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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26309: Os nossos regressos (42): Vim com o meu batalhão em 4/8/1969 no T/T Uíge (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


O T/T Império, da Companhia Colonial de Navegação, que a caminho de Moçambique com 1400 militares sofreu um grave acidente, um rombo, na casa das máquinas tendo ficado à deriva durante 3 dias. Ainda hoje não se sabe se foi um ato de sabotagem... Era então comandado pelo Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães,  o oficial da marinha mercante que trouxe o T/T Uíge, de Bissau até Lisboa, em 4 de agosto de 1969 (nele tendo viajado o nosso camarada Virgílio Teixeira e o seu batalhão, o BCAÇ 1933).

(Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)














T/T Uíge, viagem de regresso de Bissau a Lisboa > Festa de despedida a bordo, em 8 de agosto de 1969.


Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Mensagem, enviada em 21 do corrente, às 15:46, 
do Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Olá,  Luis

Bom regresso às terras nortenhas.

(...) Junto envio a lista dos militares que viajaram comigo no T/T Uíge, no regresso a casa, bem como o programa da festa de despedida, a bordo, em 8 de agosto de 1969.

Entre os passageiros da 1ª classe estava o capitão Robles, figura afamada na Guiné, no meu tem
po (...) [ adjunto do comandante da 15.ª Companhia de Comandos, 1968/69],

Nunca o conheci pessoalmente. (...) Também não me lembro dele a bordo. Sei que depois foi para Tavira. (..:.)

O tempo está frio mas não consta a chuva.

Abraço, Virgilio

 

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Virgílio. Confirma-se, sem qualquer margem para dúvida,  que o teu regresso foi a 4 de agosto de 1969 e não a 10 (*). 

O Fernando Robles (bem como o Trotil) foi um dos instrutores militares conhecidos dos instruendos que passaram pelo CISMI de Tavira. Eu estive no último turno de 1968, já não apanhei o cap Robles, hoje cor inf, com 84 anos. (E o Trotil não sei quem era; do Robles contavam-se histórias do início da guerra de Angola; o que eu não sabia é que ele tinha começado a sua carreira militar como alferes miliciano.)

Viajou também contigo o médico do teu batalhão, Carlos Parreira Pinto Cortez, mais tarde psiquiatra, bem como a esposa, um casal com quem conviveste em Nova Lamego. Mas será que era capitão nessa altura ? Pareve haver um erro na lista dos passageiros de 1ª  classe: há 3 capitães milicianos médicos: além do teu, o João Martins Barata Crespo (mais tarde, médico de família, no centro de saúde de  Rio de Moura, e que já terá falecido) e  o Horácio David Garcia (mais tarde, ginecologista,com consultório privado em Lisboa).

Viajou ainda contigo um capitão, que eu iria conhecer, passados uns meses, em Fá Mandinga, como instrutor da Companhia de Comandos Africanos,  o cap art cmd Octávio Emanuel Barbosa Henriques, e grander amigo do nosso saudoso "Alfero Cabral". (Infelizmente, ambos já morreram; o Barbosa Henriques, que era de origem cabo-verdiana, tem nove referências no nosso blogue.)

Virgílio, lá foram todos a caminho de Lisboa (passando por Cabo Verde, ilha de Santiago e ilha do Sal) em ambiente festivo, ao som da famosa  Kamarinskaya, do  composityor russo Mikhail Ivanovich Glinka  (1804 – 1857)...

Não sei se havia mais gente conhecida. O comandante  de bandeira,  o capitão-de-mar e guerra Antóniio Malheiro  Júlio do Vale,já morreu há muito com o posto de  almirante reformado (1911-1997).

Uma curiosidade: o comandante do navio que te trouxe, Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães, comandaria,  cinco meses depois, o T/T  Império, da Companhia Colonial Navegação, quando em 9 de janeiro de 1970, aconteceu um acidente grave :

 (...) Sofreu "um rombo na casa das máquinas, que originou enorme entrada de água, que acabou por inundar e paralisar as máquinas, e como tal a vida quotidiana a bordo ficou insuportável, quando aquele paquete se encontrava a quatro dias de viagem e a 400 mn de Cabo Verde, mais propriamente a 150 mn a sul de Dakar."

Transportava 1400 militares. Ainda hoje se discute se foi sabotagem ou acidente. Andou à deriva mais de 3 dias:

 (...) 
Chegado um rebocador de nacionalidade Grega, da Tsavliris, foi por este rebocado para o porto do Mindelo, no arquipélago de Cabo Verde, onde arribou passados cerca de seis dias, com o pessoal a bordo em desespero, particularmente a tropa, que dias depois seguiu para Moçambique no paquete Niassa. 

O paquete acidentado regressou a Lisboa rebocado pelo salvadego Holandês Jacob  Van Heemskerck, da NV. Bureau Wijsmuller, de Ijmuiden, e daí dias mais tarde seguiu para os estaleiros de Glasgow para reparações finais; pelos seus próprios meios" (...) (Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)

Obrigado, Virgílio, pelos documentos que nos mandaste. São interessantes para a série "Os Nossos Regressos" (**)

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26308: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (12): Mensagens natalícias do José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 e Eduardo Estrela, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2592/CCAÇ 14

1. Mensagem natalícia do nosso camarada José da Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite, 1971/73):

Amigos e familiares,
Que o Menibo Jesus vos traga muitas prendas e deixe no vosso sapatinho um saco enorme com saúde e conforto.
Bom Natal e Bons Anos.

Abraços e beijinhos
José da Câmara
********************

2. Mensagem natalícia do nosso camarada Eduardo Estrela (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2592/CCAÇ 14 (Cuntima e Farim, 1969/71):

Para o Estado Maior da tabanca grande e para toda a população da mesma e seus familiares e amigos, votos de boas festas com muita saúde e coisas boas.
O Atlântico derramado nas areias da Praia Verde.
Aquilo que vos parece uma explosão é realmente, mas de vida e de confraternização.

Abraço fraterno
Eduardo Estrela

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Nota do editor

Último post da série de 24 de Dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26306: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (11): Conto de Natal - "Reencontro", por Joaquim Mexial Alves, ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873 e Pel Caç Nat 52

Guiné 61/74 - P26307: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (36): uma guerra que também era... ototóxica!

Uma preciosidade, uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... 

Havia duas tomas semanais (a pastilha à base de quinino era dissolvida em meio copo de  água),  às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72).

