João Schwarz da Silva, nosso novo grã-tabanqueiro, nº 768..
É o autor da página Des Gens Intéressants,
onde tem perpetuado as memórias de amigos e familiares.
Tem já uma dezena de referências no nosso blogue.
É o autor da página Des Gens Intéressants,
onde tem perpetuado as memórias de amigos e familiares.
Tem já uma dezena de referências no nosso blogue.
1. Mensagem do João Schwarz, com data de hoje, enviada às 09:29
Olá, Luís. Aqui vai a fotografia.
Quanto à autoapresentação, proponho um texto com pequenas recordações da Guiné. Não são duas ou três linhas mas são elementos de uma vida.
Nasci em Alcobaça em 1944, e fui para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do meu avô Samuel Schwarz em Lisboa [, em 1953,] voltei para Bissau onde frequentei o Colégio Liceu Honório Barreto até à minha vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960.
Nasci em Alcobaça em 1944, e fui para a Guiné pela primeira vez com 4 anos. Depois da morte do meu avô Samuel Schwarz em Lisboa [, em 1953,] voltei para Bissau onde frequentei o Colégio Liceu Honório Barreto até à minha vinda para a universidade, em Lisboa, em 1960.
Éramos sete na turma a terminar o 7° ano do Liceu. Destes sete, três vieram para a Universidade em Lisboa. Os outros três desapareceram para o Senegal ou para a Guiné Conakri. Durante muitos anos o reitor do Liceu de Bissau era o Sr. Pequito que toda a gente chamava Sr. Periquito.
Homem de muita idade, o Sr. Pequito não podia conceber que os rapazes tivessem um certo interesse pelas raparigas. Nos intervalos das aulas os rapazes do pavilhão de baixo iam ver as meninas do pavilhão de cima brincar. Um belo dia o Sr. Pequito viu que havia rapaziada a mais e mandou um berro que entrou para a história: "Saias para cima, calças para baixo". Acho que não teve outra solução se não a de demitir-se depois de uma tal bronca.
Com os meus pais [Clara Schwarz e Artur Augusto da Silva,] visitei toda a Guiné numa época em que só havia 60 km de estrada alcatroada entre Bissau e Mansoa. Passávamos as férias do Natal e da Páscoa em Varela, no hotel do Sr. Pireza.
Com os meus pais [Clara Schwarz e Artur Augusto da Silva,] visitei toda a Guiné numa época em que só havia 60 km de estrada alcatroada entre Bissau e Mansoa. Passávamos as férias do Natal e da Páscoa em Varela, no hotel do Sr. Pireza.
No Natal pendurávamos "neve artificial" nas casuarinas en frente do hotel. Havia um conjunto de casas que tinham sido construídas por varias instituições nas quais eram albergados os amigos deste ou daquele. Para evitar qualquer potencial conflito de interesses, o meu pai comprou um terreno onde mandou construir uma casota de férias. Lembro-me de assistir ao desembarque, na praia de Varela, de centenas de tartarugas, o que nos levava a fazer omeletes gigantescas de ovos de tartaruga com sabor a peixe.
A partir de Varela íamos muitas vezes a Ziguinchor [, no Senegal,] comprar "coisas modernas" tais como iogurtes. Em Varela lembro-me também de assistir à prospecção de petróleo por uma companhia americana que, quando se foram embora, deixaram por todo o lado frigoríficos, barcos de fundo chato e material de transporte. O meu pai comprou um desses frigoríficos que era tão bom que só foi reformado em 2014, ou seja, com 60 anos de serviço. O conceito de obsolescência programada não tinha ainda integrado o mundo industrial.
Em 1958, com 14 anos, os meus pais decidiram mandar-me em visita à família no Canadá e nos Estados Unidos. Com um passaporte emitido em Bissau e um visto americano concedido em Dakar, lá parti em viagem. Chegado a Chicago, vindo de Montreal, a polícia decidiu entrevistar-me durante umas boas horas pois não sabiam onde era a Guiné.
No meu melhor inglês expliquei que a Guiné era em África e até pedi um mapa do mundo para melhor explicar a situação.Tanto olharam para aquele passaporte que perdi o avião para São Francisco. A polícia não fazia a minima ideia sobre a existência de um continente além do continente americano.
No meu melhor inglês expliquei que a Guiné era em África e até pedi um mapa do mundo para melhor explicar a situação.Tanto olharam para aquele passaporte que perdi o avião para São Francisco. A polícia não fazia a minima ideia sobre a existência de um continente além do continente americano.
Em 1968 fui de férias a Bissau onde tirei a carta de condução num dia. Lembro-me que tive que responder à pergunta "O que se faz quando a cancela do comboio esta baixada?". Várias vezes fomos a Dakar de carro com passagem por Bathurst [, hoje Banjul, capital da Gâmbia], uma verdadeira expedição tantos eram os percalços durante o percurso, com travessias em múltiplas jangadas.
