Guiné > Zona Leste > Subsector de Bambadinca > Xime > CART 1746 (1967/69) > 1968 > Destacamento da Ponta do Inglês > Em primeiro plano, do lado direito, o ex-1º Cabo Mec Auto Manuel Vieira Moreira... Foi aqui, neste destacamento, de má memória para muitos de nós, que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção da Fome (*)...
Por detrás dos militares da CART 1746 (unidade de quadrícula do Xime), à mesa, partilhando uma refeição, vê-se uma parede revestída a chapas de bidão... que lá ficaram, quando as NT retiraram do destacamento, por ordens superiores, em finais de 1968... (LG)
Guiné > Zona Leste > Subsector de Bambadinca > Xime > CART 1746 (1967/69) > 1968 > O Manuel Moreira Vieiria junto ao obus 10.5... A CART 1746: teve como unidade mobilizadora o GCA 2, seguiu para a Guiné em 20/7/1967, regressou em 7/6/1969; esteve em Bissorã e no Xime; comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz.
Antes desta unidade de quadrícula, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70), CART 2715 (1970/71), CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...
Não tenho a certeza se a CCAÇ 21 chegou a estar no Xime. No final da guerra estava em Bambadinca, como unidade de intervenção. Recorde-se que à CCAÇ 21 pertenceram o Tenente Graduado Comando Abdulai Queta Jamanca, o Alf Comando Graduado Amadu Dajaló e o meu camarada, da CCAÇ 12, 1969/71, o gigante Abibo Jau, na altura soldado arvorado (ele e o Jamanca foram fuzilados em Madina Colhido, a seguir à independência, ainda em 1974, possivelmente em Setembro, ainda com tropas portuguesas em Bissau)... (LG)
Fotos: © Manuel Moreira / Sousa de Castro (2009). Todos os direitos reservados
Antes desta unidade de quadrícula, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70), CART 2715 (1970/71), CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...
Não tenho a certeza se a CCAÇ 21 chegou a estar no Xime. No final da guerra estava em Bambadinca, como unidade de intervenção. Recorde-se que à CCAÇ 21 pertenceram o Tenente Graduado Comando Abdulai Queta Jamanca, o Alf Comando Graduado Amadu Dajaló e o meu camarada, da CCAÇ 12, 1969/71, o gigante Abibo Jau, na altura soldado arvorado (ele e o Jamanca foram fuzilados em Madina Colhido, a seguir à independência, ainda em 1974, possivelmente em Setembro, ainda com tropas portuguesas em Bissau)... (LG)
Fotos: © Manuel Moreira / Sousa de Castro (2009). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do Beja Santos:
Data: 18 de Janeiro de 2011 16:47
Assunto: Alguns esclarecimentos sobre a Ponta do Inglês (**)
Queridos amigos: O Manuel Bastos Soares ajudou a perceber o que eu vi na Ponta do Inglês [, na margem direita do Rio Corubal, vd. mapa de Fulacunda], mas ainda há muitas dúvidas a esclarecer. Aguardam-se outros depoimentos de quem por lá andou. É muito provável que o destacamento tenha sido extinto no tempo da CART 1746 [, a que pertenceu o ex-1º Cabo Merc Auto Manuel Vieira Moreira, membro da nossa Tabanca Grande).
Praticamente desapareceram vestígios, o de maior dimensão é a casa de Lopes da Costa, que era conhecido como o inglês, certamente pai de Constantino Lopes da Costa, penúltimo embaixador da República da Guiné-Bissau em Portugal [, e um dos actuais proprietários da "ponta", terá lá 50 hectares de terreno, segundo confidência pessoal que fez em tempos ao nosso editor L.G.].
Um abraço do Mário
2. Alguns esclarecimentos do Beja Santos sobre a Ponta do Inglês:
Um abraço do Mário
2. Alguns esclarecimentos do Beja Santos sobre a Ponta do Inglês:
Quando descrevi a minha viagem à Ponta do Inglês, em Novembro passado (**), solicitei aos camaradas do blogue que elucidassem algumas questões sobre a criação e a vida deste destacamento sobre o qual não disponho de informações seguras: tanto o Fodé Dahaba como o Mamadu Djau, que aqui foram milícias, não chegaram a acordo sobre o aparecimento do aquartelamento e muito menos sabiam quando foi extinto.