 Havia diversos "mitos" à volta deste "profilático", e que levavam à recusa em tomá-lo: um deles é que “fazia mal...à tusa”!...

Segundo o nosso camarada Rui Vieira Coelho (ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518, Galomaro, 1973/74, hoje médico, reformado, natural do Porto ou a residir no Porto), "nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate" (...) (*)

Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



Uma guerra que também era... ototóxica

por Luís Graça


Um dia sonhaste que tinhas uns 'ouvidos novos' . Ou melhor, sonhaste que tinhas encontrado no lixo uns 'ouvidos novos'... e que os mandaste recuperar. De outra vez, o sonho era que tinhas recebido em "herança", de um amigo querido que acabara de morrer, um par de próteses auditivas novinhas em folha, além de uns  "mocassins" (que ele nunca chegou a usar)...

Surdo que nem uma porta, o teu amigo nunca se habituara aos malditos aparelhos. Deixou de conviver, de aparecer na tertúlia dele, isolou-se e morreu sem um ai nem um ui, vítima do Covid-19...

Afinal, tens má consciência por toda uma vida em que foste predador do planeta. Agora, tarde e a mais horas, 'andas numa de reciclagem', gozam contigo os teus filhos e os teus amigos. Reciclas tudo o que podes, até querias pôr "ouvidos novos", reciclados, imagina!... (Pois é, não sabes que raio de planeta vais deixar para os teus netos e bisnetos, se os tiveres.)

− Rins, fígados, corações, e outros órgãos, dá para transplantar... Mas ouvidos, ó caro professor ?!... Implantes cocleares, queria o senhor dizer − gozou contigo o otorrino.

− Có... quê ?! ... Estou a ouvir mal, desculpa.

Foste fazer um audiograma, mas primeiro passaste pelo otorrino, teu velho amigo e conhecido, para limpar a merda dos ouvidos. Um deles tinha "favos e favos de mel e cera". 

−  Mais cera do que mel. Ou era só cera ?... 

− Um "pedregulho"! − disse-te ele, para teu espanto, apresentando-o na cabeça do dedo mindinho.

Ficaste assustado. Costumavas usar cotonetes...

− Qual quê ?!... Os ouvidos limpam-se com os cotovelos... E também podes usar um óleo, até o creme Nívea, para lubrificar o ouvido... Todos os dias, um bocadinho.

Há já uns anos que ouvias mal, já não ouvias os alunos da terceira fila na sala de aulas. Muito menos o safado e emproado locutor de serviço ao telejornal. Deixaste de ouvir e ver televisão, que, além disso,  só te trazia más notícias.

Nem podias ir ao teatro, que os atores só falavam para eles e entre eles e o ponto. E a primeira fila era só para os convidados, os críticos e os amigos bons de ouvido. E mesmo para ouvir a tua querida 9.ª sinfonia tinhas que levar um "funil" (punhas a mão atrás da orelha, a fazer de funil), o que irritava o espetador da fila de trás. E logo tu que eras um melómano... Então, música de câmara, só sentado na primeira fila, o o pescoço esticado e a mão em funil.

Cenas caricatas. Desististe.

− É mau sinal um gajo começar a desistir. De fila em fila acabas na última. E depois é o corredor do hospital, o terminal da morte.

Mas não eras tão melómano como aquele professor do conservatório nacional de música que te garantiu que de vez em quanto tinha que ir a Berlim "limpar o ouvido"...

− "Limpar o ouvido" ?...

− Sim, ouvir a orquestra filarmónica de Berlim.

O sacana do otorrino, teu amigo, há uns anos atrás, lá no consultório dele, encolheu os ombros, e interpelou-te, com ironia:

− Mas o que é o senhor professor quer que eu lhe diga ?!... A idade não perdoa, meu caro, a perda auditiva é irreversível"...

− Merda para a idade, senhor doutor!... E então os milagres das novas ciências médicas para cujo peditório também dei durante anos e anos ? Eu quero uns ouvidos novos, quero uma anca nova, quero uma recauchutagem do esqueleto, como deve ser, da cabeça aos pés... Tudo a que tenho direito...

O otorrino riu-se à gargalhada.

− A saúde custa cada vez mais cara. É já um bem de luxo. Nunca será para todos. E o SNS será para os pobrezinhos.

Nunca foste egoísta, agora estás a sê-lo... Andaste cinquenta anos a descontar para a ADSE (e continuas a descontar), nunca tomaste um medicamento, nunca foste à faca, nunca gastaste um chavo ao SNS, nem ao provedor da santa casa da misericórdia lá dá tua terra de que eras irmão... Foste amigo de ministros da saúde. Tinhas saúde para dar e vender. Nunca meteste uma cunha a Deus nem ao Hospital de Todos os Santos, também nunca te calhou o euromilhões ou a sorte grande, mas a verdade é que também não jogavas, e quem não arriscava não petiscava, lá dizia o saloio do Zé Povinho, que aprendeu a acender uma vela a Deus e ao Diabo...."que o seguro morreu de velho".

Não jogaste, não ganhaste, não arrombaste os cofres da santa casa da misericórdia quando foste mesário. Agora andas a fazer as contas à vida: tanto para os ouvidos, tanto para a anca, tanto para os joelhos, tanto para a farmácia...

− E que Deus nos livre do raio do Alzhemeir! − pediste tu, à tua médica de família como "prenda de Natal"....

E no outro dia foste à audiologista:

− Otites líquidas, teve em pequeno? −perguntou-te ela, inquisitorial.

− Minha querida, quem as não teve, em pequenino, ou no Portugal pequenino em que nasci, vivi e cresci ?

E depois acrescentaste:

− E o meu médico era a ti'Gertrudes, minha vizinha, da minha rua, guardadora de segredos terapêuticos milenares... Do sarampo à varíola, da pleurisia aos furúnculos, do quebranto à espinhela caída, tinha soluções milagrosas para tudo... Até para a epilepsia, era a doença do diabo. Também tirava o diabo mas nunca vi, era sessão interdita às crianças... E alguns desses preparos eram "repugnantes", como a merda de galinha em compressas no peito...

A tua audiologista já não era desse tempo, mas condescendeu em ouvir-te:

− Médicos ?... Só havia um lá na terra, e a gente só o chamava no estertor da morte ou nalgum parto de má hora 
− 

E por descargo de consciência, ainda a esclareceste sobre o teu passado:

− Depois disso, estive no século passado na Guiné, na guerra, ouviu falar ?... A menina é jovem, já nasceu depois do 25... E mesmo que fosse antes, nunca iria para a tropa. Só se fosse enfermeira paraquedista, conheci algumas na Guiné... Mas contavam-se pelos dedos as mulheres que foram à guerra...

