas). Gam é portanto o termo usado para designar local, sítio onde vive determinada família.

Filomena Miranda analisa as grandes famílias das praças de Cacheu, Bissau e Bolama. Nas praças podiam-se encontrar dois tipos de famílias. Um, que ainda estava em termos culturais e económicos muito ligado às etnias de origem, caso das famílias dos “grumetes”, que viviam um processo de assimilação (o grumete, segundo alguns autores é o meio termo entre o cristão e o gentio). O outro, a grande família luso-africana que vivia no centro das praças, na sua grande maioria mestiços de autóctones com portugueses, cabo-verdianos e outros, apresentavam um acentuado grau de assimilação de valores europeus. A língua utilizada pelos membros da família era o crioulo.

O Gam terá as suas origens nos empreendimentos comerciais que se deram na Costa da Guiné a partir do século XV. Recorde-se a figura dos lançados ou tangomaus. Teixeira da Mota refere-se aos tangomaus como portugueses que viviam na Guiné à margem das leis, coabitando e cruzando-se com os nativos, e que deram origem aos chamados filhos da terra e que se deslocava com grande liberdade entre as populações africanas. As mulheres dos portugueses eram conhecidas por nharas, auxiliavam os seus parceiros nas transações, colaborando como intérpretes de línguas e culturas. O mesmo papel tiveram os seus filhos, chamados “filhos da terra”, os grumetes e os cristãos.

No século XIX, ao longo do Rio Grande de Buba desenvolveram-se feitorias que assentavam a sua economia na produção e exploração da mancarra. Os seus proprietários eram luso-africanos, portugueses e franceses que utilizavam trabalhadores de várias etnias, principalmente os mancanhas. É à luz deste panorama económico que os Gans se organizaram dando resposta ao sistema de exploração. O Gam integrava o páter-famílias, a mulher, os filhos, os “mininos di criaçon” e os empregados. Daí, como sublinha a autora, o importante papel social do Gam. Neste lugar funcionava a escola a que tinham acesso os autóctones na Guiné, convém recordar que as escolas públicas eram escassas e que as primeiras escolas femininas apareceram em 1881. Os Gans foram locais de educação e preparação de crianças guineenses que aos poucos iam fazendo a sua integração no meio urbano. Também deste modo se fermentou a mestiçagem cultural.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18469: Notas de leitura (1053): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (28) (Mário Beja Santos)

domingo, 1 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18476: Blogpoesia (561): "Alegria da Páscoa", "Desapareceram os deuses...", e "A sinfonia dos seres", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Alegria da Páscoa 

Era de festa o dia de Páscoa. 
Tocavam os sinos. 
Havia foguetes. 
Em cima da estrada 
E dos caminhos da aldeia, 
Semeavam tapetes às cores. 
Exalavam perfume as tenras flores. 
Se respirava a fundo e os olhos brilhavam. 
Havia sorrisos nos rostos em festa. 
Se estreavam os fatos, vestidos e as mantilhas da missa, 
Se adornavam as mesas com toalhas de linho. 
Bordadas com arte. 
Abundavam amêndoas e bolos. 
Se abriam as prendas que os padrinhos nos davam. 
E, na hora exacta, se recebia o compasso. 
Todos com opas, acompanhando a cruz. 
E Cristo, com manchas de sangue, num rosto a sorrir, 
Abençoava a família que lhes franqueava a casa. 
E o miúdo empinado, tocando a sineta, 
Seguia à frente anunciando a visita 
À casa mais próxima. 
Eram quilómetros feitos a pé. 
A alegria era tanta. 
Parecia divina… 

Berlim, 1 de Abril de 2018 
9h5m 
Jlmg

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Desapareceram os deuses…

Desapareceram há muito os deuses no universo.
Ficaram as estrelas brilhando e sorrindo.
Formam famílias.
As constelações.
Canteiros do céu.
O jardim rosáceo.
Que nos obriga a olhar para o alto.
Não vá cairmos nos abismos da terra.
Tela exposta, tecida em pontos de luz.
Abraçando a humanidade peregrina.
Queira ou não,
Rumo à eternidade.
Uma romagem que teve começo
E não mais acaba.
O mistério da nossa existência
Que nos mantém acesos e perplexos.
O tempo é a nave.
O mundo o mar…

Ouvindo Love Songs ao piano
Berlim, 2 de Abril de 2018
7h58m
Jlmg

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A sinfonia dos seres

No palco da existência se sentam os seres.
Cada qual na sua letra e melodia.
Fazem um coro colossal
Que soa certo e harmonioso.
Sem ensaios ou horas certas.
É o espontâneo.
Quem os rege é a Natureza.
Na sua infinita sabedoria.
Tem a queda para a regência.
Sem pauta ou lei.
Sua batuta toca fundo e instantânea.
Dá o ritmo num compasso variável.
Ao sabor da capacidade.
É agradável ouvir e ver.
Cada século tem o seu diapasão.
Desde o alaúde enigmático,
Na Antiguidade
Até à estrepitosa bateria,
Com guitarra eléctrica e viola baixa
Da nossa idade..