O que encontrei e registei da presença durante a guerra era muito pouco e as populações da Ponta do Inglês e de Gã Garneis também não ajudaram. Disseram-me existir um professor que tinha a história da região, não o consegui encontrar.
Correspondendo ao apelo que fiz sobre datas e posicionamento do quartel, respondeu-me o nosso camarada Manuel Bastos Soares que fez a sua comissão na Guiné entre 1964 e 1966. O Manuel Bastos pertenceu à CCav 678, adstrita ao BCaç 697, como companhia de intervenção. Andou por várias localidades, entre Fá, Xime, Ponta do Inglês e Bambadinca.
Até finais de 1964, os únicos quartéis no regulado do Xime eram o Xime propriamente dito e Amedalai, Taibatá, Dembataco e Moricanhe. Em 1963, Domingos Ramos comandava vários grupos armados a partir da mata do Fiofioli. [Imagem à esquerda, Guiné-Bissau > 1975 > Efígie de Domingos Ramos, em nota de banco de 100 pesos, moeda que já não circula hoje, como se sabe... Herói nacional, morreu em ataque a Madina do Boé, em 1966].
A ocupação da Ponta do Inglês foi tida como indispensável não só para garantir a navegabilidade do Geba (a navegabilidade do Corubal cedo ficou interdita) como importante para dissuadir a presença das forças do PAIGC num amplo território detentor de bolanhas muito ricas como o Poindom e Ponta Luís Dias.
A ocupação da Ponta do Inglês teve lugar em Janeiro de 1965, partiu uma coluna do Xime com militares da CCS do BCaç 697, a CCav 678 e forças de milícia. Inicialmente, o quartel foi feito na zona de Gã Garneis, dispunha dentro do arame farpado de abrigos escavados e cobertos com palmeiras e chapas de bidão de 200 litros.
A ocupação deste território foi inicialmente atribulada. Depois, chegaram ordens para fazer um quartel complementar junto da orla do Corubal. Daí a confusão de, durante a visita, os guias (**) me falarem da ocupação junto ao rio e de um quartel em Gã Garneis. O Manuel Bastos viveu ali entre Fevereiro e Março de 1965 e lá voltou de Outubro a Dezembro do mesmo ano. Houve portanto dois quartéis, com contingentes distintos.
É bem provável que os quartéis tenham sido desactivados no início de 1968. Facto é que quando cheguei à região, em Agosto de 1968, os destacamentos tinham sido abandonados (***).
A vida das tropas foi bem difícil, como se compreenderá. O abastecimento por estrada era uma verdadeira operação militar. Segundo o Manuel Bastos Soares, houve também baixas na região de Ponta Varela, o PAIGC esteve sempre aí muito activo. Foi nessa região que morreu o capitão Pinheiro Torres de Meireles (****), nesse sinistro morreu também um milícia e terá ficado ferido um major.
A ocupação da Ponta do Inglês foi tida como indispensável não só para garantir a navegabilidade do Geba (a navegabilidade do Corubal cedo ficou interdita) como importante para dissuadir a presença das forças do PAIGC num amplo território detentor de bolanhas muito ricas como o Poindom e Ponta Luís Dias.
A ocupação da Ponta do Inglês teve lugar em Janeiro de 1965, partiu uma coluna do Xime com militares da CCS do BCaç 697, a CCav 678 e forças de milícia. Inicialmente, o quartel foi feito na zona de Gã Garneis, dispunha dentro do arame farpado de abrigos escavados e cobertos com palmeiras e chapas de bidão de 200 litros.
A ocupação deste território foi inicialmente atribulada. Depois, chegaram ordens para fazer um quartel complementar junto da orla do Corubal. Daí a confusão de, durante a visita, os guias (**) me falarem da ocupação junto ao rio e de um quartel em Gã Garneis. O Manuel Bastos viveu ali entre Fevereiro e Março de 1965 e lá voltou de Outubro a Dezembro do mesmo ano. Houve portanto dois quartéis, com contingentes distintos.
É bem provável que os quartéis tenham sido desactivados no início de 1968. Facto é que quando cheguei à região, em Agosto de 1968, os destacamentos tinham sido abandonados (***).
A vida das tropas foi bem difícil, como se compreenderá. O abastecimento por estrada era uma verdadeira operação militar. Segundo o Manuel Bastos Soares, houve também baixas na região de Ponta Varela, o PAIGC esteve sempre aí muito activo. Foi nessa região que morreu o capitão Pinheiro Torres de Meireles (****), nesse sinistro morreu também um milícia e terá ficado ferido um major.