− Já nasci nos anos 90, mas ouvi falar! − ripostou ela.

−  De quê, da guerra ?...

E enumeraste um rol de situações que só se viam nos filmes:

− Tiros, explosões, emboscadas, minas anticarro, acidentes com viaturas, quedas mais ou menos aparatosas, picadas, solavancos, cabeçadas, cones de fogo nas trombas, trambolhões, bezanas, esquentamentos, febres palúdicas... sabe como são estúpidas as brincadeiras da guerra, quando se tem vinte anos, sangue na guelra e as hormonas a rebentar a pele...

− Ah!, já sei!... Quinino, ototoxicidade!

− O quê... ?

− Há certos medicamentos que são otóxicos... Já passaram por aqui alguns antigos combatentes da guerra do Ultramar que se queixavam do mesmo mal... Surdos que nem uma porta!

− Ah!, o quinino, a pastilha LM, do Laboratório Militar, que a gente tomava regularmente, às refeições... Por causa das sezões,  malária ou paludismo... Lembro-me !

E, retomando o fôlego:

− Eureka!... Se me lembro !... Um pacotinho de sal e outro de quinino, ao almoço!... O quinino, pelo menos duas vezes por semana.

−Parece haver evidência científica de que o quinino pode provocar danos ao sistemas coclear e/ou vestibular"...

− Desculpe, não percebo nada da anatomia e da fisiologia do ouvido... Mas com essa do quinino, é que a menina me estar a lixar!... Não sabia, mas devia saber, porra, afinal andei anos e anos a falar de saúde e segurança do trabalho, de surdez profissional, de efeitos extra-auditivos do ruído como o stress..

− Não sou farmacêutica, mas há para aí mais do que uma centena de medicamentos ototóxicos. Acrescente-lhe o antibiótico, a penicilina, medicamentos oncológicos...

− Porra, tomávamos aos milhões, a penicilina...

− Agora, não há remédio, e não precisa de dizer palavrões... Sou sensível de ouvidos... Ou melhor: felizmente há remédio. Deixe isso comigo.

− Remédio ?!...

− Vamos lá ver o audiograma e, depois, pôr estes "brinquinhos" no ouvido, devidamente regulados...

− Com essa é que me tira o sono, que a guerra era tóxica, eu já o sabia, mas que também podia ser ototóxica, não me passava pela cabeça (nem pelo ouvido)!... Devia pedir uma indemnização ao Estado!...

− É mau para o Estado... mas é bom, para nós, multinacionais que vendemos aparelhos auditivos, um negócio de milhões (aqui para nós que ninguém nos ouve)... − e olhou para a porta do gabinete para confirmar que estava fechada.

Não podias estar mais grato à tua  jovem audiologista:

− Já percebi, é bom que os antigos combatentes não saibam certas coisas que faziam mal à saúde... Afinal, só os juízes é que são cegos, surdos e mudos como o macaco...

− E têm que ser bem pagos por isso... − arrematou a audiologista.  
− Administrar a justiça sem olhar a quem.

− Minha querida, estou encantado por ouvi-lo... Sabe, estou até a simpatizar consigo!.

... Saíste da loja com uns 'ouvidos novos'. Feliz como o gaiato, que acaba de receber um brinquedo novo. Podias agora ouvir todas as conversas, mesmo baixinhas... Até as bisbilhotices e as conversas dos espiões!... Mais importante: podias ouvir o mar no mês de agosto, e o vento a dar nos búzios dos moinhos da tua infância...

Algumas conversas bem tu as dispensavas, é certo... Mas não há mundos perfeitos... Não se pode ter tudo. Mais vale, afinal, andar neste mudo de muletas do que no outro em carretas...

Em boa verdade, compraste uns aparelhos novos. Os do teu amigo, esses, é que foram para a  "pubela",  para a reciclagem... Que desperdício!.,. Também não quiseste  os sapatos do defunto, uns belíssimos e confortáveis "mocassins" que ele comprara em Paris... Por superstição, por preconceito, por respeito .... Ias lá usar sapatos e próteses auditivas de um morto!

Mas queixaste-te, à menina audiologista, que era era indecente pedirem-te 8 mil euros por um aparelho auditivo XPTO... Mesmo com desconto de 50% por seres conhecido da casa... e a tua patroa já ser cliente da marca.

Preferias uns, em segunda mão, reciclados. Do teu amigo defunto, que nunca os usou, se vencesses a repugnância da morte e dos mortos. Sentiste  -te ofendido com o preço altamente inflacionado do raio dos aparelhos, tu que lutaste na guerra pela tua Pátria e que, se calhar, foras vítima da ototoxicidade provocada pelas drogas antimaláricas do Laboratório Militar... 

Agora, sim, confirmavas as tuas suspeitas: médicos e enfermeiros davam "pastilhas LM", "mezinho", a toda a gente, brancos e pretos, a torto e direito. Algumas eram talvez placebos, outras podiam ser "ototóxicas"...

Em vez de uma cruz de guerra, o Estado devia dar-te uns 'ouvidos novos', como tu chamavas às próteses auditivas... Humor negro à parte, pagaste e não bufaste!... Quatro mil euros, já com desconto e com IVA. A ADSE deu-te mil e tal e já está. 

Ainda estás, afinal,  a pagar a p...da fatura da guerra. (**)

Guiné 61/74 - P26306: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (11): Conto de Natal - "Reencontro", por Joaquim Mexial Alves, ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873 e Pel Caç Nat 52

REENCONTRO

Tantas vezes já tinha tentado falar com os seus pais para lhes pedir perdão por tantas coisas erradas que tinha feito e que o tinham levado a sair de casa. Tantos problemas que tinha causado e tinham entristecido os seus pais que, no entanto, sempre lhe respondiam com todo o amor que tinham por ele.

Lembrava-se de ter saído intempestivamente de casa, dizendo que se ia embora para sempre, deixando-os mergulhados numa profunda tristeza e desalento.

Agora via tudo isso, mas naquele tempo, um qualquer mal que ele não entendia, tinha-o levado a quase odiá-los por não quererem entender, julgava ele, as suas “verdades”.

O que seria feito deles?