Berlim, 2 de Abril de 2018
11h24m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18458: Blogpoesia (560): "De mim ao infinito...", "As ladeiras...", e "A Praça do Giraldo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18475: Efemérides (271): A minha Páscoa no mato, há 45 anos (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > O José Claudino da Silva junto a cartaz d parede com os dizeres: "Páscoa Feliz, Os Serrotes, Fulacunda".

Foto: © José Claudino da Silva  (2017(. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Publicação do capº 53 do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita]
(i) nasceu em Penafiel, em 1950, de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje);

(ii) foi criado pela avó materna;

(iii) reside na Lixa, Felgueiras;

(iv) é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(v) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado;

(vi) completou o 12.º ano de escolaridade;

(vii) foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(viii) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.


2. Efeméries > A minha Páscoa de 1973

Acreditam que foi no Domingo de Páscoa que vesti o camuflado a primeira vez, após a chegada a Fulacunda, ou seja dez meses depois de estar na Guiné?

Apenas o tinha usado na viagem desde Bolama e foi para tirar fotos a 200 metros do quartel. Volto a referir: eu era um sortudo que, embora prisioneiro, estava a passar a comissão sem correr grandes riscos. Foi no Domingo de Páscoa que comecei a perceber que o meu lugar também era ao lado dos meus camaradas.

Se eu recebi bolo-rei no Natal, o Zé Leal recebeu amêndoas na Páscoa e dividimos mais uma vez irmãmente. Foi pena não chegar uma para cada um.

Decerto não me vão culpar por, precisamente no dia em que a Igreja celebra a ressurreição de Cristo, eu argumentar que nem Jesus Cristo estaria tantos meses sem ter uma mulher.


Se me acusam de pecar, experimentem com aquela idade só verem mulheres nas revistas. Uma coisa vos digo, embora ainda me faltasse cerca de um mês para vir de férias, o que entretanto ia escrevendo, hoje dá vontade de rir.

“Quando eu for podemos ir à festa do S. Gonçalo, Santo António, S. João e S. Pedro mas uma coisa te aviso já, não admito que esse António pai da Ana vá connosco, quero passear contigo livremente. Que ridículo dizer aos teus pais que por eu estar aqui 11 meses era perigoso deixar-te sozinha comigo. Somos suficientemente grandes para ter liberdade de ir a festas sozinhos”.

Acham que fomos? Nem pensar!

Sabendo o que sei e o que passei, não queria estar no lugar dos pais que tinham filhos na guerra colonial mas, convenhamos que também ter filhas não era nada fácil. Já me debrucei sobre este assunto e quanto mais leio, mais me apercebo de que muitos sonhos de namoro foram por água abaixo e muitos corações ficaram destroçados pela distância. Daí me referir ao cuidado que os pais tinham na liberdade que davam às filhas que namoravam com soldados. Era mesmo muito mau. Mas havia outra faceta.

A Páscoa passada pelos nossos familiares por exemplo.

“Meu amor dizes-me que tu e os teus pais passaram um dia de Páscoa muito triste! Devia ser pois teres um irmão em França, outro em Angola e eu aqui não é fácil de aguentar, infelizmente este é o nosso destino. Também a minha avó me tem dito que sem mim as festas anuais só lhe servem para chorar”.

Ao menos, havia sempre quem tivesse… madrinhas de guerra.

O meu amigo Silva arranjou uma. Começaram a escrever um ao outro, cada vez mais assiduamente, e enquanto umas paixões se desmoronavam, outras se iam solidificando. A dele foi uma dessas.

Passámos muitas noites juntos a fazer reforço, contava-me os sonhos que tinha quando regressasse. Penso que conseguiu mais do que imaginava. Lembro-me de lhe ter dado algumas dicas de namoro e referi-me à miúda, que conheceu por fotografias, de ser bonita. Estive com ele esta semana. Ainda está casado com a madrinha de guerra, é claro.

Excerto do manuscrito "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)"
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18474: Parabéns a você (1411): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Esp do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73) e Gina Marques, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do António Fernando Marques



A Gina Marques, nossa companheira da primeira hora, entra hoje para a Tabanca Grande, sentando-se no lugar n.º 769, à sombra do nosso poilão.
Será devidamente apresentada aos amigos e camaradas da Guiné. 
(LG)
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Nota do editor:

Último poste da série de 30 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18468: Parabéns a você (1410): António Graça de Abreu, ex-Alf Mil Inf do CAOP 1 (Guiné, 1972/74); Benjamim Durães, ex-Fur Mil Op Esp do BART 2917 (Guiné, 1970/72) e Rosa Serra, ex-Alf Mil Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1969)

sábado, 31 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18473: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 5 de Maio de 2018 (2): Quem dá boleia ao nosso camarada Mário Gaspar, que vive em Lisboa, na zona do Campo Grande?