Num dos regressos a Bissau, vindos de Dakar, demos boleia ao Amilcar Cabral.
Num dos regressos a Bissau, vindos de Dakar, demos boleia ao Amilcar Cabral.
Mais tarde em 1976, com o Luís Cabral como presidente, voltei à Guiné onde trabalhei durante seis meses como perito das Nações Unidas. Dava aulas de matemática ao pessoal do emissor de Nhacra, e fiz um plano para uma rede de rádio FM que cobria toda a Guiné.
Tempos formidáveis onde se concebia o futuro de ânimo leve. A exceção eram os momentos em que havia um problema de saúde. Entre os médicos russos e cubanos que lá estavam lembro-me que os únicos que tinham mesmo cara de ser médicos eram os Cubanos.
Um grande abraço
João
Tempos formidáveis onde se concebia o futuro de ânimo leve. A exceção eram os momentos em que havia um problema de saúde. Entre os médicos russos e cubanos que lá estavam lembro-me que os únicos que tinham mesmo cara de ser médicos eram os Cubanos.
Um grande abraço
João
2. Comentário do editor LG:
"Gostava que o João se sentasse à sombra do poilão da Tabanca Grande, no lugar nº 768... Não é um lugar físico, é penas simbólico... Somos já 767, entre vivos e mortos, os amigos e camaradas da Guiné, formalmente registados na nossa comunidade virtual...
"Como sabe, exercemos aqui o direito e o dever de memória... A Guiné é o nosso traço de união. O João é um construtor de pontes tal como o Carlos. E, se aceitar o nosso convite, passamos a tratar-nos por tu, à boa maneira romana, dá mais jeito... Só gostaria de ter,eventualmente, uma foto sua, atual, e duas linhas de autoapresentação.".
Obrigado, João, "quem bebeu a água do Geba", fica com o bichinho da Guiné, vacinado contra muitas doenças e sobretudo protegido contra alguns vícios dos filhos dos cavaleiros do apocalipse: a estupidez, a intolerância, a arrogância, o racismo...
Obrigado, João, pela bem humorada e pessoalíssima apresentação à Tabanca Grande onde se reúnem amigos e camaradas da Guiné. Os camaradas tratam-se por tu, encurtando eventuais distâncias e facilitando a comunicação. O João, filho da Clara e do Artur, mano do Pepito, está à vontade para me tratar por tu. Por mim, é uma honra acolhê-lo, a partir de agora, nesta comunidade que é mais do que virtual: a Tabanca Grande é a mãe de todas as tabancas, incluindo a Tabanca de São Martinho do Porto.. Pode ser que, com o João, a gente ainda volte lá em dia, em agosto, para homenagear os nossos grã-tabanqueiros, a Clara e o Pepito. (**)
Enfim, para os novos grã-tabanqueiros, costumamos sugerir a leitura, por alto, das 10 regras da política editorial do blogue...
"Como sabe, exercemos aqui o direito e o dever de memória... A Guiné é o nosso traço de união. O João é um construtor de pontes tal como o Carlos. E, se aceitar o nosso convite, passamos a tratar-nos por tu, à boa maneira romana, dá mais jeito... Só gostaria de ter,eventualmente, uma foto sua, atual, e duas linhas de autoapresentação.".
Obrigado, João, "quem bebeu a água do Geba", fica com o bichinho da Guiné, vacinado contra muitas doenças e sobretudo protegido contra alguns vícios dos filhos dos cavaleiros do apocalipse: a estupidez, a intolerância, a arrogância, o racismo...
Obrigado, João, pela bem humorada e pessoalíssima apresentação à Tabanca Grande onde se reúnem amigos e camaradas da Guiné. Os camaradas tratam-se por tu, encurtando eventuais distâncias e facilitando a comunicação. O João, filho da Clara e do Artur, mano do Pepito, está à vontade para me tratar por tu. Por mim, é uma honra acolhê-lo, a partir de agora, nesta comunidade que é mais do que virtual: a Tabanca Grande é a mãe de todas as tabancas, incluindo a Tabanca de São Martinho do Porto.. Pode ser que, com o João, a gente ainda volte lá em dia, em agosto, para homenagear os nossos grã-tabanqueiros, a Clara e o Pepito. (**)
Enfim, para os novos grã-tabanqueiros, costumamos sugerir a leitura, por alto, das 10 regras da política editorial do blogue...
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Notas do editor:
(*) Vd.comentário ao poste 28 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18463: História de vida (44): O meu saudoso mano mais novo, Carlos Schwarz da Silva, "Pepito" (1949-2014) (João Schwarz da Silva) - Parte I
(**) Último poste da série > 26 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18461: Tabanca Grande (458): António Joaquim Alves, natural da Malveira, Mafra, a viver no Carregado, Alenquer: ex-sold at cav, CCAV 8351, "Os Tigres de Cumbijã", destacado no COMBIS, Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 767
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