Sabia que viviam na mesma casa de sempre, que os anos tinham passado por eles, e alguém lhe tinha dito que viviam sem alegria.

Também ele agora, passados aqueles anos loucos em que se tinha deixado consumir pelos maus caminhos, pela droga, pela sua mania de tudo pensar saber, sentia uma enorme tristeza dentro de si que, quando reflectia conscientemente, percebia que não era só pela vida que tinha levado, mas sobretudo por aquilo que tinha feito a seus pais e por este afastamento deles que agora vivia.

De repente percebeu algo tão nítido que ficou surpreso com ele mesmo.

“Aquilo que tinha feito a seus pais”! “Tinha feito”!

Então se “tinha feito”, pensou ele, era passado e estava muito a tempo de ir ter com eles, pedir perdão e deixar que o amor que ele sabia eles lhe tinham, fazer o resto.

Mas dentro dele ainda vivia um orgulho quase incontrolado.

Ir ter com eles e pedir perdão era reconhecer que tinha errado e, se ele queria sentir a paz do perdão dentro de si, a realidade é que teria de reconhecer que afinal não era dono da verdade e tinha errado, e isso parecia-lhe uma barreira quase intransponível.

Mas ele agora estava tão bem!

Tinha vencido o vício, tinha um bom emprego, um bom apartamento, enfim, uma boa vida e, no entanto, percebia, mais uma vez, que aquela situação não o deixava ser feliz e viver em paz.

Era véspera de Natal, e ele lembrou-se de que nesse mês e nesse dia, algo de bom, de sensível, se vivia sempre em casa dos seus pais, com os preparativos e a chegada do Natal, com uma alegria calma e aconchegante.

Já não rezava há tanto tempo, pensou ele.

Tudo isso tinha afastado da sua vida e já nem se lembrava das orações que faziam em casa de seus pais.

De qualquer modo fechou os olhos, baixou a cabeça, e quase num murmúrio disse: Menino Jesus, se me amas, ajuda-me a nascer de novo.

Veio ao seu coração uma certeza inabalável: Tinha que ir a casa dos seus pais nessa noite pedir-lhes perdão e que o deixassem passar com eles a noite de Natal.

Num instante colocou algumas coisas num saco e partiu de viagem, porque já era tarde e ainda tinha muitos quilómetros para fazer.

Longe, na terra de seus pais, já se celebrava a Missa do Galo e eles lá estavam, como sempre na igreja, tentando viver com alguma alegria a noite de Natal.

Mas era quase impossível, porque o seu filho longe e sem saberem onde, gerava uma tristeza muito profunda nos seus corações.

Deram as mãos no Pai Nosso e mesmo sem dizerem nada um ao outro, sabiam que nessa oração pediam ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo por aquele filho a quem tanto amavam.

Acabada a Missa saíram da igreja e caminharam apressadamente, por causa do frio, para sua casa que era ali bem perto.

Quando chegaram perto de casa, perceberam que junto à porta de entrada estava um vulto de homem, e ficaram um pouco receosos.

À medida que se aproximavam parecia-lhes que o ar se tornava mais leve, que uma qualquer melodia enchia aquela rua, que uma expectativa alegre tomava conta dos seus corações.

Foi então que reconheceram o seu filho junto à porta e, sem pensarem nem um pouco, correram para ele enquanto ele corria para eles, também.

Abraçaram-se chorando de alegria e quando ele tentava pedir-lhes perdão, eles só lhe diziam: Obrigado, obrigado por teres vindo ter connosco. Vem, entremos em casa e vivamos o Natal que fez renascer o nosso menino.

No presépio, podiam jurar que o Menino Jesus, Maria e José, sorriam embevecidos com os abraços intermináveis daquela família.

Marinha Grande, 21 de Dezembro de 2024
Joaquim Mexia Alves

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Notas do editor:

Conto de Natal, "Reencontro", por Joaquim Mexia Alves, publicado no Blogue da Tabanca do Centro, reproduzido aqui com a devida vénia

Último post da série de 23 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26304: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (10): Mensagens natalícias dos camaradas Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav; João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais/BEN 447; Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 e Manuel Serôdio, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932

Guiné 61/74 - P26305: Parabéns a você (2340): Fernando de Jesus Sousa, DFA, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71)

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Nota do editor

Último post da série de 23 de Dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26301: Parabéns a você (2339): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Bijene e Guidaje, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Bissau, 1968/70) e Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira, poetisa e declamadora

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26304: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (10): Mensagens natalícias dos camaradas Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav; João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais/BEN 447; Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753; Manuel Serôdio, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 e João Moreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721


1. Mensagem natalícia do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá, 1969/71):

Caros amigos
Especialmente para vós, fundador e coeditores, um Feliz Natal e um ótimo Ano 2025 (extensivo às famílias), que teimosamente não deixam desviver este blogue.

Um grande abraço,
Ernestino Caniço


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2. Mensagem natalícia do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, CMDT do Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, 1968/71):

Bom dia,
Para ti, tua família e, para todos os tabanqueiros, são os meus melhores votos.

Grande abraço
João Rodrigues Lobo


********************

3. Mensagem do nosso camarada Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Bironque e Mansabá, 1970/72):

Caros amigos,
Por circunstancias várias tenho estado ausente. Desde que me "matriculei" na Tabanca do Centro é por aqui que tenho andado nos últimos anos. Nesta altura, ocorre-me expressar votos de Festas Felizes para toda a Tabanca Grande e seus visitantes.

Um até sempre acompanhado de forte abraço.
Vitor Junqueira


********************

4. Mensagem natalícia do nosso camarada Manuel Serôdio, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1787/BCAÇ 1932 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68):

Desejo avisar todos os camaradas que muito embora o meu silêncio, ainda me encontro no "mundo dos vivos" continuando a residir em Rennes (França), aproveitando para desejar a todos um santo e feliz Natal, assim como um ano 2025 repleto de boas coisas, saúde e muita paz.