1. Mensagem de Mário Gaspar:


[foto atual à esquerda; ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associação APOIAR; tem tem c. 100 referências no nosso blogue]

Data: 26 de março de 2018 às 23:41

Assunto: XIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE

Mário Vitorino Gaspar
Rua Alberto de Oliveira, 19 – 2.º Direito
1700-018 Lisboa
mariovitorinogaspar@gmail.com


Lisboa, 26 de Março de 2018

Caros Camaradas

Pretendo inscrever-me no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande. Palace Hotel de Monte Real no dia 5 de Maio.

Sucede que tenho dificuldades no transporte. Se existir um lugar vago num carro de um camarada, agradeço. Moro junto à Praça de Alvalade, Lisboa, mas posso deslocar-me para um local a combinar.

Um abraço para a Tabanca Grande.

Mário Vitorino Gaspar
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18472: (De)Caras (106): Os 7 bravos da Tabanca de Matosinhos (...mais um, o Evaristo) com quem almocei na 4ª feira passada (Luís Graça) - Parte I


Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > 28 de março de 2018 > Almoço semanal, à 4ª feira > Apareceu o editor do blogue da Tabanca Grande, de surpresa (, só o Zé Teixeira é que sabia, de véspera...). Éramos nove os convivas, na foto falto eu, que fui o fotógrafo, e o Evaristo, que foi fumar um cigarro à rua... Da esquerda para a direita: Carlos Louro (7), Leite Rodrigues (6), Zé Manel ("Josema")(5), Vitorino (4), Zé Teixeira (régulo da Tabanca) (3), José Ferreira (2) e Rodrigo (1).


Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


 (De)Caras (105): Os 7 bravos da Tabanca de Matosinhos (...mais um, o Evaristo) com quem almocei na 4ª feira passada (Luís Graça) - Parte I


(i) Mensagem de Luís Graça para o Zé Teixeira, depois do almoço na Tabanca de Matosinhos:

Data / hora: 29 de março de 2018 20:56:17
Para: José Teixeira
Assunto: Os 7 bravos da Tabanca de Matosinhos

Zé: Não estava à espera de tanto... Vocês foram gentis, hospitaleiros, bons camaradas,,, Ainda estive com a "tuna rural de Custóias" até às 20h!... E tiveram a gentileza, o Matias, de me levarem até casa, na outra banda, na Madalena!,,, Quis pagar o "táxi", mas não me aceitaram... No ensaio, fiz muitos vídeos, que me autorizaram a partilhar...

Olha, junto uma foto para tu poderes acrescentar os nomes da malta toda...

Boa e santa Páscoa!... Luís


(ii) Resposta do José Teixeira:

Data/hora: 30 de março de 2018 às 10:27

Assunto: Re: Os 7 bravos da Tabanca de Matosinhos

Bom dia,  Luís

Ainda bem que gostaste de estar connosco.

Tu, para nós és uma referência, porque ousaste pegar no clarim e pôr os combatentes a pensar Guiné - o tempo que tanto nos marcou e teimávamos a fechar dentro da mente. Talvez hoje, muitos dos que têm passado pela Tabanca Grande, Tabanca Pequena de Matosinhos e tantas outras que se foram abrindo por esse Portugal,  não estivessem tão bem do foro psicológico. Pois ler, escrever e partilhar as alegrias, as dores e sofrimento, no fundo os acontecimentos que passamos numa guerra que não nos dizia nada e não queríamos fazer, e que teimavam em ficar retidos na mente,  fez-nos muito bem a todos.

Não só as tabancas que se foram instituindo, mas também as que pontualmente se foram criando e logo desapareceram, isto é, foi-se gerando dentro dos combatentes a necessidade de falarem do passado, graças à ação natural e espontânea daqueles que foram atingidos pelas nossas tabancas e começaram a falar de Guiné, quando encaravam com outros ex-combatentes.

Sobretudo criaram-se laço de amizade profunda, tiraram muitos ex-combatentes das quatro paredes da sua casa e puseram-nos a viver a vida de forma mais comunitária, em ambiente onde nos entendemos bem, onde nos sentimos irmanados.

O que tu chamas "Tuna rural de Custóias" também é, de algum modo uma tabanca, pois ali se acoitam vários ex-combatentes da Guiné, para tocar e cantar e para umas petiscadas de vez em quando. Fico feliz por saber que te sentiste bem. Eu, moro ali ao lado e vou até lá muitas vezes.