A Ponta do Inglês era abastecida por lanchas, as tropas faziam patrulhamentos mas o PAIGC actuava prontamente, a partir da Ponta João da Silva. O Manuel Bastos Soares promete pôr mais uma fotografia no blogue. O que encontrei no Google [, fotos do Manuel Moreira Vieira] é o que se junta e creio que se justifica lançar novo apelo a todos aqueles que estiveram na Ponta do Inglês para falarem com mas rigor desse tempo. Se houver histórias de companhias que relatem a vida da Ponta do Inglês, tanto melhor.
A iluminação era feita [, até então,] com garrafas de cerveja com uma mecha, cheias de combustível, e as havia a servir de alarme, havia muitos macacos na zona que causavam problemas, ao agarrar o arame farpado da zona de protecção.
(...) Em 21 [de Janeiro de 1970], ao amanhecer, saem os 2 Destacamentos do Xime [ Dest A: CCAÇ 12, a 3 Gr Comb; Dest B: forças da CART 2520] , apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos que o IN utiliza.
Por volta das 15. 30h, já nas proximidades do objectivo, foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.
Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.
Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...)
Havia 2 tabancas, cada uma com 4-5 casas, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidon e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidons existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.
Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, a excepção das que ficaram armadilhadas.
Os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro. (...)
3. Informação do José Nunes [ ou José Silvério Correia Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 15Jan68 / 15Jan70, foto à direita], em comentário ao Poste P7590 (**):
Camarigo Mário,o aquartelamento da Ponta do Inglês estava operacional em Abril de 1968, quando aí nos deslocámos pra montar o grupo gerador, ficava junto ao rio e não havia cais, o Unimogue avançou rio dentro até da LDP [Lancha de Desembarque Pequena] de onde se descarregou o gerados a pulso.
A iluminação era feita [, até então,] com garrafas de cerveja com uma mecha, cheias de combustível, e as havia a servir de alarme, havia muitos macacos na zona que causavam problemas, ao agarrar o arame farpado da zona de protecção.
Foi uma permanência de horas por causa das marés.
José Nunes
BENG 447
BENG 447
Brá 68/70
_________________
Notas de L.G.:
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.
A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.
Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.
Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.
Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.
A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino
...MANUEL VIEIRA MOREIRA.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.
A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.
Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.
Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.
Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.
A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino
...MANUEL VIEIRA MOREIRA.
(**) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês
(***) Segundo os dados que apurei, para a elaboração da História da CCAÇ 12, ainda em Bambadinca, no no final da comissão, o destacamento da Ponta do Inglês foi abandonado pelas NT em Novembro de 1968:
Vd. História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 24-26.
(...) (7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN e capturado um guerrilheiro armado na Ponta do Inglês
(***) Segundo os dados que apurei, para a elaboração da História da CCAÇ 12, ainda em Bambadinca, no no final da comissão, o destacamento da Ponta do Inglês foi abandonado pelas NT em Novembro de 1968:
Vd. História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 24-26.
(...) (7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN e capturado um guerrilheiro armado na Ponta do Inglês
(...) Em 21 [de Janeiro de 1970], ao amanhecer, saem os 2 Destacamentos do Xime [ Dest A: CCAÇ 12, a 3 Gr Comb; Dest B: forças da CART 2520] , apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos que o IN utiliza.
Por volta das 15. 30h, já nas proximidades do objectivo, foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.
Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.
Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...)
Havia 2 tabancas, cada uma com 4-5 casas, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidon e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidons existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.
Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, a excepção das que ficaram armadilhadas.
Os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro. (...)
(****) O Cap Inf 247/59 - EP Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meireles nasceu em 21 de Fevereiro de 1938 na Freguesia de Castelões de Cepeda, concelho de Paredes e faleceu na Guiné, em Ponta de Varela, em 3 de Junho de 1965. Era o comandante da CCAÇ 508 / BCAÇ 697.
Os seus restos mortais estão no cemitério do Prado Repouso, no Porto. Fonte: Portal Utramar Terraweb > Mortos do Ultramar > Concelho de Paredes
Os seus restos mortais estão no cemitério do Prado Repouso, no Porto. Fonte: Portal Utramar Terraweb > Mortos do Ultramar > Concelho de Paredes