Abração para todos.
Cumprimentos,
manuel serodio

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5. Mensagem natalícia do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil Inf da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72):

A todos os camaradas da Guiné desejo que tenham um Feliz Natal e que o Ano Novo satisfaça os vossos desejos

Abraço
João Moreira

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Nota do editor

Último post da série de 21 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26297: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (9): ...God Jul Och Gott Nytt År ...para os amigos e camaradas (José Belo, "Lappland near Key West")

Guiné 61/74 - P26303: Notas de leitura (1757): "Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerra", por José Brás; Chiado Books, 2024 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
A originalidade desta narrativa memorial passa pela bem conseguida assembleia de conversa que o José Brás urdiu numa estonteante viagem entre a infância e a adolescência e a comissão na Guiné, toda passada em quartéis do Sul. Usa o discurso direto, aponta-nos o dedo, quase que nos pede resposta, mas nos antípodas da diacronia a que é manifestamente avesso, saltita quase febrilmente nos tempos e lugares, é uma montanha-russa que mete quartéis como o das Caldas da Rainha e Tavira, tascas com cenas de naifada, corpos carbonizados na estrada para Buba, flagelações, tudo isto se vai passar num tabuleiro restrito daquele Sul da Guiné que ele não quer ver apagado do mapa, Mejo, Cutima-Fula, Guileje, Gadamael, não terá estacionado muito tempo em Aldeia Formosa e seguramente que ouviu os rebentamentos ali ao lado, no octógono de cimento e sofrimento que se chamou Gandembel. Se um bom livro é obrigatoriamente uma história bem contada, José Brás passa com distinção e louvor.

Um abraço do
Mário



Filipe Bento volta a fazer vindima e diz-nos que do capim há memórias que não se apagam (2)

Mário Beja Santos

Vale a pena recordar que o mais recente livro de José Brás, "Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerra", Chiado Books, 2024, tem uma matriz de gabarito, trata-se do, seu romance premiado pela Associação Portuguesa de Escritores, em 1985, "Vindimas no Capim". Está de novo em ação Filipe Bento, continuamos numa ruralidade da Estremadura e naquele Sul da Guiné onde se combate ferozmente, Filipe Bento tem a sua comissão em Mejo e arredores, não esquece de nos contar que qualquer coluna de abastecimento seja a Buba ou a Gadamael é uma autêntica operação, por vezes próximo do inferno. O poder arquitetural da escrita de "Lavar dos Cestos" assemelha-se muito às "Vindimas no Capim", salta-se com a maior das facilidades das vinhas para o mato guineense, daquela vida duríssima do preparo da terra e das cepas, a puxar terra aos pés, a podar, a empar, a cavar, a sachar, a sulfatar, a enxofrar, a vindimar, tudo para ganhar uma miséria, era esta a condição deste povo vindimador, e num ápice estamos na guerra.

Toda a obra é uma sala de conferência, temos direito a desabafos íntimos: Daniel Padeiro era um vigarista, aldrabava no pão, no carvão, no que podia, apanhamos as conversas na tasca, irmanamos com a dureza do trabalho; e, como num salto sobre o abismo, caímos na Guiné, barquinho rio abaixo até Cacine, até Catió, Gadamael, mas também Gandembel, um octógono de cimento e sofrimento, Quebo ou Aldeia Formosa, é mais ou menos esta a quadricula de eleição onde se processa a liturgia da guerra; e saltamos ao passado, isto é, a terras estremenhas, à catequese, ao rio Tejo, ao major Leiria que era lá da terra e que Filipe Bento reconheceu no quartel, integrados somos na vida das instituições militares e, por artes mágicas, voltamos à floresta subtropical, também no quartel, é como se viajássemos de um pesadelo para outro, e as viagens pelos rios não têm graça nenhuma, como Filipe Bento conta quando foi de Bissau para Mejo no batelão Anita, furando a noite já funda, caiu uma chuvada das antigas, houve quem procurasse proteção no meio dos sacos de farinha, de lá saiu enfarinhado.

Foi gerente do bar, experiência para esquecer, ou não, pelo que se viu ter apanhado contas mal feitas. E voltamos às colunas, o cabo Júlio morreu entre labaredas, é uma descrição tremenda:
“Ali aos pés tinha o volume do resto do que fora o corpo do Júlio, meio aterrado ainda, com os coutos dos braços e das pernas a fumegarem, apontando ao alto. A pele da barriga esticara, rebentado, e mostrava um amontoado de carvão.
Toda a cabeça encolhera e as feições haviam desaparecido. O crânio estava repuxado e aberto também.
A posição agora seria a mesma que seria sentado na viatura, de pernas de fora.
Só que das pernas restavam uns espetos, maior o da direita, mais curto o da esquerda, mas ambos dobrados na bacia, fazendo o ângulo da posição mal sentada.
Os braços, mostrando os ossos dos pulsos, estavam também estendidos para a frente, quase perpendiculares ao corpo. Apenas as mãos haviam desaparecido.”


A pirotecnia da escrita, acompanhada destes saltos bruscos em que andamos por dois continentes, surpreendentemente, não nos desorientam porque um bom livro é sempre uma história bem contada, ainda há pouco andávamos de sachola na vindima, o Filipe Bento fez a recruta e a especialidade, já está a caminho de Buba, recorda as delícias do seu amor com Luísa, soa a voz do capitão Velês a deitar os bofes pela boca, Filipe está agora em Cutima-Fula, recorda a tasca do João Gato e a preparação que teve em Tavira, seguem-se as colunas a que não falta metralha, mas bem vistas as coisas Cutima-Fula era o paraíso, em termos de comparação com Mejo e o que se seguiu. Mas aquelas colunas ao cais de Buba não tinham mesmo graça nenhuma, dito por ele, reafirmado mil vezes:
“Eram uns trinta quilómetros para cada lado, a picar estrada, a cinco à hora, com um calor lixado, a água nunca chegava… e com a emoção da busca e descoberta de uma mina ou outra, de um fogachal daqueles e a incerteza permanente na alma dos malteses embarcados em Lisboa.
Vergar a mola à bruta na estiva do cais de Buba a carregar o material nas carripanas. Toneladas de trampa a fingir de produtos alimentares, remédios, balas, granadas, vinho mais que duvidoso, cerveja e outras bugigangas que, durante o percurso de volta, haviam de ser descarregadas para desatascar as viaturas, e transportadas ao longo da malta para uns metros à frente, atolados na chafurdice da bolanha, e carregados de novo, várias vezes repetindo o exercício no tempo das chuvas, com o estômago vazio e muita sede.”


Os nomes sucedem-se: Mejo e Guileje, Sangonhá e Cacoca, Catió e Cufar, Cabedu e Bedanda, Cacine, Mato Farroba, Cufar e Caboxanque, Salancaur e Cumbijã, e há lembranças de uma viagem em que se passava fome e foi possível comprar doze peixinhos, eram bicudas, pelo peixe, lá se fez uma fogueira em Catió, impossível não invocar aqui o repasto.