Lamento que tenham estado tão poucos convivas na Tabanca de Matosinhos. O período Pascal não ajudou, pois a média de presenças anda pelos vinte convivas. Na fotografia tens, da direita para a esquerda: Carlos Louro (7), Leite Rodrigues (6), Zé Manel (5), Vitorino (4), Zé Teixeira (3), José Ferreira (2) e Rodrigo (1).

Com votos de Boa Páscoa, dá um beijinho à Alice e aos filhotes

Um grande abraço para ti do Zé Teixeira

Boa e santa Páscoa!... Luís


(iiii) Resposta do Luís Graça:

Data / hora: 30 de março de 2018 11:08




Zé: Obrigado pelas tuas palavras amigas. E, como amor com amor se paga, já sabes que tens, deste lado, um amigo, uma casa, uma tabanca... Ainda estou pela Madalena, devo ir mais logo para Candoz... Penso regressar 3ª feira a Lisboa.

Obrigado pela legenda da foto... As que não foram tiradas por mim, ficaram tremidas... Na foto, falta o Evaristo... Sabes-me dizer qual é o apelido dele ? É uma história triste, a que me contaste, a seu respeito...

Vou mandar os vídeos que fiz, são mais de 8 GB... Estás interessado em ficar com uma cópia ? Eu e o Júlio  [, que toca violino, a par do Zé Ribeiro,]  temos em comum dois cunhados, que são cunhados dele e meus. O Júlio casou com uma rapariga que é irmã de uma cunhada e de um cunhado da Alice...Mesmo sendo eu "mal casado" aos olhos da malta cá de cima (, foi o primeiro casamento civil, no Marco de Canaveses, em 1976, em 7 de agosto de 1976...), são meus cunhados também...

Um xicoração, Luís


(iv) Resposta do José Teixeira


Data / hora: 30 de março de 2018 12:10




Luís: Obrigado pela tua amizade que já vem de longe.

Creio que ninguém sabe o apelido do Evaristo [que esteve na Guiné, na Marinha]. Apareceu há cerca de três anos e creio que somos os únicos amigos que ele tem. À quarta feira é sempre o primeiro a chegar e nunca falha. A cabeça é que parece já estar um pouco gasta. Creio que se separou e abandonou (ou foi abandonado por) a  família na sequência da "infiltração" da religião através da mulher que lhe tirou tudo quanto tinham poupado. Vive da reforma que nos parece ser razoável, ao menos isso.

Abraço, Zé.

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sexta-feira, 30 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18471: Tabanca Grande (459): João Schwarz, novo grã-tabanqueiro, nº 768


João Schwarz da Silva, nosso novo grã-tabanqueiro, nº 768..
É o autor da página Des Gens Intéressants,
onde tem perpetuado as memórias de amigos e familiares.
Tem já uma dezena de referências no nosso blogue.


1. Mensagem do João Schwarz, com data de hoje, enviada às 09:29


Olá,  Luís. Aqui vai a fotografia.

Quanto à autoapresentação,  proponho um texto com pequenas recordações da Guiné. Não são duas ou três linhas mas são elementos de uma vida.

Nasci em Alcobaça em 1944, e fui para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do meu avô Samuel Schwarz em Lisboa [, em 1953,] voltei para Bissau onde frequentei o Colégio Liceu Honório Barreto até à minha vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960. 

Éramos sete na turma a terminar o 7° ano do Liceu. Destes sete, três vieram para a Universidade em Lisboa. Os outros três desapareceram para o Senegal ou para a Guiné Conakri. Durante muitos anos o reitor do Liceu de Bissau era o Sr. Pequito que toda a gente chamava Sr. Periquito. 

Homem de muita idade, o Sr. Pequito não podia conceber que os rapazes tivessem um certo interesse pelas raparigas. Nos intervalos das aulas os rapazes do pavilhão de baixo iam ver as meninas do pavilhão de cima brincar. Um belo dia o Sr. Pequito viu que havia rapaziada a mais e mandou um berro que entrou para a história: "Saias para cima,  calças para baixo". Acho que não teve outra solução se não  a de demitir-se depois de uma tal bronca.

Com os meus pais [Clara Schwarz e Artur Augusto da Silva,]  visitei toda a Guiné numa época em que só havia 60 km de estrada alcatroada entre Bissau e Mansoa. Passávamos as férias do Natal e da Páscoa em Varela,  no hotel do Sr. Pireza. 

No Natal pendurávamos "neve artificial" nas casuarinas en frente do hotel. Havia um conjunto de casas que tinham sido construídas por varias instituições nas quais eram albergados os amigos deste ou daquele. Para evitar qualquer potencial conflito de interesses,  o meu pai comprou um terreno onde mandou construir uma casota de férias. Lembro-me de assistir ao desembarque, na praia de Varela, de centenas de tartarugas,  o que nos levava a fazer omeletes gigantescas de ovos de tartaruga com sabor a peixe. 

A partir de Varela íamos muitas vezes a Ziguinchor [, no Senegal,]  comprar "coisas modernas" tais como iogurtes. Em Varela lembro-me também de assistir à prospecção de petróleo por uma companhia americana que, quando se foram embora,  deixaram por todo o lado frigoríficos, barcos de fundo chato e material de transporte. O meu pai comprou um desses frigoríficos que era tão bom que só foi reformado em 2014, ou seja,  com 60 anos de serviço. O conceito de obsolescência programada não tinha ainda integrado o mundo industrial. 

Em 1958, com 14 anos, os meus pais decidiram mandar-me em visita à família no Canadá e nos Estados Unidos. Com um passaporte emitido em Bissau e um visto americano concedido em Dakar, lá parti em viagem. Chegado a Chicago, vindo de Montreal, a polícia decidiu entrevistar-me durante umas boas horas pois não sabiam onde era a Guiné.

No meu melhor inglês expliquei que a Guiné era em África e até pedi um mapa do mundo para melhor explicar a situação.Tanto olharam para aquele passaporte que perdi o avião para São Francisco. A polícia não fazia a minima ideia sobre a existência de um continente além do continente americano. 

Em 1968 fui de férias a Bissau onde tirei a carta de condução num dia. Lembro-me que tive que responder à pergunta "O que se faz quando a cancela do comboio esta baixada?". Várias vezes fomos a Dakar de carro com passagem por Bathurst [, hoje Banjul, capital da Gâmbia], uma verdadeira expedição tantos eram os percalços durante o percurso, com travessias em múltiplas jangadas.

Num dos regressos a Bissau, vindos de Dakar, demos boleia ao Amilcar Cabral.

Mais tarde em 1976, com o Luís Cabral como presidente, voltei à Guiné onde trabalhei durante seis meses como perito das Nações Unidas. Dava aulas de matemática ao pessoal do emissor de Nhacra, e fiz um plano para uma rede de rádio FM que cobria toda a Guiné.

Tempos formidáveis onde se concebia o futuro de ânimo leve. A exceção eram os momentos em que havia um problema de saúde. Entre os médicos russos e cubanos que lá estavam lembro-me que os únicos que tinham mesmo cara de ser médicos eram os Cubanos.

Um grande abraço

João


2. Comentário do editor LG:

O convite,  para o João ingressar na nossa Tabanca Grande, tem dois dias (*):

"Gostava que o João se sentasse à sombra do poilão da Tabanca Grande, no lugar nº 768... Não é um lugar físico, é penas simbólico... Somos já 767, entre vivos e mortos, os amigos e camaradas da Guiné, formalmente registados na nossa comunidade virtual...

"Como sabe, exercemos aqui o direito e o dever de memória... A Guiné é o nosso traço de união. O João é um construtor de pontes tal como o Carlos. E, se aceitar o nosso convite, passamos a tratar-nos por tu, à boa maneira romana, dá mais jeito... Só gostaria de ter,eventualmente, uma foto sua, atual, e duas linhas de autoapresentação.".

Obrigado, João, "quem bebeu a água do Geba", fica com o bichinho da Guiné, vacinado contra muitas doenças e sobretudo protegido contra alguns vícios dos filhos dos cavaleiros do apocalipse:  a estupidez, a intolerância, a arrogância, o racismo...

Obrigado, João, pela bem humorada e pessoalíssima apresentação à Tabanca Grande onde se reúnem amigos e camaradas da Guiné. Os camaradas tratam-se por tu, encurtando eventuais distâncias e facilitando a comunicação.  O João, filho da Clara e do Artur, mano do Pepito, está à vontade para me tratar por tu. Por mim, é uma honra acolhê-lo, a partir de agora, nesta comunidade que é mais do que virtual: a Tabanca Grande é a mãe de todas as tabancas, incluindo a Tabanca de São Martinho do Porto.. Pode ser que, com o João, a gente ainda volte lá em dia, em agosto, para homenagear os nossos grã-tabanqueiros, a Clara e o Pepito. (**)

Enfim, para os novos grã-tabanqueiros, costumamos sugerir a leitura, por alto, das 10 regras da política editorial do blogue...
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 26 de março de  2018 > Guiné 61/74 - P18461: Tabanca Grande (458): António Joaquim Alves, natural da Malveira, Mafra, a viver no Carregado, Alenquer: ex-sold at cav, CCAV 8351, "Os Tigres de Cumbijã", destacado no COMBIS, Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 767

Guiné 61/74 - P18470: História de vida (46): O meu saudoso mano mais novo, Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014) (João Schwarz da Silva) - III (e última)


Foto nº 1 > O "Pepito", com cerca de  5 anos em frente do carro Nash que o paiArtur  tinha comprado na América.