E há a denúncia dos compadrios: “O furriel Machado regressou a Lisboa tuberculoso. Deixou o pessoal de boca aberta. Parecia vender saúde e, de repente, zás, um rádio de Bissau a chamá-lo ao Hospital Militar.
E o Espírito Santo, que dois dias depois regressava de férias no Puto, informava-nos que encontrara o gajo de boa saúde no aeroporto com guia de marcha para a metrópole. Mais tarde soubemos que a doença dele se chamava Beja ou Évora ou lá o que era… seu tio.”

Voltemos ao universo estremenho, não havia campo de futebol, fazia-se bola com o que calhava, na falta do campo o adro da igreja era o único lugar capaz para garantir alguma distância entre dois pares de calhaus a fazerem as balizas e com duas equipas de cinco ou sete jogadores. Filipe é adolescente e sentiu a campanha de Humberto Delgado, o seu pai sempre prudente, talvez medroso, empolga-se com a campanha e explica porquê:
“Ponham-se vocês no meu lugar, nascido numa aldeia de ganhões de vinhas, de terceiros, de meeiros… gente que rebentava a vida inteira a fuçar sem tirar os cornos das cepas; anos e anos a fazer vinho, a bem dizer, dos torrões; a tirá-lo das veias para meter nos tonéis do senhoritos, senhorões filhos da puta; a apodrecerem na lama do inverno, a estorricarem no Sol de verão, a endoidecerem na hora dos acertos com o merceeiro, com o armazenista, com o aldrabão, sem um protesto, sem uma praga, sem um gesto de insubmissão. Na minha aldeia era tudo boa gente.”
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Aspecto geral da Sala
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Intervenção do Coronel Carlos Matos Gomes
Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro "Lavar dos Cestos", por José Brás > Intervenção do nosso camarada Mário Beja Santos


Lisboa, Casa do Alentejo, dia 1 de Dezembro de 2024 > Lançamento do livro Lavar dos Cestos, por José Brás > Actuação do Grupo Coral Fora D'Oras


(continua)
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Notas do editor

Vid. post de 16 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26272: Notas de leitura (1755): Lavar dos Cestos, Liturgia de Vinhas e de Guerras", por José Brás; Chiado Books, 2024 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 20 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26294: Notas de leitura (1756): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26302: Manuscrito(s) (Luís Graça) (263): Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém



O arroz doce da "chef" Alice | Luís Graça (2024)


Jardim da Nita (1947-2023), Madalena, V. N. Gaia |  Luís Graça (2024)





Quinta de Candoz |   Luís Graça (2008)

Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém

por Luís Graça


Eu poderia ter escrito:

Neste Natal
tornem o mundo mais bonito
com o vosso sorriso,
com as vossas gargalhadas,
com as vossas emoções à flor da pele…

... e ter mandado um cartão
para os meus amigos
com votos de boas festas
nas mais desvairadas línguas do mundo:
Feliz Natal
Merry Christmas,
Joyeux Noël,
Feliz Navidad,
Buon Natale,
Frohe Weihnachten,
God Jul …

Mas não,
não escrevi nem mandei.
Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém.
Nem neste ano nem no ano passado.
Não me perguntem porquê…
Estou amuado com o mundo,
com os senhores deste mundo e do outro.
Mas este mundo e o outro
estão-se literalmente nas tintas para comigo
e para com os meus amuos.

Pensando bem,
os meus amigos (incluindo os meus camaradas da Guiné)
deviam merecer um cartão de ocasião,
um bilhete postal,
um 'cartanito', como dizem os alentejanos,
com os meus votos de boas festas
e como prova de vida e pedido de desculpas.
Eles não me levariam a mal,
esboçariam até um sorriso de condescendência,
quiçá até de compaixão…
Coitado,
está radioativo, protésico,parkinsónico,
quiçá alzheimareado!...

Queridos amigos e camaradas:
não é fácil não cair nos chavões
repetidos até exaustão, até à náusea,
nesta época dita natalícia
em que a natureza, a vida, os bichos,
os homens e até os deuses renascem…
Mas por outro lado
também é insuportável o silêncio,
a muralha da China do silêncio às costas do mundo.
Mesmo que haja excessivo ruído e poluição estética
nestes dias que antecedem o Natal e o Ano Novo,
mesmo que haja crise das comunicações,
é nos difícil não-comunicar.
É quase impossível não-comunicar.
É mesmo impossível não-comunicar.

De uma maneira ou doutra
acabamos por dizer aos outros, em geral
e aos amigos, em particular,
que estamos vivos,
que consumimos logo existimos,
que comunicamos logo pensamos,
que pensamos neles
e logo lhes mandamos um cartão, 
um simples email ou um poste no blogue.
Afinal, já não se mandam cartões de Natal pelo correio,
toda a gente tem agora uma caixa de correio eletrónico,
toda a gente está ao alcance de um clique,
já ninguém é infoexcluído,
toda a gente tem um telemóvel
e sabe mandar pelo Whatsapp
um cartão de boas festas natalícias.

No fundo, queremos sentir e fazer sentir
que os nossos amigos estão vivos,
que eles e nós estamos ainda vivos,
que somos uns felizardos por estarmos vivos…
É talvez a altura do ano
em que a solidão dói mais, custa mais,
custa mais a passar,
se é que algum dia passa.
Como se fora uma simples dor de dentes, ou de ouvidos…
Mas não é uma dor que passe com analgésicos.
Estás só, nos dois grandes momentos fulcrais da vida,
no alfa e no omega,
no princípio e no fim, 
no nascer e no morrer.
E, episodicamente, ao longo da vida,
tens a ilusão de estar acompanhado.
Afinal, estás só nas grandes decisões que tomas
ou que tomam por ti:
no nascer e no morrer,
no ir à guerra e matar
no ter um filho,
no assumir a paternidade…

Por isso hesitei
entre a palavra e o silêncio,
entre o pavor da palavra
e o horror do silêncio.
Gostaria de ter a certeza
que os amigos também se entendem através do silêncio,
também sabem deixar espaços em branco
para que o jardim da amizade se construa e se consolide
no silêncio dos dias e no pesadelo das noites,
em que não damos ou não queremos dar
sinais de vida uns aos outros.