Foto nº 2 > O "Pepito" com a avò materna Ágata


 Foto nº 3 > O "Pepito" com o avô materno Samuel.



Foto nº 4 > O "Pepito", ainda bebé


Foto nº 5A > Algures, s/d, o "Pepito", com cerca de 12 anos, e o pai, Artur.


Foto nº 5 > Algures, o "Pepito" com o pai, Artur


Foto nº 6 > Portugal > Alcobaça > São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro > c. 1957 > O pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), com os filhos, da esquerda para a direita, João, Ica [, Hwenrique,]   e Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014). Cortesia de João Schwarz da Silva, que nos diz que a data deve ser "provavelmente 1957"... Teria então o Pepito (, nascido em Bissau, em 1949) os seus oito anos...

Fotos (e legendas): © João Schwarz da Silva (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



III (e última parte) da publicação do texto do João Schwarz da Silva sobre o seu malogrado mano mais novo, membro da nossa Tabanca Grande, que nos deixou há 4 anos atrás. e que tem por título Carlos Schwarz (Pipito).

As fotos nºs 1 a 4 foram ontem enviadas pelo João que, por sua vez, aceitou o nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande, o que muito nos apraz registar e anunciar.

Carlos Schwarz da Silva, Lisboa, 6/9/2007.
Foto de Luís Graça
O Pepito tem mais de 220 referências no nosso blogue. Continua a fazer parte da nossa Tabanca Grande, tal como a sua mãe, Clara Schwarz (1915-2016). Os seus exemplos de vida foram (e continuam a ser) inspiradores.  Vejo o Pepito,  nascido em Bissau,  sobretudo como um construtor de pontes, entre o passado e o futuro, entre os nossos dois povos, entre a África e a Europa.  A sua paixão pela Guiné levou-o a uma morte precoce, aos 63 anos. Veio morrer à terra da sua muito querida mãe, veio morrer em Lisboa,  quatro dias depois de celebrar os 99 anos da  Clara. Morreu em 18 de fevereiro de 2014. Para nós, é agora um "bom irã" que vive connosco no poilão da Tabanca Grande, a que se vem juntar, com muita alegria minha, o João, seu mano do meio: vou apresentá-lo, ainda hoje, aos amigos e camaradas da Guiné. (LG)
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores da série:

Guiné 61/74 - P18469: Notas de leitura (1053): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (28) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,

O conflito prolongado que foi a II Guerra Mundial teve inevitavelmente impactos nas transações e na vida económica da Guiné, envolvendo, claro está a metrópole. O que aqui se relata tem a ver fundamentalmente com as necessidades acrescidas do Senegal, tudo irá mudar com os desembarque dos aliados no Norte de África em 1943, porão em causa, as novas forças em Dakar, o entendimento entre os comerciantes da Guiné e os aliados do Eixo. Segundo o gerente de Bissau, a bonança veio rápida e o comércio prosseguiu de vento em popa, a metrópole a fornecer quantidades colossais de fazendas e outras mercadorias.

Não é a primeira, nem será a última vez, que o gerente de Bissau, tece densa filosofia política em torno da agricultura guineense. Mas desta vez deixa claro que o modo de trabalhar do indígena guineense é um sério entrave à prosperidade agrícola, tão sério entrave como os calamitosos e inconsequentes investimentos feitos em projetos agrícolas que deram com os burrinhos na água. Se estivermos atentos, foi uma constante histórica. O que justifica a observação de Amílcar Cabral que o colonialismo português na Guiné não ficou marcado pela posse efetiva da terra.

Um abraço do
Mário



Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (28) 

Beja Santos 

A África Ocidental francesa ganha acuidade durante a II Guerra Mundial. Veja-se este apontamento constante do relatório da agência de Bissau referente ao primeiro semestre de 1943:

“A vizinha colónia do Senegal, por motivos de guerra, viu-se quase abastecida da sua metrópole e sem possibilidades de ser abastecer daquilo que mais necessitava.

Durante largo período, foi-se bastando com os stocks que tinham quando a fazenda e recebendo auxílio de Marrocos, quanto a subsistências.

As necessidades próprias da guerra esgotaram depressa as existências e o Senegal recorreu à nossa Guiné. Principiaram as exportações daqui para lá com fornecimentos de batatas; cebolas; algumas latarias; massa de tomate, de que o Senegal faz colossal consumo; queijos; manteiga e vinhos do Porto.

A falta de alguns destes géneros, na nossa própria colónia, paralisou tais exportações.
Veio então a procura de tecidos em relativa quantidade para consumo indígena, mas em quantidades enormes de zuartes e caquis destinados às tropas em luta.

Fizeram-se grandes negócios e lucros e os comerciantes da Guiné, certos da continuação do negócio, importaram maiores quantidades daqueles tecidos.

Dá-se o desembarque anglo-americano e a posição do Senegal mudou.

Enquanto as autoridades que estavam, viam com bons olhos os fornecedores da nossa Guiné, as autoridades que vieram consideram as anteriores como entendidas com o inimigo. E não só suspenderam as compras, porque os ingleses e os americanos passaram a trazer os seus tecidos para venda e fornecimento às tropas, como também não pagaram os fornecimentos que já tinham recebido dos comerciantes da Guiné. Dois males para estes ou, antes, para os fornecedores da metrópole.
Nem se venderiam facilmente os stocks existentes na colónia, quantidades invendáveis relativamente ao consumo próprio nem se saberia quando seriam pagos os fornecimentos feitos anteriormente. Daí resultou uma parte grande do comércio da colónia não poder honrar os seus compromissos, deixando protestar grande quantidade de letras. Na altura em que se ultima este trabalho, há esperanças de que o actual governo do Senegal se resolva a pagar o que deve.

Já o governo da colónia começou a ter interferência, o governo do Senegal tem aqui um depósito de 6 mil contos para fazer face a tais pagamentos que, pelas informações que dispomos, andarão pelos 12 mil contos.

Resolvido este caso, será paga uma grande parte das dívidas em atraso. E como já se pensa em exportar o excesso de tecidos existentes na colónia, desde que tal suceda, ficará o assunto resolvido. Nesta barafunda toda, tem o banco ganho bom dinheiro, e graças à nossa prudência não há um único real que se possa considerar comprometido”.



Uma preciosidade: as primeiras três ordens de serviço da agência do BNU em Bissau, 1918


No relatório anual desse mesmo ano de 1943 dá-se como notável o movimento de protestos, 162 letras protestadas num montante próximo dos 13 milhões de escudos, houve contudo liquidações, ajustamento de contas e o saldo do ano era de 59 letras protestadas num montante de 5 milhões. A explicação decorre um tanto do que acima se escreveu sobre as exportações para o Senegal e o comércio com o Norte de África:

“A razão de ser estes protestos foi só uma, a evolução das coisas relativas à guerra, no Norte de África. Antes da evacuação total das tropas alemãs e italianas, a África Ocidental francesa não tinha facilmente outra fonte de abastecimentos senão a Guiné Portuguesa. O nosso comércio fez o que era natural, aproveitando a oportunidade para vender muito e caro. Foi o que se fez e, no final das contas, tirando aborrecimentos que já passaram, os que o fizeram muito ganharam. As autoridades consulares inglesas mostraram indecisão, no princípio, ou não compreenderam a tempo que as toneladas e mais toneladas de tecidos que vinham da metrópole para a Guiné eram para se escoar para o chão francês. Porém, quando viram começar aqui o escoamento, lembraram-se de que os caquis e zuartes que iam para Dakar seriam destinados às tropas inimigas. Foi então que recusaram certificados de navegação para a vinda de mais fazendas da metrópole para a Guiné e entraram a fazer pressão sobre os comerciantes para que não fossem mais fazendas para o Senegal. A Guiné é toda cercada por terra francesa e a guarda-fiscal não chega à fronteira. Passou o que pode passar em contrabando, e muito passou regularmente. Foram alguns para a lista negra e tiveram dificuldades momentâneas, mas estas, por assim dizer, já lá vão. Subitamente, dá-se o desembarque americano no continente negro. Surgem novas personalidades em Dakar e nova política. Os americanos trazem consigo materiais, mercadorias e fazendas a preços melhores que os do comércio português. A razão política faz hesitar os novos mandantes de Dakar na análise dos negócios dos seus antecessores com o comércio da Guiné. Para uns, ausência total de culpas por parte dos nossos vendedores que, a título nenhum, podiam ser considerados como entendidos com os inimigos dos aliados, para lhe venderem fazendas. Para outros, culpas carregadas tinham os comerciantes de Bissau”.