Gosto, ou já gostei noutros natais,
da ideia, algo pueril,  de que o Natal deveria ser todos os dias.
Mas, por outro lado, recuo
ante a perspetiva de 365 dias de felicidade bovina,
365 dias todos seguidos,
sem um dia de discórdia,
de conflitos,
de chatices,
de problemas,
de incidentes,
de acidentes,
de stresse,
de adrenalina,
de ameaças,
de desafios,
de alegrias e tristezas,
de vitórias e derrotas,
enfim, de pequenos altos e baixos…

Como bom cristão
ou bom budista,
ou bom muçulmano
ou outra qualquer filiação do catálogo das religiões,
que não sou, 
ou como simples agnóstico,
manifestaria o desejo
de nos podermos organizar nesse sentido,
ou seja, de virmos a ter Natal todos os dias.
Não no calendário ,
mas em nós mesmos,
nos nossos corpos e almas,
nas nossas casas,
colmeias,
casulos,
redes neuronais,
casernas,
ilhas,
ilhotas,
arquipélagos,
empresas,
guetos,
depósitos de velhos a que chamamos lares de 3ª idade,
bairros,
cidades,
países,
mundos…
Nas nossas covas da moura, nas nossas mourarias,
ou nas nossas moradias de um milhões de euros.

Dito isto, hesitei...
hesitei entre o silêncio e a palavra,
sabendo que a comunicação é uma armadilha,
mas mais forte é o apelo dos sons, dos cheiros,
dos sabores, das cores e dos tons
o amor e da amizade
neste princípio de Inverno de 2024,
na despedida de mais um ano,
em que inexoravelmente ficamos mais velhos
e estamos mais sós,
irremediavelmente sós
tão sós como os milhões, biliões, trilióes de estrelas do universo
mas continuamos a ser animais, de sangue quente,
mamíferos, primatas, territoriais, sociais,
circadianos e heliocêntricos.
Animais que deixam peugada, 
muitas peugadas, 
existenciais e ecológicas,
físicas e simbólicas.

Não sei se foi mais um annus horribilis,
mas não foi um ano fácil,
lá isso não foi.
Como o não foi o 2023,  e por aí fora,
e como o não será  o de 2025,
para todos nós, homens e mulheres
que procuramos manter habitável e amigável o planeta,
a começar por aqueles que não têm motivos,
grandes, pequenos, assim-assim,
para sorrir, dar gargalhadas,
ter esperança e ter alegria.
Não foi fácil viver e sobreviver em 2024.

Penso naqueles,
para quem o ano de 2024 não foi pai nem mãe,
mas padrasto e madrasta,
mesmo que o ano, coitado,
não tenha personalidade jurídica,
nem coração nem razão,
contrariamente ao nosso patrão,
ou ao polícia do nosso bairro,
e o calendário seja o bombo da festa das nossas frustações…
Penso naqueles que vão morrer em 2025,
de uma lista onde estamos todos, de A a Z.

Neste Natal gostaria de poder enviar-vos daqui,
uma palavra
que fosse doce, quente, amiga, solidária,
fofa, calorosa, vistosa, feliz,
em forma de bolo-rei 
(gosto mais do bolo-rainha porque não tem frutas cristalizadas),
ou de pires de arroz doce com canela
ou de aletria (para os do Norte)
ou de prato de rabanadas,
acabadas de fritar.
Ou ainda de girândola de foguetes,
do estuário do Tejo à baía do Funchal.

Mas sinto-me colado ao teclado,
vidrado, bloqueado, cristalizado,
enquanto lá fora a neve coze as pencas do Norte
que irão ser comidas na Consoada
com o bacalhau com todos.
Ou chegam grandes paquetes
com gente que pagou uma nota preta para fugir
do Natal da tundra e do deserto e da estepe
com velhos e louros e novos,
que vêm ver a feérica cidade-presépio mais a sul,
que não é seguramente
a cidade do Menino Jesus da minha infância.

Talvez antes
eu devesse convidar-vos
para se sentarem à mesa comigo
nesta consoada ou na passagem de ano.
Mesmo simbolicamente que fosse.
À mesa somos verdadeiramente companheiros,
porque partilhamos do mesmo pão
e bebemos do mesmo vinho.
Na guerra, sim, somos ou fomos camaradas.
Fico na dúvida sobre o que é
física, mental, emocional,
social e espiritualmente mais correto.
Já não acrescento o politicamente correto
porque não queria estragar a quadra que é natalícia
e que deve ser festiva
e que deve ser de paz para todos os homens de boa e má vontade.

Neste ano (nem nos passados anos) 
não vos mandei um cartão de boas festas
com os dizeres:
Neste Natal
tornem o mundo mais bonito
com o vosso sorriso,
com as vossas gargalhadas,
com as vossas emoções à flor da pele…


Não tive coragem,
confesso que não tive coragem nem lata.
Ou sobretudo lata.
Não tive lata, falta de vergonha ou de pudor,
Ou se calhar não quis,
não tive pachorra, não pude,
fiquei sem internet, estive com gripe, ou houve greve dos correios…
Poderia invocar outra desculpa qualquer,
que seria sempre uma desculpa,
esfarrapada…

Este ano (nem nos anos passados) 
não mandei um cartão de boas festas
nem para aqueles que cuidam da minha saúde,
e para quem quem tenho uma dívida de gratidão,
da minha médica  de família aos meus enfermeiros,
do  meu urologista à oftalmologista que me operou às cataratas,
da minha neurologista à minha hematologista,
do meu ortopedista ao meu personal trainer,
da minha audiologista ao meu otorrino,...
sem esquecer a senhora ministra da indústria da doença.

Mesmo não podendo ou não querendo,
ou não querendo e não podendo  ao mesmo tempo,
acabei, afinal, por vos mandar, a todos e a todas, 
os meus votos de boas festas de Natal e Ano Novo.
Atabalhoadamente...

Que sejam, ao menos, quentes e boas
…como as castanhas assadas.

Madalena, 24 de dezembro de 2007.
Revisto:  Funchal, 31 de dezembro de 2008  | Madalena, 23 de dezembro de 2024.| 

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Guiné 61/74 - P26301: Parabéns a você (2339): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Bijene e Guidaje, 1973/74); Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Bissau, 1968/70) e Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira, poetisa e declamadora

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Nota do editor

Último post da série de 19 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26286: Parabéns a você (2338): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)

domingo, 22 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26300: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (56): Os capitães de março de 1961 que eu conheci em Angola...