O gerente de Bissau explana detalhadamente toda esta delicada questão e passa para outra, não menos delicada: a posse da terra, se os proprietários as podem agricultar e com que tipo de concurso dos indígenas. O gerente pega no primeiro volume da Obra “Guiné Portuguesa", da autoria do ex-governador Carvalho Viegas, escrita em 1936, cita a páginas 554, sob trabalho indígena: “Fizemos já ressaltar a inaptidão do indígena desta colónia ao trabalho assalariado” e a seguir, na página 565, formula outra citação: “Já dissemos em outro lugar que o indígena desta colónia, na sua maioria, tão grande que representa a quase totalidade da população, é absolutamente refractário a prestar serviços a particulares. Voluntariamente, não o fará. De forma que à atividade particular, nesta colónia fica vedada qualquer produção em que só a mão-de-obra indígena oferece garantia, embora seja retribuída, como ordena a lei". E passa para outra citação, nas páginas 567 e 568, assim: “A Guiné oferece aspectos de funcionamento social indígena tão diferente do das restantes colónias que a fixação do seu regime de trabalho – embora inconvenientemente baseado na doutrina internacional cuja justeza apreciamos – deve ser especialmente regulamentada de harmonia com as condições do seu meio social nativo”. E o gerente tece a sua conclusão lapidar: “Não há mão-de-obra na Guiné que permita explorações agrícolas organizadas”. E dá as seguintes justificações:

“O livro que se transcreve foi escrito em 1936. No fim de 1943 a situação é positivamente a mesma e o governa da colónia não pode alegar que a ignora.

Assim, como pode o estado vir condenar o proprietário que não agriculte – como, aliás, ele quer agricultar – sem ter mão-de-obra e sem que esteja em o diploma 1220, da harmonia com as condições do meio social nativo?

Não pode. Justa e honestamente, não deve.

E porque nem o proprietário tem culpa das circunstâncias especiais do meio e porque o Estado as não pode remediar ainda, parece desumano – e é mesmo – que seja esse mesmo estado que ataque o proprietário por não fazer o que se sabe que de facto não pode fazer. Daí o não dever receber tratamento punitivo quem não merece a punição.

O trabalhador indígena tem hábitos tão inveterados que há dezenas, senão centenas de anos, não se modificaram.

Até no trabalho diário para si próprio aplica umas escassas horas num labor que, favoravelmente, poderemos considerar intensivo, aplicando as restantes no descanso ou na discussão da sua complicada política.

Trabalhando (?) de conta alheia, espanta-se a sua mentalidade a tal ponto que nem percebe qual a necessidade que os outros têm da utilização do seu braço.

Mas, se condições excepcionais o forçam a assalariar-se, imediatamente, automaticamente, considera o trabalho como um fardo que aligeira trabalhando o menos que poder e produzindo, portanto, sob o aspecto económico, pouco ou nada.

Sem receio nenhum de contestação, garantimos serem estas as condições locais que, em boa verdade, não convém a ninguém. Tentar atenuar este mal convertendo trabalho à jorna e o trabalho à tarefa é imprensa duvidosa pois não sabemos onde encontrar uma massa útil de indígenas que aceite tal sistema.

Mas, nesta colónia, sob o aspecto de produção de trabalho é tão grande que nem se pode compensar em certos casos a falta de labor do homem com o recurso ao trabalho do animal, visto que este trabalho praticamente, infelizmente, não existe na colónia.

São todas estas dificuldades, de momento insuperáveis, que agravam a um ponto extremo o regime das propriedades que o Estado exige que se agricultem e, de facto, não podem ser agricultadas por falta de mão-de-obra”.

E finaliza toda esta análise das terras para agricultar perguntando:

“Quantas propriedades há na Guiné que estão bem aproveitadas pelas culturas indígenas, feitas sim por indígenas mas com a primitiva e mesmo actual ajuda e incitamentos dos proprietários?
Muitas. Talvez mais do que hoje se possa supor, a tantos anos da acção dos primitivos colonos que, por uma curiosíssima faceta primitiva da Guiné, deixaram atrás de si, a vincular a sua acção, um grupo de mangueiras; uns agrupamentos de coleiras; umas sebes de caju e por vezes algumas citrinas; tudo em volta de uma elevação de barro formada pelo desmoronamento da casa de adobe de lama em que o colono viveu, lutou, e se não morreu, deixou morrer em si toda a esperança de encontrar frutos no seu trabalho. Aos, que, hoje, passamos por tantos lugares com aquelas características certas, salta, na ligeireza de despreocupação pensar na ideia de que ‘ali foi uma ponta".

E acaba o seu documento para Lisboa com uma expressão muito amarga:

“Veja-se quantos e quantos milhares de contos estão enterrados por essa Guiné fora, em iniciativas agrícolas e iniciativas oficiais, nas granjas agrícolas do Estado. Todas faliram! Trabalho em pura perda! E quanto se tem legislado sobre agricultura!”.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 23 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18451: Notas de leitura (1051): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (27) (Mário Beja Santos)

Último poste da série 26 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18460: Notas de leitura (1052): “Guiné-Bolama, História e Memórias”, por Fernando Tabanez Ribeiro; Âncora Editora, 2018 (2) (Mário Beja Santos)