Angola > Luanda > 1961 > Desfile de tropas > O António Rosinha, beirão,  vivia já em Angola há uns anos (foi para lá adolescente e fez lá a tropa; amava Angola, pensava lá vibver poara sempre e lá morrer, quando chegasse a sua vez)...

Vemo-lo aqui a desfilar com o seu pelotão, que parece ser composto apenas por militares do recrutamento local (ele nunca nos disse a que unidade ou subunidade pertenceu, e por onde andou, em concreto; sabemos que teve uma "guerra" relativamente tranquila, apesar dos acontecimentos de 1961...). 

Foto: © António Rosinha (2006). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Era furriel miliciano aparece na foto acima: depois do alferes ( cmdt do pelotão em primeiro plano), o Rosinha,  todo garboso, na segunda fila, a dos comandantes de secção: é o primeiro a contar da direita para a esquerda, está de óculos escuros e empunha, durante o desfile, a pistola-metralhadora FBP, tal como os restantes graduados... As praças usavam, evidentemente, a velha espingarda Mauser 7,9 mm m/937 ... A farda, em 1961, era a do "caqui amarelo"... E, em plenos trópicos, os combatentes da época usavam capacete de aço. Uma foto icónica, histórica...

Topógrafo em Angola, africanista de alma e coração, regressou a Portugal em novembrto de 1974, emigrou para o Brasil da ditadeura militar (que vigortou de 1964 a 1985), e mais tarde para a Guiné-Bissau do partido único, onde trabalhou, de 1878 a 1993,  na empresa TECNIL, ao tempo do Luís Cabral e do 'Nino' Vieira, "camaradas", "heróis da liberdade da pátria",  que ele conheceu bem no poder. 

Entrou para o nosso blogue, em 2006, é um histórico da Tabanca Grande (desde 29/11/2006).  E aqui sempre foi tratada, estimado e acarinhado. Que Deus, Alá e os bons irã lhe continuem a dar saúde e ganas de viver (e de partilhar as suas memórias e opinióes sobre as nossas "blogarias").

É autor da série "Caderno de Notas de Um Mais Velho". Tem cerca de 150 referências no blogue (o que é uma marca notável para quem estava com "acanhamento" de entrar)... 

Deixem-me,  em plena época natalícia, partilhar aqui um pequeno segredo: a entrada do Rosinha foi incentivada e apadrinhado por mim, pelo Vitor Junqueira e pelo Amílcar Mendes. Se a Tabanca Grande fosse uma equipa de futebol, eu diria que foi uma grande aquisição, "a custo zero"... E a prova é que, dezoito anos depois (!), ele ainda "toca na chincha" como poucos dos mais novos... Seja como autor seja como comentador... É uma alegria vê-lo nestas "peladinhas"... bloguísticas.  

Sem nunca ser chato, inconveniente, demagógico, intolerante, grosseiro... Pelo contrário: nunca os editores tiveram que o censurar ou pòr os pontos nos ii. Saber estar e saber ser,  por inteiro, neste blogue plural,  como homem, cidadão, português, "angolano" e "guineense", é uma das suas virtudes, e seguramente não a menor. 

Boas Festas, Rosinha. Está feita a tua prova de vida!.


1. Mensagem do nosso veteraníssimo António Rosinha, que ainda é do 
tempo da farda de caqui amarelo, do capacete metálico, da espingarda Mauser, da pistola metralhadora FBP e do "Angola É Nossa" (aqui à esquerda, fot0 de 2007, II Encontro Nacional da Tabanca Grande, Pombal):

 Data - terça, 17/12, 23:14 (há 4 dias)

Assunto - Os capitães de março de 1961

Agora, hoje, 50 anos que os capitães de Abril de 1974 acabaram com a Guerra do Ultramar, e sabemos em geral o que uns pensavam sobre essa guerra e outros que misturavam no mesmo saco Salazar e essa Guerra... Será que em 15 de Março de 1961, os capitães daquele tempo tinham ideias aproximadas aos dos capitães de 1974?

Não, pelo menos alguns que eu conheci.

Lembrar que os capitães de 1974, eram o máximo alferes em 1961, não vou mencionar nomes, mas podem consultar as biografias de alguns, na internet.

Estes alferes, da minha geração (eu, furriel), com 22/23 anos, a politização seria semelhante à minha, pouco mais ou menos nicles..

Pelo que vi em Angola, onde a Guerra começou em força, no norte de Angola, na zona do Café,  principalmente, pelo movimento UPA, absolutamente tribalista, racista e jamais com sentido nacionalista angolano, notava-se que os capitães estavam em geral, de acordo com Salazar, "para Angola e em força".

E provavelmente, embora alguns pouco conhecedores da vida angolana (lembrar que a Guiné era muito desigual de Angola), esses capitães traziam algumas ideias preconcebidas sobre aquela guerra.

E, aqui, vou mencionar uma ideia bem real que traziam quando desembarcaram em Luanda, logo no início, em maio/junho de 1961.

Evidentemente que não se deve generalizar, quando se fala de uma classe.

Eis a ideia:

(i) nós, militares, temos que "educar" ("obrigar") os brancos a tratar bem os pretos.

(ii) os pretos revoltaram-se porque os brancos os tratam mal..


E muitos alferes milicianos aceitavam que seria plenamente essa uma das intenções independentistas.

E surgiu, passados poucos meses, a política da psicossocial,  creio que exclusiva ideia dos militares, e creio que inicialmente seria para compensar "os maus tratos", na cabeça dos primeiros militares chegados a Angola.

Não mencionando nomes, mas dizia-se em Luanda que um capitão que teria feito o primeiro ensaio da Psico, no Norte de Angola, teria ficado alcunhado de capitão-rebuçado.

Em 1962, eu furriel, distribui muitas pomadas, muitos antipalúdicos, muito tabaco, muitas aspirinas, dentro dessa política

Como a guerra era no Norte de Angola, de onde as populações fugiram, constou que passados uns tempos algumas populações regressaram.

Seria efeito da Psicossocial?

Mas que os capitães em 1961 ainda tinham ideias de poder salvar o império, isso não se pode duvidar.

Todos os esforços eram bons, inclusive tornar os brancos mais bem comportados.-

Cumprimentos, Antº Rosinha

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24297: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (55): aqueles 13 anos de guerra do Ultramar deram-nos tanta ou mais divulgação de Portugal e da língua do que os 500 anos anteriores